Batata Movies – Em Trânsito. Assumindo Uma Vida.

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Cartaz do Filme

Um filme curioso. “Em Trânsito” é uma película que mais uma vez aborda o tema da Segunda Guerra Mundial e do autoritarismo nazista. Entretanto, tal temática é mais usada como uma espécie de pano de fundo para um drama pessoal onde um jogo de gato e rato dita as regras. Para que possamos compreender isso, vamos lançar mão dos spoilers.

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Georg assume outra identidade…

O filme fala da trajetória de Georg (interpretado por Franz Rogowski), um rapaz que vive na França ocupada pelos nazistas e que recebe uma missão de um amigo: entregar duas cartas a um escritor procurado pelos alemães. Quando ele tenta achar o escritor, ele descobre que este está morto e decide assumir a sua identidade, pois descobre que o falecido tinha acesso a documentos que poderiam tirá-lo da França. Isso vai fazer com que o rapaz se envolva com várias pessoas do círculo do escritor, inclusive sua apaixonada esposa. Ao se envolver com elas, ele precisa pisar em ovos para esconder a sua identidade verdadeira e, ao mesmo tempo, empreender sua fuga para fora da França.

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Affair com a esposa do falecido…

A primeira coisa que chama a atenção na película é que não há qualquer preocupação com reconstituições de época. A gente chega a se perguntar se está mesmo vendo um filme histórico. Todo o contexto do roteiro fala da França ocupada mas o que vemos são ruas de hoje em dia, com carros contemporâneos passando pela rua e com os nazistas sendo retratados por policiais franceses de hoje em dia, com direito a vans policiais e tudo. Ao não se ter qualquer preocupação com a reconstituição de época fica a pergunta: será que houve uma intenção velada do roteirista e do diretor de fazer alguma correspondência do autoritarismo nazista com o autoritarismo reinante nos dias de hoje? O medo dos atentados terroristas, sobretudo na França, pode estar provocando um recrudescimento de atitudes mais totalitárias hoje em dia. E ver a polícia francesa atual fazendo o papel de nazistas acaba sendo um tanto perturbador, como se a opressão de estado fosse uma só, independente de ideologias. Entretanto, a reflexão de temas de ordem mais política e social param por aí, pois a história acaba se voltando mais para um drama pessoal do protagonista e a forma humana (ou não) com a qual ele se relaciona com os demais personagens. É verdade que o contexto da guerra dita essas relações, pois todos os personagens pensam em si próprios, uns mais e outros menos na hora de arrumar uma possibilidade para fugir do autoritarismo nazista. De qualquer forma, esse jogo de gato e rato na busca pela fuga não se faz sem um conflito de consciência nos personagens.

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Filme cheio de encontros e desencontros…

O filme escolheu por não realizar um happy end, o que foi muito bom, pois soaria por demais falso em tal contexto. O mais irônico veio ao final. A música dos créditos finais foi “Road to Nowhere”, do Talking Heads, cuja tradução seria algo como “Estrada Para Lugar Nenhum”, o que se encaixa como uma luva na história do filme, pois todas as tentativas de fuga da França ocupada pelos nazistas se mostraram fracassadas.

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Infrutífera fuga por um futuro melhor…

Assim, “Em Trânsito” é mais um curioso filme sobre a Segunda Guerra que mais trabalha o drama pessoal dos personagens assolados pela ocupação nazista e que tomam atitudes, digamos, questionáveis. A falta de êxito de todos talvez soe como um castigo por seus comportamentos inadequados. Ou talvez soe como uma tremenda falta de sorte. Isso depende muito da interpretação do espectador. Vale a pena dar uma conferida, apesar do ritmo lento.

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