Batata Movies – Era Uma Vez Em Hollywood. Um Tarantino Diferentão.

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Cartaz do Filme

Quentin Tarantino está de volta trazendo “Era Uma Vez Em Hollywood”. Podemos dizer aqui que esse é um filme ligeiramente diferente do que vemos nas películas do cineasta. Foi curioso escutar as reações do público ao final da exibição. Um grupo de amigos sentado na fileira de trás da minha criticava o filme, dizendo que havia pouca violência e pouco humor ácido, em comparação aos demais filmes do cineasta. Falaram até que ele estaria mais sentimental e isso seria um indício de que Tarantino estaria ficando velho. Sei não, achei tudo o que foi colocado muito negativo. Por isso, vamos precisar de spoilers aqui para refletir um pouco mais sobre essa mais recente película do diretor.

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Cliff e Rick…

Qual é o plot? Estamos na Hollywood da década de 50 a 60. Temos Rick Dalton (interpretado por Leonardo DiCaprio), um ator de séries de TV em ascensão, que tem a companhia de seu amigo e dublê Cliff Booth (interpretado por Brad Pitt), que também é um faz tudo para Dalton. Um belo dia, um produtor de cinema, Marvin Schwarz (interpretado por Al Pacino) convida Dalton para fazer faroestes italianos, usando um argumento, no mínimo canalha: ele faz Dalton levar a cabo uma revisão de sua carreira de ator de séries e o ator conclui que só fará papéis de vilão na TV, com sua carreira definhando depois disso, o que levará Dalton ao desespero. É aí que entra Cliff, dizendo que Dalton não deve esquentar a cabeça com isso e continuar a fazer séries. Paralela a essa história principal, vemos a história de Sharon Tate (interpretada por uma doce Margot Robbie) e seu marido Roman Polanski. Tate ainda busca se afirmar no cinema e vê, numa sala de exibição, a sua participação num filme de Matt Helm, uma espécie de James Bond genérico interpretado por Dean Martin. Temos, também, um terceiro núcleo, onde Cliff se apaixona por uma riponga menor de idade, que é do grupo de Charles Manson, que todos nós sabemos que mandou assassinar Sharon Tate. O detalhe aqui é que o filme deu um desfecho alternativo bem diferente para isso, onde Tarantino justamente se manifestou em toda a sua essência de violência e de humor ácido. Mas paramos por aqui com os spoilers.

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Uma doce Sharon Tate…

A primeira coisa que chama a atenção na película é o seguinte: se você é um cinéfilo inveterado, vai amar de paixão esse filme, pois ele é um mar de referências. Fazia tempo, por exemplo, que eu não ouvia falar em Matt Helm. Cheguei a ver um trecho ou outro de filmes dele na Record Pré Bispo Macedo. O carro de Cliff era um Carmanghia azul. Tinha muitos Carmanghias vermelhos andando pelas ruas do Brasil na década de 70, me lembro muito bem. Todo o Universo dos bastidores das séries de TV estavam lá. Até Bruce Lee apareceu, numa disputa com Cliff, onde Tarantino zoou um pouco com a cara do ator oriental mas teve a lucidez de dar um empate técnico à contenda, pois se Lee fosse mais humilhado no filme do que foi eu creio que Tarantino iria arrumar problemas sérios com os fãs de Lee, como ocorreu com a filha do ator oriental (eu estaria na fila com certeza). Mas, por outro lado, foi muito bacana ver Lee treinando Tate para uma cena de luta em Matt Helm.

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Sacanearam o Bruce Lee…

Outro lance muito legal foi o personagem de DiCaprio. A insegurança de Dalton muito o humanizou e foi legal ver como o ator lida com seus temores e dá a volta por cima, indo contra a impressão de que era um mau ator. O mais irônico é que ele contracena com uma garotinha muito mais madura e lúcida que ele no que tange à carreira artística e, depois que filmam uma sequência juntos, a menina diz para ele que foi a melhor atuação que ela já viu na vida. Se por um lado há aí uma ironia implícita pois a jovem atriz tem apenas oito anos, por outro lado, o comentário dela tem validade em virtude de sua maturidade.

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Al Pacino faz um produtor que enlouquece Rick…

No mais, o plot twist ao final, que se desvia totalmente do fato histórico. Já vimos isso em “Bastardos Inglórios” e, pelo espírito catártico da coisa, funciona muito bem. Aí é onde está o Tarantino que todos esperam e é um momento muito hilário.

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No final das contas, Rick não era tão ruim assim…

Por fim, o ótimo trabalho dos atores e da direção. Tarantino realmente consegue tirar tudo de bom dos atores. DiCaprio estava ótimo nesse papel do ator amedrontado com seu suposto talento deficiente. Pitt estava excelente como Cliff, um cara com um passado de morte nas costas, mas um amigão do peito de Dalton. E Robbie, que está acostumada a fazer papéis fortes e carismáticos, estava um doce no papel de Sharon Tate. Tarantino ainda conseguiu reproduzir bem os preconceitos da época, onde Dalton e Cliff tinham verdadeira aversão a hippies, retratados inclusive de forma violenta como seguidores de Charles Manson.

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Em Cannes…

Voltando às palavras do grupo de amigos acima, Tarantino realmente fez um filme diferente dessa vez. Mas não creio que isso tenha sido negativo ou o diretor está ficando “velho” no mau sentido da palavra. Pelo contrário. Ele acrescentou elementos novos a seu filme, sem abandonar os antigos. A homenagem ao cinema, às séries de TV e ao starsystem, aliado à humanização do personagem de DiCaprio, são mais do que bem vindos e apresentaram ótimas possibilidades, tornando a película maus rica que os trabalhos anteriores do diretor. Dessa forma, “Era Uma Vez Em Hollywood” é mais um filmaço de Tarantino que vale a pena mais pelos elementos novos que o diretor traz. E os fãs dos elementos mais tradicionais de Tarantino também não vão se decepcionar, pois eles estão lá. Programa imperdível.

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