Uma co-produção Islândia/Dinamarca/Alemanha. “A Resistência de Inga” é um filme que fala de uma luta de uma viúva contra a corrupção e a opressão de uma cooperativa sobre uma comunidade. Para podermos entender melhor esse filme, vamos precisar lançar mão dos spoilers.
A Inga em questão (interpretada por Arndís Egilsdóttir) é casada com um fazendeiro. O casal está afogado em dívidas com a cooperativa em questão, pois ela obriga os fazendeiros da região a comprar e vender produtos somente com ela, praticando um monopólio que explora os produtores locais. O esposo de Inga acaba morrendo num acidente de carro, mas depois há muitas suspeitas de que tenha sido um suicídio, até porque Inga descobre que seu marido era obrigado pela cooperativa a extorquir os produtores locais que “saíam das regras”, já que ele também estava endividado. Inga irá começar um movimento de resistência contra a cooperativa em questão, brandindo a bandeira do livre mercado contra o monopólio.
Esse é um filme que realmente exalta a competição do livre mercado e demoniza a cooperativa como um bastião de corrupção. Quando vemos um discurso tão dicotômico assim, há de se abrir os olhos para as nuances da coisa. Se um monopólio pode ser prejudicial para uma comunidade, até que ponto também um mercado totalmente livre sem qualquer medida protecionista é totalmente benéfico? Há uma discussão entre Inga e o dono da cooperativa falando da importância da mesma para a economia da sociedade. Devemos nos lembrar que a importância da cooperativa para a comunidade pode ser vista como uma coisa, e suas práticas altamente extorsivas contra a comunidade como algo totalmente diferente. Uma cooperativa que funciona sem extorquir seus membros pode proteger também os mesmos das intempéries da economia capitalista. Mas esse não foi o caso aqui no filme.
Numa situação dessas, tudo indicava que um final feliz seria falso. Mas o diretor Grimur Hákonarson optou por um desfecho híbrido, pois os produtores de leite conseguiram criar sua cooperativa própria e se livrar das garras da cooperativa corrupta, o que seria o happy end, mas as represálias contra Inga foram inevitáveis e ela acaba perdendo a fazenda em virtude das dívidas, sendo obrigada a recomeçar a sua vida em outro lugar. Até foi melhor assim, pois um final totalmente feliz soaria de uma forma muito falsa aqui.
Assim, “A Resistência de Inga” é um curioso filme que trata de forma dicotômica uma questão que pode ser analisada de vários pontos de vista e vários meandros. De qualquer forma, é um filme que consegue agradar em seu final a gregos e troianos, pois consegue encaixar um happy end com um choque de realidade. Vale a pena dar uma conferida.