Batata Movies (Especial Oscar 2020) – O Farol. Uma Experiência Expressionista Contemporânea.

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Cartaz do Filme

Quando a gente vê o trailer de “O Farol”, já dá para perceber de que se trata de uma coisa diferente. Um filme em preto e branco com Willem Dafoe e Robert Pattinson isolados numa ilha, com o primeiro aos gritos com o segundo, que responde serenamente. A curiosidade logo vem à tona. E, ai, o filme estréia e a gente vai lá conferir. Essa película concorreu ao Oscar de Melhor Fotografia, perdendo para o filme “1917”. Para podermos falar sobre essa película, vamos lançar mão de spoilers.

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Dois homens e um farol…

O plot é muito simples. Thomas Wake (interpretado por Dafoe) e seu subordinado Thomas Howard (interpretado por Pattinson) tomam conta de um farol na costa da Nova Inglaterra no final do século XIX. As condições são extremamente adversas com uma tempestade que impede a vinda de uma embarcação para levá-los de volta ao continente, o que os obriga a viver sob um forte racionamento. É claro que eles vão pirar geral na batatinha a ponto de surtarem violentamente, o que será a ruína dos dois.

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Um pesado processo de enlouquecimento…

Falando dessa forma extremamente simplória, parece que o filme não tem a menor graça. Mas é no processo paulatino de loucura dos protagonistas que a coisa mostra a sua força. Se, em alguns momentos, vemos a coisa com uma certa graça e tons de comédia, na imensa maioria das vezes o desenrolar da insanidade é altamente tenso e destrutivo, agredindo o espectador com maestria pelo inusitado e até pelo escatológico. Mas a grande e grata surpresa desse filme é que ele resgata a boa tradição dos melhores filmes expressionistas alemães da década de 20. Senão vejamos. Do ponto de vista narrativo, temos violentas explosões de paroxismo onde os personagens não poupam o desespero. Se nos filmes expressionistas mudos não se havia a oportunidade de se trabalhar muito os diálogos, aqui a coisa foi muito bem trabalhada, com falas altamente rebuscadas e complexas, beirando o barroco, um estilo artístico que usava com maestria os duplos antagônicos, assim como o romantismo e o expressionismo.

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Filme mergulha fundo nos estados da alma, com direito a muito claro/escuro…

Os dois personagens, o patrão que oprime e o empregado oprimido são também a representação desses duplos que, esteticamente aparecem nos claros e escuros da fotografia preta e branca magistral da película, ambientada sempre em ambientes mais escuros do que claros, o que contribuiu para o clima soturno da coisa. Ainda, no expressionismo era corrente o uso de alucinações dos personagens para expressar estados da alma e externar sentimentos. Aqui isso é usado com muita força, principalmente nas alucinações de Howard com as fantasias sexuais com a sereia, assim como nos pesadelos dos personagens, no fato de um assumir a identidade do outro em alguns momentos e um culpar o outro acusando-o de cometer algo que ele próprio cometeu (por exemplo, Wake destrói o barco que poderia levar à fuga da ilha mas culpa Howard por isso). Todos esses momentos delirantes abordam os estados da alma e o subjetivo, ao bom estilo expressionista.

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Alucinações expressionistas…

Dessa forma, se “O Farol” provoca todo um estranhamento pelo agressivo inusitado sobre o espectador, por outro lado podemos dizer que essa película foi a melhor experiência expressionista bem à moda antiga que tivemos nos últimos anos. Tudo isso regado à uma atuação magistral de Dafoe e Pattinson, que roubam a cena, juntamente com a belíssima fotografia. Vale muito a pena dar uma conferida.