Mais um filme que concorreu ao posto de finalista entre os candidatos ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. “O Paraíso Deve Ser Aqui” é o representante da Palestina e traz a questão palestina sob a ótica do humor. Escrito, dirigido e estrelado por Elia Suleiman, o filme tem sido comparado às películas de Jacques Tati e Charlie Chaplin, já que Suleiman nos traz situações engraçadas e seu personagem é mudo por durante quase toda a película. Para podermos falar desse filme, vamos lançar mão de spoilers.
Do que se trata o plot? Suleiman vive em Nazaré e tem um relacionamento um tanto instável com o seu país. Um dos vizinhos se mete com o limoeiro de outro, a vizinhança não interage muito bem, a polícia israelense achaca os palestinos e por aí vai. Cansado do que vê no seu dia-a-dia em seu país, Suleiman decide sair de lá e tentar a vida, primeiro em Paris, depois em Nova York. O problema é que as metrópoles desenvolvidas também têm seus vícios. Paris está tomada pelo medo do terrorismo, com tanques andando pelas ruas e vários policiais perseguindo velhinhas com bolsas no metrô. Já nos Estados Unidos, o medo do terrorismo também se faz presente, mas a sociedade americana é retratada de forma muito mais irônica, com direito a zoação até com o Actor’s Studio. Mas uma coisa é certa: nosso Suleiman não consegue apoio para fazer seu filme nas duas cidades. Em Paris, seu projeto é delicadamente rejeitado pois ele não se encaixa nos estereótipos da questão palestina pela ótica européia ocidental, ou seja, uma comédia que poderia ser feita na Palestina ou em qualquer outro lugar (como vemos ironicamente no filme). Já em Nova York, a produtora de filmes nem dá confiança para nosso diretor, mesmo com o pistolão de Gael Garcia Bernal (que faz uma ponta na película). Sem perspectivas de encontrar um outro local no mundo para viver, resta a Suleiman retornar à Palestina.
A estratégia da comédia para abordar a questão palestina não é novidade na obra de Suleiman, que já havia lançado mão do ato de fazer rir no ótimo “Intervenção Divina”, de 2002, que segue uma linha bem semelhante, onde o personagem protagonista também nada diz e fica estupefato com a verdadeira ópera do absurdo, onde a arte imita a vida. O medo do terrorismo nas duas grandes metrópoles ocidentais, assim como o choque cultural, seja em Paris, seja em Nova York, são as grandes vedetes do filme. Se o palestino estranha os absurdos do mundo ocidental, o estranhamento do mundo ocidental para com o palestino é também motivo de risos, sobretudo no caso do taxista que leva Suleiman em seu carro e fica maravilhado por ver um palestino pela primeira vez na vida e simpatizar com a causa. Dessa forma, “O Paraíso Deve Estar Aqui” é um filme onde o humorismo se mostra uma arma muito eficaz para chamar a atenção para a causa palestina, onde o estranhamento cultural é o combustível para a comédia. Foi uma boa aposta da Palestina para os finalistas ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e é um programa imperdível