Um filme brasileiro. “Aspirantes”, de Ives Rosenfeld, fala da trajetória de um rapaz que tem um sonho igual ao de milhares, talvez milhões de jovens por todo o país: ser um jogador de futebol famoso e rico. Mas a vida, sempre ela, dá uma rasteira atrás da outra no protagonista desse filme. Para podermos pensar um pouco sobre a película aqui, vamos precisar de spoilers.
O protagonista em questão é Júnior (interpretado por Ariclenes Barroso), um rapaz que vive na região dos lagos no Rio de Janeiro e tenta, juntamente com o amigo Bento (interpretado por Sérgio Malheiros) um lugar ao sol no difícil mundo do futebol. Júnior tem uma namorada que está grávida dele e mora com um tio com quem não se dá bem. Tudo parece muito idílico e prosaico no filme, mas o cenário tem um potencial para virar de cabeça para baixo a vida de Júnior, o que acaba acontecendo. Ele se desentende com o tio, que o expulsa de casa, tendo que ir morar na casa da namorada. Entretanto, um desentendimento entre a mãe da namorada e a mesma mostra que Júnior tem, na verdade, que lidar com uma grande pressão, que é arrumar um emprego para sustentar o filho vindouro. Isso faz com que ele precise ter êxito na carreira de jogador de futebol, o que pode ser um processo muito lento sem garantias a longo prazo. E aí, nosso Júnior entra em parafuso, com direito a desentendimentos com o amigo Bento (inclusive de forma trágica) e com a namorada, a ponto do menino dormir na rua até ser acolhido por seu técnico e pelo clube. O filme termina com Júnior numa partida decisiva, fazendo um gol.
O filme, que parece um tanto ingênuo e bucólico em seu início, acaba se revelando uma sucessão de choques de realidade com o passar do tempo, marcando a via crucis de Júnior, um rapaz pacato que se torna um cara soturno e até agressivo em virtude das pancadas que a vida dá. O maior problema aqui é que o filme termina de uma forma extremamente abrupta, como se um gol fosse a solução de todos os problemas do personagem. Ele ainda precisa de um bom emprego, precisa se acertar com sua namorada e, principalmente com Bento, a parte mais surreal desse choque de realidade. Entende-se até que o roteiro tenha sido enxuto mais pelo sentido de se contar uma boa história e não se complicar muito para não encarecer demasiadamente a produção. Mas o excesso de pontas soltas e se dar ao espectador a responsabilidade de mentalmente amarrá-las podem ser problemas que tornam o filme um tanto incompleto em sua construção. De qualquer maneira, essa é uma história que pode acontecer com muita gente por aqui em nosso país.
Dessa forma, “Aspirantes” vale por seu choque de realidade, embora seu roteiro pareça demasiadamente simplório e plano, deixando muitas pontas soltas. Vale para o espectador trabalhar sua imaginação.