Dentre nossas análises de episódios de Jornada nas Estrelas Discovery, vamos ao décimo-primeiro episódio da terceira temporada, intitulado “Su’Kal”. O episódio foi escrito por Anne Cofell Saunders e os spoilers estão liberados.
O episódio começa ainda na homenagem a Philippa e Adira se sentindo meio deslocada. Ma eis que surge o namoradinho do cabelo azul, se desculpando pelo sumiço e a moça mostra compreensão. Stamets descobre que a Khi’eth tem um sinal de vida. Saru acredita que é o filho da Dra. Issa, pois ela estava com marcas de gravidez no rosto. A Discovery vai para a nebulosa Verubin, mas ao entrar lá, a radiação é altíssima e os escudos começam a cair. Book se oferece para ir até lá, alegando que sua nave é protegida pela radiação, mas ele mente. Ele consegue as coordenadas da nave Khi’eth, que caiu num planeta. Essa nave está blindada contra a radiação. O planeta está num bolsão onde a Discovery pode ficar em segurança. Book retorna à Discovery debilitado pela radiação, mas ele tem como se recuperar. Segundo os dados coletados por Book, a Khi’eth caiu num planeta de dilítio maciço. Ou seja, a resolução do mistério da Combustão pode estar lá.
Saru comunica a Vence o ocorrido e este fala que a Corrente Esmeralda faz exercícios militares perto de Kaminar, deixando o kelpiano preocupado. Vence assegura que Kaminar será protegida pela Federação e não quer que a Discovery vá defender o planeta, pois pode ser uma cilada de Osyraa para conseguir o motor de esporos. Um grupo avançado formado por Michael (obviamente), Saru e Culber irá ao encontro do kelpiano no planeta de dilítio. Michael está preocupada com Saru, já que teme que ele precise tomar decisões difíceis, pois um kelpiano está envolvido. Stamets também está preocupado com Culber, mas este insiste que precisa ir para ajudar Saru e o sobrevivente, tranquilizando o Chefe de Engenharia (um momento fofo do episódio). Na ausência de Saru, Tilly comandará a Discovery (isso mesmo, para quem pensou “Hein?”). Michael começa com um papo furado onde há embaixo do braço esquerdo da cadeira de capitão uma espécie de saliência que existe em todas as cadeiras de capitão (por se tratar de um defeito de fabricação), e que todos os capitães de naves estelares colocam o dedo em momentos de tensão, ou seja, uma conversa meio sonolenta somente para a Tilly também colocar o dedo na saliência, algo que não acrescenta nada à história e gasta uns minutos do episódio a troco de nada. A Discovery vai para o bolsão seguro em volta do planeta, mas mesmo assim os escudos diminuem. Culber atenta para o fato de que mesmo dentro da Khi’eth, eles serão afetados pela radiação e somente terão quatro horas de permanência na nave, apesar do uso de medicações preventivas. Tilly diz que os escudos serão consertados em três horas e que a Discovery retornará para recuperar o grupo avançado antes das quatro horas de permanência no planeta. O grupo avançado se transporta e Tilly ordena o alerta escuro. Michael, Culber e Saru chegam a uma espécie de floresta. Mas há algo estranho. Michael está como uma trill, Culber como um bajoriano e Saru como um humano. E temos a oportunidade de ver a cara de Doug Jones!!! Confesso que essa foi disparada melhor coisa do episódio, já que Jones sempre teve que usar a maquiagem de borracha do kelpiano. Eles chegam à conclusão de que estão dentro de alguma espécie de programa holográfico que faz simulações (mais popularmente conhecido pelo pessoal do século 24 como holodeck, embora tenhamos visto uma espécie de holodeck já na série animada; calhou da tripulação da Discovery não ser muito íntima do holodeck e desconhecê-lo). O grupo avançado está com uma aparência diferente, pois isso faz parte da programação do holodeck. Eles saem à procura do kelpiano e encontram uma espécie de poço cheio de escadas. Eles encontram o kelpiano. Saru diz que eles são de fora do programa. Uma porta trancada é forçada por algo e abre, estando vazia do outro lado. O kelpiano, desesperado, diz que eles acordaram o monstro e sai correndo. Michael percebe que a porta foi arrombada por causa do medo do kelpiano. Michael acha que o kelpiano não conhece mais nada além do mundo do programa e sugere cautela a Saru no contato. O grupo se divide. Saru e Culber vão atrás do kelpiano e Michael vai ficar de olho na porta que foi arrombada. O capitão e o médico encontram um conjunto de hologramas que explicam que aquele mundo virtual foi criado para proteger o kelpiano até que um grupo de resgate viesse buscá-lo. Já Michael se encontra com o tal monstro que o kelpiano mencionou e toma uma carreira dele. Depois de “cair para cima”, Michael se depara com o kelpiano e começa a conversar com ele, fingindo que é um programa do holodeck. Ela tenta perguntar ao kelpiano, com muito cuidado, se ele se lembra de algo referente ao mundo exterior ao programa, mas a referência ao mundo exterior provoca medo nele e o kelpiano foge. Enquanto isso, Culber e Saru encontram um programa que é um kelpiano ancião contador de histórias. Eles descobrem o nome do kelpiano sobrevivente num desenho: Su’Kal, que significa um grande presente vindo depois de um grande sofrimento. Saru conversa com o ancião e este lhe diz que ele, assim como todo o holodeck, foi programado pela Dra. Issa, que sabia que estava morrendo pela radiação. Saru pergunta ao ancião como eles podem achar Su’Kal. O ancião diz que quando Su’Kal está com medo, ele se esconde em sua fortaleza. Que ele precisa enfrentar seu medo (o tal monstro que partiu para cima da Michael) para poder se libertar do holodeck, assim como para libertar o próprio Saru e Culber. O tempo passa e o grupo avançado fica cada vez mais afetado pela radiação. Eles se encontram com Michael, que espreita Su’Kal sendo atacado por seu monstro.
Na Discovery, uma nave se aproxima. É a nave de Osyraa. Tilly manda camuflar a Discovery e a nave de Osyraa também se camufla. Osyraa se comunica e, depois de muita conversa mole com Tilly, com esta última querendo ganhar tempo, a oriana diz que quer a nave, o motor de esporos e a tripulação. Tilly se nega a entregar tudo isso. O medo de Su’Kal desestabiliza o dilítio da Discovery. Ou seja, é um kelpiano tresloucado pelo medo de seu monstro imaginário o motivo da Combustão (aff…). Osyraa vai atacar a nave e Tilly ordena que Stamets acione o motor de esporos. Este fica preocupado com o grupo avançado. Só que Book se oferece novamente para sair com sua nave e salvar o grupo avançado. Stamets se prepara para acionar o motor de esporos, mas os capangas de Osyraa invadem a nave e rendem todo mundo. A nave de Osyraa prende a Discovery com uns tentáculos, digamos, orgânicos.
No planeta, Saru canta uma cantiga de ninar para afugentar o monstro que aterroriza Su’Kal, mas este foge também. Book chega para resgatá-los, informando da presença de Osyraa, e Michael insiste que Saru e Culber permaneçam no planeta para acharem Su’Kal, enquanto ela volta para ajudar Tilly. Saru, embora esteja preocupado com a Discovery, concorda, já que ele tem uma ligação com Su’Kal por ser kelpiano (ou seja, mais uma vez Michael dá uma diminuída em Saru). Michael diz que vai voltar e Culber diz que se passar mais um dia, não vai adiantar (não eram quatro horas?).
Book não percebe que Adira estava escondida na nave com medicação contra a radiação e é surpreendido pela moça. Ela se transporta para a superfície do planeta. Book consegue transportar Michael para sua nave. A nave de Book vai em direção à Discovery, que salta com o motor de esporos, depois de Stamets ser condicionado a isso pelos capangas de Adira. A nave de Osyraa também salta juntamente com a Discovery, já que as duas estavam acopladas pelos tentáculos. Fim do episódio.
O que podemos falar do episódio “Su’Kal”? Em primeiro lugar, finalmente temos a causa da Combustão revelada, algo que surpreende pois, com a experiência que temos com os roteiristas de Discovery, parecia que a coisa ia ser explicada somente aos quarenta e oito minutos do segundo tempo do último episódio. O problema foi o que causou a Combustão em si. Ao invés de ser um motivo mais ligado à ficção científica, a coisa pendeu para a direção de um fricote de um kelpiano infantilizado confinado num holodeck cuja programação lembra mais um cenário de fantasia do que de ficção científica. Ou seja, Discovery confirma mais uma vez os rumos que a Secret Hideout dá a Star Trek de transformar a série mais em algo fantasioso, chutando a ciência para escanteio ou para o pano de fundo. É por essas e por outras que vejo essas produções recentes como uma espécie de livre adaptação de Jornada nas Estrelas, cada vez mais destacada e livre de Jornada nas Estrelas. Apesar de tudo isso, tivemos algo legal no episódio, que foi ver, em toda essa simulação de holodeck, Doug Jones interpretando um Saru de cara limpa, sem toda a borracha da maquiagem, o que ajuda a compensar um pouco a causa da Combustão. Indo na vibe fantasiosa do episódio, os momentos em que Saru se lembrava de seu planeta e de sua cultura foram até bons (a conversa com o ancião kelpiano foi um momento legal do episódio), mas também foi usado como uma espécie de faca de dois gumes, pois Michael o usou como argumento para Saru estar emocionalmente envolvido com Su’Kal e não retornar à Discovery para defender sua nave como o capitão que é, com essa tarefa sendo atribuída a Michael, já que a Tilly, que assumiu o comando da Discovery, falhou nessa tarefa. Pelo menos Osyraa volta ao episódio fazendo o seu feijão com arroz de sempre, sendo a vilã má básica que dessa vez sequestrou a Discovery, um ponto muito bom do episódio. Só foram sofríveis alguns diálogos que ela foi obrigada a travar com a Tilly, assim como a conversa vazia que Michael e Tilly tiveram sobre uma saliência no braço da cadeira do capitão, que não acrescentou nada à trama. Ou seja, é Discovery novamente abusando dos diálogos ruins. O problema do tempo que os humanos aguentam a radiação foi outro ponto negativo. Falou-se que a bolha em volta do planeta era segura, assim como o interior da Khi’eth. Depois, a radiação era segura somente por um tempo, quatro horas, para depois passar ao limite máximo de um dia. Que se deixasse um dia desde o início. Pelo menos, usaram a Adira e suas medicações como um fator para se ganhar mais um tempo aí (e isso tirou a Adira da letargia ao qual ela foi um tanto submetida como auxiliar de Stamets nos últimos episódios).
Dessa forma, “Su’Kal” é um episódio que incomoda um pouco pela solução fantasiosa dada à Combustão, embora com uma pequena justificativa de tecnobabble, traz novamente os diálogos mal escritos de sempre, mas também teve pontos positivos como a face de Doug Jones e Osyraa sendo uma vilã convencional que dessa vez sequestra a Discovery e sua tripulação. Um episódio que não se fechou em si próprio, sinal de que podemos ter um arco final triplo agora, o que se espera que aconteça.