Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Discovery (S03, Ep 12), Há Uma Maré… Uma Negociação E Um Jogo De Gato E Rato.

Star Trek: Discovery Season 3 Episode 12 Review: There is a Tide... | Den  of Geek
Arquitetando um plano de fuga…

E chegamos ao penúltimo episódio da terceira temporada de Jornada nas Estrelas Discovery, intitulado “Há Uma Maré…”. Esse episódio, escrito por Kenneth Lin e dirigido por Jonathan Frakes, confirma o arco final triplo iniciado em “Su’Kal”, com uma suficientemente boa ação e uma negociação no mínimo curiosa. Para podermos falar do episódio, os “spoilers” estão liberados.

O episódio começa com Osyraa dentro da Discovery e seus capangas simulando um ataque da nave Viridian contra a Discovery, com o objetivo da Federação abrir suas portas para a Discovery. Na estação da Federação, Vence, sem comunicações com a Discovery, hesita em deixar a nave entrar e mantém levantados os escudos do QG da Federação. A tripulação da ponte está confinada a uma sala e aquele vilão do segundo episódio que mais parecia um Al Pacino genérico (Zareh) aparece dizendo aos capangas que Osyraa não quer que se mate ninguém. É claro que ele também zoou a incompetência de Tilly no posto de capitã, com a nave sendo tomada muito facilmente. Ryn é colocado junto ao grupo. Enquanto isso, Book e Michael estão em dobra com a nave do primeiro, correndo para chegar ao QG da Federação, mas precisam passar pelos destroços de muitas naves sem colidir.

Star Trek: Discovery Season 3 Episode 12 Easter Eggs & References | Den of  Geek
Arrumando uma forma de entrar na Discovery…

A Discovery se aproxima dos escudos do QG e de um poço gravitacional. Para a nave não ser esmigalhada, Vence manda abaixar os escudos para a Discovery passar. A nave de Book também chega. Book e Michael jogam a nave onde estão dentro do hangar da Discovery antes dessa entrar no QG.

Osyraa vai até a Engenharia onde Stamets ainda está subjugado por uma espécie de máquina neural em sua cabeça. Ela fala com um cientista conhecido como Vigilante Aurélio, de sua confiança, que é paraplégico e estuda o motor de esporos, assim como Stamets. Osyraa e Aurélio parecem ser muito próximos. Ela bota uma operazinha andoriana para o cientista poder trabalhar melhor.

Star Trek: Discovery – Season 3, Episode 12 “There is a Tide...” Review:  The Tide is Turning, Indeed | TREKNEWS.NET | Your daily dose of Star Trek  news and opinion
Surge Aurelio, um personagem com nome de dicionário…

Michael vai atrás de Stamets para poder neutralizar o motor de esporos. Book coloca um aparelho de camuflagem dos sinais de Michael em seu braço. Como ele só tem um, não pode andar junto com ela, que vai sozinha “salvar o dia” nas palavras do próprio Book. Vence, depois de pensar um pouquinho com seus botões, percebe que Osyraa está na Discovery e manda cercar a nave com outras da Federação a postos para atirar. Mas Osyraa entra em contato e quer, diplomaticamente, conversar. Os dois começam uma longa conversa na presença de um holograma que é um detector de mentiras. Osyraa busca negociar uma aliança entre a Corrente Esmeralda e a Federação. Na ausência de dilítio, a Corrente tem uma estrutura capitalista bem montada de comércio, enquanto que a Federação é um símbolo de esperança, algo que a Corrente não tem. Os dois comem umas frutas, Osyraa uma maçã, que Vence diz que é sintética e feita das fezes da estação (literalmente uma maçã de merda), que Osyraa cospe. Vence resiste à visão capitalista de Osyraa alegando que a Corrente mantém a escravidão. A oriana diz que gastou capital político para abolir a escravidão na Corrente Esmeralda. O problema aqui é que a Corrente Esmeralda deixa de ser vista como uma facção criminosa e parece ser um órgão com governo próprio, parlamento, detentora de instituições científicas, etc. sendo mostrada nesse episódio de forma diferente do que entendemos no resto da série. Vence diz que, para fazer acordo, a Corrente Esmeralda precisa se afastar de civilizações pré-dobra como Kwejian. Osyraa, depois de saber que uma capanga de Zareh foi ejetada para o espaço, abre um texto sobre o armistício e propõe a retirada das civilizações pré-dobra por quinze anos, além de não violar a Primeira Diretriz. Vence pede um tempo para ler o armistício. Depois de ler, Vence acha o armistício um bom acordo, mas se pergunta quem representará a Corrente Esmeralda e se essa pessoa será independente o suficiente de Osyraa, que não é vista com confiança. Osyraa pensa em Aurélio, mas Vence ainda quer saber o grau de independência que esse representante teria com relação a Osyraa. Ela diz que esse representante não teria ligações com ela. Mas o holograma detector de mentiras diz que Osyraa mente. Vence ainda diz que o passado de Osyraa é de crimes e que esses erros precisam ser reparados. Osyraa fica verde de raiva, mas Vence, apesar de um tom de súplica muito estranho pedindo à Corrente para se unir à Federação, bate o pé com relação a Osyraa se confrontar com seus crimes num julgamento. A oriana perde a paciência e vai embora.

Book é capturado e colocado junto com a tripulação da Discovery. Já Michael estrangula um homem com a perna mas toma uma facada na mesma.  Com os transportes bloqueados por Osyraa, Michael se desloca pelos tubos Jefferies. Ela cauteriza sua ferida com um kit médico e manda uma mensagem para a mamãe Burnham falando da situação da Discovery. Mas Zareh localiza Burnham pelo comunicador que ela pegou do capanga que estrangulou. Ele manda mais de seus capangas para perseguir Michael. Mas ela simula um incêndio que aciona exaustores nos tubos Jefferies. Ela havia se amarrado num cano antes disso e uma capanga de Zareh é cuspida para o espaço pelo dispositivo antiincêndio. Burnham fala para Zareh que ele vai precisar de mais capangas (reguladores). E joga o comunicador fora para não ser mais encontrada.

Star Trek: Discovery' Season 3 Episode 12: Did the Federation make a  mistake by turning down Osyraa's deal? | MEAWW
Uma negociação…

Os tripulantes da Discovery simulam uma briga e descem a porrada nos capangas de Osyraa. Eles vão sair do cativeiro. Ryn consegue provocar uma interferência que vai mostrar muitos sinais de vida falsos. Book e Ryn vão permanecer na sala para atrasar os capangas enquanto a tripulação da Discovery sai pela nave. Mas Book e Ryn são capturados.

Stamets é tirado de seu “transe” e começa a conversar com o Vigilante Aurélio. Começa a rolar uma afinidade entre os dois pela ópera andoriana. Stamets começa a conversar sobre família, filhos, mas Aurélio quer saber sobre o motor de esporos. Stamets continua desconversando com o papo de família. Aurélio acha que Osyraa é uma pessoa maravilhosa, pois apostou nele, que é paraplégico, para a carreira de cientista. Mas Stamets fala dos defeitos de Osyraa que Aurélio não conhece. Michael entra na Engenharia e atordoa Aurélio e um capanga para salvar Stamets. Mas o Chefe de Engenharia quer voltar a Verubin para salvar Culber. Ele pira ainda mais na batatinha quando sabe por Michael que Adira está lá. Mas Michael confina Stamets num campo de força e pretende mandá-lo para o QG da Federação, pois assim Osyraa não poderá usar o motor de esporos. Michael usa o toque vulcano para desacordar Stamets. Stamets, quando acorda, já está no campo de força, e diz, aos berros, que aqueles que ele ama terão uma morte terrível na radiação de Verubin. Mas Michael diz que Osyraa usará Stamets e o motor de esporos para destruir a Federação. Stamets diz que a Discovery veio ao futuro por Michael, que a tripulação abriu mão de tudo por Michael e como ela pode fazer isso. Michael, chorando, apenas diz que sente muito. Stamets é cuspido para o espaço e enviado ao QG. Michael chora, chora, chora… mas para quando Zareh a rende com uma arma.

Star Trek: Discovery – Season 3, Episode 8 Recap: “The Sanctuary”
Osyraa fica verde de raiva com o fracasso das negociações…

Na ponte, Osyraa está de volta e ordena que Zareh procure a tripulação da Discovery. Ryn e Book estão na ponte. Aurélio também, sabe-se lá como, pois isso não ficcou explicado no roteiro, já que ele havia sido tonteado por Michael (ô roteiro mal escrito!!!). Osyraa pede para Aurélio sair da ponte, pois coisas violentas vão acontecer, mas Aurélio se recusa. Ela dá uma ordem para Ryn consertar os sensores, mas ele se nega. Book diz que tem como, em segurança, dar acesso ao dilítio da nebulosa Verubin a Osyraa. Mas mesmo assim, esta atira em Ryn que vira um monte de purpurina azul e some no fundo da Discovery. Osyraa dá a ordem de Aurélio aplicar em Book o soro da verdade para ele não mentir. Mas Aurélio está traumatizado com a violência de Osyraa.

A tripulação consegue chegar ao arsenal da Discovery, depois de pôr fora de ação mais capangas de Osyraa. Quando os tripulantes vão começar a pegar as armas, três robozinhos aparecem, dizendo que contêm os dados da esfera e que vão ajudar a tripulação. Fim do episódio.

Star Trek Discovery Season 3 Episode 12 “There Is a Tide…” | Tell-Tale TV
Ryn vai virar purpurina azul…

O que podemos dizer do episódio “Há Uma Maré…”? Em primeiro lugar, tivemos um bom episódio de ação. Toda uma operação de resgate de Discovery é posta em curso. Obviamente, Michael é escalada por Book para salvar o dia, mas ela não vai fazer tudo sozinha. A ela vai caber a tarefa de tirar Stamets da nave e da jogada, para que Osyraa não acione o motor de esporos, uma medida muito racional e coerente, não fosse por um pequeno detalhe: Stamets está desesperado em salvar Culber e Adira, as pessoas que ele mais ama e que não quer perder de jeito nenhum (ele já perdeu Culber uma vez, não quer perder uma segunda). Alguns podem dizer que essa é uma atitude egoísta de Stamets, mas ela ser colocada no episódio valeu para pelo menos uma coisa: quando Michael o obriga a ser expelido da nave, Stamets começa a dizer que a tripulação da Discovery fez tudo por ela e como agora ela tem a coragem de deixar Culber e Adira encararem uma morte horrível. Vemos mais uma vez o “faz o que quer” da Michael ser questionado no episódio, agora num desespero flagrante de Stamets (palmas para Anthony Rapp que convenceu muito em seu desespero). E Michael chorou e chorou (pelos registros do chorômetro, foram duas as vezes: nesta com Stamets e quando a moça deixa uma mensagem de despedida para a mãe). Apesar desse problema com Michael no episódio, não posso deixar de admitir que gostei da ideia do exaustor do sistema de incêndio do tubo Jefferies que cuspiu a capanga de Zareh para o espaço.

O núcleo da tripulação também foi bom, pois eles trabalharam em equipe para sair da situação de cativeiro. E os robozinhos, que até agora tinham uma posição periférica nos episódios, finalmente vão ajudar mais efetivamente a tripulação, pois eles contêm os dados da esfera, que quer proteger a tripulação de forma consciente. Confesso que quero ver muito isso no episódio final.

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Stamets e seu desespero com Michael.

O núcleo Stamets-Aurélio também foi interessante, sendo esse último personagem um sujeito gente boa que tem uma dívida de gratidão com Osyraa e que acaba se horrorizando com toda a venalidade da mulher verde. Ele e Stamets têm em comum o uso da ciência para fins pacíficos e quero ver o desfecho desse personagem. Espero que ele seja aproveitado para a quarta temporada e esses roteiristas não o matem no episódio final, pois seria um desperdício e uma burrice inominável. Ele seria uma ótima aquisição para o núcleo fofo de Stamets, Culber e Adira, algo que Discovery consegue fazer bem, apesar de não ser uma ficção científica ao estilo do que conhecemos em Jornada nas Estrelas.

Agora a negociação entre Vence e Osyraa. Duas coisas incomodaram. Primeiro, a atitude de súplica de Vence em fechar o acordo com Osyraa desde que ela aceitasse ser julgada pelos seus crimes. Isso não encaixou bem com o personagem de Vence, que sempre foi dotado de atitudes muito firmes durante a temporada e, agora no final fica implorando daquele jeito. Pegou mal. A outra coisa que incomodou foi a visão que o episódio deu da Corrente Esmeralda. Se nos episódios anteriores, a Corrente Esmeralda parecia muito mais um sindicato do crime com negócios escusos, no presente episódio vemos a Corrente como um Estado com parlamento e uma espécie de grande aliança comercial, com empresários capitalistas muito ricos detentores de grandes rotas comerciais, além de possuidora de renomados institutos de pesquisa. Ficou algo estranho. Com relação à visão capitalista da coisa, posso dizer que isso não me incomodou, já que, com a escassez do dilítio, os ditames do mercado voltaram nessa sociedade distópica e a Federação, que representa um fio de esperança e de utopia, deve ser realmente relutante em se aliar a uma organização capitalista que mantém a escravidão. Alguns podem reclamar dessa crítica ao capitalismo como agenda política, mas não será a primeira vez que Jornada nas Estrelas criticou o capitalismo que, apesar de ser o sistema vigente, é realmente cheio de falhas. Só seria um pouco estranho uma sociedade a mais de novecentos anos no futuro, em pleno século 32, adotar um sistema econômico vigente no século 21. Confesso que quando vejo um sindicato do crime como a Corrente Esmeralda em Jornada nas Estrelas, me lembro muito dos sindicatos do crime em Guerra Nas Estrelas, como o Sol Negro. Mas estes existiram há muito tempo numa galáxia muito distante e não no século 32 da Via Láctea (seria apenas no Quadrante Alfa???).

Dessa forma, “Há Uma Maré…” até foi um bom episódio de Discovery, pela interessante história de ação, pelo não protagonismo excessivo de Michael, pelo questionamento a liberdade para Michael fazer o que quiser e pelo papel da tripulação na operação de resgate da nave. O surgimento de Aurélio foi algo positivo e a tentativa de acordo entre Vence e Osyraa flertou com uma crítica ao capitalismo do século 21 pertinente, mas que parece um pouco estranha a uma realidade do século 32, mesmo que esta seja distópica. Esperemos como será o desfecho desse arco triplo.  

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O choro é livre…