Batata Movies (Especial Oscar) – Manchester À Beira Mar. Mais Um Choque De Realidade No Cinema.

Cartaz do Filme

Que tipo de cinema você prefere? Aquele que é a arte do ilusório, cheio de situações implausíveis para o cotidiano, onde você sonha e se liberta temporariamente das agruras da vida, ou aquele cinema onde a arte imita a vida e mostra de forma nua e crua todas as tristezas e empecilhos para nos fazer refletir? É o tipo de pergunta que não tem uma resposta única e depende da vontade do freguês que paga o ingresso na bilheteria. Pois bem. Um filme que tem sido muito falado ultimamente estreou em nossas telonas. Trata-se de “Manchester à Beira Mar”, escrito e dirigido por Kenneth Lonergan, e sua história opta por imprimir um violento choque de realidade no espectador. Ou seja, nada de fantasias e “happy-ends”. Nada de voos pretensiosos e espetaculares. Aqui é a dureza do dia-a-dia quem dá as cartas. E, por isso mesmo, o resultado foi maravilhoso em virtude de sua forte franqueza. Lembremos, ainda, que esta película concorre a seis Oscars: melhor filme; melhor ator, para Casey Affleck; melhor ator coadjuvante, para Lucas Hedges; melhor atriz coadjuvante, para Michelle Williams; melhor diretor, para Kenneth Lonergan; e melhor roteiro original, para Kenneth Lonergan. Além disso, esse filme ganhou o Globo de Ouro para melhor ator de drama (Casey Affleck).

Lee, um homem atormentado

Vemos aqui a história de Lee Chandler (interpretado por Casey Affleck), um zelador de quatro pequenos prédios que é uma espécie de faz-tudo, realizando pequenas obras nos apartamentos. Mas ele é uma pessoa muito fria e distante, quando não agressiva com moradores mais mal educados, o que rende uma série de reclamações contra ele. Fora do horário de trabalho, ele vive num pequeno quartinho, quando não está se embebedando em bares e provocando brigas sem motivo. Um belo dia, ele recebe um telefonema de um hospital para onde seu irmão, que vive em outra cidade, foi. Ao chegar lá, descobre que seu irmão está morto e precisa dar a notícia para seu sobrinho, Patrick (interpretado por Lucas Hedges). Enquanto providencia os detalhes do enterro, descobre na leitura do testamento que o irmão o deixou como tutor de seu sobrinho, o que significa que ele vai ter que abandonar o emprego na cidade onde estava e se estabelecer onde o Patrick mora. Mas Lee não quer isso e entra em conflito com o sobrinho. Isso é somente o princípio de uma série de idas e vindas entre tio e sobrinho, onde os dois terão que aprender a conviver juntos e a entrar num entendimento do que será feito, já que seus interesses são praticamente contrários em tudo.

Relacionamento complicado com o sobrinho

Dizendo o enredo do filme dessa forma, parece que a história é algo extremamente simplório e maçante. Mas não é. E isso acontece, sobretudo pela excelente atuação de Casey Affleck, que herdou a difícil missão de interpretar um personagem extremamente complicado e letárgico, em virtude de um trauma muito violento que a vida lhe impôs. Isso fazia com que ele se tornasse um homem extremamente fechado e de difícil trato com as pessoas à sua volta. E o irmão caçula de Ben Affleck deu conta do recado, tornando-se o centro das atenções. Desde o início, sentimos que há algo de muito errado com esse personagem, e descobrimos a coisa aos poucos, onde alguns flash-backs foram enxertados na estrutura narrativa de forma muito clara e sem comprometer o andamento da história (ponto aqui para a montagem). Casey Affleck faz o espectador imergir no personagem e compartilhar de todas as suas dores e angústias. E esse sentimento fica muito claro quando o tio se abre ao sobrinho bem ao final da película e diz com toda a sinceridade o que sente. Mas não o direi aqui por causa dos “spoilers”. Affleck tem a minha torcida para ganhar a estatueta de melhor ator.

Tragédia afastou Lee da esposa

No mais, a trama é cativante, pois por se tratar de um tema tão real e presente na vida das pessoas (às vezes nossas vidas viram de cabeça para baixo quando um ente querido morre), elas se identificam imediatamente com o que veem na tela, lembrando-se de algumas cicatrizes e feridas que o passado lhes deixou. É um filme sobre temas banais que nos fazem emocionar. Um filme digno da atenção que está chamando. Um bom programa para ajudar a refletir um pouco sobre a vida.

Batata Movies – xXx Reativado. As Presepadas De Sempre.

Cartaz do Filme

Vin Diesel volta a atacar!!! E ele vem com seu triplo X. Ué, na sequência ele não tinha morrido e sido substituído por Ice Cube? Que nada, ele fingiu que morreu! E está de volta, mais vivinho que nunca!!! Isso é bom ou ruim? Para quem gosta de uma baita duma presepada cinematográfica, isso é ótimo! E o espírito é esse mesmo. Você vai ao cinema para ver um espetáculo pirotécnico, com direito a muita porrada, bomba e tiro em toda a plenitude de sua essência.

O presepeiro mor de Hollywood está de volta!!!

Mas, no que consiste a trama? Um dispositivo eletrônico conhecido como Caixa de Pandora, que tem a propriedade de tirar satélites de órbita e lançá-los no planeta como mísseis que provocam violentos estragos, é roubado da Agência de Segurança Nacional por um grupo iradíssimo. Assim, Jane Marke (interpretada por Toni Collette), diretora da Agência, vai atrás de Xander Cage (interpretado por Diesel), o único cara que pode reaver a Caixa de Pandora desse grupo que a roubou, liderado por Xiang (interpretado por Donnie Yen). Mas nem sempre os vilões são vilões mesmo, assim como os mocinhos podem não ser tão virtuosos assim. E aí o pau come com muitas cenas alucinantes de ação que mais fazem rir do que qualquer outra coisa.

Desta vez, ele vem bem acompanhado pela atriz Deepika Padukone

Nem é preciso dizer que o filme tem boas presenças no elenco. Samuel Jackson rouba a cena nos poucos momentos em que aparece, sendo que traz Neymar (isso mesmo, você leu direito!!!) a tiracolo. Toni Collette, a inesquecível Muriel de “O Casamento de Muriel”, faz uma chefona do governo muito casca grossa e chamou a atenção. Mas quem despertou mais simpatia foi sem a menor sombra de dúvida Donnie Yen, o Chirrut Îmwe de “Rogue One”. A impressão que dava é que, a qualquer momento, ele iria entoar seu mantra que já virou praticamente uma espécie de hino para todos os fãs de “Guerra nas Estrelas” (“Eu estou com a Força, a Força está comigo”).

É isso mesmo, o Neymar trabalha no filme!!!

Yen foi um par à altura para Diesel (ou até acima dele, depende do ponto de vista), que dessa vez, não trabalhou sozinho, como no primeiro filme, e contou com uma equipe muito doida, composta por atores não muito conhecidos. Não podemos deixar de destacar, dentre esses desconhecidos, a presença de Deepika Padukone, que fez par romântico com Diesel e tem origem indiana, muito mais por sua beleza do que por qualquer outra coisa.

Eu estou com a Força, a Força está comigo!!!

Assim, “xXx Reativado” cumpre bem o seu papel de ser um filme de ação cheio das papagaiadas, com um protagonista, que ainda precisa de pastilhas contra rouquidão, detonando tudo que vê pela frente. Pelo menos, ele contou com um bom elenco de apoio dessa vez, o que deixou o filme um pouco mais interessante. Ah, e teve o Neymar como toque de surrealismo. Pelo menos colocaram um golaço de falta nos créditos finais, como se isso tivesse alguma coisa a ver com o filme. Pois é, sem zoação não tem graça. Mas, não deixe de ver o trailer abaixo. Como comédia, o filme é diversão garantida.

Batata Movies – Jack Reacher, Sem Retorno. Mas Voltou, Não Voltou?

Cartaz do Filme

 

Tom Cruise está de volta com “Jack Reacher, Sem Retorno”. Esse filme não foge muito do que foi o primeiro “Jack Reacher”: um filme típico de ação, com direito a muita bomba, porrada e tiro. Mas há um detalhe também não menos conhecido: ele segue a consagrada maldição de que as sequências são piores do que os primeiros filmes. Se no primeiro “Jack Reacher”, ainda houve uma trama que prendia a atenção, independente das cenas de ação, nesta sequência a trama ficou mais fraca e as cenas de ação foram a atração principal. Como resultado, é um filme somente para distrair a cabeça, onde já sabemos que o mocinho vai matar o bandido no final, e a única coisa que interessa é pelo que o mocinho e o bandido brigam.

Jack Reacher está de volta!!!

Nesta história, Jack Reacher (interpretado por Tom Cruise) vai ajudar sua amiga, a Major Susan Turner (interpretada por Cobie Smulders) a se livrar de uma acusação de espionagem e de uma tentativa de assassinato. Ainda, dois subordinados da major foram assassinados no Afeganistão. Reacher ainda foi acusado injustamente de assassinato e de ter uma suposta filha que não reconheceu, Samantha (interpretada por Danika Yarosh), que vai ser perseguida pelos vilões, dadas as suas ligações com Reacher. Aí é aquilo que já conhecemos. Reacher, Tuner e Samantha vão investigar toda a tramoia que foi criada para incriminá-los, além de ter que fugirem da perseguição de seus algozes. É claro que Reacher quebra algumas pernas e braços (quando não quebra pescoços) como sempre faz de hábito.

É uma pena que Cruise seja o único ator conhecido do filme. Se houvesse mais um medalhão, ainda haveria a graça de presenciarmos Cruise contracenando com outro ator que chamasse a atenção, mas isso não aconteceu. Sobrou apenas Cobie Smulders, que foi relativamente bem em seu papel, mas nada que empolgasse muito. Pelo menos, esse foi um filme de ação mais das antigas, onde os CGIs foram substituídos por cenas de luta bem coreografadas, já que a grande virtude de Jack Reacher é ser extremamente ágil e violento em suas surras. Só que isso não é suficiente para dizermos que o filme foi bom.

Esse trio vai ter que desvendar a tramoia contra eles e ainda fugir da perseguição mortal dos vilões. Eu já vi esse filme!!!

Dessa forma “Jack Reacher, Sem Retorno” mostra apenas o que já era esperado, sem empolgar muito e é apenas mais uma produção que Tom Cruise fez para esse personagem que ele parece gostar tanto. Só que o primeiro filme foi bem melhor. Uma pena que a continuação não tenha sido à altura. De qualquer forma, não deixe de ver o trailer abaixo.

Batata Movies – Sete Minutos Depois Da Meia Noite. Um Monstro Para Uma Situação Monstruosa.

Cartaz do Filme

Um interessante filme com cara de blockbuster paira em nossas telonas. “Sete Minutos Depois da Meia Noite” (“A Monster Calls”), dirigido por J. A. Bayona e baseado no livro de Patrick Ness, que também é um dos roteiristas, parece um daqueles filmes juvenis com ares de fantasia. Mas ele consegue ser mais do que isso. É uma película que, acima de tudo, é uma lição de vida.

Conor, um menino atormentado

Vemos aqui a história de Conor (interpretado por Lewis MacDougall), um menino cuja realidade é altamente cruel. Sua mãe (interpretada por Felicity Jones) sofre de uma grave doença, o pai (interpretado por Toby Kebbell) vive em outro país e ele não tem um relacionamento bom com a sua avó (interpretada por Sigourney Weaver). Na escola, ele é o típico “outsider”, sofrendo constantes “bullyings” dos colegas. Um belo dia, um enorme monstro em forma de árvore (cuja voz é interpretada por Liam Neeson) invade seu quarto e lhe diz que vai contar três histórias e, depois, o próprio Conor terá que contar uma história à árvore monstro. O menino não entende nada e aquela árvore passa a ser uma presença constante em sua vida, enquanto ele precisa lidar com os muitos problemas de seu dia-a-dia.

Pois bem. Dá para perceber que a chave de toda a trama do filme está nessas três histórias contadas pela árvore ao garoto e que Conor desenvolverá a sua história a partir da relação entre as histórias da árvore e da sua vida. A princípio, o menino não entende muito qual o sentido das histórias que não seguem um padrão formal como, por exemplo, mocinhos totalmente bons ou vilões totalmente ruins, mas, pouco a pouco Conor vai percebendo como aquelas histórias se encaixam perfeitamente nas situações reais pelas quais ele passa e com seus dolorosos pesadelos, ajudando-o a encarar a dolorosa perda iminente da mãe. Entretanto, esse processo não será feito sem violentos percalços que surgem a partir da violenta reação do garoto às adversidades da vida, reações essas que aparecem quando ele está em contato com a árvore.

Ele terá que se acostumar com sua árvore monstro

Mais do que uma fantasia para o público adolescente, o filme mais se aproxima de um pesado drama psicológico para o público adulto. Não é uma historinha bonitinha, cheia de magia, mas sim uma forte dor do inconsciente de um menino altamente atormentado, que atinge ao público em cheio.

Explosões de raiva!!!

No mais, podemos falar um pouco dos atores. O garoto Lewis MacDougall, que interpreta Conor, foi muito bem e segurou o rojão de fazer um papel muito complicado onde o choro, o desespero e a raiva eram constantes. Felicity Jones, depois do sucesso de “Rogue One”, aparece menos no filme, mas proporcionou ternos momentos com o MacDougall. Foi um barato ver Sigourney Weaver de volta às telas, agora como avó. O desentendimento com Conor proporcionou boas sequências onde a atriz mostrou bastante carga dramática, sobretudo no momento em que Conor destrói um quarto inteiro, motivado pelo monstro. Ali foi um dos melhores momentos do filme. Weaver olhava estarrecida para toda aquela destruição com um misto de dor, ódio, tristeza, surpresa, decepção, não dizendo uma palavra sequer, o que somente mostra o grande talento dessa atriz.

Foi bom rever Sigourney Weaver

Assim, “Sete Minutos Depois da Meia Noite” pode até não ser um filme que, a princípio chame muito a atenção, por parecer mais um filminho adolescente de férias. Mas com certeza, essa película tem mais conteúdo do que isso. Ela nos remete a um forte drama psicológico recheado de metáforas, que se unem como as peças de um quebra-cabeças à vida de Conor ao longo do filme. E o desfecho tem um ar lúdico, que consegue compensar um pouco a forte carga negativa que vemos ao longo da exibição. É uma experiência curiosa ver essa película. E não deixe de ver o trailer abaixo.

Batata Movies – Assassin’s Creed. Credo!

Cartaz do Filme

Quando você vê um grande blockbuster inspirado num livro ou num jogo de videogame do qual você não sabe nada, sua visão obviamente vai ser diferente de quem é fissurado naquele livro ou jogo de videogame. Foi mais ou menos o que aconteceu comigo ao assistir “Assassin’s Creed”. Confesso que o trailer não me atraiu muito e talvez eu nem fosse ver a película se não houvesse um detalhe todo especial: eu simplesmente adorei o elenco. Michael Fassbender contracenando com a fofíssima Marion Cotillard e Jeremy Irons. E, ainda por cima com uma participação toda especial de Charlotte Rampling que eu descobri ao longo da exibição do filme, com Brendan Gleeson de brinde. Realmente, somente atores de quem gosto muito. Esse fator, mais a curiosidade do que se trata essa trama, que é baseada em História da Idade Moderna, com direito a templários, Inquisição e Reconquista da Península Ibérica, me deram esperanças de que eu fosse ver esse filme com bons olhos. Infelizmente, me enganei. Talvez, se eu tivesse algum contato com o game, teria uma opinião diferente. Talvez…

Cal Lynch será ligado a…

Bom, no que consiste a história para os neófitos em Assassin’s Creed? No ano de 1492, os muçulmanos haviam sido praticamente todos expulsos da Península Ibérica pelos cristãos. A Igreja Católica é uma organização dominada pelos templários, que acham que o livre arbítrio é a causa de todas as mazelas da humanidade. Ou seja, os católicos agora querem agora dominar mais do que nunca os corações e mentes das pessoas. Para isso, eles querem dominar a maçã do éden, uma espécie de dispositivo que é fonte de toda a discórdia humana. Mas o grupo de assassinos, que defendia o último sultão ainda presente na Espanha, vai evitar que os templários fiquem com a tal maçã em seu domínio. Um dos assassinos, Aguilar (interpretado por Fassbender), vai deixar uma linhagem cujo seu descendente, Cal Lynch, será condenado à morte por homicídio. Mas ele será falsamente executado e inserido num programa que busca procurar uma solução para a violência humana. Esse programa é dirigido por Sofia (interpretada por Cotillard), na empresa do pai, Rikkin (interpretado por Irons) e consiste em procurar memórias genéticas em Lynch, onde uma máquina irá reproduzir nele tudo o que aconteceu com Aguilar. Mas, na verdade, tanto Rikkin quanto Sofia são templários do século 20, que ainda querem acabar com o livre arbítrio da sociedade, acreditando que isso é a cura para a violência humana. Vai caber a Lynch lutar contra isso.

… Aguilar!!!

Devo confessar que o enredo é até bom, mas a forma como ele foi apresentado no filme não ficou muito boa. Em primeiro lugar, sabemos que esse é um típico filme de porrada, bomba e tiro regado a muitos CGIs. Até aí, tudo bem. Mas o problema é que a fotografia da película (ou pelo menos da cópia que eu vi) ficou um tanto escura, o que comprometeu um pouco a materialidade visual da coisa. Os assassinos eram caras muito ágeis que pulavam prédios, saltavam em telhados, andavam em cima de cordas e muito pouco podia ser visto naquelas imagens mal iluminadas. Isso já faz com que o filme não fique com uma cara muito simpática, pois sua principal atração está praticamente às escuras. Outra coisa foi a forma como a trama foi apresentada. A narrativa foi meio enrolada e confesso que me perdi um pouco. O desfecho também foi um grande problema, pois apesar de ter acontecido algo de grande efeito, ainda assim ficou um jeitão enorme de anticlímax, do tipo “Ué, já acabou?”. Um gancho para continuação, talvez? Sei não, mas do jeito que ficou, eu não veria a segunda parte desse filme.

Sofia e Rikkin . Templários…

Assim, “Assassin’s Creed” acabou não sendo uma boa experiência para uma pessoa que não conhece o jogo, como eu. Embora o enredo do filme seja bem interessante, ainda assim ele poderia ter sido melhor apresentado. E, de preferência, com uma fotografia mais clara para a gente curtir melhor as cenas de ação e efeitos especiais. Uma pena. de qualquer forma, não deixe de ver o trailer abaixo.

Batata Movies – Passageiros. Ficção Científica E Drama Amoroso Como Panos De Fundo.

Cartaz do Filme

A nova queridinha da América, Jennifer Lawrence, está de volta em uma ficção científica um tanto híbrida com um drama amoroso. “Passageiros”, também estrelado por Chris Pratt (de “Guardiões da Galáxia”), é um filme que trabalha um tema um tanto batido em ficção científica: o das hibernações em viagens espaciais que duram muitos anos. Só que procurou-se dar um molho especial à história, abordando-a por um outro viés que mais se aproxima de uma questão moral.

Jim e Aurora. Viagem que é pano de fundo para uma questão moral

A viagem em questão dura cerca de 120 anos e é realizada pela espaçonave Avalon para um planeta colônia chamado Homestead II, pertencente a uma empresa privada. Cerca de cinco mil pessoas viajam em hibernação, quando a nave atravessa uma nuvem de asteroides, colidindo com um bem grande, o que vai provocar um defeitinho na nave que, inicialmente, apenas desligará uma das câmaras de hibernação e vai despertar seu ocupante, Jim Preston (interpretado por Pratt), que acordou noventa anos antes de a nave chegar a seu destino, ou seja, ele foi condenado a passar o resto de sua vida sozinho pela nave, embora tivesse uma única companhia, o robô Arthur (interpretado por Michael Sheen, que nada tem a ver com Martin ou Charlie Sheen). Nem é preciso dizer que Jim pirou na batatinha. Depois de cerca de um ano, ele reparou numa moça em hibernação e se sentiu atraído por ela. Ao checar seus dados no sistema, ele descobriu que ela se chamava Aurora Lane (interpretada por Lawrence) e era escritora. Quanto mais Jim conhecia a vida e a personalidade de Aurora, mais ele se apaixonava por ela. Até que ele tomou a decisão de tirá-la da hibernação para iniciar um relacionamento amoroso com a moça, algo de sérias implicações morais. A partir daí, vemos uma linda história de amor que pode sofrer uma terrível reviravolta, mas chega de “spoilers”.

Amor e ódio

Pois é, ficou a impressão de que a ficção científica aqui foi o pano de fundo para uma história de amor que, por sua vez, serviu como pano de fundo para discutir uma questão de ordem ética. A ficção científica até retorna com mais força ao fim do filme, mas para novamente servir de escada à historinha de amor que podia ser um pouco menos trivial. Mas como é Hollywood e não é cinema europeu, sobretudo o francês, que é mais realista e menos sonhador, somos obrigados a engolir obviedades, o que é uma pena.

Uma coisa que foi meio inquietante foi a variação de sentimentos da personagem Aurora. Eu sei que o cinema é a arte do ilusório, que na tela grande o amor vence todas as adversidades (quando na vida real é justamente o contrário), mas o comportamento de Aurora me pareceu pouco digno para algo tão imperdoável. E foram dadas chances de redenção para toda a complexidade da questão que foram simplesmente descartadas, o que foi uma pena, pois seria um desfecho pelo menos mais honroso para os personagens. Esse era o tipo do filme que se tornaria muito mais interessante se o  “happy end” fosse abolido e seria algo totalmente compreensível, dado o contexto da trama.

Andy Garcia. Aparição meteórica

Além das aparições de Lawrence e Pratt como protagonistas, tivemos uma rápida, mas muito boa presença de Laurence Fishburne como Gus Mancuso, um membro da tripulação que também é retirado da hibernação, e uma meteórica aparição de Andy Garcia bem ao final do filme. Sempre acho muito lamentável essas aparições muito rápidas de atores consagrados. Fica uma impressão muito amarga de decadência para com artistas de que gostamos muito.

Dessa forma, “Passageiros” é um filme que, acima de tudo, trabalha mais uma questão moral, mas todo esse discurso foi jogado no lixo em prol de um final feliz hollywoodiano. A ficção científica e o drama amoroso? Apenas panos de fundo. Uma pena. Mais uma impressão de boa ideia que foi desperdiçada.

Batata Movies – La La Land: Cantando Estações. Os Musicais Agradecem.

Cartaz do Filme

E já estreou em nossas telonas o grande vencedor do Globo de Ouro este ano. “La La Land: Cantando Estações”, escrito e dirigido por Damien Chazelle (o mesmo que escreveu e dirigiu o fantástico “Whiplash”) ganhou sete prêmios: melhor filme (musical ou comédia); melhor ator (musical ou comédia), para Ryan Gosling; melhor atriz (musical ou comédia), para Emma Stone; melhor diretor para Damien Chazelle; melhor roteiro, também para Damien Chazelle; melhor canção; e melhor trilha sonora. “La La Land: Cantando Estações” ganhou todas as sete categorias que disputou no Globo de Ouro e deve vir forte no Oscar. Mas, o que esse filme tem de tão bom? Em primeiro lugar, trata-se de um musical, um gênero que raramente dá as suas caras no cinema hoje em dia. Só isso já faz aumentar a atenção e interesse pelo filme. E, como foi feito esse musical? Pudemos presenciar aqui uma grande homenagem aos antigos musicais da RKO e da Metro, com toda uma estética altamente retrô e que homenageava os grandes filmes da Hollywood de outrora. Isso foi um deleite para qualquer cinéfilo de plantão, constituindo-se numa espécie de um rosário formado por “Easter Eggs”. Para todos os lados, havia sempre um cartaz de filme antigo ou fotos de divas da Hollywood antiga. Mas esse ambiente saudosista era mesclado com nossos dias atuais, o que deu um efeito interessante.

Mia e Sebastian. Um casal muito dançante

Assim, podíamos ver um número musical com tremenda cara de “Cantando na Chuva” sendo interrompido por um toque de celular, por exemplo. Ou carrões antigos andando na rua junto com os carros de hoje em dia, promovendo uma verdadeira mesclagem entre tradição e modernidade. Tal mistura também é vista na narrativa do filme. Sabemos que os antigos musicais surgiram mais como uma espécie de distração para o grande público se esquecer das mazelas da crise econômica iniciada em 1929. O que mais importava nesses filmes eram os imponentes números musicais. As histórias desses filmes eram muito simplórias e até bem bobinhas, apenas um pretexto para podermos presenciar figuras eternamente amadas como Fred Astaire, Gene Kelly, Frank Sinatra, Cyd Charisse, Donald O’Connor, Ginger Rogers ou Debbie Reynolds cantarolando e dançando. Em “La La Land”, a película começou com a mesma cara desses musicais antigos: uma moça, Mia (interpretada por Stone), tentando a carreira de atriz em Los Angeles, e um rapaz, Sebastian (interpretado por Gosling), amante do jazz e que quer abrir sua casa de shows para apenas tocar jazz antigo e tradicional, para não deixar essa arte morrer. Os dois se conhecem num desentendimento e gradativamente se apaixonam. E os muitos números musicais ocorrendo enquanto o casal se tornava mais íntimo. Mas, a partir da segunda metade do filme, houve um foco maior na história dos dois, e curiosamente, os números musicais desapareceram, dando origem a um drama convencional, mais antenado com o cinema dos dias atuais. Ou seja, o toque de magia e fantasia dos musicais desaparece numa certa parte do filme, e o choque de realidade nos atinge em cheio, para uma volta maior do lúdico mais ao final da película. Alguns podem achar isso uma descontinuidade no roteiro do filme. Mas eu prefiro acreditar que tivemos um roteiro excepcional aqui, mostrando que o debate entre a tradição e a modernidade não se dava apenas no campo estético, mas também no campo narrativo.

Lindos números musicais

E os atores que fizeram os protagonistas? Ryan Gosling deve estar elevando as mãos aos céus até agora. Depois de aparecer bem em alguns filmes, o ator decidiu dirigir um filme e a crítica foi impiedosa com ele, colocando-o em baixa. Podemos dizer que “La La Land” o ajudou a dar uma monumental volta por cima. Entretanto, mesmo ganhando o prêmio de melhor ator no Globo de Ouro, sua boa presença era meio que ofuscada por Emma Stone, essa sim muito bem no filme. Ela cantava bem mais que Gosling, por exemplo. E foi bem melhor na parte mais dramática da película, quando os números musicais desapareceram. Gosling, por sua vez, ficou mais com aquela cara meio abatida de quem parece que acabou de tomar um fora. Mais melancolia e menos expressividade. Já Stone parecia estar com os nervos à flor da pele nos momentos dramáticos mais intensos. Agora, vamos combinar: no número de sapateado, os dois eram bem ruinzinhos. Deu para sentir que fizeram uma coreografia bem simplória para os dois não se enrolarem muito. De qualquer forma, valeu pelo esforço. E não dá para se exigir dos dois um padrão Fred & Ginger.

Ryan Gosling e Emma Stone colhendo os louros da vitória no Globo de Ouro

Assim, se você é fã da Hollywood antiga, mais precisamente da fase dos grandes musicais, “La La Land: Cantando Estações” é simplesmente um programa imperdível e o filme pelo qual você irá torcer no Oscar esse ano. Alguns números musicais são claras homenagens a números que já foram vistos em filmes como “Cantando na Chuva” ou “Sinfonia de Paris”, levando os mais sensíveis às lágrimas (como foi meu caso). Mas também é um filme que faz um divertido jogo entre tradição e modernidade, seja do ponto de vista estético, seja do ponto de vista narrativo. É um filme para se ver, ter e guardar.