Batata Literária – Macropoesia

Estou nas estrelas

Gigante, plena

Perambulo pelas nebulosas

De nossa enorme galáxia

Explodindo em supernovas

Fluindo energia quase infinita

Até os confins do Universo

Sou comprimida violentamente

Nos núcleos de megamundos gasosos

Quase sumo nas densidades infinitas

De caroços de buracos negros

Estou em bolsões de pura energia

Das bolhas de multiversos

Giro mais rápido que os pulsares

De campos magnéticos estúpidos

Não há espaço para o cataclisma

Sou arquiteta da catástrofe

Me oriento pela disrupção total

Que semeia o Universo de partículas

E estimula novas probabilidades

Vou além do horizonte de eventos

Além das estrelas degeneradas

Além dos fluxos de matéria

Afunilados em campos magnéticos

Horrendos e impiedosos

Gero vida nos pequenos bebês

De protoestrelas jovens, mas débeis

Tiro da morte a chance da vida

Nutro estrelinhas no útero das nebulosas

E reorganizo a entropia cruel…

Batata Literária – Minipoesia

Sou pequenininha

Miudinha

Delicadinha

Caibo no buraquinho

Do seu dentinho

Sou levada pelo ar

Um grão de areia no mar

Um átomo numa estrela

Uma partícula na poeira

Um cisco no olho

Uma gota de suor

A umidade da caixa d’água

A sujeirinha no canto da sala

O sussurro que se cala

O grão de arroz na mala

A última gota de tinta

Da canetinha exaurida

O último suspiro

Batata Literária – Poesia de Bolso

Vou escutar o Roquete

Escondido na pochete

Larga o cabo da raquete

E olha no ar o Ultrassete

Esconde a horda dos burgúndios

Guerreiros atabalhoados e estapafúrdios

Deixa os trogloditas no bolso esquerdo

Mas não deixa cair o bárbaro no arremedo

E no bolso direito, você coloca as bailarinas

Serelepes, cristalinas

Rodopiando em pedaços de jeans

Tresloucando emaranhados de linhas

Um Universo cabe nesses bolsos de fundo infinito…

Batata Literária – A Sapeca (Também Conhecida como Becka ou Poia)

Quando chego a casa

A danadinha logo pula em cima de mim

Seu pelo branco meu nariz arrasa

É uma festa sem fim

E tem as lambidas

Duradouras, incontidas

Além dos pedidos de ossinhos

E o rodopiar dos bifinhos

Seu nome é Rebeca

Que lhe foi dado desde moleca

Mas muita besteira ela tem cometido

Então, Poia é justamente seu apelido

Quando ela chegou a casa, parecia um ratinho

Andando para lá e para cá em rápido passinho

De noite, chorava como um neném

E, assim, não deixava dormir ninguém

Ela teve, também, uma fase destruidora

Celular, chinelo, lingerie, tudo entrava em sua zorra

Ela quase do lar foi expulsa

Mas eu bati o pé e dessa decisão fiz  repulsa

A Poia, em casa continuou

E, finalmente, ela direito se comportou

Embora, às vezes, tenha uma recaída

E, enquanto recebe bronca, atrás de mim fica escondida

Essa cadela é quase humana

Me pede guloseimas em linguagem insana

Abre a boca e emite sons agudos no ar

Por um momento, até parece que ela vai falar

Mas, divertido mesmo, é quando brincamos de brigar

Ela late, me morde de leve e fica a arfar

Mas, legal mesmo é a brincadeira de picolé

Quando ela me lambe da cabeça ao pé

Saudades da minha cachorrinha… ela se foi em abril…

Batata Literária – Micromenino

Puxa!

Como está quente hoje!

Vou ter que sair da minha toca

Embaixo da folha de flamboyant

E lavar minha roupa na gotona

Mais um passeio pela floresta

Só que tenho que evitar o pisão das formigas

E também os seus ferrões mortais

 

Nossa! Que barulho!

As abelhas estão pegando pólen hoje!

É bzzz pra cá

Bzz pra lá

Ainda bem que trouxe o protetor de ouvido

E que bom que os pólens são fofinhos

Não machucam quando caem na cabeça

Já imaginou se fossem essas pedras de grãos?

 

Opa!

Que droga!

Quase eu caí!!!

Esses ácaros estão cada vez mais arteiros!

Só passam em manadas, correndo!

Me deram uma banda!

Bichinhos inconvenientes…

Derrubam tudo com aquele bundão

 

Ah, que bom!

Cheguei!

Na gotona!

Vou começar a lavar a roupa

Só preciso tomar cuidado com a marola

Senão sou atraído para dentro

E não saio mais

Morro afogado.

 

Agora, sim!

Tudo lavado!

Vou para casa!

Vou correndo!

Antes que o céu fique escuro

E tudo seja esmagado

Acho um saco essa correria

Mas fazer o que, né?

 

Batata Literária – Pedagogia da Paciência

Preciso de paciência

Muita paciência!!!

As pessoas estão muito sem noção

Do mais pobre ao mais alto figurão

Paciência frente à indecência

Paciência frente à demência

Paciência frente à incompetência

Paciência frente à sofrência

 

O que aconteceu com a galera?

Faz filho e não cria

O futuro não brilha

O Estado não cuida

Forma-se exército de pulha

Presente no brejo

Passado no lixo

Ninguém é prolixo

 

Às vezes, dá vontade de fugir

Sumir, sumir, sumir…

Ir para um lugar mais decente

Onde o caráter é mais frequente

Mas aí eu me lembro

Roupa suja se lava em casa

E aí, não segue o exílio tremendo

O povo deve criar sua própria asa

 

E fico eu por aqui

Nessa missão mordaz

Viajando para cá e para ali

Sem direito a um respiro fugaz

Poucos se salvam nesse poço de ineficiência

Quase nenhum alcançará a independência

Será que um dia isso irá mudar?

Já estou perdendo a paciência de tanto esperar!

 

E pensar que tudo poderia ser melhor

Se o brasileiro valorizasse o próprio suor

Mas, só sobra a conversa infame

Barulho demente e inclemente

E uma falta de amor próprio pusilânime

Perdido, no meio disso tudo, o conhecimento

Que podia evitar o sofrimento

Mas aqui, a sabedoria fica mais ao relento

 

Ô povo vacilão!

Assim não dá mais não!

Troca a educação e cortesia

Por uma agressividade e vilania

Parece que não quer aprender

Para, no futuro, aumentar as chances de sofrer

Depois, só vai fazer burrada

Com a mamãe, a vovó, a titia e a amada

 

Quem sabe um dia esse caos não termina

E a gente evita a tragédia bárbara

Quem sabe a família não fica mais aflita

E a gente tem uma vida menos tártara?

Sonhar não custa nada, dizia o poeta

Podemos transformar o país num deleite para o esteta

Precisamos cuidar mais de nosso povo combalido

Pois assim damos às nossas vidas algum sentido

 

É muito difícil consertar

Um erro de mais de quinhentos anos

Precisamos a camisa suar

Para mudarmos o país de antanhos

Assim, comecemos a arregaçar as mangas

E vamos trabalhar às pampas

Pois, não quero que amaldiçoem minha geração

E, no futuro, digam que abandonei a nação

Batata Literária – Passos da Vida

Primeiro, uma luz

Frio, dor, choro…

E logo, algo quente e gostoso

Não me lembro o que aconteceu logo depois

Só palavras vagas, com muito carinho

Depois, as brincadeiras

As primeiras sensações

Risos do fundo do corredor e sofás destruídos

 

Aí, veio a mudança

A rua de barro ficava para trás

Agora, era o apartamento e a praia

Tinha o tal do cinema, também

O macaco gigante e naves espaciais

Destruindo a Estrela da Morte

As saídas às escondidas

E o medo do retorno

 

Mas aí, viria a tal da escola

A obrigação batendo à porta

A descoberta das letras

A descoberta, pelo amigo, da História

E as professoras afetuosas

Tias sem fazer parte da família

Era, ao mesmo tempo, chato e legal

A liberdade imediata restrita

 

Em busca de uma liberdade maior no futuro…

 

Os estudos continuavam

Ginásio, outra escola, de frente para o mar

Mas eu só via as pastilhas da parede do prédio

As paixões começavam a ficar mais ardentes

Só que a timidez sempre estragava tudo

E assim foi no Segundo Grau

Outra escola, mais paixões

Só o conhecimento aplacava minhas tensões

 

Veio as Universidades!

Muitos anos! Muitos anos!

Um nível mais alto!

Perdido e decepcionado!

Mas, pouco a pouco, enquadrado!

Saio de uma, vem a pós-graduação…

Anos de agonia, mas de conquista

E volto para uma segunda graduação

 

Lá, muito aproveitei

E, volta e meia, também chorei…

Ilusão com as pessoas

Que, às vezes, são muito bobas…

E sofrem, também…

Ah! Que eu saia disso!

No fim, a mãe doente

Prenúncio de uma violenta torrente

 

Veio mais alguma decepção

Mas veio uma pessoa

Que me ensinou a direção

Tomei de vez as rédeas da vida

E fiz a mim mesmo

Hoje, tento levar o que sei

A quem ainda começa

Poucos entendem o motivo

 

E se entediam à beça…

 

Pelo menos, o cinema voltou…

E, minha vida, mais uma vez motivou…

Sigo adiante até não haver mais doravante…

Batata Literária – Fadas Coloridas Num Campo De Flores

Ô vermelha!

Peraí!

Você tá muito rápida!

Ah, não me enche, azulzinha!

Você é café-com-leite!

Sempre chorosa!

Olha só a verde!

Tá muito mais rápida do que a gente!

 

Ô amarela!

O que é?

Sai daí das margaridas!

A gente nem te vê!

Ah, é que aqui tem menos abelhas!

Dá para catar o pólen sem aquele “bzzz” no ouvido

Vem logo com a gente!

Já vou, já vou!

 

Ai, meu Deus, a laranja sempre nas frutas cítricas!

Deixa de ser implicante, vermelha!

Não enche o saco, verde!

Ihhh, briga de verde e vermelho se chama daltonismo

Muito engraçado, azulzinha!

Já estamos chegando?

Já, azul-bebê café-com-leite!

Não implica com a caçula!

 

Opa! Chegamos!

Caramba! Quantas cores!

Esse campo florido é mesmo uma beleza!

Pólens de todos os tipos, cheiros e sabores!

Vamos lá meninas, ao trabalho!

Mas tenham cuidado para não se perderem

A gente se camufla nessas cores todas!

Pode deixar, ô vermelha rabugenta!

 

Ufa! Conseguimos!

Temos pólen para um mês!

Olha esse azul turquesa! Que lindo!

Ah, eu prefiro o vermelho-sangue

O verde sempre tem uma aparência mais ecológica!

Poxa, não vi nenhuma flor de maracujá! Estou tão estressada!

Chega de papo, dondocas! Vamos para casa!

Yes, Sir!

 

Como está a produção de bombas de essências de amor?

Tá indo de vento em popa, vermelha!

Que bom! A gente precisa terminar rápido!

Vem guerra por aí?

Sim, verde! Mais uma no Oriente Médio!

Que saco! Esses caras só querem saber de briga!

É que transferiram a capital

Só para provocar, né?

 

E há mais algum lugar?

Tem um país lá na Ásia, também

A coisa tá complicada lá?

Muito! Lá, a gente vai ter que usar as bombas nível 13

As bombas para guerra severa?

Isso mesmo! O governante lá é muito doido!

Tá matando geral?

Tá matando geral! A gente tem que acabar com isso!

 

E tem mais algum lugar?

Ahhh, tem sim! Pode crer!

E onde é?

Tá vendo aquele país cheio de árvores lá?

Ihhh, aquele de novo?

Pois é! O de gente sem noção total!

Caramba, vermelha! Acho que a gente vai ter que triplicar o estoque de pólen!

Fazer o que, né?