Batata Literária – Na Fortificação (Série Histórica)

Não posso dormir!

Tenho que tomar conta do Forte!

Se eu, porventura desmaiar

Os gentios virão novamente

E, mais uma vez, roubarão a comida

E preciso estar abastecido sempre

Para servir as naus quando elas chegarem

De meu distante Portugal

 

Ah, Portugal!

Quantas saudades d’aquém mar!

Lugar onde há civilização!

E estão minha mãe e meu pai!

E, principalmente, está a minha Violeta!

Prometida a mim e que me ama!

Como é belo o Tejo!

Como são belas as vilas do interior!

 

Mas, por hora, devo esquecer minha casa

Minha realidade nesse momento é o além mar

Essa terra estranha… quente, úmida!

Cheia de plantas e animais exuberantes

Mas também coberta de gentios selvagens

E mosquitos… muitos mosquitos!

Não aguento mais essa tortura!

Mas ainda tenho quatro meses sozinho pela frente

 

Está escuro

Ouço todos os barulhos… será que são eles?

Vejo movimentos nas matas… são eles!

Pego minha arma! Vou apontar!

Atirei!  Corram, miseráveis!

Um ficou no chão. Uma grande mancha sai dele

É seu sangue cheio de pecados, contaminando a terra já contaminada

Te mandei para o inferno, besta desalmada!

Batata Literária – Um Homem Chamado Hans (Série Histórica)

Como eu vim parar aqui?

Até hoje me pergunto!

Vivendo no meio desses selvagens sem alma

Nessa terra desconhecida e hostil

Eles me arrancaram as roupas

Os insetos atacam meu corpo sem piedade

Fico cheio de coceiras e febres

E o calor é insuportável!

 

Apesar de não possuírem alma

Os selvagens formam grupos

Eles entram em guerra

Usam armas primitivas

Se matam como bárbaros!

E, como se não restasse mais nada

Eles devoram seus prisioneiros

Para minha estupefação e horror

 

Toda essa situação me dá muito medo

Já até me convenci de que estou condenado

Condenado ao mundo de Lúcifer, ainda em plena terra

Mas ainda não perdi as esperanças totalmente

Espero que, um dia, eu saia daqui

E volte para a civilização lá na Europa

Nunca mais verei essas caras morenas malignas

E penas, não quero vê-las nem mesmo nos pássaros

 

Apesar de toda minha angústia

Eu devo confessar

Uma selvagem me cativou

Ela quer toda hora comigo brincar

Faz da rede sua alcova

E começa comigo os jogos sexuais

O forte calor dispara minha libido

E, nos braços dela, esqueço minha desgraça

 

Um dia, os europeus me acharam

E, mais tarde, me levaram

Estava livre, afinal

Sairia daquele ciclo infernal

Mas uma coisa ficou para trás

Aquela selvagem

Apesar de seu amor animal

Em minha partida, seu choro foi de humanidade abissal

 

Batata Literária – O Iluminador (Série Histórica)

Lá vem a noite

Lá vou eu!

Está na hora de acender as luzes!

É o inverno… escurece cedo, clareia tarde…

Vou começar pelas ruelas

Antes dos primeiros tigres

Quando o fedor vai estar insuportável

E as ruas, vazias

 

Que trabalho ingrato, o meu!

Acender a iluminação dos postes da rua!

Para depois, apagar tudo, logo cedo

Bem que podia haver um botão em algum lugar

E, ao apertá-lo, todas as luzes aparecerem ao mesmo tempo

Ah, mas eu estou sonhando

Isso nunca vai acontecer

Também, se acontecesse, o que seria de meu emprego?

 

As ruas já estão vazias

E, graças a mim, não tão escuras

Ihhh! Lá vêm eles, os tigres!

Esses negrões com vasos de ferro na cabeça!

Cheios das merdas das águas servidas!

Aquele lá já está todo manchado de cocô!

Vou na direção contrária a do mar

Pois é lá que todos vão jogar o lixo e as imundas águas!

 

Ufa! Cheguei à Rua da Vala!

Finalmente a cidade acabou!

Daqui para lá, só os terrenos das negras irmandades

E dos sujos ciganos

Eles habitam brejos aterrados

Filhos da lama insana e fedorenta

Povos de condenados

Horror para os olhos dos abastados

 

 

Batata Literária – Porrada!

Sou um Pit-Boy!

Quero dar porrada!

Muita porrada!

Nos fracotes!

Nos viados!

Nos caras do outro time!

Nas domésticas do ponto de ônibus!

Nos índios e mendigos!

 

Saio com uma galera aí!

Junto com eles, sou muito corajoso!

Mas, se estou sozinho

Meto meu rabinho entre as pernas

Gostamos de pegar umas meninas

Às vezes, elas ficam com a gente

Noutras vezes, ficam também

Porque, se não querem ficar, a gente mete a porrada!

 

Mas eu quase não fico com mulher

Elas são um bicho muito esquisito!

Na verdade, nunca vi uma buceta ao vivo!

Só vejo nas minhas punhetas

Dizem que elas abrem as pernas se a gente for carinhoso

Uma vez, tentei ser carinhoso

Aí, a mina me sacaneou

E, como sempre, desci a porrada

 

A menina foi embora

Falou que ia falar tudo para uma tal de Maria da Penha

Ah, nem liguei!

Saí com meus amigos

Queria dar mais porrada

Mas veio a PM

A mina dentro da patrulhinha

É, dessa vez quem entrou na porrada fui eu!

 

Batata Literária – Fundo do Mar

Glub, Glub, Glub!

Lá vêm os peixinhos!

Eles passam, todos rapidinhos!

Zás! E lá vai o cardume!

Desço cada vez mais

O azul vai se tornando mais escuro

A luz do Sol diminui

O que será que encontrarei lá embaixo?

 

Que mundo estranho!

Mortal para os navegadores de antanho!

Paraíso de antigos monstros marinhos

Hoje, campo de pesquisa dos biólogos

Ih! Olha lá! Um polvo!

Pintando o mar com o seu espesso nanquim

Seus tentáculos são véus, pode se dizer assim

Causando profunda impressão em mim

 

Mas, o que realmente me aterroriza

É o grande tubarão que desliza

Na imensidão de salmoura

O bichão parece estar à toa

Mas ele é um predador perfeito

Caçando sangue alheio

Desde tempos pré-históricos

Época dos dinossauros heroicos

 

Chego, finalmente, lá embaixo

A pressão da água é descomunal

E não há qualquer luz, afinal

Um breu total

Mas, eis que surgem luzes

Tais como vaga-lumes

São seres marinhos de luz própria

A natureza tem estranhos costumes

 

Batata Literária – Cicatrizes

São marcas

Mais conhecidas na pele

Mas que também são da alma

E ficam a vida inteira

Umas curam

Mas outras não

Elas sangram, sangram, sangram

Você se esvai nelas

 

As cicatrizes te mudam

Você nunca mais é o mesmo

Tornam-te mais experiente

Você aprende com o sofrimento

Torna-te mais arredio

Mais amargo

Menos otimista

Mais pessimista

 

As cicatrizes doem

Coçam, te incomodam

Você vive com elas

E elas sempre te  lembram que existem

São uma coceira que você não pode coçar

Uma dor que não pode diminuir

Elas te envenenam

Elas te subjugam

 

Pelo menos, todos têm cicatrizes

Cada um carrega sua dor

Isso é que dá a chance

De nós respeitarmos a dor do outro

Montar os alicerces da vida

Usando como base as fundações da tristeza

Fundações fortes e cada vez mais fortes

Se fizermos da tristeza uma lição para a vida

Batata Literária – Ficando Com Sono

Estou cansado

Estou com sono

Estou porrado

Estou a cara da Yoko Ono

Quero dormir

Mas não posso sucumbir

Tenho que estudar

Para uma boa nota tirar

 

Vou tomar o café

Argh! Está frio!

Assim não dá pé!

Isso não é vida nem de gentio!

As fórmulas pululam à minha frente

E, lá fora, o tiroteio inclemente

Meu estômago revira para dentro e além

Já vi que essa noite não vai acabar bem

 

Chega a manhã!

Antes não tivesse chegado!

Para a prova, não tenho qualquer afã

E agora estou esculhambado

Saio à rua, vejo o rabecão

Carregando os frutos da overdose de munição

Que assolou meu estudo da madrugada

E lá vou eu para a minha prova, de alma condenada

 

É, meus amigos, não deu outra

Realmente não me safei

E, na minha prova, eu me ferrei

Assim como a pobre mulher moura

Não adianta passar a noite em claro

Senão você fica em retalho

É melhor ser mais sensato, meu caro!

Estudando todo o dia, você divide o trabalho!

Batata Literária – Marcas de Grafite.

O grafite desliza sobre o papel

Deixando marcas de carbono

Formando textos, contos e poesias

Ele é o crucial instrumento

Da manifestação da imaginação humana

A ponte entre o etéreo e o concreto

A materialização de um sonho

O grito da alma atormentada

 

Alguns insensíveis podem dizer:

“Que coisa antiquada, escrever a lápis!”

Hoje tem notebooks, netbooks

E sei lá quanto mais books!

Caixinhas eletrônicas que apitam

Movidas a zilhões de bytes

Que armazenam livros inteiros!

Tudo ao alcance das teclas!

 

Bom, eu prefiro o bom e velho papel

Mas nada de tinta!

A suavidade do lápis e do grafite

Acariciam a folha de papel

Da mesma forma que os incontáveis sonhos

Acariciam nosso estado de espírito

Se estou feliz, o grafite paira suave

Se estou triste, o grafite paira pesado

 

Por isso, escrevo, não digito

Escrevo até formar bolhas nos dedos!

Sem parar, devagar e sempre!

Tendo como companheiros os pontinhos pretos

Pontinhos emanados da ponta do lápis

Pontinhos que mancham minha mão

Mas libertam minha alma

Pontinhos eternos