Batata Literária – Vida de Abelha

Zuuum!

Vou para lá!

Zuuum!

Vou para cá!

Sobrevoando campos floridos!

Pegando pólen aqui e ali!

Vejo muitas cores lá no chão

Mas não posso ficar em contemplação.

 

Minha vida é só trabalho

Sem direito a férias, décimo-terceiro salário

Ou até mesmo aposentadoria

A sobrevivência da colmeia depende de mim

Mas não sou a única nessa tarefa

Todas as outras minhas amigas também ralam

Nossa força é o nosso coletivo

Sem espaço para a individualidade

 

Ah, mas às vezes quero sair de férias

Conhecer Paris, Roma, Honolulu

Mas não consigo nem ir à Paquetá ou à Cabuçu

Como deve ser ficar sem fazer nada?

Deitada, de ferrão para o ar?

Tirar uma soneca debaixo da flor?

Ver o novo filme do Tom Cruise? (Ai, que gato!)

Andar de montanha-russa no Playcenter?

 

Ihhhh! Quanta bobagem estou pensando!

Ai de mim, se a rainha escuta tudo isso!

Ela quer a gente só mergulhada em nosso compromisso

De construir toda a nossa colmeia

E a nossa espécie preservar

Por isso, não posso titubear

E devo continuar a trabalhar

Para a nossa revoada a gente continuar

Batata Literária – Parábolas De Fim De Mundo

Desde o início dos tempos

Se fala do fim dos tempos

O mundo está aí, veio para ficar

Mas todos querem vê-lo acabar

Coisa de quem não gosta de amar

E querem ver a coisa se complicar

Eles se dizem videntes

Mas parece que, com sua vida, não estão contentes

 

O mundo pode se acabar de várias formas

Água, fogo, castigos divinos, crise financeira

Miséria, corrupção, violência e outras maneiras

Mas aí, eu me pergunto agora

Isso tudo aí já não acontece todo dia?

Não fizemos do nosso mundo uma caixa de vilania?

Alguns dizem, com muita propriedade

Que o mundo já acabou, mas ninguém ainda sabe

 

Ah, que saco! Só se fala em fim, em destruição!

Ninguém pensa na utilidade da construção!

Se o mundo está tão ruim assim

Devemos refazê-lo, por fim

Vamos eliminar toda a incoerência

E fazer como nossa bandeira a eficiência

Lutando por mais justiça

E amparando a afeição quebradiça

 

Por essas e por outras, que eu costumo dizer

Temos que parar de fazer a alma sofrer

Tanta dor e tanta angústia presente

Deve ser o motivo de tanta obsessão doente

Pelo fim de tudo e do mundo

Não aguentamos mais viver assim, prostrados lá no fundo

Vamos, então, novamente nos animar

E um mundo novo tentar buscar

Batata Literária – Corra, Lola! (Série Cinematográfica)

Cabelos vermelhos

Calça verde

Total desespero

Lola corre

Corre, corre

Sem parar

Sempre à frente!

Kommt zu mir!

 

O namorado fez besteira

Ele precisa de dinheiro

Um supermercado ele vai assaltar

E Lola corre

Corre, corre

Sem parar

Sempre à frente

Kommt zu mir!

 

Para o pai ela pede dinheiro

Mas ele não quer dar

E também ele arrumou uma amante

E Lola corre

Corre, corre

Sem parar

Sempre à frente

Kommt zu mir!

 

Essa história pode ter muitos desfechos

Lola morre, o namorado morre

Eles conseguem o dinheiro

Mas, em todas elas, Lola sempre corre

Corre, corre

Sem parar

Sempre à frente

Kommt zu mir!

Batata Literária – Formas Abstratas.

Somos as formas abstratas

Podemos ser todas poligonais

Podemos ser curvilíneas

Planas ou tridimensionais

Somos manifestações das almas

Sonhadas, atormentadas, lúdicas

Linhas, círculos e triângulos

Gotas de tinta num tecido branco

 

Esqueça o real e o concreto!

Dê asas à sua imaginação!

A forma do mundo é a que você deseja!

Desertos de telas!

Dunas de fractais!

Raízes de aglomerados de esferas!

Cachos de icosaedros!

Octógonos de vinte lados!

 

Quem é mais abstrato?

O surrealista?

O expressionista?

Com certeza, não é o realista

Nem o naturalista!

O abstrato é o que tem a maior coragem!

O abstrato é o que mais transgride!

O abstrato é o que menos se apega.

 

Seria o abstrato um revolucionário?

Talvez um iconoclasta…

Ou, aquele que destrói as convenções

Sem temer suas próprias pulsões

Os paladinos da mesmice

Montados em sua chatice

Acham os abstratos uns dementes

Mas, ao fim, eles são apenas diferentes

 

Batata Literária – As Duas Faces

A vida é como uma moeda

Pois possui duas faces

Num dia, você está feliz

Noutro, você está triste

Às vezes, se tem dinheiro

Noutras vezes, você está na penúria

Posso uma vez estar andando na rua

E, em outra, se estar internado no hospital

 

Tudo passa, meu caro!

Para o bem e para o mal!

A vida é uma montanha russa

De altos e baixos

O negócio é se centrar

Nada de euforias tresloucadas

Nem de profundos desesperos

Busque seu ponto médio!

 

Pois as duas faces se manifestam de outras formas

O amigo de hoje pode ser o traidor de amanhã

Seu prazer pode se tornar um vício destruidor

Vida se transforma em morte num piscar de olhos

Andamos, o tempo todo, no fio da navalha

Podendo cair para cá ou para lá

Podendo se machucar violentamente

Podendo carregar eternas marcas

 

Esse é o jogo duplo da vida

Saber estar entre a cara e a coroa

Entre o sim e o não

Entre o bem e o mal

Entre a alegria e a tristeza

Entre a saúde e a doença

E saber, acima de tudo, sobreviver

Ante à pressão de fortes extremos

 

Batata Literária – A Agonia do Poeta Tímido

Hoje vou falar de um tema muito líquido

Que é a agonia do poeta tímido

O coitado usa o papel para expressar

Tudo aquilo que ele não consegue falar

Desde o sofrimento de uma paixão reprimida

Até o desconforto de não saber encarar a vida

Por isso, ele escreve sem parar

Mergulhando nas letras até se afogar

 

Esse poeta, além de não ter bom erário

Ainda vive todo solitário

Vaga pela cidade tal como um zumbi

Perambulando pelas ruas aqui e ali

Olha a beleza das moças por toda a parte

Mas não consegue usar sua arte

Para se aproximar delas

Só consegue viver com suas mazelas

 

Em meio a todo esse destempero

O pobre poeta entra em desespero

Ao constatar, de forma fatal

Que um dia a vida acabará, afinal

Ele não consegue aproveitá-la

E, no dia em que sua essência deixá-la

Virá a dor do arrependimento

Que ele levará para o além em novo tormento

 

Às vezes, o condenado se pergunta:

Por que tanto medo?

Por que você não se ajunta?

Por que tanto excesso de zelo?

Porém, não sabe as respostas

Só lamenta situações impostas

As situações da grandiosa timidez

Que vão ferrá-lo todo, de uma vez

 

Batata Literária – E agora, mané? (Desculpa, Drummond)

E agora, mané?

Acabou o café

Você não tem mais fé

Você só anda a pé

Tomou esporro do Pelé

Não pode mais falar “quequié?”

Foi roubado pela Zezé

E agora, mané?

 

Tá feia a coisa, hein meu filho?

Até para a pipoca falta milho

Tua mulher te expulsou do ninho

E agora você vive sozinho

Tu é um cara cheio de trejeito

Assim, tua vida não dá jeito

Com a cabeça, você não dá nem meneio

E até bêbado te dá vareio

 

Mesmo quando em teu caminho há pedra

Dele você não arreda

Aí, vem a topada

E mete a cara no chão, porque não tem almofada

Qual é a tua, mermão?

Você diz que é Tião

E tem Epaminondas na certidão!

Deixa de ser trouxão!

 

Termino essas linhas

Pedindo proteção divina

Pois, ao falar de tua sina

Profanei o oráculo sentado em praia matutina

Na boca, tenho o gosto do podre ovo

Não sei por que me envolvi nesse jabaculé

E aí, eu te pergunto de novo

E agora, seu mané?

Batata Literária – Revoada de Fagulhas

Fogos! Turbulências! Explosões!

Me tire dessas situações

Porque, daqui a pouco, elas vão chegar!

São as fagulhas, que a tudo vão ocupar!

Com suas incandescências!

Repletas de indecências!

Não é um mero fogo fátuo!

É fogo, de fato!

 

Com sua vermelhidão, elas iluminam a noite

Castigam o escuro de forma impiedosa

E essa imagem, aparentemente formosa

Revela a agonia do mortal açoite

Das chamas que rapidamente se apagam

Mas, em minha alma, sempre me ameaçam!

Preciso retirar-me desse pesadelo

Onde sou penalizado sem qualquer chance a zelo

 

O fogo é só uma reação química

Mas sua amedrontada mímica

Mortalmente me apavora

Me deixando mudo a toda hora

O fogo a carne queima

Faz da dor o seu tema

Com seu calor invisível

Destrói todo material sensível

 

Aí, eu te pergunto, caro leitor:

O que fazer perante a presença do fogo?

Resignar-me em estado de torpor?

Ou, para não perder a rima, fugir para o Togo?

Oh, como somos frágeis

Perante as forças da natureza!

Não somos nem um pouco ágeis

Quando apreciamos sua infinita beleza!

 

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