Festival do Rio 2017 – As Entrevistas de Putin. Descortinando um Líder.

                         A entrevista do século!!!

Vamos ainda falar dos filmes que pudemos ver no Festival do Rio 2017. Na última chance do Festival do Rio 2017, tive a oportunidade de ver aquela película que, na minha modesta opinião, foi uma das grandes atrações do evento. “As Entrevistas de Putin”. Dirigido por, ninguém mais, ninguém menos que Oliver Stone, é um filme notável em todos os sentidos. Organizado em quatro programas de cerca de uma hora, a exibição desta grande película, tanto em extensão quanto em magnificência, constituiu-se numa verdadeira maratona da qual você sai muito feliz, pois te dá a certeza de que você participou do Festival esse ano. Foram mais de uma dúzia de entrevistas, concedidas no período de dois anos (de 2015 a 2017)  e Stone teve carta branca para fazer qualquer pergunta (embora isso nem sempre significasse que Putin respondesse, pois alguns temas eram realmente de natureza altamente confidencial). O resultado foi um panorama de um dos líderes mais importantes do mundo, de postura muito controversa aos olhos do Ocidente, mas que se mostrou de forma muito límpida e clara em alguns pontos, não sem ser um pouco turvo em outros.

             Um clima de muita cordialidade

Vários temas foram enfocados na entrevista. Falou-se de sua infância, seus pais, da vida dos tempos de União Soviética, de sua entrada na KGB, o serviço secreto russo. De uma forma muito clara, Putin analisou toda a transição do socialismo para o capitalismo em seu país e apontou os erros e acertos, em sua opinião, de líderes chave nesse processo, ou seja, Mikhail Gorbachov e Boris Yeltsin.

Fazendo as vezes de anfitrião, mostrando o Kremlin…

Com uma franqueza marcante, falou dos problemas que o capitalismo totalmente livre introjetou em seu país e quais medidas ele tomou, já como presidente, para reparar isso. Putin também mencionou a turbulenta relação entre a Rússia e a OTAN, onde o avanço da aliança militar capitalista sobre o leste europeu depois do fim da Guerra Fria foi visto por Putin como algo extremamente desnecessário e beligerante pois, afinal de contas, a Rússia era então uma aliada do Ocidente e aproximar os armamentos da OTAN do território russo exigia uma resposta desse país. Putin ainda lembrou que a crise dos mísseis de Cuba, em pleno auge da Guerra Fria, tinha sido uma resposta a uma atitude semelhante dos Estados Unidos na Turquia, numa prova de uma beligerância antiga dos Estados Unidos.

     Um dedicado intérprete, sempre a postos…

Todas essas tensões entre as duas potências antes e depois da Guerra Fria trouxeram à tona outro ponto: como foi a relação entre Putin e quatro presidentes americanos: Clinton, Bush, Obama e, agora, Trump. E Putin foi muito sincero em dizer que houve momentos tranquilos, mas também momentos de grave turbulência na sua relação com os presidentes dos Estados Unidos. Ele deixou bem claro também que qualquer atitude hostil contra a Rússia terá uma resposta à altura. O mais interessante é que ele fazia tais afirmações levantando muito pouco a voz, num tom sempre muito sereno. Aliás, tocando nesse ponto, pudemos ver Putin sempre de forma contida, expressando alguns estados emocionais. Ele ria, bufava, se irritava levemente, sempre voltando a um estado sereno quando percebia que se excedia, passando uma sensação de muita segurança.

         Falando sobre Snowden ao volante…

Foi muito taxativo sobre a questão da Ucrânia e da Crimeia, onde disse claramente que, no primeiro caso, houve uma tentativa de golpe de estado de direita, e no segundo, que houve um referendo onde o povo desejava a anexação à Rússia. Expôs argumentos convincentes sobre o posicionamento da Rússia na Guerra da Síria (luta contra o terrorismo que tanto assolou a Rússia na Guerra da Chechênia) e foi também muito seguro ao afirmar que a Rússia não interferiu nas eleições americanas que escolheram Trump para a presidência. Fugindo um pouco do escopo da política, Putin afirmou que não há perseguições a homossexuais em seu país, embora se mostrasse um pouco conservador em suas opiniões.

                             Um esportista…

Stone tentava arrancar o máximo de respostas possíveis de Putin, mas o líder era muito esperto em suas afirmações. Foi muito interessante ver o diretor americano debatendo questões como a perpetuação de Putin no poder e até exibindo para ele uma cópia de “Dr. Fantástico”, de Kubrick. Apesar das reservas de Putin em abordar temas mais espinhosos em alguns poucos momentos, uma coisa é certa: esse é o relato mais completo que temos desse enigmático presidente russo e um enorme serviço de Stone ao cinema e a uma melhor compreensão da geopolítica internacional.

                       Firmeza nas palavras

Esse é o tipo de documentário que tem que ser lançado em DVD por aqui e que a gente tem que ver, ter e guardar, não somente pela polêmica do tema, mas, principalmente, pelo grau de sinceridade e de como o discurso do presidente russo pode ser incisivo em vários momentos. Vale muito a pena a experiência de assistir a essa série de entrevistas. E, não se esqueça: vá a São Petersburgo, recomendação do próprio Putin à esposa de Stone. Imperdível!

 

Batata Antiqualhas – Capitães. Relatos Comoventes.

             Cartaz do Filme

William Shatner brindou todos os fãs de “Jornada nas Estrelas” com o bom documentário “Capitães” no ano de 2011. Esse documentário teve como objetivo principal entrevistar todos os atores que interpretaram capitães nas então cinco séries de “Jornada nas Estrelas”, mais os longas de J. J. Abrams. O resultado foi um rosário de relatos comoventes e marcantes para todos os protagonistas, mas também para os fãs.

Conversas emocionantes com Patrick Stewart…

Shatner (Capitão Kirk, série clássica) entrevistou os seguintes “capitães”: Patrick Stewart (Capitão Picard, Nova Geração), Avery Brooks (Capitão Sisko, Deep Space Nine), Kate Mulgrew (Capitã Janeway, Voyager), Scott Bakula (Capitão Archer, Enterprise) e Chris Pine (o “novo” Capitão Kirk, da Kelvin Time Line de J. J. Abrams). Os devidos capitães foram apresentados e, depois, as entrevistas eram alternadas, de forma que nenhum capitão tivesse uma posição privilegiada com relação ao outro. Como o próprio Shatner era capitão e entrevistador ao mesmo tempo, parte do documentário foi usada para que o ator desse um relato de suas impressões pessoais e profissionais. Ainda, com relação à parte de Shatner, foi muito legal ver a entrevista que ele fez com Christopher Plummer, canadense como Shatner, e que foi substituído pelo nosso Capitão Kirk quando os dois trabalhavam juntos no teatro, antes ainda de “Jornada nas Estrelas” e Plummer ficou doente. Não é à toa que Plummer foi chamado para ser o general klingon Chang em “Jornada nas Estrelas 6, A Terra Desconhecida”.

                             … e Kate Mulgrew

O documentário teve outros lances interessantes. Falou-se da severa rotina de gravações dos episódios e de como isso afetou a vida pessoal dos atores. Isso, por exemplo, acabou com o casamento de Shatner e provocou uma turbulência na relação de Mulgrew com os filhos, que detestam “Jornada nas Estrelas” por esses problemas. Em outro momento muito curioso, Stewart, um ator shakespeariano, disse como levou a produção de uma série de TV como “Jornada nas Estrelas” a sério e criticava muito a falta de organização da produção na primeira temporada.

                                  Queda de braço com Chris Pine!!!

Shatner declarou, por sua vez que, depois de todo o sucesso de Spock, ele se sentiu secundário na série e se sentia magoado com o tom de galhofa com que era tratado em virtude disso. Isso fez com que ele renegasse um pouco o personagem Kirk. Só que, com as convenções, todos os chamavam de Kirk, algo que o irritava, pois ele era Shatner. O ator somente percebeu a força de seu personagem quando, ao pegar um jatinho para ir a Londres entrevistar Stewart, o presidente da companhia aérea Bombardier foi recebê-lo em pessoa no aeroporto para lhe dizer que começou a carreira de engenharia aeroespacial em virtude de Kirk e de “Jornada nas Estrelas”. Stewart, por sua vez, disse que aceita com naturalidade o fato de ser chamado de Picard, algo que soou como uma espécie de alívio para Shatner, já que ambos os atores têm uma identificação, pois começaram no teatro interpretando Shakespeare.

                               Brooks, o pianista

Se pudéssemos colocar uma espécie de ranking entre as entrevistas, eu diria que as conversas com Stewart e Mulgrew foram as mais emotivas e intimistas; a conversa com Bakula foi a que teve mais trocas de experiências pessoais; a conversa com Pine foi uma espécie de passagem de bastão do mestre para o discípulo, onde Shatner se derrete em elogios a Pine, e a conversa com Brooks foi a mais musical e um tanto estranha, até porque a personalidade de Brooks é um tanto excêntrica. De qualquer forma, foi legal ver Sisko ao piano cantando um jazz.

Boa conversa com Bakula. Troca de experiências…

Assim, o documentário “Capitães” é simplesmente um programa obrigatório para todos os trekkers de plantão. Ele está lá à disposição no Netflix. Se você já viu, reveja. Se ainda não viu, está intimado a ver, se divertir e se emocionar.