Batata Literária – Caminhos da Ira.

Vamos agora fazer a pior das viagens

A viagem às entranhas do ódio

Ninguém quer começar tal tortura

Mas todo mundo cai de cabeça, num sopetão

É só aparecer uma ocasião

O ser humano é uma máquina de amar

Mas, mais do que isso, ele sabe odiar

E, quando começa, não consegue mais parar

 

Por que o homem tanto odeia?

É mais fácil odiar?

É mais fácil destruir?

Essa é uma doença que tanto permeia

O cérebro do homem que se deixa levar

O homem, que o ódio deixa consumir

Senhoras e senhores, a viagem terá grossas turbulências

Provocadas por muita raiva e todas as suas maledicências!

 

Mas, quem sofre mais nessa história?

Aquele que odeia ou aquele que é odiado?

No fim das contas, ódio não traz vantagem ilusória!

O melhor remédio, talvez, é ser perdoado

Mas o perdão requer muita coragem

Principalmente se você é a vítima de grande sacanagem!

É muito fácil sentir raiva, a tudo detestar

Difícil mesmo, é saber relevar

 

Essa viagem, num limbo te coloca

Rios de tristeza, soluços em compota

Busquemos sair dessa alma de piche

Cheia de caprichos e muito fetiche

Livremo-nos dos oceanos de rancor

Que provocam em nós profunda dor

Vamos voar por Universos mais amplos

Para aproveitarmos melhor o que nos resta de anos

 

Batata Literária – Passeando No Leblon.

Entro agora numa dimensão estranha

É o bairro dos figurões

Esse lugar se imortalizou nas novelas

Cujos personagens se comportam de forma tacanha

Nesse mundo só há lugar para os bonitões

Nenhum espaço para os pobres e suas sequelas

As caras são branquinhas, todas rosas

E as elites são refinadas, cheias de bossas

 

Quando ando pelas ruas

Elas são todas limpinhas

O poder público mostra das suas

E cuida do bairro como uma de suas princesinhas

Tudo aqui parece um conto de fadas

Paraíso das pessoas abastadas

Tristeza não existe nesse mundo

A vitalidade supera a tristeza do moribundo

 

Volta e meia, vejo um rosto mais escuro

Ele está uniformizado, cheio de crianças patéticas

Quando olho ao fim da rua, próximos ao muro

Estão outros rostos negros, cuidando das manutenções elétricas

Além de negros, esses rostos são tristes

Escravos contemporâneos, tomando dedos ristes

De brancos róseos e solenes

Ofensas humilhantes e inconvenientes

 

Pois é, o lindo e perfeito paraíso

Pode refletir mazelas ancestrais

A paz, travestida num branco sorriso

Esconde velhos problemas banais

Por mais lindo que possa parecer um bairro

Não adianta, sempre haverá a desigualdade social

Para os ricos, a lama é a das quadras de saibro

Para os pobres, só lama de material fecal

Batata Literária – Debate Floral.

Oi, Margarida!

Por que você está triste?

Ah, Rosa!

Não tem Sol para me banhar!

Aproveite o orvalho, Margarida!

Olha só como eu fico bonita!

Ah, Rosa!

Você é grande e vermelha!

As gotículas lhe caem bem como ornamentos!

Não é o meu caso!

Sou muito pequena e delicada!

Essas aguinhas me pesam…

Fico logo toda desmilinguida…

 

Mas veja a Hortênsia, Margarida!

Ela tem flores miudinhas

E segura a água com destreza!

Só que elas atuam em grupo, né, Rosa?

Eu sou sozinha!

Não aguento todo esse rojão!

E você pensa que eu aguento, Margarida?

Epa, você estava escutando a gente, Hortênsia?

Estava sim

Vocês é que pensam que eu carrego toda essa água na moleza

Minha forma de globo

Me faz carregar muito mais água

E aí, eu desabo logo, logo

 

Ah, mas vocês reclamam muito!

Por que, Rosa?

Quero ver se vocês passassem a dureza

Que a minha prima passa lá no deserto

Sem água praticamente o ano inteiro

Aquele Sol de rachar

Nem sei como ela aguenta

Ah, mas ela é muito casca grossa, né, Rosa?

Ah, mas mesmo assim

As pétalas delas são até mais duras

Parecem aqueles salgadinhos de batata frita

Sem falar que ela é muito rude

Mal educaaaada!

Tudo por causa daquele maldito Sol

 

Ih! Olha lá, Margarida e Hortênsia!

O que foi???

Seus traumas com água acabaram!

Por que?

Aí vem o vento!!!

Ufa, pelo menos vou me livrar desse peso na coluna

Ai, que droga!

Vou ficar toda descabelada!

Se segura aí, gente, lá vem ele!!!

Ponham o cinto de segurança?

Mas qual?

Aquele capim ali, ó!!!

 

VUUOOOOSHHHHHH!!!!!!!!!

Batata Literária – Gotinhas De Chuva.

Era uma manhã fria

A estrada toda molhada

Eu sentia leves toques gelados em meu rosto

Eram as gotinhas de chuva

Refrescando minha fronte

Trazendo o frio redentor

Afastando de mim o calor

E, bordando em transparentes malhas, a flor

 

Fiquei pensando com minhas gotinhas,

Como elas são testemunhas do mundo!

Pois elas refletem como espelhos

Tudo o que está à sua volta

Vejo nela as árvores,

Os carros da estrada,

Os pássaros voando contra o céu negro,

As formigas em mais um dia de trabalho…

 

Eu só lamento uma coisa:

Com o passar do dia, elas desaparecem

Evaporam-se no ar

Levando, consigo, toda a memória do mundo…

Não verei mais o macrocosmos

Manifesto no microcosmos

Lá se vão os registros

Da natureza na natureza…

 

Agora, é só torcer

Para de novo chover

Pois assim elas voltarão

Em sua delicadeza de água

E testemunho de vida

Nas gotinhas, o mundo voltará a se refletir

Globinhos transparentes de onde viemos

E para onde voltaremos

Batata Literária – Fim de Festa!

Saco!

Saco! Saco! Saco! Saco!

Minhas férias acabaram!

Vai começar tudo de novo!

Eu, bem afogado num mar de lamúrias!

Cercado de visões espúrias!

Pessoas mal educadas às centúrias!

Estava tão legal eu viver em meu ovo!

 

Mas não tem jeito

Férias duram somente um mês

E passam rápido, de uma vez

Agora vem o longo ano de trabalho

Onde o penitente carrega seu calvário

Ônibus para lá, van para cá,

E sua vida por um fio a se assustar

Viver dessa forma, assim não dá

 

Por que o emprego tem que ter tanto stress?

Por que reduzir o seu cérebro a pedaços de filés?

A dor da pressão psicológica

Provoca em sua cabeça miséria patológica

Você se torna um prisioneiro de si mesmo

Cercado de demônios a te atormentar

Você quer atirar neles a esmo

Mas tu sabes que deles não vai se livrar

 

Caramba! Ainda faltam três décadas para eu me aposentar!

Com certeza, não estarei vivo até lá!

Então, por que eu me enveneno nesta balada letal?

É que eu preciso do vil metal

Para pagar as contas da casa

E assim, as venalidades cortam minha asa

Feitas da liberdade de um sonhador

E me resta apenas, em meu dia-a-dia, muita dor!

 

Batata Literária – Briga Na Feira

Olha a maçã!

Olha o salgadinho congelado para festas!

É isso aí, gente!

Se eu fosse cliente, ia ficar feliz de comprar na minha barraca!

Linda manhã de sábado!

Vou levar as couves para a praia!

O lote da manga é só cinco!

 

Pastel de que?

De pizza?

E um caldo?

Cê gosta, né, meu amor?

Olha lá o velhinho da sacola!

Andando para lá e para cá!

Agora, chegamos aos caminhões de peixes!

E as barracas de carnes e frangos!

 

As peças estão deliciosas!

Apesar das moscas varejeiras em cima!

Ih, cuidado! O caranguejo fugiu!

Vai morder o focinho do cachorro!

Mãe! Puxa o filho que já grita!

Sai dessa doida confusão!

Caramba! O pau quebra lá na frente!

Por que será?

 

É nas barracas de flores!

O vendedor de rosas derrubou um vaso!

Bem na cabeça do vendedor de lírios!

A cliente, uma macumbeira, sai correndo gritando!

Ela se escondeu no Mundo Verde

Xi! Agora a briga vai acabar!

O cara da Kombi de carnes veio com um facão!

E os corajosos das flores se acalmaram!

Batata Literária – Rios Negros

Petróleo no deserto…

Petróleo no mar…

Poluição no ar…

Onde isso vai parar?

Seres extintos agora provocam nossa extinção

Por nossa própria mão

Será que o homem é burro então?

Ou ele faz da ganância sua submissão?

 

Ele é chamado de ouro negro…

Um poço de piche ancestral

Poço que vale milhões

Que coloca e tira o mundo de crises

Que coloca e tira o mundo de guerras

Rios negros que saem do pré-sal

Colocam irmãos numa luta fatal

E alimentam a corrupção de um país animal

 

Mas um dia, o líquido preto vai acabar

E, se não nos emendarmos, tudo vai findar

Oh, ser humano! Por que não usas tua mente?

Pense logo numa solução para tal problema iminente!

Há tantas fontes alternativas de energia!

Eólica, solar, biocombustíveis!

Quem sabe, um dia, a fusão a frio?

E a própria imaginação humana é inesgotável!

 

Por isso, não há tempo a perder!

Existe um mundo a se salvar!

Nós não podemos titubear!

Chega de fazer muita gente sofrer!

Lutemos logo e abramos os olhos!

Para não dependermos mais dos petróleos!

O futuro de nossos filhos depende disso

Caso contrário, daremos a eles cruel passadiço!

Batata Literária – Causas Impossíveis

Se você tem uma causa impossível,

Dívidas, mãe terminal, ação de despejo?

Seus problemas acabaram!

Faça uma promessa!

Acenda uma vela!

Suba as escadas da Penha!

Puxe uma Jamanta com os dentes!

Traga o Messi para o Quinze de Jaú!

 

Fazendo coisas impossíveis,

Você resolverá seus problemas impossíveis!

É uma troca justa, OK?

Não duvide de nosso trato!

O céu é infalível!

E tudo acontece se você tiver fé, muita fé!

Até a Shakira te pedir em casamento!

Ou as carícias do beijo da Angelina Jolie!

 

Nós, os seres sagrados,

Controlamos a vida do seu mundinho aí de baixo.

Só queremos ajudar vocês,

Embora, às vezes, a nossa ajuda atrapalhe.

Damos ao homem ajuda para ele raciocinar

O homem criou indústrias, tecnologia, robôs!

Mas trouxe o desemprego…

A felicidade de uns é a desgraça de outros

 

Mas reze, reze muito!

E a sua causa será atendida!

Ah! E não se esqueça do dízimo!

Ele é muito importante para a execução da causa.

Temos que manter nossos templos

O local onde vocês vêm pedir

Sem eles, como vamos nos comunicar?

Então, não reclame e moedas aqui vamos colocar!