Batata Séries – Jornada Nas Estrelas, DS9 (S01 Ep 04), Babel. Arma Biológica.

All The Things Star Trek: Deep Space Nine Did Wrong In Quarantine During ' Babel' - CINEMABLEND
Um O’Brien confuso…

Dando sequência às nossas análises de episódios de Jornada nas Estrelas, retornemos a DS9 e ao quarto episódio da primeira temporada, intitulado “Babel”.

Qual é o plot do episódio? Chefe O’Brien está muito atarefado, pois a estação está com vários defeitos. Um deles é o sintetizador de comida. O’Brien conserta um deles que parece sofrer uma pane inicial, mas funciona corretamente. Quando O’Brien se afasta, podemos ver que há uma maquininha no interior do sintetizador, como se ele estivesse sendo sabotado. Quark, que precisa que seus sintetizadores funcionem, burla a segurança e consegue descobrir quais sintetizadores funcionam na estação. Numa conversa entre Sisko e O’Brien, este último começa a falar coisas desconexas, provocando estranheza em Sisko. O’Brien faz o mesmo com Kira. Bashir o examina e diz que O’Brien parece ter uma afasia, ou seja o cérebro funciona normalmente, mas ele não consegue se expressar nem entende as mensagens dirigidas a ele. Mas não há qualquer evidência que tenha ajudado O’Brien ficar nesse estado. O mais grave é que os sintomas também aparecem em Dax. Bashir descobre que há uma doença parecida com a afasia sendo transmitida por um vírus e Sisko pede que Bashir coloque a estação sob quarentena. Quark não fechou sua casa e alegou a Odo que seu estabelecimento é serviço essencial (já ouvi isso em algum lugar). Odo, que sabia dos problemas dos sintetizadores de Quark, começa a desconfiar dele. E pega o ferengi usando os sintetizadores da tripulação, que funcionavam.

Watch Star Trek: Deep Space Nine Season 1 Episode 5: Babel - Full show on  Paramount Plus
Bashir terá um problema complicado para resolver…

Bashir descobre que o vírus está na comida dos sintetizadores e que uma mutação se propaga pelo ar. Ou seja, toda a estação está contaminada. Kira encontrou a maquininha do início do episódio e, ao examiná-la, ela descobriu que foi ela que produziu o vírus, sendo, então, uma sabotagem. E mais: a tecnologia da maquininha é cardassiana. Mas exames feitos por Bashir constatam que foram os bajorianos que criaram o vírus para atacar a estação quando ela estava em domínio cardassiano. O grande problema é que esse aparelhinho foi criado há dezoito anos e não há sinais de quem o confeccionou. O’Brien queima em febre e morrerá em doze horas caso o vírus não seja neutralizado. Mas o próprio Bashir começa a ser afetado pelo vírus.

Depois de muito procurar, Kira encontra o cientista que sabotou a estação, mas ele desligou na cara dela quando a Major tentou entrar em contato. Kira, explosiva, diz que vai abandonar a estação (e a quarentena) para falar pessoalmente com o cientista em Bajor. Odo recomenda a Sisko que a deixe ir, pois ela é tudo que eles têm agora. Uma nave tenta sair à força da estação e Sisko é obrigado à liberá-la. Mas o mecanismo de trava do anel de atracação enguiçou e a nave corre o risco de explodir, levando metade do anel de atracação. Odo vai liberar manualmente as amarras do anel de atracação, pois Sisko já foi afetado pelo vírus. Já Kira teletransporta à força o cientista para a nave auxiliar e se dirige à estação. Como Kira está contaminada, o cientista também está, o que o obriga a fazer um antídoto. Já Odo consegue a ajuda de Quark para sair das Operações e ir para o anel de atracação via teletransporte. Odo consegue tirar o capitão da nave e destravá-la para explodir no espaço. O cientista pegou as notas de pesquisa de Bashir e conseguiu confeccionar o antídoto. O episódio termina com Sisko felicitando O’Brien por sua volta, mas logo depois chamando a atenção do mesmo, pois o sintetizador não fez o café direito. Fim do episódio.

Star Trek: Deep Space Nine Rewatch: “Babel” | Tor.com
Um cientista que não quer ajudar…

O que podemos dizer do episódio “Babel”? É um episódio que trabalha ainda as sequelas de uma região de guerra, onde uma arma biológica é disparada por acidente depois da guerra (lembra muito as minas terrestres de Angola que mutilaram muitos civis, mesmo depois da guerra). No caso, a arma biológica desperta um vírus perfeito que se espalha na comida e no ar, infectando toda a estação, deixando a capacidade de comunicação das pessoas completamente comprometida, levando-as à morte. E aí vemos todo um conjunto de procedimentos e discursos que, infelizmente, são muito caros à nós atualmente: isolamento, quebra de isolamento, atividades essenciais, etc. É um episódio que trabalha o tema da epidemia, tema esse bem recorrente e que desperta tanta inquietação.

No mais, pudemos ver bons diálogos entre Odo e Quark, naquele ranço entre o agente da lei e o infrator que desperta algumas atividades hostis, mas que também tem uma amizade implícita bem lá no fundo. É o primeiro episódio onde vemos um ferengi tendo uma atitude mais altruísta, desde que bem recompensada posteriormente. Notamos aqui também que transmorfos e ferengis são bem resistentes a epidemias.

Dessa forma, “Babel” é um episódio de DS9 que trabalha um tema um tanto quanto batido até na franquia de Jornada nas Estrelas que é a epidemia, só que aqui como arma biológica de um pós-guerra. Os diálogos entre Odo e Quark também acabam sendo uma atração à parte, levando a mais um passo na construção desses dois personagens, que têm um relacionamento turbulento com uma pontinha amistosa. Vale a revisita.

Star Trek: Deep Space Nine Rewatch: “Babel” | Tor.com
Kira vai pegar o cientista à força…

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas, A Nova Geração (S01 Ep 04), O Último Guardião. Surgem Os Ferengis.

TNG 1x04: The Last Outpost | Trek Brasilis - A fonte definitiva de Star Trek  (Jornada nas Estrelas) em português

Continuando nossas análises de episódios de Jornada nas Estrelas, retornemos a TNG e ao quarto episódio da primeira temporada, intitulado “O Último Guardião”. Esse episódio é conhecido pelo surgimento dos ferengis na franquia.

Qual é o plot? A Enterprise persegue uma nave ferengi que roubou um conversor de energia. Será a oportunidade de se fazer um primeiro contato com os ferengis. Os ferengis saíram de dobra e começaram a alvejar a Enterprise. Picard diz para não retribuir o fogo e se afastar um pouco. Mas a Enterprise parece estar sem energia, enquanto que os ferengis se posicionam bem à frente. Data é consultado sobre os ferengis e ele diz que há informações controversas de que a principal característica dos ferengis é que eles são comerciantes em busca de mercadorias e territórios e atuam como o pior tipo de capitalismo que foi visto na Terra.

A Enterprise lança mão de um subterfúgio para escapar da nave ferengi, que a mantém presa e retira sua energia. Picard manda abrir um canal e exige que o conversor de energia seja devolvido. Depois, pratica o tal subterfúgio, sem sucesso, o que rende um “merd” de Picard (é, foi nesse episodio que ele falou um palavrão em francês). Os arquivos da Enterprise começam a ser lidos e Troi sugere a Picard que analise o planeta sobre o qual as duas naves orbitam.

The Last Outpost (Star Trek: The Next Generation) - Wikipedia
Ferengis surgem de forma ameaçadora…

Picard faz uma conferência rápida com sua tripulação e ouve a sugestão de Troi, onde o capitão deve negociar com os ferengis sem a empáfia anterior e ouvindo os termos dos alienígenas. O ferengi responde (ele se chama Daimon Tarr) e diz que é contra uma rendição incondicional. Ou seja, a energia que mantém a Enterprise presa também mantém a nave ferengi presa. Picard manda lançar uma sonda para verificar o que está acontecendo e pede contato visual para conversar. O ferengi aparece na tela e diz que vai devolver o conversor de energia além de oferecer os segundos oficiais ferengis de acordo com o código ferengi. Picard pede para aguardar. Numa reunião entre Picard, La Forge, Data e Riker, o andróide fala do scan feito no planeta e este planeta fez parte de uma civilização chamada Tkon, que era muito avançada onde o planeta abaixo erra uma espécie de guardião local, podendo até deslocar estrelas. A sonda manda a informação de que é o planeta que está mantendo presas as duas naves. O planeta não tem mais vida e Picard decide descer à superfície para explorá-lo, além de ter a ideia de convidar os ferengis a irem junto. Usando os argumentos de negociações e permutas, tão caros aos ferengis, Picard os convence a fazer uma missão conjunta com a Federação na superfície do planeta, embora Riker, Troi e Data estejam desconfiados da confiabilidade em cima dos ferengis. A missão precisa ter êxito logo, pois a energia da Enterprise cai a ponto de afetar os suportes de vida da nave.

O grupo avançado desce ao planeta, mas em locais diferentes. Data, Riker e La Forge se encontram, mas são atacados pelos ferengis, ficando inconscientes. Quando acordam, entram em luta corporal com os ferengis, mas Tasha rende a todos com um phaser. Os ferengis ficam impressionados em ver uma mulher vestida trabalhando com os homens da Federação, algo repugnante, segundo eles.

TNG 1x04: The Last Outpost | Trek Brasilis - A fonte definitiva de Star Trek  (Jornada nas Estrelas) em português
Data se enrola com as algemas chinesas…

O grupo avançado descobre que todo o planeta é uma espécie de coletor de energia. Uma forma de vida surgida da energia que paira sobre o planeta começa a se comunicar com eles. Uma forma de vida se materializa dizendo que é o guardião do Império Tkon. Riker e Data dizem que o Império foi destruído por uma supernova e o guardião não acredita. Os ferengis fazem uma série de acusações aos membros da Federação que dizem que cometeram falhas no passado. O guardião começa a citar Sun Tzu (“A Arte da Guerra”) e diz que os membros da Federação têm uma mente aberta que se deixa ser vista, ao contrário dos ferengis, que têm uma mente fechada, e faz amizade com os membros da Federação. Riker pede para que o guardião liberte a Enterprise e ele o faz. O guardião disse que ficou confuso com a Federação e os ferengis, pois eles primeiro queriam se destruir, mas depois cooperaram juntos. O guardião pergunta a Riker se deve destruir os ferengis e o Primeiro Oficial diz que não, pois os ferengis lembram o passado da Terra (não se pode odiar o que já se foi) e, se destruídos, não terão a oportunidade de aprender e avançar. Mesmo com o risco dos ferengis serem uma ameaça, eles merecem uma chance de crescer e aprender.

A Enterprise consegue recuperar o conversor de energia depois de um “pedido” do guardião aos ferengis. Riker pede a Picard para entregar uma caixa de algemas chinesas aos ferengis de presente. Fim do episódio.

TNG 1x04: The Last Outpost | Trek Brasilis - A fonte definitiva de Star Trek  (Jornada nas Estrelas) em português
Ferengis se tornam o alívio cômico do episódio. Reconhecem o ferengi do centro?

O que podemos falar do episódio “O Último Guardião”? Em primeiro lugar, esse é o episódio em que aparecem os ferengis. Foi uma ideia bem desenvolvida, mas talvez mal aproveitada nesse primeiro momento. Fez-se toda uma expectativa o início do episódio sobre os ferengis, a ideia de associá-los ao capitalismo selvagem foi muito boa, a imagem de Daimon Tarr era convincente e ameaçadora. O problema se deu na superfície do planeta, onde a postura dos ferengis acabou caindo mais para o alívio cômico do que para a pegada ameaçadora do início do episódio. E pior: as conversas entre o guardião e Riker sobre os ferengis colocam estes últimos numa posição de inferioridade, tal como se eles fossem uma raça atrasada perante todo o desenvolvimento moral da Federação. Isso cheirou a uma empáfia da Federação mais uma vez, algo que a gente já tinha visto um pouco em “Código de Honra”, o episódio anterior. Pelo menos, a gente sabe que os ferengis vão ser muito mais bem desenvolvidos em DS9. E se ali ainda houve um tom de alívio cômico para os ferengis, a gente também pode ver toda a sua cultura e cosmogonia mais bem definidas. As referências à cultura chinesa, sobretudo Sun Tzu, deram o aspecto literário ao episódio e caíram bem sendo, inclusive, bem aplicados ao desfecho do episódio, onde serviram de ponte para o entendimento entre Riker e o Guardião, mostrando para esse último a mente aberta de Riker e a aposta na confiança mútua, ao contrário dos ferengis, que fechavam a sua mente em virtude da desconfiança e da trairagem. Os membros da Federação optaram por jogar limpo e reconhecerem seus erros do passado, apesar da tática dos ferengis de acusá-los, muitas vezes até de forma mentirosa.

No mais, vimos mais desenvolvimentos de personagens. Picard mostra novamente o seu lado diplomático, não querendo partir para um conflito armado com os ferengis, à despeito das recomendações de Tasha e Worf, e parte para um diálogo dentro de parâmetros da cultura ferengi, depois das recomendações de Troi. Para Data, ficaram novamente bons diálogos que o transformaram numa espécie de alívio cômico no episódio, onde o episódio das algemas chinesas foi o mais marcante.

Dessa forma, “O Último Guardião” é um episódio interessante de Jornada nas Estrelas, A Nova Geração, por apresentar os ferengis (ainda que eles tenham sido mal aproveitados), lembrar da filosofia de Sun Tzu e dar uma passo a mais nas construções dos personagens Picard e Data. Vale a pena a revisita, até para ver Picard falar “merd!”.

Watch Star Trek: The Next Generation Season 1 Episode 4: The Last Outpost -  Full show on Paramount Plus
Picard fala um palavrão em francês…

Batata Movies 2 (Especial Oscar 2021). Era Uma Vez Um Sonho. Uma Sofrida História Real Que Acontece Em Qualquer Esquina.

Era Uma Vez um Sonho - Filme 2020 - AdoroCinema
Cartaz do Filme…

Dando sequência às nossas análises de filmes que concorrem ao Oscar, vamos falar hoje de “Era Uma Vez Um Sonho” (“Hillbilly Elegy”), mais uma produção da Netflix que concorre a duas estatuetas: Melhor Atriz Coadjuvante para Glenn Close e Melhor Maquiagem e Cabelo. Curiosamente, Ron Howard, o diretor do filme, não recebeu indicação para Melhor Diretor. Para podermos falar desse filme, vamos precisar dos spoilers de sempre.

Era Uma Vez Um Sonho | Crítica: Um filme difícil de se assistir que tenta  desesperadamente garantir indicações para suas atrizes | Arroba Nerd
O jovem J.D. e sua avó Mamav…

Vemos aqui a história real de J. D. Vance (o livro é baseado em sua autobiografia), um rapazinho do interior que vive em Middletowm, uma cidade decadente de Ohio, considerado um lugar de interior, com gente muito simples, mas que também não progride muito na vida (o jovem J.D. é interpretado por Owen Asztalos e, na fase adulta, por Gabriel Basso). Sua mãe, Bev (interpretada por uma incrível e esculhambada Amy Adams) é uma enfermeira que se viciou em remédios, perdendo seu emprego e se tornando uma mulher muito descontrolada e agressiva, o que gerava muitas brigas internas na família. Quem apagava os incêndios era a mãe de Bev, Mamaw (interpretada também por uma inacreditável Glenn Close), que buscava restabelecer o equilíbrio de sua família caótica, pois como dizia Mamaw, a família era tudo o que eles tinham. A falta de perspectiva do lugar e das pessoas que viviam na cidadezinha só não era maior que esse caos familiar, propiciando um terreno fértil para ninguém ir adiante. O caso de Bev era emblemático, pois ela estudou e se formou como enfermeira, mas o vício destruiu qualquer chance de progresso dela, levando-a ao fundo do poço. Mamav a protegia de seus destemperos, o que levantava a ira de J.D., que reclamava com Mamav sobre isso e queria morar com ela, já que Bev fazia um enorme rodízio de maridos e amantes que somente desestabilizava ainda mais as coisas. Até que, um belo dia, Mamav não aguentou o baque de tudo e baixou no hospital. Foi ali que ela pôde dar um tempo e fazer uma reavaliação das coisas, saindo do hospital pela porta da frente e indo à casa de Bev para pegar J. D. para criar. O menino, que sempre foi um bom garoto, já começava a se perder com as amizades erradas, e Mamav começa a lhe impor limites. Até que ele finalmente cai na real e começa a lutar por algo melhor, trabalhando e estudando, enquanto sua mãe caía ainda mais no buraco.

Saiba a mudança de Amy Adams para 'Era uma vez um Sonho', da Netflix
Uma Amy Adams desfigurada pelo choque de realidade…

O tempo passou e J.D. foi para Yale estudar advocacia. Ele tem uma semana decisiva de entrevistas para conseguir um bom emprego num escritório. Mas consegue apenas uma entrevista, justamente no momento em que sua irmã liga e diz que sua mãe está no hospital com overdose de heroína. J.D. tem que retornar a Ohio para cuidar disso justamente a poucos dias da entrevista decisiva, ficando por lá o máximo de tempo que podia antes de retornar de carro, dirigindo por toda a noite (parece nome de música isso), para chegar a tempo da única entrevista que tinha conseguido. Mas a mãe teve alta do hospital, não tendo onde ficar, com nosso J.D. ainda andando por aí atrás de um lugar onde ela pudesse ficar provisoriamente, antes dele retornar para a entrevista. Realmente, não é mole não.

Era Uma Vez um Sonho: aqueles que conseguiram superar as adversidades -  Folha de Campo Grande
Uma família de interior, que tem somente a si mesma…

É um filme muito envolvente, pois mostra uma família mergulhada na instabilidade emocional, como há muitas por aí em cada esquina. Parecia que todas as dificuldades que J.D. passava com os seus só o deixava mais forte ainda para progredir e sair de toda a estagnação da cidade e de seu círculo familiar. A coisa teve cara de loop, pois era muito fácil culpar Bev por sua irresponsabilidade, mas ela também teve uma infância difícil com sua irmã, onde Mamav apanhava de seu marido bêbado e ela até botou fogo no corpo dele, com as meninas tendo que literalmente apagar o pai. J. D. vai encarar um mundo totalmente novo e cheio de preconceitos contra essa decadência interiorana, com ele sendo ríspido contra isso num meio altamente elitista, não se esquecendo de suas raízes. Entretanto, chega uma hora em que os problemas pregressos de sua família começam a impedi-lo de seguir adiante, e J.D. precisa tomar a dura decisão de não ficar o tempo todo prestando assistência à sua mãe, pois ele deve tocar a vida que está construindo.

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Mamav irá rever seus conceitos para salvar J. D. da mediocridade…

Esse é mais um filme pesado, mas muito cativante, pois a gente se identifica demais com os personagens. Quem nunca teve um arranca-rabo com um parente muito próximo? A gente abraça junto com J.D. todas as suas angústias, revoltas e esperanças. Glenn Close e Amy Adams estavam supremas, onde a maquiagem tirou qualquer glamour hollywoodiano delas e as tornaram pessoas reais, que passam por angústias reais, sendo um o filme um concorrente forte ao Oscar de Melhor Maquiagem e Cabelo. Mas toda a maquiagem não seria suficiente se não fosse amparada pelas atuações das duas atrizes. Amy Adams era o paroxismo em pessoa, indo do extremo agressivo ao sofrimento incontido, passando por raros momentos de carinho, enquanto que Glenn Close era um misto de serenidade e firmeza, sempre nas horas certas. Torço muito para Glenn Close aqui, pois já queria ter visto ela ganhar o Oscar de Melhor Atriz na última vez que concorreu. Que ela consiga a Melhor Atriz Coadjuvante agora.

Era Uma Vez um Sonho': Glenn Close passa por uma transformação incrível em  nova imagem de bastidores | CinePOP
A maquiagem e cabelo arrebentaram!!!

Dessa forma, “Era Uma Vez Um Sonho” pode até ser um filme que não tem muitas indicações, mas ainda assim é um filmaço, pois trabalha de forma bem contundente um choque de realidade ao radiografar uma família de interior dos Estados Unidos cheia de problemas e vivendo numa região decadente. Esse é um tema com o qual muitos se identificam, amparado por uma maquiagem e cabelo muito fortes e com atuações divinas de Amy Adams e Glenn Close. Merece, e muito, pelo menos um dos dois Oscars aos quais concorre.

Batata Movies 2 (Especial Oscar 2021). Rosa E Momo. Amparos Humanos.

ROSA E MOMO" - Protagonistas maiores que o filme – Nosso Cinema
Cartaz do Filme

Vamos continuar aqui a falar dos filmes que concorrem ao Oscar esse ano de 2021. “Rosa e Momo” (“La Vita Davanti a Sé”) é uma produção italiana que concorre ao Oscar de Melhor Música e conta com a presença mais do que especial de Sophia Loren. Esse é um drama que trabalha muito as relações humanas. Para podermos falar desse filme, vamos precisar dos spoilers de sempre.

Aos 86 anos, Sophia Loren brilha em 'Rosa e Momo' - Bem Paraná
Uma dupla que tem mais em comum do que se imagina…

O filme fala de Rosa (interpretada por Loren), uma senhora de origem judia que sobreviveu ao holocausto e ao campo de concentração de Auschwitz. Ela cuida de crianças abandonadas pelos pais ou em situação de rua, até que elas consigam um novo lar e uma nova família. Um belo dia, ela anda pela rua e tem dois castiçais roubados por um menino, Momo (interpretado por Ibrahima Gueye). O garoto é criado pelo Dr. Coen (interpretado por Renato Carpentieri), médico de Rosa, que devolve os castiçais a ela, que pretendia vendê-los para pagar o aluguel. Curiosamente, ele pede a Rosa que fique com Momo por dois meses, o que exaspera Rosa, sem falar do fato de que Momo é um menino bem complicado e indisciplinado. Ele vende drogas para um traficante e tem muitas dificuldades de adaptação à nova casa. Mas, aos poucos e com muita paciência, Rosa e Momo se aproximam, com este último também trabalhando para um comerciante muçulmano, Hamil (interpretado por Babak Karimi). Momo tem origem muçulmana senegalesa e consegue se identificar com as tradições ensinadas por Hamil. O grande detalhe que irá aproximar definitivamente Momo e Rosa é a doença da senhora, que começa a ficar esquecida, simplesmente saindo do ar, ou seja, o mal de Alzheimer. Com o tempo, seu estado de saúde piora e ela pede a Momo que não fique no hospital, pois os médicos são ruins e “fazem experiências” com as pessoas, numa clara referência ao que acontecia nos campos de concentração. Quando isso acontece, Momo se desliga do tráfico, se reaproxima de Hamil, com quem havia se desentendido (apesar dessa aproximação progressiva, Momo mostra um comportamento complicado o tempo todo no filme, por ter sido muito barbarizado em vida, como o assassinato da mãe pelo pai, que queria que ela continuasse se prostituindo) e vai ao hospital tirar Rosa de lá, colocando-a num porão que era o refúgio de Rosa, o lugar onde ela realmente se sentia segura do mundo (quando ela estava em Auschwitz, se escondia embaixo dos alojamentos dos prisioneiros, onde estava livre dos olhos dos nazistas). Os dois serão encontrados por Lola (interpretado por Abril Zamora), uma travesti muito amiga de Rosa, com a idosa já morta. O filme termina com Momo indo ao enterro de Rosa, deixando em seu túmulo uma foto de um campo com flores que ela adorava e o menino indo com Lola e Hamil, que passariam a ser sua família.

Em “Rosa e Momo”, da Netflix, Sophia Loren mostra o que é ser estrela |  Isabela Boscov
O relacionamento tinha altos e baixos…

É um filme cujo tema não é uma grande novidade. O detalhe aqui é que Rosa tem origem judia, perseguida pelo nazismo na Segunda Guerra Mundial, enquanto que Momo tem origem muçulmana, igualmente perseguido nos dias de hoje, mas como imigrante. Eles são membros de dois povos que são inimigos em muitas circunstâncias, mas que são também igualmente perseguidos na Europa e assim nossos dois personagens acabam se aproximando. Momo não tinha a menor ideia do que eram os números tatuados no braço de Rosa, e esta achava muito bom que ele não soubesse, sendo ela consciente da perseguição que tanto ela quanto Momo sofriam.

Netflix tira vencedora do Oscar da aposentadoria com Rosa e Momo
Dançando ao som de Elza Soares…

Sophia Loren, apesar da idade avançada, ainda atua com grande vitalidade e dá um carisma todo especial ao filme. Ela fez um bom par com Abril Zamora e sua Lola, com destaque todo especial para a dança que as duas fizeram ao som de uma música na vitrola, no vinilzão mesmo, cantada por ninguém mais, ninguém menos que Elza Soares (!). Mas creio que quem mais chamou a atenção mesmo foi o jovem ator Ibrahima Gueye, O Momo, apelido surgido de seu nome Mohamad. Ele conseguiu aliar a agressividade  e rispidez que o papel exigia com uma visão mais terna e frágil nos momentos com Hamil e, principalmente, Rosa. A metáfora da leoa que cuidava dele como uma mostra da carência afetiva do menino deu um tom lúdico a um filme que é muito duro e sem um happy end.

OQVER Cinema & Streaming | Rosa e Momo
A doença de Rosa unirá os dois…

Dessa forma, “Rosa e Momo” é mais um filme que concorre ao Oscar, que recebeu uma indicação talvez mais pela simpatia em que ele desperta (poderia ter ficado somente no Globo de Ouro mesmo, onde ganhou o prêmio por melhor música). Vamos ver se ele também vai ganhar a estatueta.  

Batata Movies (Especial Oscar 2021). Os Sete De Chicago. A Arte De Criar Bodes Expiatórios.

Os 7 de Chicago: Netflix divulga trailer do filme de Aaron Sorkin - TecMundo
Cartaz do Filme

Mais um filme que concorre ao Oscar 2021. “Os Sete de Chicago” concorre a seis estatuetas (Melhor Filme, Melhor Ator Coadjuvante para Sacha Baron Cohen, Melhor Roteiro Original para Aaron Sorkin, Melhor Montagem, Melhor Fotografia, Melhor Canção). Para que possamos analisar o filme mais a fundo aqui, vamos precisar de spoilers.

The Trial of the Chicago 7 Netflix Cast and Real People | POPSUGAR  Entertainment
Um julgamento de veredicto já decidido…

Vemos aqui a trajetória de oito (isso mesmo, não sete como está no titulo do filme) ativistas americanos numa época extremamente turbulenta, que foi o momento em que Lyndon Johnson deixa a presidência dos Estados Unidos para dar lugar a Richard Nixon. Uma Convenção do Partido Democrata irá acontecer em Chicago e membros de três grupos planejam ir para essa cidade com o objetivo de se fazer manifestações em frente ao hotel em que acontecerá o Congresso. Mas a turbulência política daqueles dias fez com que muita violência e repressão policial acontecesse e nossos oito protagonistas foram injustamente presos, sendo acusados de incitar as revoltas e levados a julgamento, com o objetivo claro por parte do governo e dos setores mais conservadores de se forjar bodes expiatórios. Um deles, um líder dos Panteras Negras, Bobby Seale (interpretado por  Yahya Adbul Mateen II), não tinha advogado, pois ele se encontrava hospitalizado, mas foi a julgamento assim mesmo e sendo tratado com muita rispidez pelo juiz Hoffman (interpretado por Frank Langella, que fez o ministro Jaro em Jornada nas Estrelas Deep Space Nine). Aliás esse juiz meteu os pés pelas mãos no julgamento, trocando nomes, falas dos advogados e confundindo situações, mostrando-se claramente desqualificado para um julgamento de tamanha magnitude.

Aventuras na História · 7 de Chicago: Conheça a história real por trás do  novo filme da Netflix
Passeatas com direito a P-2

Desde cedo fica clara a intenção de se condenar os réus, onde o direito de defesa deles é constantemente cerceado. Por mais que o advogado deles, William Kunstler (interpretado por Mark Rylance) busque artifícios e argumentos, Hoffman sempre deixa registrado que o advogado o desacata. Testemunhos importantes como o do ex-procurador-geral (interpretado rapidamente por Michael Keaton), que poderia inocentar a todos, são desconsiderados pelo juiz, com o testemunho sendo dado sem o júri. Ou seja, o juiz atua de uma forma extremamente arbitrária, deixando bem claro o circo armado onde todos já estavam condenados de antemão pelo próprio juiz, que atuou mais como acusador do que qualquer outra coisa. Vale frisar aqui que dois dos acusados foram absolvidos para mostrar uma suposta benevolência do sistema, que seria implacável com os acusados politicamente mais repulsivos pelos conservadores.

Os Sete de Chicago', na Netflix: julgamento do filme foi armado?
Uma mordaça bem conservadora…

O grande momento do filme, e o mais traumático, é quando um amigo de Seale que o orientava no julgamento foi assassinado pela polícia e Seale surta, desacatando continuamente o juiz, que obriga que os seguranças lhe deem uma surra num lugar reservado, além de algemá-lo e amordaçá-lo. Tal atitude foi de um impacto tão grande que até a promotoria pediu para se anular a acusação sobre Seale, que permaneceu preso pelos desacatos ao juiz e por uma outra acusação de homicídio que, a essa altura do campeonato, a gente tem muitas suspeitas de sua veracidade. Ficava bem claro que até os ativistas brancos e “comunistas” eram mais bem tratados que o membro dos Panteras Negras.

Os Sete de Chicago', na Netflix: julgamento do filme foi armado?
Um juiz sob suspeita, na arte e na vida real…

O filme tem um elenco estelar. Além de Keaton, Rylance e Langella, também temos a presença de Sacha Baron Cohen, que faz um dos acusados que tinha a toada mais irreverente de todas, e Eddie Redmayne, que fazia um líder estudantil mais “corretinho” que leria a declaração final antes do veredicto, uma declaração que devia ser despolitizada (já ouvi isso em algum lugar) e breve. O líder estudantil optou, então, por ler os nomes de todos os mais de cinco mil soldados mortos na Guerra do Vietnã, levando o juiz Hoffman à loucura. O veredicto… bom, estamos falando de um roteiro que é inspirado numa história real. Um happy end aqui seria praticamente um corpo estranho. Esse é um daqueles filmes que termina abruptamente e depois se diz o que aconteceu com cada pessoa (nem vou falar personagem aqui, pois se trata de pessoas reais) depois do fim da película, com a ajuda dos letreiros.

A violenta (e verdadeira) história dos Sete de Chicago - NiT
Um filme de personagens reais…

Dessa forma, “Os Sete de Chicago”, disponível no Netflix, é um filme que merece demais a atenção do espectador, pois mostra em cores vivas a clara intenção do movimento conservador americano, amparado pelo aparelho de Estado, de perseguir seus opositores políticos que lutavam pelos direitos civis e contra a Guerra do Vietnã. A arte de produzir bodes expiatórios podia ir até as últimas consequências naqueles dias tão opressores. E vemos isso de forma bem clara nessa película.

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas, A Série Clássica (S01 Ep 04), Onde Nenhum Homem Jamais Esteve. Todo Mundo Merece Uma Segunda Chance.

Star Trek: The Original Series" Where No Man Has Gone Before (TV Episode  1966) - IMDb

Dando sequência às nossas análises de episódios de Jornada nas Estrelas, retornemos à série clássica para investigar “Onde Nenhum Homem Jamais Esteve”, o segundo piloto de Jornada nas Estrelas que fez a série pegar no tranco e se transformar em todo o Universo que conhecemos. Sabemos como é, todos merecem uma segunda chance.

E qual é o plot? A Enterprise recebe um sinal de socorro de uma nave perdida há mais de dois séculos. Spock e Kirk jogam xadrez tridimensional e sabemos o basicão do vulcano: ele não tem emoções humanas, mas é filho de uma terráquea com um vulcano. Uma espécie de sonda muito pequena é detectada e teletransportada para dentro da nave por um Scott que é mais um figurante do que personagem. A sonda guarda informações da nave em que estava e é expelida antes da nave explodir. Kirk ordena que a sonda seja ligada ao computador da nave para se ver quais são as informações em suas “fitas”.

Star Trek The Original Series Rewatch: “Where No Man Has Gone Before” |  Tor.com
Kirk e Spock, os grandes protagonistas…

Kirk e Spock vão para a ponte e, na navegação está o senhor Mitchell (interpretado por Gary Lockwood, que trabalhou em “2001, Uma Odisseia no Espaço”). Kirk ordena que a nave saia de dobra e deixa a tripulação à parte da sonda da antiga nave S. S. Valiant. Ele recebe uma equipe de membros da tripulação (onde temos um Sulu calado como um bom figurante) e, entre esses membros está a psiquiatra Dra. Dehner, cuja missão é verificar a reação da tripulação em emergências. Mitchell joga um gracejo para Dehner e esta o coloca em seu lugar. Ao receber o fora, fala com o colega ao lado que a doutora é um congelador ambulante, por não ter caído no seu gracejo, em mais uma manifestação machista da década de 60, como já vista em outros episódios de TOS. Spock lê os dados da sonda e descobre que a S. S. Valiant interagiu com uma espécie de grande força desconhecida que atiçou a percepção extrassensorial (PES) dos tripulantes, sendo que, ao final, o capitão mandou destruir a nave.

Pin on TV Serie: Star Trek / Jornada nas Estrelas
Um Scott ainda na figuração…

Kirk ordena que a nave entre em dobra 1 e ela atravessa uma espécie de barreira que tem algo que é detectado pela nave, mas não é sabido muito bem o que é. Mitchell e Dehner são atingidos por uma força desconhecida e perdem os sentidos. A Enterprise atravessa a barreira. Houve nove mortos nessa passagem da Enterprise pela barreira, sinal que os roteiristas carregavam nas tintas no início da série (o KIrk nem ficou tão abalado assim, justamente ele, que pira na batatinha quando perde um tripulante). Mitchell acorda e está com os olhos totalmente prateados.

A Enterprise está sem força de dobra e KIrk se pergunta o que aconteceu com a Valiant, já que ela também atravessou a barreira. Só foram atingidos pela energia desconhecida aqueles que tinham percepção extrassensorial, ou seja, os nove tripulantes que morreram, Dehner e Mitchell. Os dois últimos tinham alta PES e não morreram. Mitchell, com a maior PES de todas, ficou com os olhos prateados. Kirk e Spock desconfiam desse dom de Dehner e Mitchell.

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Uma tripulação meio diferente…

Kirk visita Mitchell na enfermaria e este diz que está se sentindo bem e quer voltar ao seu posto. Ele está estranho, meio desafiante, meio petulante. E lendo filosofia de forma muito rápida. Kirk ordena a Spock que se façam exames completos em Mitchell e que ele seja vigiado.

Dehner visita Mitchell e esse tenta impressioná-la alterando as leituras do seu corpo. Um outro tripulante que conserta a nave o visita e Mitchell recomenda os consertos certos lendo a mente do tripulante. Este reporta a situação na sala de reuniões para Kirk e os demais tripulantes. Dehner entra na sala determinada a defender Mitchell, mas Kirk, Spock e os demais mostram grande preocupação com o crescimento das habilidades de Mitchell, que pode afetar severamente a segurança da nave. Quando a reunião termina, Spock dá duas opções ao capitão: ou deixar Mitchell sozinho num planeta minerador (Delta Vega, onde eles tentarão obter o dilítio para recuperar o motor de dobra), ou matá-lo. Kirk decide pela primeira opção. Devemos nos lembrar que o personagem de Spock ainda estava em desenvolvimento e essa opção por matar Mitchell estava em sua pura visão lógica dos fatos para proteger a Enterprise. Nimoy não gostou nada disso e, como veríamos mais tarde, o vulcano teria a chance de abraçar opções muito mais fraternais e multiculturalistas (leia-se a Horta; mas isso é em outro episódio que será discutido no momento oportuno).

Where No Man Has Gone Before (Star Trek: The Original Series) Review |
Mithcell, a ameaça…

O grande problema é que Mitchell já sabe dos planos contra ele e, ao ser recebido por Kirk, Spock e Dehner na enfermaria, joga uns raiozinhos no capitão e no primeiro oficial. Mas conseguem imobilizá-lo e sedá-lo. Todos eles descem para a superfície do planeta, cujas instalações mineradoras parecem a fachada do Palácio da Alvorada, em Brasília. Mitchell é confinado a uma cela com campo de força e fala de forma ameaçadora com os demais, dizendo que é melhor realmente matá-lo. Ele se joga contra o campo de force e, enfraquecido volta ao normal por uns segundos (seus olhos passam a ser o que eram antes), mas logo se recupera, dizendo que vai ficar cada vez mais forte. E, quando isso acontece, Mitchell mata um tripulante, joga mais uns raiozinhos em Kirk e Spock e passa a controlar a Dra. Dehmer, alem de desligar o campo de força da cela. A doutora também fica com os olhos prateados. Eles fogem. Kirk é reanimado pelo médico e vai atrás de Mitchell e Dehner. Ao encontrar com eles, Kirk tenta convencer Dehmer a voltar a ser psiquiatra e dar um prognóstico a Mitchell. Este, já se sentindo um deus e totalmente corrompido pelo poder, deixa clara toda a sua arrogância e Kirk  mostra isso a Dehmer, que joga uns raiozinhos em Mitchell, que responde o fogo e se enfraquece. É a deixa para Kirk entrar em luta corporal com Mitchell, ficar com marcas de sangue, camisa rasgada, etc. Ao fim, Kirk consegue, com um rifle phaser, atirar numas pedras que soterram e matam Mitchell. Quando Kirk vai prestar assistência a Dehmer, ela também morre, dizendo, em suas últimas palavras a Kirk, que ele não sabe o que é estar perto de ser um deus.

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Dehmer, também possuída…

Na ponte, Kirk, registra que Dehmer e Mitchell morreram no cumprimento do dever, pois não foi por vontade deles tudo o que aconteceu. Spock diz que lamenta também a morte dos dois. Kirk diz a Spock que ainda pode haver uma esperança para ele, já que ele expressou ali uma emoção. Fim do episódio.

O que podemos dizer do novo episódio piloto de TOS “Onde Nenhum Homem Jamais Esteve”? Em primeiro lugar, esse episódio foi possível depois do rejeitado “The Cage”, pois o pessoal da NBC decidiu dar uma segunda chance, já que eles mesmos haviam aprovado o roteiro que depois acharam muito cerebral com a execução do episódio. Assim, “Onde Nenhum Homem Jamais Esteve” foi executado tendo somente Leonard Nimoy e Majel Barrett do episódio original. Houve, de cara, uma preocupação em construir o personagem Spock, o alienígena de orelhas pontudas que assustava os puritanos WASPs por se parecer com o demônio. Já sabemos, nos primeiros minutos, que Spock parece não ter emoções, mas é um mestiço alienígena, pois sua mãe é terráquea. A frieza vulcana é até mal vista ao longo do episódio quando Spock dá a Kirk apenas duas alternativas para salvar a nave e a tripulação de Mitchell: ou abandoná-lo num planeta deserto ou matá-lo. Kirk aceita a primeira alternativa, mas não sem muita relutância. Pelo menos, ao final do episódio, com a morte de Mitchell e as palavras de lamento de Spock, Kirk disse que o vulcano ainda poderia ter salvação, como realmente o teve posteriormente. De qualquer forma, analisando toda a crise de forma fria e pragmática, não podemos deixar de concordar que Spock tinha a sua razão.

Star Trek The Original Series Rewatch: “Where No Man Has Gone Before” |  Tor.com
A primeira camisa rasgada, a gente nunca esquece…

Esse foi também um episódio que falou muito de percepção extrassensorial, um assunto que parecia estar muito em voga naqueles anos. Eu me lembro muito bem quando Uri Geller veio ao Brasil, uns dez anos depois de “Onde Nenhum Homem Jamais Esteve”, e ficava entortando colheres e garfos na TV usando a força da mente (depois falaram que era tudo uma tremenda duma mutreta). No caso, a percepção extrassensorial tinha origem na grande barreira e funcionava como a vilã da história, pois dava ao ser humano poderes ilimitados que o corrompiam totalmente, tornando-se verdadeiros deuses que usavam de forma completamente imoral o poder que tinham. E aí está a grande reflexão do episódio: até onde o ser humano está preparado para assumir um grande poder e, consequentemente, uma grande responsabilidade? Era Jornada nas Estrelas dando mais uma vez o cartão de visitas. Se em “The Cage” a execução do episódio foi mais cerebral, em “Onde Nenhum Homem Jamais Esteve”, houve a preocupação de se enxertar mais cenas de ação para o espetáculo televisivo, mas essa reflexão sobre poder absoluto que corrompe absolutamente estava lá nas entrelinhas.

Star Trek's phaser rifle helped sell the series but was never used again
Um rifle irado…

No mais, vemos futuros personagens em participações tão furtivas que mais pareciam figurantes, leia-se Scott e Sulu, com pouquíssimas falas, mas que já estavam ali juntamente com Kirk e Spock. Nada de Uhura e McCoy, entretanto. Aliás, o médico era outro, Mark Piper (interpretado por Paul Fix).

Assim, “Onde Nenhum Homem Jamais Esteve” pode ser descrito como um episódio que começava a construir Jornada nas Estrelas tal como conhecemos. Questões reflexivas, as cenas de ação que a TV exigia, os personagens de TOS que depois seríamos bem íntimos, um machismo latente da década de 60 que insistia em dar o ar de sua (des)graça, etc. O mais divertido aqui será ver como cada pecinha dessas foi se alocando nesse quebra-cabeça com o passar dos episódios.

Frota Estelar do Distrito Federal - Archive: Brasília e Star Trek
Brasília!!!!

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Discovery (S03, Ep 13), Minha Esperança É Você, Parte 2. Ou A Apoteose De Michael Burnham.

Star Trek: Discovery season 3, episode 13 review: "An anti-climax" |  GamesRadar+
Um História A com muita ação, porém menos interessante…

E finalmente chegamos ao último episódio da terceira temporada de Jornada nas Estrelas Discovery, com o título “Minha Esperança É Você, Parte 2”, que confirmou algo que sempre ficou perambulando ali pelo ar, mas que alguns queriam que não acontecesse até pelo bem da série: Michael Burnham se torna a capitã da Discovery. Por que isso não foi bom para a série, a meu ver? Porque confirmou a sacralização da personagem, e a certeza absoluta de tudo o que ela faz é certo, dando-lhe uma aura de onipotência e infalibilidade, estando muito acima dos demais personagens. Seria mais crível e interessante que seus defeitos (que existem) fossem mais explorados, como o foram ao longo dessa terceira temporada, em comparação com as demais temporadas de Discovery. Mas vamos analisar o plot do episódio, com os spoilers de sempre, episódio esse escrito por Michelle Paradise.

STAR TREK DISCOVERY 3x13 Promo Season 3 Episode 13 "Outside" S03E13. -- Season  Finale -- - YouTube
Book sendo torturado…

O plot começa na História B, onde Saru ainda tenta convencer Su’Kal de que ele deve sair de seu mundo imaginário do holodeck e encarar o mundo lá fora. Culber diz que a radiação deve ter aumentado, pois o casco da nave deve ter sido rompido depois de um ataque de medo de Su’Kal. Saru não sabe mais o que dizer sem amedrontar Su’Kal e provocar uma nova Combustão. Culber, sempre mandando os outros dizerem o que deve ser dito (e ele nunca faz isso, justamente o cara que tem mais jeito ali), fala que Saru deve dizer que é kelpiano para buscar uma identificação com Su’Kal e aí falar que existem outras perspectivas. De repente, surge Adira, com seu rosto todo modificado pelo holodeck, parecendo um destaque de escola de samba. Ela dá os remédios aos dois,o que vai dar mais algumas horas para eles. O namoradinho do cabelo azul aparece também nesse mundo de holodeck, com cara de vulcano. Saru e Culber podem ver o menino, por causa do holodeck e Culber dá um abraço fraterno nele, no momento fofo do episódio final (a aparição do menino foi para que esse abraço acontecesse, num momento de melodrama).

Star Trek: Discovery Season 3 Finale Recap, Episode 3
História B, a saga de Su’Kal…

Já na História A, a Viridian ataca a sede da Federação. Vence organiza um contraataque, inclusive contra a Discovery. A Federação estará acabada se Osyraa conseguir o motor de esporos. Osyraa ordena que Aurelio use o soro da verdade em Book. Enquanto isso, a tripulação da Discovery avança contra a ponte sob tiroteio cerrado. O problema é que Osyraa ordena o desligamento do suporte de vida onde a tripulação da Discovery está. Na sede da Federação, Stamets pede a Vence que a Discovery não seja destruída e ele quer ir com a nave para a nebulosa salvar Culber, Adira e Saru. Mas Vence diz que Michael fez a coisa certa afastando Stamets da Discovery e ordena que o Chefe de Engenharia fique bem longe dali para o motor de esporos não ser acionado, para o desespero de Stamets. A Discovery consegue abrir uma brecha nos escudos da sede da Federação, mas os vulcanos mandam naves para ajudar a Federação contra a Corrente Esmeralda. Osyraa ordena que se use pesticidas nas naves vulcanas. Mas Michael convence Osyraa a entrar em contato com a Federação e deixar a Discovery e Viridian irem embora, com o objetivo de evitar a matança dos vulcanos. Vence aceita, meio contrariado. A Discovery, Viridian e as naves vulcanas entram em dobra. Na Enfermaria, o efeito do soro da verdade demora para acontecer em Book, mas Osyraa não quer esperar e pretende torturá-lo, a menos que Michael o faça falar a verdade. Aurelio não quer que se use de violência, mas Osyraa finalmente mostra seu lado perverso a ele, estrangulando-o até fazê-lo dormir e começa a torturar Book. Depois de ver Book sendo muito torturado, Michael finalmente cede e vai pedir a Book para entregar o caminho para o dilítio da nebulosa. Mas num movimento mirabolante, Michael liga um conveniente campo de força de quarentena dentro da Enfermaria que a isola de Osyraa e Zareh e a moça foge com Book por uma porta lateral. Michael passa uma mensagem em código para Tilly (ela também teve tempo de roubar um comunicador), que diz que a tripulação deve tentar danificar uma nacele para tirar a Discovery da dobra. Mas a tripulação já não consegue respirar com a exceção de Owo, que consegue manter a respiração presa por mais tempo que os demais. Já Michael e Book se trancam num turbo elevador sob fogo cruzado. Zareh e seus capangas abrem a porta do elevador, mas Book e Michael estão do lado de fora do elevador com aquela visão ridícula do interior da Discovery, que parece fazer a nave ter três vezes o seu tamanho. O tiroteio recomeça. Michael se joga em outro elevador e vai até o núcleo de dados da nave, onde está Osyraa. As duas trocam tiros e porradas ao mesmo tempo. Já Book sai no braço com Zareh no elevador. Owo consegue danificar a nacele e a Discovery sai de dobra. Um robozinho vai salvá-la, pois ela já está quase que totalmente sufocada. Osyraa ordena que a Viridian puxe a Discovery para dentro de si. No elevador, Zareh sacaneia a gata de Book e ele fica puto da vida, jogando Zareh lá embaixo (inacreditável). Osyraa enfia Michael numa parece cheia de cubinhos, mas a heroína sai e, com dois tiros bestas, mata a vilã (eu esperava algo mais apoteótico aqui). Burnham dá um boot na Discovery e recupera os sistemas de suporte de vida, além de, literalmente, mandar os capangas de Osyraa para o espaço. E pede que, quem estiver ouvindo, se apresente a ponte (já age como capitã). Owo acorda e percebe que foi salva pelo robozinho, que pifa. Os demais tripulantes estão vivos e vão para a ponte se encontrar com Michael, onde Tilly praticamente entrega o posto de capitão de mãos beijadas para a protagonista. Burnham pretende ejetar o núcleo de dobra para explodir a Viridian e libertar a Discovery. Mas, como fazer com que a Discovery não exploda junto? Seria acionando o motor de esporos. E aí, num passe de mágica para a conveniência do roteiro, Aurelio diz que Book é de uma espécie empática e que ele poderia acionar o motor de esporos como Stamets. O núcleo de dobra é ejetado, mas a Discovery não salta com o motor de esporos. O reator de dobra, sobrecarregado, na iminência de explodir, e a Discovery não salta. De repente, vemos a Viridian explodir.

Star Trek: Discovery Season 3 Finale Preview Photos Released
Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos da Adira…

Na História B, Saru começa a conversar de seu passado em Kaminar com Su’Kal. E abre o jogo, dizendo que é kelpiano como Su’Kal. Saru volta a mencionar o mundo exterior, mas Su’Kal não gosta disso porque ele menciona que os hologramas falaram a ele que a Federação o iria buscar, mas isso nunca aconteceu. Saru então fala que isso não aconteceu por causa da Combustão, que incapacitou as naves. Mas o importante é que a Federação está lá agora, graças à mãe de Su’Kal que fez contato e que criou esse mundo para proteger o filho. Su’Kal pede para Saru esperar e atravessa uma porta onde estaria o mundo dos kelpianos na simulação. Depois de algum tempo, Su’Kal retorna e diz que Kaminar não mais está lá. Saru, com muito jeito, continua a explicar que Su’Kal deve sair daquele mundo holográfico e encarar o mundo exterior, mas a criatura holográfica que o persegue aparece e ele fica cheio de medo. Saru diz que essa criatura o está ajudando a encarar seus medos. Já Culber, Adira e seu namoradinho estão procurando uma forma de contato e chegaram a um ponto onde a radiação é crítica. Como o namoradinho não é corpóreo ele vai até esse ponto e atravessa os limites do holograma, vendo que há mesmo um rombo no casco por onde entra a radiação, com a nave se desfazendo perigosamente. Aí, fica a pergunta: com esse rombo, a radiação não invadiria todo o holodeck e o tornaria crítico em todo o seu interior? Por que a radiação fica mais concentrada perto do rombo? Bom, como a série parece não ter consultor científico e seus roteiristas parecem estar mais preocupados com a fantasia ao invés da ficção científica… Falando nisso, Culber explica para Adira como Su’Kal foi responsável pela Combustão, confirmando o que vimos há dois episódios, só que desta vez a tecnobabble ficou ainda mais viajante. Ou seja, para dar algum arremedo de ficção científica a essa situação fantasiosa, a explicação ficou tão esdrúxula que é melhor a série se assumir como de fantasia de uma vez. Voltando a Saru e Su’Kal, o primeiro, finalmente com a ajuda de Culber, convence o kelpiano medroso a atravessar a porta que sempre foi vista como algo perigoso para Su’Kal. Essa porta dá para a nave. Su’Kal diz que não vai nesse lugar desde criança. O namoradinho fica chateado porque quando o holograma desligar, ele vai ficar somente visível para Adira novamente. Mas  Culber diz que eles vão procurar um jeito de tornar o menino visível para todos novamente. Su’Kal desliga a holografia e agora a nave se mostra toda, com corpos cobertos por plásticos e um corpo decomposto descoberto. É sua mãe. Su’Kal pede ao computador para mostrar o que ele viu ali quando criança, para que ele possa se libertar de seu trauma. Vemos um Su’Kal ainda criança conversando com sua mãe agonizante. Ela cai morta na frente do filho, que grita e provoca a Combustão. O Su’Kal adulto olha para o corpo decomposto da mãe. Saru, já como kelpiano, fala que a mãe de Su’Kal não gostaria de vê-la morta. Su’Kal diz que estava sozinho. Saru responde dizendo que ele não mais está sozinho. Su’Kal se vira e vê Saru como kelpiano. Eles tentam se comunicar com a Discovery, sem sucesso.  A mãe de Su’Kal ainda deixa uma mensagem de agradecimento para os que resgataram seu filho e pede que ele seja levado para sua família em Kaminar. Su’Kal percebe que foi ele que causou a Combustão e quer reparar o erro. Saru diz que não foi culpa dele, que Su’Kal não tinha como saber que foi ele. Saru ainda diz que vai ajudar Su’Kal, ou seja, são os roteiristas encontrando uma saída muito conveniente para tirar Saru do caminho de Michael para essa assumir a Discovery como capitã. E isso, pois lembramos o quanto Saru era comprometido com a tripulação, a nave e os ideais da Federação. Mas bastou um kelpiano assustado para ele jogar tudo isso no lixo. Uma conveniência de roteiro forçadíssima para favorecer a Michael.

Star Trek: Discovery Season 3 Finale Easter Eggs & References | Den of Geek
Pelo menos, não mataram o Aurelio…

A nave em que estão tem falha estrutural iminente. Culber ainda tenta, sem sucesso, contactar a Discovery. Mas eis que Michael surge com a cavalaria e salva todo mundo.

Season finale da 3ª temporada de 'Star Trek Discovery' ganha imagens
Zareh. Morte mais cinematográfica que a de Osyraa…

Michael faz um discurso exaltando a conexão entre as pessoas, num século 32 onde todos não estavam muito conectados. No meio do discurso, fica clara a frieza de Stamets para com Michael, algo que pode dar um bom gancho para uma quarta temporada, embora já possamos até especular o que vai acontecer, dado o grau de previsibilidade da série. A Corrente Esmeralda, que tinha um parlamento, institutos de pesquisa e toda uma estrutura como vimos no episódio anterior, num passe de mágica acabou sem Osyraa e a Federação está se reconstruindo. Os trills voltaram e os vulcanos cogitam voltar. Vence pede para conversar com Burnham e começa uma conversa mole de como a filha dele não queria obedecê-lo, sendo que depois ele concluiu que ela estava certa. É a deixa para ele dizer o mesmo de Burnham e querer que ela seja a capitã da Discovery. O episódio termina com uma Michael apoteótica comandando a Enterprise, uma citação de Gene Roddenberry (que foi sacaneado na temporada) sobre comunicação e a música original de Jornada nas Estrelas, depois da temporada apagar vários elementos de Jornada nas Estrelas, e, volta e meia, lançar uns easter eggs para manter a atenção dos fãs mais antigos.

Star Trek: Discovery season 3, episode 13 recap – the ending explained
Doug Jones, de cara limpa, caiu como uma luva no melodrama…

O que podemos dizer do episódio final “Minha Esperança É Você, Parte 2”? Em primeiro lugar, Discovery se mostrou cada vez mais Discovery, sendo uma série já com três temporadas e formando todo um Universo próprio, se desligando cada vez mais da ficção científica e de Jornada nas Estrelas. Tudo bem, é um direito que os produtores têm. Só me soa um pouco desonesto eles lançarem mão da marca de Jornada nas Estrelas para buscarem audiência dos fãs. Tivemos uma História A que foi regada a muitas cenas de ação, onde Burnham tomou mais as rédeas da coisa, se compararmos com  o episódio anterior, enquanto a participação da tripulação na resolução da crise ficou um pouco mais ofuscada, ou seja, eles somente agiram por uma sugestão de Burnham e somente Owo chegou à nacele para danificá-la. Eu ainda acho que gostaria de ver uma participação maior da tripulação (por exemplo, ao invés de Zareh ser morto por um Book que ficou revoltado porque o vilão falou mal da gata dele – isso foi ridículo, caramba, que infantilidade da Paradise!!! – eu preferia que Zareh fosse morto por Tilly com um diálogo bem escrito). O uso dos elevadores da Discovery deslizando numa nave que internamente parece ter o tamanho da Estrela da Morte também foi algo complicado, que já havia sido criticado em temporadas anteriores. A luta entre Osyraa e Michael, onde elas não sabiam se davam tiro uma na outra ou porrada mesmo, foi também uma forçada de barra, não menor que a morte de Osyraa, uma vilã que até teve uma boa atuação ao longo da temporada, que morreu com dois tirinhos muito bestas. Até a morte de Zareh foi melhor. Por fim, o desfecho óbvio de Michael como capitã, já mencionado aqui. Foi uma pena esse desfecho, pois finalmente tivemos uma temporada em que as atitudes de Michael foram questionadas, o que soava como algo bom para o desenvolvimento da personagem. Só que, ao fim, todo mundo disse que ela estava certa de novo e ainda foi agraciada com o posto de capitã. Uma pena. Eu achava que a série teria a ganhar mais com esse conflito interno de Burnham. Quando isso foi trabalhado nessa temporada, tivemos bons momentos, e com a Michael. Já a História B me parece até mais interessante que a História A, pois teve duas coisas que Discovery gosta de trabalhar bem, embora isso a afaste muito da ficção científica e de Jornada nas Estrelas: o melodrama e a fantasia. Se os roteiristas querem associar a Combustão a um desespero de ordem familiar de Su’Kal, tudo bem, se considerarmos isso fantasia. O que não dá é passar um verniz de ficção científica nisso, criando uma tecnobabble mirabolante demais. Que se desse uma explicação científica bem rasa (os cromossomos prejudicados na gestação de Su’Kal em favor de uma ligação com o dilítio) e se parasse por aí, abraçando de vez a fantasia, que é o que os roteiristas de Discovery querem fazer. Que assumam o que eles estão fazendo e não encontrem desculpas para enjambrar isso em Jornada nas Estrelas. A parte do melodrama, quando não exagerada, é outra coisa que cai bem em Discovery, embora também a afaste de Jornada nas Estrelas, sobretudo no núcleo Stamets-Culber-Adira-Menininho do Cabelo Azul. Repito: a fantasia e o melodrama são os rumos que os roteiristas querem tomar e até o fazem bem. Só não me associe isso a Jornada nas Estrelas, por favor, que é algo muito diferente. É melhor assumir o que fazem.  A questão do envolvimento entre Saru e Su’Kal foi até interessante, mas infelizmente foi usada como uma faca de dois gumes, pois tirou de forma muito conveniente o kelpiano do caminho para colocar Michael como capitã da Discovery.

Spoilers - Star Trek Discovery 3x13 Season 3 Episode 13 Outside - Promo  trailer | Page 2 | The Trek BBS
Sequência de luta exagerada…

E um balanço da terceira temporada? A série ainda tem problemas como a continuação do protagonismo excessivo de Michael, emburrecendo os demais personagens. Tivemos diálogos sofríveis em todos os episódios, escritos por diferentes roteiristas, numa prova de que isso é mais uma coisa dos showrunners. Jornada nas Estrelas foi sendo sistematicamente apagada da série (até agora não engulo essa coisa de Ni’Var, o delta no peito se transformar numa elipse com um delta quase apagado desenhado nela). A zoação com Gene, o processo de tornar o Saru menos importante e muito relutante. As agressividades de Philippa Georgiou. O chorômetro de Michael. Histórias excessivamente mirabolantes que podiam ser contadas de forma um pouco mais simples. Um século 32 excessivamente com cara de século 21, mesmo que a ficção científica seja um reflexo de nosso tempo. Uns quatro episódios onde a Discovery tinha que provar a um grupo ou civilização que era confiável (a Terra, os Trills, A Federação, os Vulcanos). Ou seja, Discovery ainda tem muito a melhorar. Mas eu também vi algumas melhoras. O questionamento da onipotência de Michael até por ela mesma. O ato de Michael perceber que ela não pode fazer tudo o que quer o tempo todo, principalmente na querela entre vulcanos e romulanos, onde ela desistiu de seus objetivos ao perceber que se poderia levar a um novo desentendimento no seu planeta natal (só foi sofrível os vulcanos terem cedido a Michael através de um argumento emocional). A zoação com Michael no primeiro episódio, onde a gente ri do personagem, que o deixa mais simpático para nós. Os episódios onde a tripulação era mais focada que a Michael, dando espaço para o desenvolvimento de mais personagens. As mensagens de cunho ecológico ou críticas ao sistema capitalista, algo que Jornada nas Estrelas sempre fez e nunca foi considerado lacração, o sendo considerado por alguns somente em Discovery. O surgimento do núcleo fofinho Stamets-Culber-Adira-Menino do Cabelo Zaul, dentro do que Discovery se propõe a fazer. A carregação nas tintas do Universo Espelho, que eu realmente vi mais como um alívio cômico, com uma surpreendente Michael tresloucada e uma Tilly contida. Os episódios em arcos fechados, com a questão da Combustão correndo em paralelo (embora às vezes a história da Combustão parecesse se desenvolver muito lentamente), com um arco final de três episódios elucidando o problema da Combustão. E, principalmente, o Guardião da Eternidade, materializado num velhinho sacana que falava por metáforas, irritando as “milleniuns” Michael e Phillipa, que queriam respostas claras e rápidas para tudo, com o velhinho falando a Michael que ela estava nervosa. Confesso que vi ali um embate entre os fãs mais antigos e os mais novos na série. Carl me representa (até porque eu também me chamo Carlos)!!!

Star Trek: Discovery | Netflix Official Site
O núcleo fofo da série…

Encerrada a terceira temporada, vamos ver o que rola na quarta, onde as filmagens já foram iniciadas. Concordo com os que falam que a série poderia muito bem encerrar aqui. Mas já que a quarta temporada está sendo filmada e a série ainda tem muito o que melhorar, fica a expectativa se os showrunners vão escutar um pouco mais os fãs ou se vão bater o pé feito crianças mimizentas e vão repetir os mesmos erros. Escutem um pouquinho mais os fãs como vocês ate fizeram um pouco na terceira temporada! É o que pedimos. Isso sempre deu certo em Jornada nas Estrelas.

Star Trek: Discovery Season 3 Finale Spoilers: A New Captain Is Here |  IndieWire
E os roteiristas conseguiram o que queriam…

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Discovery (S03, Ep 12), Há Uma Maré… Uma Negociação E Um Jogo De Gato E Rato.

Star Trek: Discovery Season 3 Episode 12 Review: There is a Tide... | Den  of Geek
Arquitetando um plano de fuga…

E chegamos ao penúltimo episódio da terceira temporada de Jornada nas Estrelas Discovery, intitulado “Há Uma Maré…”. Esse episódio, escrito por Kenneth Lin e dirigido por Jonathan Frakes, confirma o arco final triplo iniciado em “Su’Kal”, com uma suficientemente boa ação e uma negociação no mínimo curiosa. Para podermos falar do episódio, os “spoilers” estão liberados.

O episódio começa com Osyraa dentro da Discovery e seus capangas simulando um ataque da nave Viridian contra a Discovery, com o objetivo da Federação abrir suas portas para a Discovery. Na estação da Federação, Vence, sem comunicações com a Discovery, hesita em deixar a nave entrar e mantém levantados os escudos do QG da Federação. A tripulação da ponte está confinada a uma sala e aquele vilão do segundo episódio que mais parecia um Al Pacino genérico (Zareh) aparece dizendo aos capangas que Osyraa não quer que se mate ninguém. É claro que ele também zoou a incompetência de Tilly no posto de capitã, com a nave sendo tomada muito facilmente. Ryn é colocado junto ao grupo. Enquanto isso, Book e Michael estão em dobra com a nave do primeiro, correndo para chegar ao QG da Federação, mas precisam passar pelos destroços de muitas naves sem colidir.

Star Trek: Discovery Season 3 Episode 12 Easter Eggs & References | Den of  Geek
Arrumando uma forma de entrar na Discovery…

A Discovery se aproxima dos escudos do QG e de um poço gravitacional. Para a nave não ser esmigalhada, Vence manda abaixar os escudos para a Discovery passar. A nave de Book também chega. Book e Michael jogam a nave onde estão dentro do hangar da Discovery antes dessa entrar no QG.

Osyraa vai até a Engenharia onde Stamets ainda está subjugado por uma espécie de máquina neural em sua cabeça. Ela fala com um cientista conhecido como Vigilante Aurélio, de sua confiança, que é paraplégico e estuda o motor de esporos, assim como Stamets. Osyraa e Aurélio parecem ser muito próximos. Ela bota uma operazinha andoriana para o cientista poder trabalhar melhor.

Star Trek: Discovery – Season 3, Episode 12 “There is a Tide...” Review:  The Tide is Turning, Indeed | TREKNEWS.NET | Your daily dose of Star Trek  news and opinion
Surge Aurelio, um personagem com nome de dicionário…

Michael vai atrás de Stamets para poder neutralizar o motor de esporos. Book coloca um aparelho de camuflagem dos sinais de Michael em seu braço. Como ele só tem um, não pode andar junto com ela, que vai sozinha “salvar o dia” nas palavras do próprio Book. Vence, depois de pensar um pouquinho com seus botões, percebe que Osyraa está na Discovery e manda cercar a nave com outras da Federação a postos para atirar. Mas Osyraa entra em contato e quer, diplomaticamente, conversar. Os dois começam uma longa conversa na presença de um holograma que é um detector de mentiras. Osyraa busca negociar uma aliança entre a Corrente Esmeralda e a Federação. Na ausência de dilítio, a Corrente tem uma estrutura capitalista bem montada de comércio, enquanto que a Federação é um símbolo de esperança, algo que a Corrente não tem. Os dois comem umas frutas, Osyraa uma maçã, que Vence diz que é sintética e feita das fezes da estação (literalmente uma maçã de merda), que Osyraa cospe. Vence resiste à visão capitalista de Osyraa alegando que a Corrente mantém a escravidão. A oriana diz que gastou capital político para abolir a escravidão na Corrente Esmeralda. O problema aqui é que a Corrente Esmeralda deixa de ser vista como uma facção criminosa e parece ser um órgão com governo próprio, parlamento, detentora de instituições científicas, etc. sendo mostrada nesse episódio de forma diferente do que entendemos no resto da série. Vence diz que, para fazer acordo, a Corrente Esmeralda precisa se afastar de civilizações pré-dobra como Kwejian. Osyraa, depois de saber que uma capanga de Zareh foi ejetada para o espaço, abre um texto sobre o armistício e propõe a retirada das civilizações pré-dobra por quinze anos, além de não violar a Primeira Diretriz. Vence pede um tempo para ler o armistício. Depois de ler, Vence acha o armistício um bom acordo, mas se pergunta quem representará a Corrente Esmeralda e se essa pessoa será independente o suficiente de Osyraa, que não é vista com confiança. Osyraa pensa em Aurélio, mas Vence ainda quer saber o grau de independência que esse representante teria com relação a Osyraa. Ela diz que esse representante não teria ligações com ela. Mas o holograma detector de mentiras diz que Osyraa mente. Vence ainda diz que o passado de Osyraa é de crimes e que esses erros precisam ser reparados. Osyraa fica verde de raiva, mas Vence, apesar de um tom de súplica muito estranho pedindo à Corrente para se unir à Federação, bate o pé com relação a Osyraa se confrontar com seus crimes num julgamento. A oriana perde a paciência e vai embora.

Book é capturado e colocado junto com a tripulação da Discovery. Já Michael estrangula um homem com a perna mas toma uma facada na mesma.  Com os transportes bloqueados por Osyraa, Michael se desloca pelos tubos Jefferies. Ela cauteriza sua ferida com um kit médico e manda uma mensagem para a mamãe Burnham falando da situação da Discovery. Mas Zareh localiza Burnham pelo comunicador que ela pegou do capanga que estrangulou. Ele manda mais de seus capangas para perseguir Michael. Mas ela simula um incêndio que aciona exaustores nos tubos Jefferies. Ela havia se amarrado num cano antes disso e uma capanga de Zareh é cuspida para o espaço pelo dispositivo antiincêndio. Burnham fala para Zareh que ele vai precisar de mais capangas (reguladores). E joga o comunicador fora para não ser mais encontrada.

Star Trek: Discovery' Season 3 Episode 12: Did the Federation make a  mistake by turning down Osyraa's deal? | MEAWW
Uma negociação…

Os tripulantes da Discovery simulam uma briga e descem a porrada nos capangas de Osyraa. Eles vão sair do cativeiro. Ryn consegue provocar uma interferência que vai mostrar muitos sinais de vida falsos. Book e Ryn vão permanecer na sala para atrasar os capangas enquanto a tripulação da Discovery sai pela nave. Mas Book e Ryn são capturados.

Stamets é tirado de seu “transe” e começa a conversar com o Vigilante Aurélio. Começa a rolar uma afinidade entre os dois pela ópera andoriana. Stamets começa a conversar sobre família, filhos, mas Aurélio quer saber sobre o motor de esporos. Stamets continua desconversando com o papo de família. Aurélio acha que Osyraa é uma pessoa maravilhosa, pois apostou nele, que é paraplégico, para a carreira de cientista. Mas Stamets fala dos defeitos de Osyraa que Aurélio não conhece. Michael entra na Engenharia e atordoa Aurélio e um capanga para salvar Stamets. Mas o Chefe de Engenharia quer voltar a Verubin para salvar Culber. Ele pira ainda mais na batatinha quando sabe por Michael que Adira está lá. Mas Michael confina Stamets num campo de força e pretende mandá-lo para o QG da Federação, pois assim Osyraa não poderá usar o motor de esporos. Michael usa o toque vulcano para desacordar Stamets. Stamets, quando acorda, já está no campo de força, e diz, aos berros, que aqueles que ele ama terão uma morte terrível na radiação de Verubin. Mas Michael diz que Osyraa usará Stamets e o motor de esporos para destruir a Federação. Stamets diz que a Discovery veio ao futuro por Michael, que a tripulação abriu mão de tudo por Michael e como ela pode fazer isso. Michael, chorando, apenas diz que sente muito. Stamets é cuspido para o espaço e enviado ao QG. Michael chora, chora, chora… mas para quando Zareh a rende com uma arma.

Star Trek: Discovery – Season 3, Episode 8 Recap: “The Sanctuary”
Osyraa fica verde de raiva com o fracasso das negociações…

Na ponte, Osyraa está de volta e ordena que Zareh procure a tripulação da Discovery. Ryn e Book estão na ponte. Aurélio também, sabe-se lá como, pois isso não ficcou explicado no roteiro, já que ele havia sido tonteado por Michael (ô roteiro mal escrito!!!). Osyraa pede para Aurélio sair da ponte, pois coisas violentas vão acontecer, mas Aurélio se recusa. Ela dá uma ordem para Ryn consertar os sensores, mas ele se nega. Book diz que tem como, em segurança, dar acesso ao dilítio da nebulosa Verubin a Osyraa. Mas mesmo assim, esta atira em Ryn que vira um monte de purpurina azul e some no fundo da Discovery. Osyraa dá a ordem de Aurélio aplicar em Book o soro da verdade para ele não mentir. Mas Aurélio está traumatizado com a violência de Osyraa.

A tripulação consegue chegar ao arsenal da Discovery, depois de pôr fora de ação mais capangas de Osyraa. Quando os tripulantes vão começar a pegar as armas, três robozinhos aparecem, dizendo que contêm os dados da esfera e que vão ajudar a tripulação. Fim do episódio.

Star Trek Discovery Season 3 Episode 12 “There Is a Tide…” | Tell-Tale TV
Ryn vai virar purpurina azul…

O que podemos dizer do episódio “Há Uma Maré…”? Em primeiro lugar, tivemos um bom episódio de ação. Toda uma operação de resgate de Discovery é posta em curso. Obviamente, Michael é escalada por Book para salvar o dia, mas ela não vai fazer tudo sozinha. A ela vai caber a tarefa de tirar Stamets da nave e da jogada, para que Osyraa não acione o motor de esporos, uma medida muito racional e coerente, não fosse por um pequeno detalhe: Stamets está desesperado em salvar Culber e Adira, as pessoas que ele mais ama e que não quer perder de jeito nenhum (ele já perdeu Culber uma vez, não quer perder uma segunda). Alguns podem dizer que essa é uma atitude egoísta de Stamets, mas ela ser colocada no episódio valeu para pelo menos uma coisa: quando Michael o obriga a ser expelido da nave, Stamets começa a dizer que a tripulação da Discovery fez tudo por ela e como agora ela tem a coragem de deixar Culber e Adira encararem uma morte horrível. Vemos mais uma vez o “faz o que quer” da Michael ser questionado no episódio, agora num desespero flagrante de Stamets (palmas para Anthony Rapp que convenceu muito em seu desespero). E Michael chorou e chorou (pelos registros do chorômetro, foram duas as vezes: nesta com Stamets e quando a moça deixa uma mensagem de despedida para a mãe). Apesar desse problema com Michael no episódio, não posso deixar de admitir que gostei da ideia do exaustor do sistema de incêndio do tubo Jefferies que cuspiu a capanga de Zareh para o espaço.

O núcleo da tripulação também foi bom, pois eles trabalharam em equipe para sair da situação de cativeiro. E os robozinhos, que até agora tinham uma posição periférica nos episódios, finalmente vão ajudar mais efetivamente a tripulação, pois eles contêm os dados da esfera, que quer proteger a tripulação de forma consciente. Confesso que quero ver muito isso no episódio final.

Star Trek: Discovery Season 3 Episode 12: "There is a Tide..." Photos - TV  Fanatic
Stamets e seu desespero com Michael.

O núcleo Stamets-Aurélio também foi interessante, sendo esse último personagem um sujeito gente boa que tem uma dívida de gratidão com Osyraa e que acaba se horrorizando com toda a venalidade da mulher verde. Ele e Stamets têm em comum o uso da ciência para fins pacíficos e quero ver o desfecho desse personagem. Espero que ele seja aproveitado para a quarta temporada e esses roteiristas não o matem no episódio final, pois seria um desperdício e uma burrice inominável. Ele seria uma ótima aquisição para o núcleo fofo de Stamets, Culber e Adira, algo que Discovery consegue fazer bem, apesar de não ser uma ficção científica ao estilo do que conhecemos em Jornada nas Estrelas.

Agora a negociação entre Vence e Osyraa. Duas coisas incomodaram. Primeiro, a atitude de súplica de Vence em fechar o acordo com Osyraa desde que ela aceitasse ser julgada pelos seus crimes. Isso não encaixou bem com o personagem de Vence, que sempre foi dotado de atitudes muito firmes durante a temporada e, agora no final fica implorando daquele jeito. Pegou mal. A outra coisa que incomodou foi a visão que o episódio deu da Corrente Esmeralda. Se nos episódios anteriores, a Corrente Esmeralda parecia muito mais um sindicato do crime com negócios escusos, no presente episódio vemos a Corrente como um Estado com parlamento e uma espécie de grande aliança comercial, com empresários capitalistas muito ricos detentores de grandes rotas comerciais, além de possuidora de renomados institutos de pesquisa. Ficou algo estranho. Com relação à visão capitalista da coisa, posso dizer que isso não me incomodou, já que, com a escassez do dilítio, os ditames do mercado voltaram nessa sociedade distópica e a Federação, que representa um fio de esperança e de utopia, deve ser realmente relutante em se aliar a uma organização capitalista que mantém a escravidão. Alguns podem reclamar dessa crítica ao capitalismo como agenda política, mas não será a primeira vez que Jornada nas Estrelas criticou o capitalismo que, apesar de ser o sistema vigente, é realmente cheio de falhas. Só seria um pouco estranho uma sociedade a mais de novecentos anos no futuro, em pleno século 32, adotar um sistema econômico vigente no século 21. Confesso que quando vejo um sindicato do crime como a Corrente Esmeralda em Jornada nas Estrelas, me lembro muito dos sindicatos do crime em Guerra Nas Estrelas, como o Sol Negro. Mas estes existiram há muito tempo numa galáxia muito distante e não no século 32 da Via Láctea (seria apenas no Quadrante Alfa???).

Dessa forma, “Há Uma Maré…” até foi um bom episódio de Discovery, pela interessante história de ação, pelo não protagonismo excessivo de Michael, pelo questionamento a liberdade para Michael fazer o que quiser e pelo papel da tripulação na operação de resgate da nave. O surgimento de Aurélio foi algo positivo e a tentativa de acordo entre Vence e Osyraa flertou com uma crítica ao capitalismo do século 21 pertinente, mas que parece um pouco estranha a uma realidade do século 32, mesmo que esta seja distópica. Esperemos como será o desfecho desse arco triplo.  

Star Trek Discovery - S03E12 - There Is A Tide... [Transcript] - Scraps  from the loft
O choro é livre…