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Batata Books – Sombras do Império. Um Lagarto Metido a Besta.

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Capa do Livro

Mais um livro do Universo Expandido de “Guerra nas Estrelas” lançado pela Aleph. “Sombras do Império” se passa entre “O Império Contra-Ataca” e “O Retorno de Jedi”. Esse livro da série “Legends”, escrito por Steve Perry, busca preencher a lacuna deixada ao final do Episódio V, quando Lando e Chewie vão à busca de Han Solo, sob olhares esperançosos de Luke e Leia num exílio fora da galáxia. A pista é seguir os passos de Boba Fett e tentar resgatar Solo antes que ele fique em poder de Jabba, o Hutt. Mas Luke e Leia não ficarão apenas no aguardo do sucesso de Lando e partem em sua ajuda. O jovem cavaleiro jedi ainda está em treinamento e não domina todas as técnicas. Leia, por sua vez, mal sabe de suas habilidades e ainda as tateia.

Xizor, um personagem muito arrogante

Do lado do Império, Vader e o Imperador maquinam planos para capturar Luke vivo e trazê-lo para o lado sombrio, já que seu poder é imenso e Vader quer moldá-lo aos seus desejos. Mas um elemento novo será adicionado a essa trama: a organização criminosa Sol Negro, comandada pelo Príncipe Xizor, da espécie Falleen, cujos ancestrais haviam sido reptilianos. Xizor é uma figura extremamente poderosa e sua influência se estende por vários pontos da Galáxia, numa rede de negociatas e corrupções. Nosso amigo do Sol Negro é extremamente convencido e arrogante, e na sua luta por mais poder e influência, faz um perigoso jogo com o Imperador, o que desperta a ira de Vader. Como há um interesse em Luke por parte do Imperador e Vader, Xizor também vai querer capturá-lo e matá-lo, principalmente para tripudiar com Vader, que percebe seus joguetes. Assim, o grande atrativo do livro é esse duelo entre Xizor e Vader.

Mas há outras curiosidades interessantes. Han Solo estava congelado na carbonita? Tudo bem, foi criado um personagem praticamente à imagem e semelhança de Solo, Dash Rendar, um mercenário altamente convencido e divertido, que inclusive colocava Lando em várias saias justas. E outro detalhe muito instigante. Como Luke Skywalker perdeu seu sabre de luz (e a mão) em “O Império Contra Ataca”, podemos ver no livro todos os detalhes da construção do novo sabre pelo jovem cavaleiro Jedi, um processo que era meticuloso e passível de vários riscos, inclusive fatais. Para quem tem curiosidade de saber como um sabre de luz é construído, esse livro é uma peça fundamental.

Xizor tentará seduzir Leia

Entretanto, o livro tem problemas. Ele está muito centrado no personagem de Xizor, o que chega a ser irritante, dada toda a sua marra. O homem se acha o gostosão não somente em seu poder econômico e até, de uma certa forma, político, mas também na arte da conquista das mulheres, já que ele exala irresistíveis feromônios. E aí o príncipe verdinho vai querer conquistar Leia, que busca contato com o Sol Negro para negociar informações que levem ao paradeiro de Han Solo. Essa atenção excessiva foi deliberada por parte do autor para tornar Xizor tão odioso que a gente chega até a torcer por Vader nesse duelo particular. Todo um detalhamento da vida de Xizor foi feito e, quanto mais sabíamos dele, mais insuportáveis ficavam sua autoconfiança e arrogância. Sabemos que esse foco explícito em Xizor também se deu para tornar o personagem muito conhecido e alavancar suas vendas em “action figures”. À propósito, “Sombras do Império” foi um projeto multimídia lançado pela Lucasfilm em 1996 que tinha, além do livro, quadrinhos e jogos de videogame e só conhecemos detalhadamente a história se tomarmos contato com essas três mídias.

O desfecho do livro foi pirotécnico, interessante por ser cheio de ação e combates espaciais. Mas “Sombras do Império” não foi um dos melhores livros do Universo Expandido. Talvez as melhores partes dele sejam as que se refiram a Vader, onde há uma passagem em que fica bem claro a aversão do senhor sombrio à hipocrisia nas disputas pelo poder. Vader se sentia muito mais à vontade na sinceridade da agressividade do guerreiro do que na falsidade dos joguetes políticos. E isso somente aumentava seu ódio por Xizor, que era um mestre em demagogias e manipulações. E parecia estar manipulando o Imperador em busca de seus interesses. Parecia…

Guri, androide sensual e perigosa

Outros elementos alusivos à Vader são dignos de destaque. Suas técnicas jedi para curar suas lesões, o uso da raiva para sobreviver por um curto período de tempo fora da proteção de sua roupa e de sua câmara, a dor que ele sentia ao sorrir (ou seja, ao estar alegre) quando pensava em Luke. Desse ponto de vista, o livro valeu, e muito. Mas tinha aquele lagartão metido à besta que era o Xizor. Esqueci de falar ainda da androide Guri, o braço direito de Xizor, em formato de mulher loura altamente sensual, mas extremamente perigosa e fria. Fazer uma memória visual dessa personagem foi uma experiência bem agradável e foi uma interessante personagem, pois ela sempre buscava colocar Xizor nos prumos quando ele ficava excessivamente excitado, principalmente por Leia. Era um misto de ciúme e protocolos de sua programação.

Dessa forma, se “Sombras do Império” não chega a ser um grande livro do Universo Expandido, por ter sido desproporcional na atenção dispensada ao personagem Xizor, ainda assim sua leitura é recomendável, principalmente quando o livro se refere a Vader, seus desejos, alegrias e ódios. Mais uma leitura curiosa que a Aleph trouxe para a gente.

Vader irá travar um duelo com Xizor e vamos torcer pelo senhor sombrio!!!!

Batata Books – Um Novo Amanhecer. A Gênese de Rebels.

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Capa do Livro

Vamos recordar mais um lançamento da Aleph do Universo de “Guerra nas Estrelas”. “Um Novo Amanhecer”, escrito por John Jackson Miller (o mesmo autor de “Kenobi”), tem como personagens principais os protagonistas da série “Rebels”. E, segundo Dave Filoni, o produtor executivo e diretor de supervisão da série “Rebels”, o velho conceito de cânone, ou seja, as histórias consideradas “oficiais” pelos detentores dos direitos de “Guerra nas Estrelas”, já não existe mais e, desse ponto em diante, tudo o que é produzido sobre Guerra nas Estrelas, seja em cinema, quadrinhos, “games”, etc., está agora conectado. Assim, “Um Novo Amanhecer” não está incluído na série “Legends”. Devemos nos lembrar que a Aleph publicou livros da série “Legends”, histórias consideradas “não oficiais” por George Lucas, mas nem por isso, menos instigantes. Essa revelação de Filoni é muito importante para que o Universo de Guerra nas Estrelas fique cada vez mais forte.

Kanan Jarrus

Mas, e a história de “Um Novo Amanhecer”? Ela tem como protagonista principal Kanan Jarrus, um homem solitário e de espírito muito independente que carrega explosivos para mineração de torilídio na lua de Cynda, que orbita um planeta chamado Gorse. O torilídio é muito importante para o Império, pois ele é usado na construção de naves espaciais e a história se passa numa época em que o Império quer aumentar a sua frota de destróieres estelares (estamos entre os episódios III e IV) para incrementar seu poderio militar. Quem vai supervisionar a produção de torilídio será o Conde Vidian, um ser cibernético altamente frio, calculista e implacável, cuja força descomunal da parte mecânica de seu corpo é usada para aniquilar fisicamente todos aqueles que levemente o desagradam. Pressionado pelas ordens do Império de aumentar a produção de torilídio, o conde impõe aos mineradores e às respectivas empresas mineradoras às quais pertencem, um regime de produção desumano. Há, também, um veterano das Guerras Clônicas, Skelly, que descobriu que as explosões nas minas de Cynda para a extração do torilídio irão destruir a lua em breve, e ele fará de tudo para avisar Vidian sobre isso. E há, ainda, a bela Hera Syndulla, uma Twi’lek (aquelas lindas mulheres verdes com duas trombinhas – ou lekkus – na parte de trás da cabeça) que é uma espiã de uma nascente força rebelde que vai investigar quais são as pretensões do Conde Vidian desde sua chegada ao sistema Gorse-Cynda.

Hera Syndulla

Essa nova história de John Jackson Miller é regada a boas cenas de ação, mais do que foram vistas em sua outra publicação que chegou até nós, “Kenobi”. Como a própria capa do livro “Um Novo Amanhecer” mostra, Kanan e Hera vão se unir para combater os planos maléficos do Conde Vidian com relação aos destinos de Gorse e Cynda. O trabalhador da região mineradora, cujo passado ele quer esconder de todos, se diverte em bebedeiras e brigas de rua, sem qualquer consciência política. Hera será para ele uma nova perspectiva de vida, onde sua paixão pela Twi’lek sempre ficará implícita.
Já o personagem do Conde Vidian é curiosíssimo. Precisarei dar uns spoilerzinhos aqui. É muito curioso perceber como Miller abordou o Império e seus asseclas neste livro. Ele colocou como uma das faces mais más dessa força do mal a exploração econômica e a corrupção, coisas com as quais estamos muitos familiarizados em terras tupiniquins. O personagem do Conde Vidian é emblemático nesse sentido, pois ele era um funcionário público insignificante nos tempos da República, que gostava de fazer tudo certinho, enquanto via outros funcionários corruptos procedendo da velha e conhecida forma do “armar para se dar bem”. Mas Vidian fora acometido de uma doença degenerativa e, enquanto jazia no leito do hospital, decidiu “entrar no esquema” e começou a acumular poder com uma conta bancária falsa (eu já ouvi isso em algum lugar).

Skelly

Fazendo todo o tipo de armação, ele enriqueceu e o Império só foi um suporte que ele utilizou para se tornar uma figura muito poderosa e implacável. Ou seja, o vilão principal da história é um bom exemplo de como zés preás que não são nada podem utilizar governos ditatoriais para acumular poder e destilar toda a sua mágoa e sentimento de vingança nas costas dos outros por ter passado por uma vida vazia e medíocre. Esses exemplos não faltam por aí e creio que Miller acertou na mosca ao construir Vidian dessa forma. A sanha do Império em aumentar a produção de torilídio, não importa como fosse, explorando economicamente e de forma muito severa empresas mineradoras e seus empregados, onde o bem estar dos trabalhadores e suas vidas pouco importavam, foi outro elemento atraente na história, que nos remete aos primeiros anos da Revolução Industrial lá no século XVIII, onde o capitalismo totalmente selvagem explorava os trabalhadores até os limites da resistência humana e além. É por isso que a literatura de “Guerra nas Estrelas é tão importante a meu ver, pois os escritores dão uma nova forma de se enxergar a franquia e dão um tom de seriedade e reflexão à saga que George Lucas não dava (o criador de “Guerra nas Estrelas” parecia às vezes estar mais preocupado com Ewoks, formigas brancas tocando PVC ou Jar Jar Binks, sendo eu nunca o perdoarei por esse último!).
Assim, “Um Novo Amanhecer” foi mais um tiro certeiro da Aleph, pois vemos aqui a gênese da rebelião contra o Império, encabeçada por dois personagens que, se não são Han, Luke, Leia ou Kenobi, são também cativantes e levam mais interesse do público à série “Rebels”. E tem o grande mérito de mostrar o Império numa forma capitalista e exploratória, algo que vemos em algumas ditaduras sanguinárias por aí, mas também em países que se orgulham de dizer que têm governos democráticos e liberais. É “Guerra nas Estrelas” deixando de ser só um entretenimento juvenil para se tornar um produto cultural mais reflexivo. Como eu ansiava por esse dia!

Conde Vidian

Batata Books – Tarkin. Explorando um Personagem Pouco Conhecido.

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Capa do Livro

Após a triste notícia de que a Editora Aleph vai parar de publicar livros de Guerra nas Estrelas, vamos nos lembrar de um bom lançamento do Universo Expandido. “Tarkin”, escrito por James Luceno, resgata um personagem do Episódio IV um tanto que mal aproveitado na película que deu origem à saga. Interpretado por Peter Cushing (o lendário Van Helsing dos filmes de Drácula da produtora inglesa Hammer, cujo vampiro era interpretado por Christopher Lee, o conde Dooku dos episódios II e III), o governador Tarkin, ou moff Tarkin, ou ainda mais tarde, grão-moff Tarkin, tem aqui destrinchados o seu passado e sua carreira, o que nos ajuda a entender mais esse intrigante personagem que não tivemos muita oportunidade de conhecer, o comandante da primeira Estrela da Morte, estação móvel de combate, destruída pela Aliança Rebelde, o que provocou a sua morte. Vamos aqui analisar sua trajetória, lembrando sempre que precisaremos dar uns “spoilers”.
A história de “Tarkin” se passa entre os episódios III e IV, quando a estação móvel de combate é construída na base sentinela, localizada na Orla Exterior. Um ataque de uma força desconhecida à base acaba lhe rendendo uma convocação do Imperador em pessoa, onde Tarkin terá a responsabilidade de investigar a origem do ataque com a ajuda de ninguém menos que o braço direito do Imperador, o senhor sombrio, Darth Vader! O grande detalhe é que os conspiradores conseguem roubar a nave de Tarkin, a “Pico da Carniça”, motivo de seu orgulho pessoal, fazendo um jogo de gato e rato bombardeando alvos estratégicos do Império e dando saltos no hiperespaço, provocando uma louca caçada por parte das forças imperiais. Os conspiradores que atacam o Império são também apresentados, assim como seus passados em dias republicanos. Assim, o moff tem um grupo de adversários à altura e ele precisa lançar mão de sua astúcia e competência para deter os ataques desses nascentes rebeldes.
Qual é a grande virtude de “Tarkin”? A noção de centro e periferia, muito semelhante à noção de metrópole e colônia em História. O núcleo da galáxia era a parte mais desenvolvida do Império, onde ficava a grande e urbanizada capital Coruscant. Por sua vez, a periferia estava na chamada “orla exterior” da galáxia, onde os mundos ainda eram muito inóspitos e alguns deles deviam ser conquistados. Era o caso de Eriadu, planeta natal de Tarkin, assim como outros planetas conhecidos do Universo de “Guerra nas Estrelas”, como Tatooine, Naboo (planeta natal do Senador Palpatine) e Geonosis (planeta onde o exército de clones foi usado pela primeira vez contra as forças separatistas do conde Dooku), todos mundos na parte periférica da galáxia. Essa periferia ainda apresentava uma intensa atividade de contrabandistas e piratas. O processo de colonização e conquista de Eriadu muito nos lembra os primeiros colonizadores do continente americano que, em nome da Coroa de seus países, desbravaram um território considerado traiçoeiro, enfrentando culturas indígenas, animais selvagens e insetos jamais vistos e a pirataria de países estrangeiros, querendo um reconhecimento e títulos de nobreza de suas metrópoles por causa disso.

Grão-Moff!!!

E o título de moff? Ele pode muito bem ser visto como uma analogia dos títulos de nobreza que os senhores feudais recebiam do rei no Antigo Regime. Nosso protagonista foi o governante de seu planeta natal Eriadu, mas depois ele recebeu do Imperador o título de moff, que lhe dava um poder maior sobre sua localidade na orla exterior. E, posteriormente, o título de grão-moff lhe daria futuramente poder sobre toda a orla exterior. No caso da colonização portuguesa, tínhamos algo semelhante aos moffs, se pensarmos nos governadores gerais do Brasil ou nos vice-reis e capitães gerais das colônias espanholas na América. E, talvez até um grão-moff, já que em Portugal existia o Conselho Ultramarino, um órgão da Coroa Portuguesa especializado em assuntos das colônias, cujos membros eram pessoas que já tinham alguma experiência em administração colonial.
A infância e adolescência de Tarkin foram marcadas por um ritual de iniciação numa chapada em que ele era submetido às maiores provações, ou seja, os pais desde cedo o alertaram de que poderia um dia perder a sua vida pomposa e confortável e que a dominação das forças da natureza era a única forma de garantir a sua sobrevivência. Tarkin foi submetido a uma violenta disciplina por seu tio-avô Jova na perigosa Chapada da Carniça, onde teria que lutar pela vida contra violentos predadores e mais; ele mesmo deveria se tornar um predador, dominando outras espécies altamente ferozes, estudando-as para atacá-las. Esses anos de aprendizado seriam essenciais para seu sucesso quando estivesse nas fileiras do Império. O grande teste seria feito no “Pico da Carniça”, uma grande coluna escarpada onde ele encontraria… paremos por aqui com os “spoilers”. Esse ritual de iniciação de Tarkin lembra muito o ritual de iniciação de Leônidas, líder espartano do filme “300”. Assim, vemos Tarkin, esse homem de periferia, visto com desdém pelas pessoas do núcleo galáctico, conquistando seu lugar ao sol numa posição central do Império, tornando-se um homem impecavelmente elegante, preocupado com o corte de seus uniformes, mas ao mesmo tempo com um passado selvagem, o que o tornava um militar imperial de sentido altamente aguçado e de uma crueldade sem igual, algo que despertou a atenção do ainda senador Palpatine nos dias da República, tratando logo de arrebanhá-lo para a conspiração Sith que afundaria a República e instituiria o Império.

Parceria com Darth Vader…

O relacionamento entre Tarkin e Vader foi outro momento interessante do livro. Como os dois foram forçados a trabalharem juntos, fica clara uma preocupação de Tarkin com o que Vader pensava por trás daquela máscara, já que era impossível fazer uma leitura facial das emoções e intenções do senhor sombrio em qualquer assunto. E assim, ficava desconfortável para Tarkin qualquer tentativa de um relacionamento mais estreito com Vader. Já com o Imperador, as coisas foram mais próximas desde o início, pois o ainda senador Palpatine manteve os primeiros contatos com o jovem Tarkin, demovendo-o de seguir uma carreira mais próxima do direito quando a caserna parecia mais adequada.
Dessa forma, “Tarkin” é mais um interessante produto do Universo Expandido de “Guerra nas Estrelas”, pois resgata um importante personagem da saga, dando-lhe toda uma história e um passado, além de explorar a noção de centro e periferia no Império Galáctico, muito semelhante às visões dos primeiros conquistadores do período colonial. Nosso grão-moff será um produto do meio em que viveu (ideia defendida pelo iluminista Jean Jacques Rousseau), com sua crueldade sendo proveniente dos rituais de iniciação da Chapada da Carniça, lugar onde desenvolveu seu espírito de conquista, e sua elegância veio de seu passado aristocrático, descendente de uma linhagem dos conquistadores de seu planeta natal, Eriadu. Mais outra leitura obrigatória para quem gosta de “Guerra nas Estrelas”.

Construindo uma Estação Móvel de Combate…

Batata Movies (Especial Cinema Centro América) – La Yuma. Nicarágua Mulher Macho!

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Cartaz do Filme

A Caixa Cultural do Rio de Janeiro realizou, no ano passado, a mostra “Cinema Centro América”, com uma seleção de vinte títulos do cinema recente da América Central. São produções da Guatemala, Belice, El Salvador, Honduras, Nicarágua, Costa Rica e Panamá. Infelizmente, só pude ver três filmes da mostra. Um desses filmes eu vou me poupar de falar aqui. E, também, por questões de delicadeza, não direi qual é. Já os outros dois foram muito bons e farei uma pequena análise.

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Uma moça muito forte que enfrenta uma vida muito difícil…

O primeiro desses filmes vem da Nicarágua e se chama “La Yuma”, realizado em 2009, de noventa minutos de duração e dirigido por Florence Jaugey. A história se passa em torno da trajetória de Yuma (interpretada por Alma Blanco), uma jovem de vinte anos que mora na periferia, tem um físico forte e deseja ser lutadora de boxe. Seu bairro fica numa zona muito violenta, e seus amigos fazem parte de gangues, sendo que eles acham que, pelo fato de Yuma ser mulher, podem apitar em sua vida. Na casa da mãe, sua progenitora tem um namorado imprestável e pedófilo, que molesta seguidamente a irmãzinha e Yuma. Todo esse ambiente altamente inóspito obriga a nossa protagonista a ser muito braba, dura na queda mesmo. Mas nem tudo são espinhos. Por uma dessas coincidências da vida, ela começa a namorar Ernesto (interpretado por Gabriel Benavides), um jovem de classe média alta, e eles têm um romance altamente idílico. Mas o abismo social entre os dois faz das suas e eles acabam se afastando. Chorar pelos cantos? Jamais! O negócio é enfiar a porrada em quem melou o namoro. Mas o filme, abertamente compromissado com a realidade nesse ponto, não reata o namoro (ainda bem, um “happy end” dessa magnitude não teria espaço aqui). Um alívio cômico bem vindo no filme é a patroa de Yuma. Nossa protagonista, para ganhar a vida, precisa trabalhar numa “tienda” de roupas femininas, tendo inicialmente um pouco de dificuldade para isso, em virtude de seu jeito rude e bronco. Yuma tem uma patroa que atua como uma burguesa implacável com sua empregada em seu início mas, pouco a pouco, seu aspecto mais cômico e bonachão vai tomando conta da personagem e a gente acaba simpatizando com ela.

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Literalmente uma lutadora…

Uma coisa que chama muito a atenção é o desfecho. Se a diretora optou por um choque de realidade ao longo de todo o filme, no final ela lançou mão de um “happy end”. Mas não um “happy end” clichê como a volta para os braços de Ernesto, mas sim algo mais surpreendente e inusitado, dando um toque altamente lúdico para um filme que foi muito ácido pela denúncia social em quase toda a sua duração. Pode-se dizer que foi uma espécie de “cereja do bolo”.

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Precisando se afirmar numa sociedade machista…

Assim, “La Yuma” foi uma grata surpresa da Mostra “Cinema Centro América”, que foi organizada pela Caixa Cultural do Rio de Janeiro. Um filme de forte denúncia das más condições de vida das populações menos favorecidas; um filme que mostra a violência das periferias; um filme que mostra o abismo social entre dois amantes; um filme de toque lúdico ao seu final; e um filme de uma personagem forte, muito forte, em todos os sentidos, colocando por terra qualquer tentativa de empoderamento feminino anglo-saxão. A Gal Gadot precisava dar uma conferida nesse filme e conhecer Yuma.

Batata Movies – Sem Data, Sem Assinatura. Laudos de Mortes Que Alteram Vidas.

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Cartaz do Filme

Sempre considerei o cinema iraniano muito bom. Comecei a acompanhá-lo na segunda metade da década de 90, quando vi “O Balão Branco”, de Jafar Panahi. Aí, passei a ver muita coisa e o nosso circuitão passava muitos filmes. Mas alguns incautos passaram a dizer que o cinema iraniano era muito chato, etc., etc. E essa modinha de falar mal do cinema iraniano tirou essas películas de nossas telas. Confesso que amaldiçoo esses incautos até hoje. E assim, os filmes desse país muçulmano somente chegam para nós muito eventualmente. O último que chamou mais a atenção (embora outros tenham sido exibidos por aqui posteriormente) foi justamente “A Separação”, que ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, onde o sistema jurídico de um Estado Teocrático penetrava na vida privada das pessoas e embananava muitas coisas. Havia, também, uma relação mais baseada no choque entre classes sociais. Pois bem. Agora chega para nós o curioso “Sem Data, Sem Assinatura”, realizado em 2017 por Valid Jalilvand e confirmando, novamente, o poder e a qualidade desse cinema, numa arte de se contar histórias bem característica e que foge um pouco do que vemos no Ocidente.

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Um médico e muitas duvidas…

A história do filme começa bem simples. Um médico legista, Kaveh Nariman (interpretado por Amir Aghaee) anda com seu carro numa estrada à noite e, depois de abrir caminho para um carro em alta velocidade que resvala em seu espelho retrovisor, ele se choca com uma moto com uma família que vai ao chão. A família tem um menino de oito anos que, ao cair no chão, bate com a cabeça, mas aparentemente está bem. Apesar dos insistentes pedidos do médico em levar o garoto ao hospital, a família segue caminho. No dia seguinte, o médico, que trabalha num hospital que também é uma espécie de IML, recebe a notícia de que um garoto de oito anos com o mesmo nome do menino chega morto e seu corpo está preparado para a autópsia. Paralisado pela notícia, por medo de ter sido a sua culpa a morte do menino, ele omite a história do acidente para os colegas que diagnosticam que o menino morreu por intoxicação alimentar, pois o pai, Moosa (interpretado por Navid Mohammadzadeh), comprou carcaça de frango estragado num abatedouro, pois era mais barato. Desesperado, o pai foi até o abatedouro e agrediu o funcionário que lhe vendeu a carcaça, indo preso. Tudo isso despertou em Nariman o desejo de exumar o filho de Moosa e verificar numa nova autópsia se foi de fato a intoxicação alimentar ou o acidente que matou o menino, pois isso poderia significar a libertação de Mossa, mas também a condenação do próprio Kaveh.

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Um pai que perde o filho…

Esse filme tem uma série de características que estão presentes nos filmes iranianos. Em primeiro lugar, uma história que começa com um evento muito simples, mais que vai paulatinamente se complexificando de forma a não saturar o espectador com um enredo enfadonho, muito pelo contrário, ou seja, as histórias do cinema iraniano têm a versatilidade de prender a atenção do espectador com uma volúpia pouco vista em outros cinemas do mundo. A gente fica meio que enfeitiçado pelo que vemos e nem sentimos o tempo passar nessas exibições iranianas. Em segundo lugar, os filmes iranianos não costumam se dividir entre protagonistas e antagonistas. Não há vilões e mocinhos, apenas pessoas normais do dia a dia, com suas virtudes e defeitos, suas coragens e fraquezas, personagens que podem errar não porque querem, mas porque a vida leva a caminhos que podem fatalmente induzir a um erro. E pessoas que sofrem com seus erros. Isso já foi visto claramente em “A Separação”, por exemplo. Cabe dizer aqui que essa característica de se apresentar personagens comuns do dia a dia sem estabelecer-lhes um juízo de valor é que aproxima o cinema do Irã ao neorrealismo italiano.

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Desespero pela perda…

Outra característica que liga “Sem Data, Sem Assinatura” ao filme “A Separação” é a visão de estratos sociais e suas relações. Vemos aqui a classe médica, de um estrato social mais alto e de hábitos burgueses ocidentalizados interagindo com uma camada social mais baixa, essa ainda vinculada às tradições religiosas de seu país. Aqui, vemos mais um diálogo maniqueísta entre a tradição e a modernidade, enchendo a última de virtudes em detrimento da primeira em seus defeitos. Mas, mais do que isso, vemos esse pensamento mais moderno ligado a uma classe social mais alta, enquanto que as tradições e conservadorismo são uma coisa ligada aos mais pobres. Tal pensamento é um pouco preocupante, pois ele é capaz de criar alguns rótulos e estereótipos que nem sempre funcionam de forma precisa e cartesiana. Pode-se, perfeitamente, existir pessoas de camadas sociais mais baixas sintonizadas com um pensamento mais moderno e ocidentalizado, enquanto que as camadas mais altas também podem ter membros que guardam uma tradição. O perigo de se criar tais estereótipos vai justamente na direção de você colocar os mais ricos como mais cultos e liberais, ao passo que os mais pobres seriam mais “fundamentalistas” e machistas.

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Frango estragado…

Para ainda estabelecer mos uma comparação entre “A Separação” e “Sem Data, Sem Assinatura”, enquanto que o primeiro deixou o final em aberto, onde qualquer desfecho levaria a situações de ganhos e perdas, o segundo tem um desfecho, se bem que nas entrelinhas, permitindo que o espectador raciocine e ligue os pontos para se compreender o desfecho. Ou seja, é um filme que respeita a inteligência de quem o assiste, numa mostra de outra virtude desse maravilhoso cinema que é o iraniano.

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Prêmio para melhor diretor e ator em Veneza, na mostra Horizonte

Assim, “Sem Data, Sem Assinatura” é um programa altamente recomendável, em virtude da excelência do cinema do Irã. E, em segundo lugar, porque essa película confirma mais uma vez a qualidade do cinema desse país que é tão malvisto pelo Ocidente em função de interesses escusos, mas que abriga uma cultura cinematográfica poderosíssima. Vale a pena dar uma conferida.