Por Carlos Lohse
Um filme americano meio demodê em nossas telonas. “O Contador” lembra muito aquelas películas americanas de superviolência da década de 80, quando tiros de metralhadora em profusão retalhavam exércitos inteiros vivos. Convenhamos, mesmo os filmes de ação mais violentos de hoje em dia não têm mais esse perfil. Tudo bem que o “tiro, porrada e bomba” ainda está por aí, mas talvez num tom um pouco mais caricato ou seja, como coadjuvante da ação. Já em “O Contador” temos mais a ação como coadjuvante da violência.
O filme fala de um certo contador, Christian Wolff (interpretado por Affleck), um sujeito muito esquisitão, que teve uma infância regada a muitos traumas psicológicos, tanto por parte de mãe quanto por parte de pai. Mas esse lado psicológico totalmente descalibrado esconde um talento monstruoso para números e memorização. Isso faz com que Wolff se torne um grande contador na idade adulta, mas com um jeitão extremamente soturno e antissocial. Devido ao seu ótimo talento com números, Wolff torna-se o contador de pessoas muito perigosas. E aí, a sua vida passa a ficar ameaçada o tempo todo. Simultaneamente, ele é investigado por órgãos do governo americano, em virtude de suas ligações muito perigosas. Está armado o terreno para um filme com altas doses de violência explícita. Em tempo: o nosso protagonista não é um mocinho indefeso nas mãos de perigosos e violentos bandidos, já que ele tem um quê psicótico terrível.
O que dizer mais de um filme como esse? Apesar de altamente manjado em sua violência de anos 80, a película conta com um bom elenco. Além de Affleck, que está muito bem como o antissocial e psicótico contador, temos a ótima presença de J. K. Simmons (esse cara é realmente um excelente ator!) como Ray King, o agente do governo que está no encalço de Wolff e que tem uma ligação com o contador (chega de “spoilers”), uma grata presença de John Lithgow (só par reforçar o climão anos 80 do filme) e Anna Kendrick (a Cinderela de “Caminhos da Floresta”), que interpreta Dana Cummings, uma contadora também de passado introspectivo que serviu como um arremedo de par romântico com Wolff. A moça foi muito bem no seu papel de “outsider”. O filme ainda contou com a presença menos conhecida de Cynthia Addai-Robinson, como a agente Medina, de passado delinquente e que fica nas mãos de King, sendo obrigada a investigar a vida de Wolff. Assim, podemos dizer que o elenco vale a pena.
Uma coisa que ficou legal foi a alta dose de humor negro em alguns momentos do filme, principalmente depois que Wolff despejava seu pacote de maldades em cima de seus inimigos. Isso aliviava de uma certa forma a forte tensão da película, que poderia se tornar maçante e repulsiva caso não houvesse tal alívio cômico.
Um problema foi a alta quantidade de personagens que aparecem e desaparecem no transcorrer da trama, não ficando muito claro às vezes quem é quem e de que lado o personagem está. Deu a impressão de que o roteiro ficou um tanto mal escrito. É o tipo do filme que exige uma atenção redobrada do espectador.
Assim, “O Contador”, apesar de carregar muito nas tintas no quesito violência e de um herói com atitudes extremamente questionáveis, ainda assim é um bom filme, pois conta com medalhões de um naipe de um Ben Affleck, J. K. Simmons e John Lithgow, assim como tem uma alta dose de humor negro que compensa uma violência extrema pouco justificada por uma trama um tanto mal contada. É um filme que podemos dizer que é digno de atenção.