Vamos hoje continuar a falar de um dos mais populares seriados japoneses da década de 1980, “Jiraiya, O Incrível Ninja”.
Outro elemento muito atraente em “Jiraiya” era o seu grande humor, o que acontecia também nas outras séries. Key e Manabu zoavam Toha o tempo todo, e Toha também não ficava atrás. Existe um episódio onde a família está em treinamento e, durante um intervalo, Toha conversa com Tetsuzan. Manabu vem por trás de Toha e dá uma paulada na cabeça dele, que estava desprevenido. Toha bota Manabu para correr e Tetsuzan só fala, desanimado: “assim não dá para continuar”. Os efeitos especiais eram também às vezes, um tanto toscos, que fariam Georges Meliès esconder o rosto de vergonha. Mas nos matavam de tanto rir. A fauna do Império dos Ninjas, com guerreiros de todas as matizes e cores, abusando do metálico, eram igualmente hilárias.
Tinha um defeito na série. Ela era um tanto violenta. Além de Jiraiya pulverizar seus inimigos com a poderosa espada olímpica, uma espada ninja que ficava laser somente nas mãos do protagonista (originalmente conhecida como Jikô Shinku Ken), muitos dos capangas de Dokusai, os ninjas corvinhos que voavam e tudo, sofriam às vezes mortes violentas, tomando estreladas, flechadas, ou despedaçados em grandes explosões. Me lembro de um episódio em que Tetsuzan, desarmado, sofre um ataque de espada de um dos corvinhos e o mata, tomando a espada do coitado, dando-lhe uma chave de braço e cortando a nuca do bichinho com a própria espada dele. Meio pesado para uma série infanto-juvenil na minha modestíssima opinião.
Mas, qual era o eixo principal da história, que conduziu todos os cinquenta capítulos que tinham uma duração média de 22 a 24 minutos? Existia um grande tesouro alienígena, Pako, uma espécie de cápsula do tempo enviada há séculos por uma civilização muito mais avançada que a Terra. Ao chegar ao nosso planeta, os japoneses medievais acharam que ela era uma dádiva divina, que ficaria guardada até que um mensageiro chegasse para levá-la. Mas Pako foi soterrada por um terremoto. Lamentando a perda, o povo deixou para as futuras gerações uma tábua de barro gravada com a localização de Pako. Ao desvendar todo o mistério, o príncipe Taishi desenterrou Pako e a enterrou novamente, ordenando ao ninja Shinobi a guarda da tábua de barro. A tábua de barro ficou posteriormente sob a guarda da família Togakuri e foi passada de geração a geração, com Tetsuzan sendo o representante da 34ª geração. Metade da tábua está com Tetsuzan. A outra metade está nas mãos de Dokusai, chefe da família dos feiticeiros, um antigo companheiro de treinamento de Tetsuzan e que quer usar o tesouro para o mal. Dokusai, inclusive, matou a esposa de Tetsuzan, na luta pela tábua de barro que localiza Pako. Mas a disputa por Pako não ficará só entre os Togakuri e os feiticeiros.
O Império dos Ninjas também vai querer colocar a mão no tesouro e irá em sua busca. Alguns ninjas do Império se tornarão aliados de Jiraiya, como o inglês cristão Barão Olm, que quer usar Pako para o bem, mas outros serão poderosos inimigos. O serviço secreto japonês também ajudará Jiraiya, nas figuras de Kinin Reiha, incumbida de proteger Toha, e Yannin Spiker. Há também o americano, Dr. Smith, um ocidental com um barbão que o torna a cara do Karl Marx, sendo o primeiro discípulo de Tetsuzan, e que quer aliar a arte ninja a tecnologia. Ele conserta a armadura de Jiraiya num episódio, e insere um monte de componentes tecnológicos no carro de nosso herói, transformando o automóvel no Black Storm, uma espécie de Supermáquina nipônica. Num episódio, Jiraiya ia ser derrotado por seu oponente e o Dr. Smith deu uma ajudinha com uma caneta que paralisava o inimigo, e ai, o nosso herói teve tempo para se recuperar e derrotar seu adversário. Trapaça? Espírito de equipe? Tirem suas próprias conclusões.
Dessa forma, “Jiraiya, O Incrível Ninja” é uma série que nos deixa muitas saudades, talvez a melhor de todas dentre a vasta fauna de seriados japoneses da década de 1980. Um herói sem grandes poderes, que se baseia em seu treinamento, que não se “transforma”, mas sim veste sua própria armadura. Ah, e faz comida, lava e passa. E não deixe de ver abaixo a entrevista com o próprio Jiraiya no programa The Noite, do Danilo Gentili, no ano de 2014.