Batata Movies – Toni Erdmann. Salvando A Filha.

Cartaz do Filme

Mais um filme candidato ao Oscar em passou nossas telonas. “Toni Erdmann”, vindo diretamente da Alemanha, é uma comédia que tem sido agraciada pela crítica como favorita ao Oscar de melhor filme estrangeiro. É um daqueles filmes que envolvem pai e filha, inicialmente distantes e que, pouco a pouco se aproximam. Ou seja, um clichê clássico. Mas o que tinha feito o filme tão especial a ponto de pintar como favorito ao Oscar?

Papai Conradi. Hábitos pouco ortodoxos

Vemos aqui a história de Winfried Conradi (interpretado por Peter Simonischek), um distinto senhor alemão que tem uma vida, digamos, inusitada. Ele adora fazer piadas com as pessoas e interpretar personagens para pessoas em peças beneficentes de teatro. Seu comportamento é altamente anárquico e fora dos padrões. Winfried tem uma filha, Ines (interpretada por Sandra Hüller), que é o oposto do pai. Sisudona, a moça trabalha para uma empresa que tem a difícil missão de escolher pessoas a serem demitidas, pois, a tal firma fez um acordo com uma empresa maior que quer cortar gastos. Essa tarefa consome Ines, que precisa ser altamente formal com grandes executivos extremamente cruéis e insensíveis com a vida das pessoas. E aí, o paizão Winfried decide fazer uma viagem para ficar mais próximo da filha e fazê-la levar a vida mais na flauta, como se diz por aí. É claro que isso não acontecerá sem muitas situações curiosas e um tanto divertidas.

Tentando salvar a alma da filha, mergulhada na dureza do capitalismo

Esse filme tem uma ideia ótima, que é pegar um velho clichê (o difícil relacionamento de pai e filha) e atrelá-lo à situação de crise econômica mundial atual, onde a visão lúdica e terna do pai busca salvar a filha totalmente inserida no contexto do capitalismo. E, ainda por cima, tudo isso regado à humor. Entretanto, o filme tem um sério problema. Tudo isso é feito dentro da ótica da cultura alemã, que, cá para nós, não tem muito jeito para a comédia. Não que o filme não tenha despertado até boas risadas em alguns momentos, mas a forma muito sisuda e racional de interpretação dos alemães aos nossos olhos não ajuda muito a fazer rir. E a gente percebe que, em alguns momentos do filme, um alemão até riria de uma determinada situação que passou despercebida por nós em termos de humor.  A  peruca e dentadura que Winfried usava para fazer o papel do tal Toni Erdmann soava mais constrangedora do que engraçada em alguns momentos, e essa impressão era reforçada pelas pessoas que comentavam às suas costas coisas do tipo “Viu só? Que tipo de homem é esse?”, em vez de aproveitar para jogar mais uma piada nessa fala. Ou seja, temos aqui um caso de choque cultural típico, onde nossa noção de humor é muito diferente da alemã. Apesar disso, devo repetir que a ideia do filme é muito boa e ele até mereceu a indicação para o Oscar. Mas acabou perdendo, com justiça, para “O Apartamento”.

Parece que ela vai ceder…

Assim, se “Toni Erdmann” tem o problema do choque cultural, onde não estamos acostumados com o humor alemão, ainda assim o filme traz uma boa ideia de interagir um tema particular (o clichê do difícil relacionamento entre pai e filha) com um tema mais geral, que é o desemprego provocado pelo contexto da crise econômica geral. Apesar de seus mais de 160 minutos (outro fator que dá uma certa morosidade ao filme), vale a pena dar uma conferida.

Batata Movies – Redemoinho. Boas E Más Companhias.

 

Cartaz do Filme

Um bom filme brasileiro, que prometia muito, passou em nossas telonas. “Redemoinho” vem com um bom elenco global e é uma história que fala de recordações sobre um passado distante e traumático, tradição e modernidade, em movimentos de idas e vindas, bem ao estilo do que o título do filme sugere.

Vemos aqui a história de dois amigos. Luzimar (interpretado pelo sempre eficiente Irandhir Santos) sempre viveu na sua cidadezinha de interior, Cataguases, e trabalha numa tecelagem, onde o forte som das máquinas o deixou um pouco surdo, sendo obrigado a usar um aparelho auditivo. Já Gildo (interpretado por Júlio Andrade) preferiu arriscar a sorte na cidade grande, em São Paulo. Numa véspera de Natal, Gildo retorna à sua cidade de interior para levar um presente para a mãe, uma televisão, e reencontra Luzimar. Ele, então, convida o amigo para tomar umas cervejas em sua casa. Mas Luzimar precisa ainda visitar a mãe e ir para a sua casa, passar o Natal com a esposa, Toninha (interpretada por Dira Paes). O problema é que Gildo não deixa que Luzimar retorne a sua casa de jeito nenhum e, ainda por cima, revolve o passado dos dois, que possui lances muito nebulosos, que pouco a pouco vão se descortinando no filme.

Gildo e Luzimar. Saudades e conflitos

O filme, como podemos perceber, possui um baita elenco. Irandhir Santos estava muito bem, espontâneo como sempre. Júlio Andrade, explosivo e repulsivo. Tínhamos raiva de seu personagem Gildo, que assolava como podia seu amigo de infância Luzimar. Dira Paes, essa linda e maravilhosa atriz, interpretou de forma elegante e contida. E ainda tivemos a participação de Cássia Kis Magro como Marta, a mãe de Gildo, que era uma mãe submissa à empáfia do filho. Boa parte da qualidade do filme se ampara no grande talento de seus atores.

Mas o filme tem outras virtudes. A ideia do Redemoinho, expressa pelo diretor José Luiz Villaramim, e pelo roteirista George Moura, era muito presente, do ponto de vista estético e narrativo. Esteticamente, o redemoinho se expressava sobretudo pelas idas e vindas de um som cíclico, seja na corredeira do rio, seja no ensurdecedor barulho das máquinas da tecelagem. E, do ponto de vista narrativo, presenciamos um movimento cíclico entre dois pólos, que se manifestam em Luzimar (o campo, a tradição, o caráter), e em Gildo (a cidade, a modernidade, a amoralidade). Uma interação entre os amigos que pode ser, em alguns momentos amistosa, mas, em outros momentos, bem conflituosa. Uma interação que também revolve o passado, mas se fala no presente. Essas idas e vindas cíclicas permeiam toda a película e são a estrutura básica da ideia que se quer apresentar nesse filme.

Grande atuação de Cássia Kis Magro

Mas a película também tem seus problemas. O filme mostra a cidade de Cataguases como extremamente minúscula, um ovinho em que todo mundo se conhece. E, sabemos que a verdadeira Cataguases, apesar de ser uma cidade de interior, é bem maior que isso. A gente pode até se perguntar se o filme não se passa num passado um pouco mais distante, mas essa especulação logo cai por terra ao percebermos elementos bem modernos como os carros que aparecem na película e a tecelagem. Assim, o filme mostra uma visão um pouco distorcida da Cataguases de hoje em dia. Pelo menos, quando os amigos estavam no antigo campinho onde batiam uma bolinha quando crianças, e se lembraram da escalação do time, havia dois jogadores estrategicamente colocados lado a lado, Humberto e Mauro.

Dira Paes, o diretor José Luiz Villaramime Irandhir Santos (direita)

O segundo problema do filme é o seu desfecho, que ficou com uma tremenda cara de anticlímax, apesar da boa nova que Toninha trouxe a Luzimar. De qualquer forma, pode ser até que o melhor desfecho para o filme fosse de anticlímax mesmo, expressando da melhor forma possível o ritmo da vida no campo, na cidade do interior, nas tradições que são imutáveis.

Assim, “Redemoinho” é um bom filme brasileiro, por dois motivos principais. Pelo bom elenco e pela forma eficiente que se expressa uma ideia tanto do ponto de vista narrativo quanto estético. Um filme que vale a pena dar uma conferida.

Batata Comics – Cidade À Beira Da Eternidade. O Roteiro Original.

 

Capa da Edição em Inglês

A Editora Mythos Books traz uma verdadeira joia para os fãs de “Jornada nas Estrelas”. Todo mundo conhece a história do episódio da série clássica “Cidade à Beira da Eternidade”, onde Kirk e Spock voltam ao passado da Terra para resgatar o Dr. McCoy que, acidentalmente injetou um remédio em si e pirou na batatinha. Ele foi para o teletransporte e desceu à superfície de um planeta onde estava o “Guardião do Tempo”, uma espécie de passagem temporal, indo para a década de 30, em plenos dias da “Grande Depressão”. Ao chegarem ao passado, Kirk e Spock conhecem Edith Keller, uma irmã pacifista que cuida das pessoas mais necessitadas e tem uma mente muito à frente de seu tempo. Kirk instantaneamente se apaixona por ela, mas Spock descobre, através de uma versão rudimentar de um tricorder que ele construiu, que Edith vai morrer e que se ela viver, assumirá uma postura pacifista que vai atrasar a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra e que permitirá aos nazistas desenvolverem sua bomba atômica. Assim, Kirk sabe que vai perdê-la e sofre muito com isso. Essa é uma das melhores histórias da série clássica, que ganhou os prêmios Hugo e Nebula de ficção científica.

Um trecho q não faz parte da hístória veiculada na TV

Mas… você sabia que a história que foi veiculada no episódio não era a original, escrita por Harlan Ellison? Ela sofreu mudanças, segundo os produtores, porque o roteiro original não teria condições de ser filmado à época, algo com que Ellison discordou veementemente. E agora, a Mythos Books traz essa versão original do roteiro em quadrinhos, numa edição bem acabada e luxuosa em capa dura, que tem um precinho salgado, é verdade, mas vale muito a pena ter, principalmente se você ama “Jornada nas Estrelas” ou simplesmente ama quadrinhos. Na versão original, quem viaja para o passado é um tripulante camisa vermelha típico (aquele tripulante desconhecido que sempre morria nos episódios da série clássica na tv). Seu nome era Beckwith e ele era uma espécie de traficante de alucinógenos alienígenas dentro da Enterprise. Quando é descoberto, foge da nave e atravessa o portal do guardião do tempo. Imediatamente, o presente da Enterprise é alterado e a nave deixa de existir, entrando uma nave cheia de mercenários em seu lugar. Kirk, ao voltar com o grupo avançado para a nave, percebe que houve uma alteração e consegue se trancar na sala de teletransporte com sua tripulação. Ele volta ao planeta para atravessar o guardião do tempo com Spock, enquanto a ordenança Rand (que recebeu um papel mais destacado nessa história) fica com os demais tripulantes da Enterprise na sala de transporte, segurando a porta para os mercenários não entrarem. A partir daí, a história toma rumos parecidos com os do episódio veiculado na tv, mas com algumas pequenas alterações que não vou contar aqui (chega de spoilers!).

A bela Edith Keller

É uma experiência muito legal você ver a mesma história contada de forma diferente, tal como quando vemos um filme com o “corte do diretor”, mas um corte que realmente altere o produto final, como foi visto em “Superman II”, o estrelado por Christopher Reeve.  Embora haja algumas incongruências, como, por exemplo, por que a tripulação da Enterprise também não foi alterada quando Beckwith atravessou o portal ou por que Rand teve que ficar com os tripulantes na sala de transporte segurando as portas que os mercenários queriam derrubar e não foi para a superfície do planeta com Kirk e Spock (talvez o único motivo para isso fosse forçar Kirk e Spock lutarem contra o tempo enquanto estavam no passado da Terra), temos aqui uma ótima história, bem ao espírito dos episódios da série clássica, com a vantagem de que, com os quadrinhos, pode-se deixar a imaginação fluir ainda mais, com o produto final chegando bem próximo da imaginação do autor. Por isso, não podemos deixar de mencionar a adaptação para os quadrinhos do roteiro original por Scott e David Tipton e também a arte de J. K. Woodward. Inclusive, temos ao final dos quadrinhos uma exibição de todo o processo de produção da revista e um texto falando das inúmeras referências ao autor da história e outras que aparecem ao longo dos quadrinhos, que são uma verdadeira obra de arte.

Assim, a versão em quadrinhos do roteiro original de “Cidade À Beira Da Eternidade”, é uma leitura obrigatória para qualquer fã que se diga trekker e uma peça de coleção valiosa para quem gosta de quadrinhos. Não deixem de comprar, pois vale a pena o dinheiro investido nela.

Uma arte e tanto!!!

Batata Movies – Eight Days A Week. Beatles Na Visão De Ron Howard.

Cartaz do Filme

Ron Howard está de volta em mais um filme muito bem feito, como somente ele sabe fazer. “Eight Days a Week: The Touring Years” é um documentário que nos mostra a trajetória dos Beatles bem ao início de sua carreira, quando eles fizeram várias apresentações ao vivo nos anos de 1963 a 1966.

Eles estão de volta!!!

O que esse documentário tem de tão especial? Ele nos mostra as primeiras fotos dos integrantes do grupo, quando ainda eram muito jovens, e Ringo Starr ainda não havia se integrado à banda. Os primeiros shows ao vivo ainda na Inglaterra também são registrados, assim como o momento em que eles atingiram o primeiro lugar nas paradas americanas, o que foi o sinal verde para eles fazerem uma viagem aos Estados Unidos e começarem uma pequena turnê por lá. A partir daí, muitos shows foram agendados (cerca de 250!!!), e a procura era tão grande que os teatros tiveram que ser substituídos por estádios, onde milhares de pessoas assistiam simplesmente ensandecidas e aos berros, o que praticamente tornava inaudível o show de música. O próprio Ringo Starr dizia que tocava sua bateria acompanhando as batidas dos pés de John Lennon e Paul McCartney no palco, assim como de que jeito suas bundas se mexiam, tamanho era o barulho dos gritos das fãs e a precariedade dos equipamentos de som, que tornavam impossível eles escutarem o que eles mesmos cantavam. Alguns trechos de shows ao vivo mostram ainda a grande curiosidade de se ver o próprio Ringo cantado algumas músicas. O documentário mostra, também, como os integrantes do grupo conseguiam cativar a todos, tendo um comportamento totalmente irreverente e debochado que não ofendia a ninguém, pelo contrário, somente os tornava cada vez mais simpáticos aos olhos de todos. Outro detalhe mencionado no filme era a quantidade de músicas que o grupo gravou, sobretudo de autoria de John Lennon e Paul McCartney, cerca de 800 ao longo de toda a carreira. Somente os compositores clássicos e eruditos como Mozart, Bach ou Schubert eram tão prolíficos.

Mais um bom filme de Ron Howard

Mas nem tudo são flores na carreira dos garotos de Liverpool. Com o tempo, a maratona de shows se tornou extenuante e eles precisaram parar com isso, pois não aguentavam mais. A produtividade musical deles estava em xeque e era hora de se fazer uma pausa para retornar aos estúdios, não sem antes dar uma paradinha nas Bahamas para gravar um filme. O grupo já tinha rodado duas películas: “A Hard Days’ Night” e “Help”, mas a terceira não saiu. O que rolou muito nas gravações desse malogrado filme foi um baita consumo de maconha que deixou os quatro muito doidões. De qualquer forma, a parada nos shows foi frutífera, pois o grupo gravou o álbum “Sargent Peppers”, que foi um estrondoso sucesso.

Ringo e Paul na estreia do filme

Assim, se você quer sentir um pouco o que foi o início da carreira dos Beatles e essa incrível maratona de shows, não pode perder esse documentário que, infelizmente, já saiu de cartaz. O jeito é ficar de olho no lançamento em DVD, pois esse filme é daqueles de se ver, comprar e guardar. Imperdível.

Batata Movies – A Grande Muralha. O Problema Foi Com Os Bichinhos.

Cartaz do Filme

Pegue um grande diretor chinês do naipe de Zhang Yimou. Dê a ele toda a estrutura do mundo de Hollywood para trabalhar. Dê, ainda, atores consagrados de um porte de um Matt Damon e Willen Dafoe. Puxa vida, um filme produzido nessas condições vai ser de muita qualidade e de muito sucesso, não é? Errado!!! Acabou sendo uma coisa muito bobinha, pois os CGIs também entraram em ação. E fabricaram coisas altamente inverossímeis e, principalmente, bichinhos, muitos bichinhos, ainda por cima numa História de Época que se passa na Idade Média, para degringolar tudo de uma vez. Essas foram as impressões de “A Grande Muralha”, que passa em nossas telonas. Um fiasco total de onde poderia sair algo de muito bom.

William tomará um novo rumo em sua vida

Vemos aqui a história de dois europeus, William (interpretado por Matt Damon) e Tovar (interpretado por Pedro Pascal), em jornada ao oriente em busca de uma poeira negra que explode e pode ser usada como uma perigosa arma (a tal da pólvora). Por estar em território estrangeiro tentando tomar as coisas dos outros, nem é preciso dizer que esses dois caras são hostilizados em qualquer lugar que passam. Até que um dia, chegam à Grande Muralha da China, e são aprisionados pelo exército chinês. Enquanto eles estão como prisioneiros, veem esse exército lutando contra uns bichinhos verdes muito feios. Como William é muito bom no arco e flecha e ajuda os chineses, ele e seu amigo Pascal caem nas graças dos defensores da muralha e do Império. Mas há outro ocidental que vive com os chineses há anos, Ballard (interpretado por Willen Dafoe), que é mantido preso por lá para não espalhar o segredo da pólvora para o Ocidente.

Tovar…

Ballard organiza com Tovar um plano de roubo da pólvora e de fuga, enquanto que William fica cada vez mais envolvido com os chineses, já que finalmente encontra uma razão para lutar e, ainda por cima, o exército chinês tem uma bela general, Lin Mae (interpretada por Tian Jing). Assim, William terá a dupla tarefa de ajudar os chineses a evitar que os monstrinhos verdes e feios atravessem a Grande Muralha para atacar a capital do Império e, ao mesmo tempo, lidar com os planos inescrupulosos de seus dois colegas ocidentais.

…e Ballard. Pensando numa fuga e roubo de pólvora

A história até que não é de se jogar fora, mas… bichinhos? A coisa ficou muito caricata e forçada. Que se colocassem hunos para atacar a Grande Muralha, como vimos em “Mulan”, que foi algo muito mais digno e plausível. O pior é que sentimos que a película teve ares de grande produção, principalmente nas indumentárias coloridas do exército chinês, que ficaram simplesmente deslumbrantes (o figurino desse filme estava realmente muito bonito). Mas o filme ficou com cara de blockbuster B, do tipo de “Deuses do Egito”, algo imperdoável quando você tem um cara da qualidade de Zhang Yimou na direção. Ou seja, tinha que sair coisa muito melhor que isso. Era para se fazer um filme hollywoodiano de ação com CGIs? Não tem problema. Mas que se fizesse algo que fosse um pouco mais digno do talento dos atores usados e do diretor.

General Lin Mae. Um bom motivo para ficar na China

Do jeito que a coisa foi produzida, ficou uma cara de filme de Sessão da Tarde, mas daqueles descartáveis que são totalmente editados e que só tem a função de preencher buracos na programação, o que é extremamente lamentável. Só não vou dizer que esse filme não é totalmente recomendável pelos bons atores usados, tanto do lado hollywoodiano quando do lado chinês, e pelo belo figurino. Mas isso é muito pouco para essa película, que tinha que ser muito mais ambiciosa.

Muitos bichinhos

Assim, “A Grande Muralha” foi uma sucessão de equívocos, mas pelo menos você vai poder dizer que viu Zhang Yimou trabalhando em Hollywood, embora não tenha dado muito certo. Vá, mas não espere muito.

https://youtu.be/Akwj1yudlD0

Batata Movies – Um Limite Entre Nós. Campeão Moral?

 

Cartaz do Filme

Estreou nas telonas mais um candidato ao Oscar. “Um Limite entre Nós” (“Fences”) concorreu a quatro estatuetas (melhor atriz coadjuvante para Viola Davis, melhor filme, melhor roteiro adaptado e melhor ator para Denzel Washington) e ganhou o merecido Oscar de atriz coadjuvante para Viola Davis. Esse filme, estrelado e dirigido por Denzel Washington, é baseado na peça de teatro de mesmo título, escrita por August Wilson, que também assinou o roteiro. Por isso mesmo, a película ficou com uma tremenda cara de teatro filmado, onde exigia-se muito do espectador, que tinha que prestar uma atenção danada nos diálogos. Mas isso não significa que o filme tenha sido ruim. Muito pelo contrário, aliás. Me arrisco a dizer que esse filme poderia perfeitamente ganhar a estatueta de melhor filme sobre “Moonlight”.

Um casal aparentemente feliz

No que consiste a história? Temos aqui a vida de Troy (interpretado por Washington), um pai de família altamente simpático e brincalhão que trabalha numa companhia de limpeza, juntamente com seu amigo Bono (interpretado por Stephen Henderson). Troy é casado com Rose (interpretada por Davis) e é um cara muito durão com seus dois filhos, o que provoca muitos conflitos entre eles. Tudo isso acontece em virtude da vida pregressa de Troy, que foi muito complicada e cheia de amarguras, e que serviu de referência para ele educar seus filhos. Ou seja, Troy queria mostrar aos filhos que na vida real ninguém terá pena deles e que os rapazes devem aprender a conviver com essa forma impiedosa de relacionamento com o mundo. Assim, Troy, por ser muito teimoso e turrão, criava sérios problemas de relacionamento no seu âmbito familiar e todas essas confusões tinham que ser resolvidas por Rose, que funcionava na família como uma espécie de “voz da razão”. Mas um deslize de Troy acabaria implodindo esse seio familiar.

Mas logo os problemas de relacionamento aparecem

Por que esse filme é muito bom? Porque ele possui uma grande quantidade de personagens muito bem construídos, e cada um tinha uma função específica na trama, funcionando harmoniosamente como as engrenagens de uma máquina muito bem azeitada. A forma amistosa como os personagens interagiam entre eles no início do filme fazia os espectadores se apropriarem daquele espaço e parecia que estávamos sentados naquele quintal juntamente com Troy, Rose e Bono. Por isso mesmo, depois de que se estabeleceu essa relação mais intimista entre os protagonistas e o público, as situações de choque que iam aparecendo afetavam com a mesma intensidade os personagens e os espectadores. Nesse ponto, o filme foi muito eficaz, apesar de seu andamento um tanto lento e maçante, onde parecíamos ver um teatro filmado.

Viola Davis. Prêmio merecidíssimo

Uma metáfora muito interessante foi empregada na película. Troy tentava, o tempo todo, construir uma cerca, que simbolizava duas coisas na história. Em alguns momentos, ela era uma representação da indivisibilidade do meio familiar, como se a cerca pudesse abrigar sua família e mantê-la intacta dentro de seus limites. Mas em outros momentos, a cerca representava justamente o contrário, ou seja, ela era uma metáfora das barreiras entre Troy e os filhos, ou entre ele e a própria esposa.

A atuação de Denzel Washington foi primorosa, e confesso que, pela primeira vez, fiquei em dúvida se o prêmio de Casey Affleck foi merecido ou não. De qualquer forma, parece que funcionou a lógica de indústria, ou seja, é dado o Oscar para o ator mais jovem, com uma carreira mais promissora, cujo rótulo de “vencedor do Oscar” vai atrair mais dinheiro, em detrimento ao ator mais velho e já consagrado, cuja premiação não será tão lucrativa assim no futuro. Já o prêmio para Viola Davis foi merecidíssimo, pois ela deu tamanha nobreza para a sua personagem que ela acabou se tornando uma figura totalmente admirada e incontestável. Agora, cá para nós: ela parecia muito mais uma atriz principal do que coadjuvante. Ah, mas aí ela concorreria com Emma Stone, que é praticamente o mesmo caso de Casey Affleck e Denzel Washington. Aí a gente começa a entender os critérios de premiação que são mais vantajosos para os lucros da indústria do que para com o talento.

Assim, “Um Limite Entre Nós” é um grande filme e não seria surpresa se ele ganhasse o premio de melhor película da noite. Acho, inclusive, que sua premiação seria mais justa que a dada a “Moonlight”, mesmo que tenhamos presenciado uma cara de teatro filmado. A boa construção dos personagens e a forma como interagiam foram as grandes virtudes, pois compramos afetivamente todas aquelas pessoas. Não deixe de ver.

https://youtu.be/JwQQ735NJf4