E chegamos ao sétimo episódio de “Jornada nas Estrelas, Discovery”, dessa vez com um título quilométrico (“Magia Para Fazer O Homem Mais São Ficar Louco”). Esse foi mais um episódio que, assim como o último, destoou dos cinco primeiros. Parece cada vez mais que os cinco primeiros episódios foram escritos numa vibe que estava, como vimos, muito fora do que estamos acostumados a ver em “Jornada nas Estrelas” e que, de repente, decidiu-se fazer uma espécie de mudança radical na série, voltando ao espírito original de “Jornada nas Estrelas”. Só que, para podermos ter certeza disso, precisamos ver os próximos episódios, até porque algumas questões ficaram mal resolvidas nos episódios anteriores, tal como a guerra contra os klingons, colocada um pouco de lado nos dois últimos episódios, e o sequestro da Almirante Cornwell (esqueceram a mulher lá com os klingons e ninguém está movendo uma palha nem mencionando o nome dela nos dois últimos episódios!!! Muito estranho, não?).
Mas, o que aconteceu em linhas gerais nesse sétimo episódio? Ele começa com Burnham refletindo sobre a sua adaptação com a nave e a tripulação. Ela passará por mais uma prova de fogo: socializar numa festa. Quando Tyler pede a palavra e se lembra dos dez mil mortos na guerra com os klingons, Tyler e Burnham são chamados à ponte. Eles se esbarram nos corredores com um Stamets completamente doidão. O engenheiro está assim desde que se voluntariou para integrar seu DNA com o do tardígrado e ser o navegador do motor de esporos. Ao chegarem à ponte, Lorca mostra aos dois que uma gormagander, uma espécie de baleia espacial (algo que incomoda, pois o espaço sideral é um meio totalmente inóspito para a vida, seja para gormaganders, seja para esporos), vaga pelo espaço e, por se tratar de uma espécie em extinção, ela deve ser conduzida para o interior da nave para estudos. Ao ser transportada para a nave, a gormagander expele pela boca um alienígena vestido de Kamin Rider atirando para todos os lados. Qual não é a surpresa quando sabemos que o alienígena é o Mudd sinistrão de episódios anteriores? Ele quer o segredo da Discovery para vendê-lo aos klingons. Mas, como foi descoberto, decide usar um explosivo que destruiu toda a nave.
Voltamos à festa. Ué, como? Isso mesmo, caro leitor, o episódio é daqueles do tipo de loop temporal, onde vemos seguidamente o que aconteceu nos últimos trinta minutos e Mudd tentará, a cada loop, aprender mais sobre a nave até encontrar o segredo da Discovery a ser vendido para os klingons. Ele só não contava que Stamets, em virtude de sua condição toda especial, perceber que os loops ocorrem e ter a memória deles. Será Stamets que alertará Burnham dos loops e do plano de Mudd, onde esses tripulantes, a cada loop, tentarão sabotar os planos do vigarista e aqui assassino.
Esse foi mais um episódio de desenvolvimento de personagens pois, a cada loop, Burnham e Tyler tinham que ficar mais próximos para executar o plano que impediria Mudd de tomar a nave e Stamets meio que fazia as vezes de cupido do casalzinho. Não que isso não torne a série mais simpática, até porque, em Jornada nas Estrelas, os trekkers sempre têm afinidades com os personagens, mas confesso que acho um pouco maçante essa campanha em torno de Burnham e Tyler fazerem um par romântico. Enfim… O mais curioso é que, por causa dos loops, Burnham e Tyler não se lembram de seu envolvimento amoroso. Mas eles sabem que o envolvimento existiu e fica aquele clima no ar entre os dois de que algo acontecerá no futuro.
A ideia do loop temporal, apesar de um pouco desgastada, é boa. Parece que foi seguida aquela máxima do futebol: em time que se está ganhando, não se mexe. Ou seja, é mais seguro usar fórmulas que já deram certo no passado do que correr o risco de se ficar metendo os pés pelas mãos e inventar. É claro que tudo isso depende muito de como você reaproveita a fórmula de sucesso e de como você inventa e inova. Aqui foi interessante ver Mudd usando o loop mais de cinquenta vezes, sendo assassino e sádico em todas elas, principalmente com Lorca, onde o trapaceiro espacial matou o capitão mais de cinquenta vezes, sendo esse curiosamente o alívio cômico do episódio. Sei não, mas parece que depois de personagens importantes serem mortos nos primeiros episódios e ficar aquela tensão em mais mortes de protagonistas nos episódios seguintes, assassinar Lorca várias vezes caiu mais como uma piada para com essa tensão.
A ideia de se derrotar Mudd na base da trapaça foi interessante, quer dizer, a única forma de se derrotar um trapaceiro é trapaceando, como foi dito no próprio episódio. O que incomodou um pouco foi a passividade com que Mudd aceitou a sua derrota, ficando ao lado de “sua” Stella. Vimos como esse amor pela esposa era somente da boca para fora e de como a esposa de Mudd, apesar de muito doce aqui, já tem um gênio forte. Quer dizer, aquela receita da mulher chata da década de 60, criticada por ser considerada machista, é retomada aqui sem o menor pudor para ajudar a reconstituir a personagem Stella, ao contrário do que aconteceu com Mudd, que ficou muito descaracterizado. O Mudd da série clássica é vigarista, mas simpático, não mataria ninguém como o sinistro Mudd da Discovery. Agora, fica a pergunta: será a última aparição deste personagem na série?
Assim, “Magia Para Fazer O Homem Mais São Ficar Louco” é o segundo episódio de uma espécie de “novo arco” da Discovery, que coloca o arco principal da guerra dos klingons de lado, investe na construção dos personagens e de seus relacionamentos, tem uma cara de episódio mais destacado, se aproximando das séries antigas e se afastando um pouco do que se faz no streaming, ou seja, um novelão, e que coloca mais um ponto de interrogação na cabeça do espectador: como será o próximo episódio? Dentro de uma vibe soturna dos cinco primeiros, ou dentro da vibe mais colorida dos dois últimos? Esperemos por segunda-feira.
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