Batata Literária – Guerra das Cores

No início, só havia o branco

Plácido, soberbo e flanando

Por toda a folha de papel

Mas, eis que surge um véu

De azul celeste tempeste

Cortando o mundo de leste a oeste

Se instalando como a peste

De forma definitiva e inconteste

 

Mas o azul celeste não estava sozinho

E o amarelo chegou

Por sobre as cores trepou

E o verde se formou

Agora, o papel era um borrão

Teores cívicos vindos de supetão

Cores patrióticas todas mescladas

Mas, na mente dos brasileiros, desbotadas

 

Outra cor chegou como ave

Voando sobre o papel, muito suave

É o lilás, vindo lá de trás!

Do fundo da sala escura

Distribuindo toda a sua candura

É a cor da maciez e da excitação

Que exercem no homem doce fascinação

Inspirando o máximo de afeição

 

Eis que, de repente, surge o rosa

É a cor, toda prosa

Que invade a poesia

Cor das meninas, é cheia de mania

E logo quer um espaço só para si

Mas as outras cores reclamam

Dão para ela um cantinho logo ali

Enquanto com a vivacidade do papel se encantam

 

De repente, surge a cor mais viva

Que assusta até a Deusa Shiva!

É o agressivo e pulsante vermelho!

Que logo vai meter o seu bedelho

No papel todo manchado

Ele invade tudo de jeito descarado

De forma que, entre mortos e feridos, não se salva ninguém

Mas aquele ainda não era o fim, porém

 

Como é que tudo acabou?

Foi quando o preto aportou

É a cor mais egoísta

Pois absorve toda a energia

Ele não dá espaço para as suas colegas

E apaga tudo por elas

Afasta a amada de seu consorte

E traz em nossa cultura o sopro da morte