Todo mundo gosta do Hugh Jackman (ou, pelo menos, é raro encontrar quem não goste dele). Imortalizado por ter feito oito filmes com o personagem Wolverine, Jackman corre o risco de ficar lembrado para sempre como o ator de um personagem só, o que é um verdadeiro estigma para um profissional dessa área, dependendo do ponto de vista. Pois bem. Ele volta às telonas investindo novamente num gênero que nem sempre o público contemporâneo (pelo menos daqui do Brasil) entende muito: o musical. E Jackman já teve uma grata experiência ao filmar “Os Miseráveis”, que também vai nessa linha dos filmes musicais. Entretanto, agora Jackman tem a chancela de ser o ator protagonista do bom “O Rei do Show”, com todas as atenções voltadas a ele. Um grande desafio em sua carreira e que, cá para nós, rendeu bons frutos.
O filme fala da história de P. T. Barnum, um homem de infância pobre que queria se casar com uma garotinha rica e entrou para o show business numa Nova York do século XIX. O homem conseguiu comprar um prédio depois de passar uma conversa no gerente de um banco e conseguir um empréstimo. O prédio era uma espécie de museu abandonado com vários animais empalhados. A coisa não ia muito bem (praticamente ninguém visitava o museu), quando uma das filhinhas de Barnum sugeriu ao pai que ele tivesse atrações vivas. Foi aí que ele buscou pessoas de grupos sociais vistos com espanto e desprezo pela sociedade mais tradicional: anões, pessoas obesas, irmãos siameses, mulher barbada, etc.
Isso mesmo, caro leitor, está aí a gênese do circo. Mas, se por um lado, o agora circo vivia cheio, com as mais variadas atrações, por outro, a crítica nos jornais era muito severa, dizendo que o que Barnum fazia não era teatro e sim um embuste, o que fez que o circo também sofresse perseguições. Pouco a pouco, Barnum foi vencendo todas as dificuldades e se tornou um empresário de sucesso. Mas ele enfrentaria outras dificuldades não somente provocadas pelo preconceito, mas também por suas atitudes.
Esse é o tipo do musical que não é uma cópia descarada de algo produzido pelo teatro, onde testemunhamos números musicais o tempo todo. Apesar dos números musicais serem até demasiadamente longos em alguns momentos, há também o cinema e sua narrativa, como nos musicais mais antigos. Os números musicais são muito instigantes e dão um sabor todo especial à película (sou muito suspeito para falar, pois adoro os musicais de antigamente e vejo com muitos bons olhos quando esse gênero é revisitado nos dias atuais). Mas o filme não é somente isso. Ele também traz a mensagem da necessidade de inclusão e aceitação das diferenças, onde componentes raciais, eugênicas e sociais foram lembradas. Tais mensagens de inclusão foram bem reforçadas em alguns números musicais, e aí pudemos ver como o cinema cumpriu sua função social de denúncia utilizando um gênero que era até visto como alienante em tempos pretéritos (sabe-se que os musicais foram muito criados em cinema para desviar um pouco a atenção do grande público das agruras da vida nos anos da Grande Depressão, lá para o fim da década de 20 e ao longo da década de 30). Assim, foi muito legal ver como esse filme traz uma reflexão e uma mensagem, além do entretenimento espetaculoso desse gênero que, toda vez que aparece, chama a atenção.
Pode-se dizer que esse filme foi uma espécie de presente para Jackman, pois ele pôde destilar todo o seu talento por lá. O homem atuou bem, dançou, pulou, cantou, agarrando bem a chance de ser protagonista e transpirando simpatia para todo o público. Mas o filme também teve boas participações de Michelle Williams, Rebecca Ferguson e Zac Efron. Um destaque especial deve ser dado à atriz Zendaya que, além de ser muito jovem (é nascida em 1996), teve as atenções concentradas nela em virtude de ser negra e sua personagem sofrer discriminação racial e social.
Assim, se você gosta de um bom musical sobre um tema que, creio que ninguém fica indiferente, que é o circo, não deixem de ver “O Rei do Show”, pois inclusive o filme concorre a três Globos de Ouro, que são: melhor filme (musical ou comédia); melhor canção original; e melhor ator (comédia ou musical) para Hugh Jackman. É um filme do qual você sai levinho, não sem deixar de dar uma refletida.