Imagine Jackie Chan fazendo um filme de ação, mas muito sério sobre terrorismo com o grupo IRA envolvido. Agora imagine Pierce Brosnan contracenando com Chan. Você terá a surpreendente película “O Estrangeiro”, infelizmente em cartaz em pouquíssimos cinemas, somente na Barra, nos shoppings Downtown e New York, como se esse tipo de filme fosse rotulado como uma coisa menor, não passando nos cinemas da Zona Sul e mais direcionado para um público, digamos, blockbuster. Lamentável que o filme tenha sido rotulado com esse estereótipo, assim como o próprio público. Cinéfilo que eu sou, me descambei lá para os lados da Barra para justamente assistir a esse filme que parecia, pela sinopse, ser bem interessante.
A trama fala do senhor Quan (interpretado por Chan), que perde a filha num atentado à bomba cometido pelo IRA em Londres. Quan fica inconformado e vai todos os dias à polícia para pedir informações sobre quem matou sua filha. Mas ele verá na TV um pronunciamento do vice-primeiro ministro da Irlanda do Norte, Liam Hennessy (interpretado por Brosnan), lamentando o ocorrido e dizendo que vai ajudar as autoridades inglesas nas investigações. Só que isso não é o suficiente para o senhor Quan, que vai até Belfast falar com o vice-primeiro ministro. Como é mal atendido, Quan, que veio fugido da Ásia e perdeu toda a família, tendo sido soldado no passado perito em explosivos, começa a transformar a vida de Hennessy num inferno, explodindo muitas bombas em todos os lugares, o que faz com que o vice-primeiro minsitro coloque os capangas dele no encalço do senhor Quan. O asiático, por sua vez, procura investigar mais a fundo para chegar aos assassinos de sua filha, enquanto busca pressionar Hennessy o máximo possível.
Esse é um filme muito curioso. Em primeiro lugar, quem pensa que essa é uma película onde Chan vai meter a porrada em todo mundo o tempo todo com seus golpes de artes marciais está muito enganado. Ele até lança mão do expediente da luta, mas numa quantidade muito menor do que a gente espera. Fica bem clara no filme a idade avançada de seu personagem, e ele luta contra seus inimigos mais com a inteligência do que com a força, o que foi algo muito positivo na película. Por sua vez, a atuação de Brosnan ficou num outro pólo do filme, que tinha uma intriga politica ricamente elaborada, sendo, talvez, a maior virtude do filme, o que ajudou a manter a atenção do espectador por toda a duração da película.
Infelizmente, houve rótulos também. O grupo do IRA foi retratado como formado apenas por vilões terroristas cruéis que matam inocentes, num estereótipo muito semelhante ao que é feito com grupos islâmicos hoje em dia na mídia ocidental. Pelo menos, a atuação da polícia inglesa também foi colocada de forma extrema, com execuções sumárias e insinuações de tortura.
Os protagonistas foram bem. Chan conseguiu fazer um homem de meia idade cerebral e altamente emocional nos momentos certos. Brosnan, com uma rala barba branca, estava irreconhecível e em nada lembrava James Bond. Ver os dois contracenando juntos foi realmente um deleite para os olhos, pois conseguiram levar a trama muito bem.
Assim, “O Estrangeiro” é um bom filme de ação mesclado à trama política estrelado por Jackie Chan e Pierce Brosnan. Não caia na armadilha do preconceito e procure alugar esse filme quando sair nas locadoras, já que nosso circuitão foi um tanto preconceituoso com essa excelente película.