Batata Movies (Especial Oscar 2018) – Três Anúncios Para Um Crime. Violência Gera Violência.

                  Cartaz do Filme

Mais um bom filme que concorre ao Oscar em nossas telonas. “Três Anúncios Para Um Crime” concorre a sete estatuetas (Melhor Filme, Melhor Atriz para Frances McDormand, Melhor Ator Coadjuvante para Sam Rockwell, Melhor Ator Coadjuvante para Woody Harrelson (!), Melhor Música para Filme, Melhor Roteiro Original, e Melhor Montagem). Ainda, o filme ganhou quatro Globos de Ouro (Melhor Filme de Drama, Melhor Atriz de Drama para Frances McDormand, Melhor Ator Coadjuvante para Sam RockWell e Melhor Roteiro de Filme). Pelas indicações e premiações, dá para perceber que é um filme que vem bem forte para a competição do Oscar. E, realmente depois de assisti-lo, vemos que todas as indicações e premiações foram bem justas.

                                    Uma mãe em busca de justiça…

Mas, do que consiste a história? Vemos aqui a saga de Mildred (interpretada magistralmente por McDornand), uma senhora separada que carrega uma grande mágoa em seu coração: sua filha foi violentamente estuprada e assassinada há sete meses e o crime não foi elucidado, com o culpado andando por aí. Mildred, então, decide tomar uma atitude drástica: ela junta suas economias e aluga, pelo espaço de tempo de um ano, três outdoors, onde ela cobra explicações da polícia e de seu chefe, Willoughby (interpretado por Harrelson). Isso provoca uma polvorosa na pequena cidade de interior onde a senhora vive, com a maioria das pessoas ao lado do chefe de polícia. Mas o clima de intolerância generalizado vai produzir as mais inusitadas situações. Porém, paremos aqui com os spoilers.

                               Conversando com o chefe de polícia…

A principal mensagem desse filme é a de que o ódio apenas gera mais ódio e todos que se deixam cair nessa torrente sofrem terríveis consequências. Isso acontece com Mildred, a nossa protagonista, mas também com outros personagens, como o policial Dixon (muito bem interpretado por Rockwell, a indicação ao Oscar faz jus). Ainda, apesar de estarmos num ambiente altamente provinciano, onde alguns preconceitos afloram com toda a força como o racismo, o filme opta por personagens que não sejam planos, quer dizer, não há o cara totalmente bom ou o cara totalmente ruim.

                                                Um policial odioso.,..

Vemos um desfile de seres humanos, cheios de virtudes ou de preconceitos, por mais rotulados que eles sejam. Mildred, por exemplo, banca a durona e não dá o braço a torcer, o que pode parecer uma virtude, mas isso acaba também fazendo com que ela magoe pessoas próximas a ela que a amam, como o anão James do filme, magistralmente interpretado por Peter Dinklage. Ele merecia até uma indicação, pois soube usar muito bem o pouquíssimo tempo de tela que teve. E ele já se mostrou um ator competente no filme “X-Men, Dias de um Futuro Esquecido”. Mas as interpretações de Rockwell e de Harrelson renderam duas indicações para ator coadjuvante num mesmo filme, algo difícil de acontecer. E, falando nos dois, fica bem claro aqui que McDormand não é a única estrela desse filme que teve uma atuação simplesmente impecável, sendo dura e emotiva nas horas certas. Harrelson ganhou um personagem sensacional que, apesar sofrer uma antipatia inicial por parte do público, já que é denunciado como negligente pela protagonista, consegue virar o jogo maravilhosamente bem, ficando cada vez mais humanizado. A gente realmente passa a gostar do cara (o filme tem esse poder de fazer o espectador reavaliar a conduta e caráter dos personagens) A própria relação entre Mildred e Willoughby passa por momentos onde a senhora se preocupa com o homem que acusa, por esse passar por uma grave doença. Fica bem claro aqui a separação entre público e privado no filme. Mildred tem uma atitude ríspida para com Willoughby como representante de uma instituição pública que não cumpriu com seu dever.

                 Uma trama cheia de conflitos. Mas será só isso???

Mas do ponto de vista privado, ele ainda é um conhecido de longa data que deve ser tratado com solidariedade quando passa por um momento difícil. Já Dixon é um caso ainda mais emblemático de reviravolta do gosto do público pelo personagem, pois ele é taxado como odioso, pois tortura negros e é um bocó agarrado à saia da mãe. Só que o filme cria um lento processo de redenção do personagem que enche nossos olhos. Poucas vezes a gente vê um personagem tão bem construído nas películas por aí. Somente isso já mostra quão primoroso é o roteiro. Portanto, se alguém me perguntar se a estatueta de coadjuvante deve ir para Harrelson ou para Rockwell, eu devo confessar que vou torcer para Rockwell, mas com uma pequena dor no coração, pois o trabalho de Harrelson também foi ótimo.

                               Pessoas magoadas que podem magoar…

Assim, “Três Anúncios Para Um Crime” chega como um grande concorrente ao Oscar, sendo um filme capaz de fazer frente à “A Forma da Água”. Esse é um filme humano que nos dá a principal lição de que não devemos guardar rancor das pessoas, pois todos nós somos humanos que temos virtudes, defeitos, podemos fazer rir ou chorar, nos alegramos, mas também sofremos. E, no fim das contas, temos apenas a nós mesmos para nos ajudarmos. Um filmaço. Um programa imperdível que tem um desfecho perfeito, por botar uma pulga atrás da orelha do espectador. Quer saber? Dê uma chegadinha ao cinema! Você não vai se arrepender…