Estreou nos cinemas o documentário “O Processo”, de Maria Augusta Ramos. Esse é um filme muito inserido em questões contemporâneas e que trata de um tema extremamente espinhoso: o processo de impeachment de Dilma Rousseff, ocorrido há pouco menos de dois anos. Poucas vezes um filme chegou tão próximo a questões de nosso cotidiano no tempo (as últimas informações presentes no filme se remetem a abril de 2018), dando uma sensação de que vemos algo que “saiu do forno” muito recentemente.
E como foi que a diretora tratou esse tema muito polêmico, capaz de despertar as reações mais inflamadas? Ela simplesmente ligou a câmara e deixou as imagens falarem por si mesmas. Nenhuma interpretação delas, nenhuma leitura. Ela somente se preocupou em registrar o que se passava no Congresso Nacional naqueles meses turbulentos, deixando para o público tirar suas próprias conclusões do que assistia. Ao não descrever o que se passava nem dar uma opinião enquanto realizadora do documentário, Ramos parece ter buscado a intenção da isenção.
Entretanto, todos nós sabemos que ninguém é filho de chocadeira e uma isenção total é algo praticamente impossível. Todos têm um posicionamento, ainda mais nos dias turbulentos pelos quais nós temos passado, e a diretora optou por focar o documentário mais na defesa preparada pela então base governista, mostrando, principalmente, as ações dos senadores Gleisi Hoffmann, Lindbergh Farias e o advogado José Eduardo Cardozo. E, nesse momento, a diretora do documentário se posiciona, assim como isso já ocorreu em outros filmes que têm tratado os dias de instabilidade política do Brasil recente. Outro indício do posicionamento da diretora pode estar na montagem, onde algumas discussões acaloradas no Congresso entre a situação e a oposição eram suprimidas antes de seu final, e ficava na gente a sensação de curiosidade de como aquilo teria acabado.
Agora, uma coisa é certa: o filme é muito esclarecedor em vários aspectos, sobretudo dos lados em que cada conhecido político está, lados esses muito bem definidos hoje em dia. As imagens do plenário da Câmara dos Deputados e do Senado não deixam mentir.
Uma coisa assusta: o tom profético do discurso de Roberto Requião no dia em que Rousseff foi definitivamente afastada. Muitas das coisas que ele falou naquele dia (e coisas muito ruins) acontecem agora e pululam em nossos noticiários.
Assim, “O Processo” é um documentário polêmico sobre um assunto muito complicado que foi o impeachment da então presidente Dilma Rousseff. Um documentário que tem a coragem de se posicionar politicamente, mas ainda assim tenta mostrar um registro relativamente isento, sem interpretar ou descrever imagens. Foi ligar a câmara e captar o que acontecia, para o público tirar suas próprias conclusões. Um programa imperdível.