Batata Movies (Especial Nouvelle Vague Soviética)- Nove Dias De Um Ano. Triângulo Amoroso Radioativo.

Cartaz do Filme

Falando novamente da mostra “Nouvelle Vague Soviética”, ocorrida no fim do mês de maio e início do mês de junho na Caixa Cultural, vamos hoje analisar o bom filme “Nove Dias De Um Ano”, de 1961. Essa película de duração de 111 minutos foi dirigida por Mikhail Romm, considerado um mestre da cinematografia em seu país, e veio com uma proposta, digamos, ousada: os protagonistas eram nada mais, nada menos que físicos nucleares, trabalhando para o governo soviético. O objetivo deles era conseguir detectar nêutrons ao desmembrarem átomos, algo que traria avanços enormes na direção da construção da Bomba H russa e também para gerar uma fonte praticamente limpa e inesgotável de energia.

Goosev, um cientista dedicado…

Dessa forma, o filme se passa em sua parte num Instituto de Física Nuclear, com altas discussões científicas. Mas se engana quem acha que vai ver uma boa película de ficção científica. Aqui esse gênero funciona mais como um verniz do que realmente é a essência: temos aqui uma verdadeira história de drama e, por que não, de amor, configurando um triângulo amoroso entre o físico Goosev (interpretado por Aleksey Batalov) que lidera as pesquisas na detecção de nêutrons, uma física chadada Lyolya (interpretada por Tatiana Lavrova) e um físico teórico chamado Ilya Kulikov (interpretado por Innokentiy Smoktunovskiy, esse lembra muito o Christopher Waltz no seu jeitão de ser!) , cujos cálculos serão indispensáveis na detecção.

Lyolya e Ilya, outros vértices de um triângulo amoroso..

O problema é que, para levar adiante a pesquisa e chegar na sonhada detecção de nêutrons, Goosev se deixa tomar fortes doses de radiação, o que afeta violentamente a sua saúde, colocando-o em risco de morte. Lyolya, que estava indecisa entre Goosev e Ilya, acaba optando por casar com o primeiro e fica infeliz com a rotina do casamento, não achando ser uma perfeita casada (uma leitura bem burguesa, a meu ver), ao passo que Goosev não dava muita bola para a esposa, por estar obcecado por sua pesquisa.

Problemas no casamento…

E, no meio disso, llya dava umas incertas, até por ser também indispensável para a pesquisa, colocando esse relacionamento a três num equilíbrio instável, somente para usar um jargão mais de físico. Assim, a grande vedete da história não era a pesquisa em si, mas esse curioso e civilizado triângulo amoroso, regado a um drama de padrões um tanto burgueses para uma sociedade socialista (ou, pelo menos, a ideia que os capitalistas têm de sociedade socialista) e muita, muita radioatividade.

Descuido com a radiação leva Goosev a tensas conversas com o médico…

Aqui muito chama a atenção o trabalho dos atores, que conduziram muito bem o filme e que criam uma ótima empatia com o público. A gente compra a serenidade de Goosev, a sensibilidade e fragilidade de Lyolya, e a simpatia meio cafajeste de Ilya. A interação entre esses personagens faz o filme fluir levemente e a gente nem percebe os 111 minutos da película passando, de tão fácil que fica de acompanhar a história. Os personagens agradam e convencem muito.

O diretor Mikhail Romm

Assim, “Nove Dias Em Um Ano” é um bom filme da mostra “Nouvelle Vague Soviética”. Um filme de bons atores, com um verniz de ficção científica, mas que é, na verdade, um bom drama conduzido por uma história bem escrita e que nada deixa a dever aos dramas cinematográficos ocidentais. E aqui na Batata Espacial, você tem a oportunidade de assisti-lo na íntegra, com legendas em inglês.