Em mais uma análise de um filme da mostra “Nouvelle Vague Soviética”, realizada na Caixa Cultural do Rio de Janeiro, vamos falar hoje do bom “Soy Cuba”, de Mikhail Kalatozov, produzido em 1964 e com duração de cerca de 140 minutos. Podemos dizer que esse é um filme onde uma nação (a União Soviética) se identifica com o pequeno país caribenho na sua luta contra as injustiças, tal como aconteceu na Revolução Russa de décadas antes.
Temos aqui quatro histórias que buscam compreender como foi o processo de transição do poder, com a derrubada de Fulgêncio Batista, o ditador patrocinado pelos Estados Unidos, e a ascensão ao poder da Revolução Cubana propriamente dita, que implanta o socialismo na ilha. A primeira história mostra como uma moça precisa se prostituir para ganhar a vida, tendo como clientes turistas americanos que a tratam como um objeto.
A segunda história fala de um pequeno agricultor que, depois de trabalhar duro durante a vida toda e nunca se livrando das dívidas, perde tudo que tem para um grande fazendeiro, levando-o a um ato desesperado. A terceira história está mais ligada às manifestações de rua contra a ditadura de Batista e a violenta repressão policial, que acabou unindo ainda mais o povo. E a quarta história nos remete à Sierra Maestra, onde um pequeno agricultor entra para o movimento revolucionário, depois de ter seu casebre bombardeado por um ataque aéreo do governo.
Em todas as quatro histórias fica bem clara a temática da injustiça do governo de Batista, onde a luta do povo contra tal ditadura vai crescendo paulatinamente ao longo das quatro histórias. Na primeira história, a resistência limita-se apenas à atitude da moça negra, que ao dançar no bar com músicas americanas, volta-se para si e imagina as músicas africanas em sua mente. Na segunda história, a resistência já é maior, pois o camponês bota fogo em seu próprio canavial.
Na terceira história, já temos protestos de rua bem organizados, que encaram de peito aberto a violência policial. E, na quarta história, a luta armada da Revolução está em curso, essa sim, a reação popular mais eficaz e que toma o governo, com o desfile triunfal do povo com a bandeira nacional ao final.
O filme também é impecável do ponto de vista técnico, com planos-sequência onde temos longas tomadas aéreas, com direito a muitas gruas, onde a câmara entra e sai dos prédios fazendo belas imagens do alto de um cortejo fúnebre, com direito ao povo jogando flores das janelas sobre a multidão que acompanha o caixão acompanhado de uma grande bandeira cubana. Uma imagem muito linda de se ver e, provavelmente de muito difícil elaboração.
Assim, “Sou Cuba”, é um filme onde um país, a União Soviética, reconhece seu passado de lutas no presente de outro país distante, ou seja, Cuba. Se os filmes soviéticos da era pós-Stalin não se envolvem profundamente com o discurso socialista, ao se analisar Cuba, as lutas pelo socialismo se legitimam na questão da luta contra as injustiças e agruras do capitalismo. As quatro histórias narradas ao longo do filme, mostram um crescente de reação popular contra a ditadura de Batista, culminando com o desfecho que exalta o triunfo da Revolução Cubana. Mais um curioso filme da Mostra “Nouvelle Vague Soviética” na Caixa Cultural do Rio de Janeiro.
Fique agora com o impressionante plano sequência do funeral do manifestante. Lembrando sempre que a Mosfilm não autoriza a exibição do vídeo em sites. Clique então no vídeo abaixo e depois clique em Assista no Youtube.