Entro agora numa dimensão estranha
É o bairro dos figurões
Esse lugar se imortalizou nas novelas
Cujos personagens se comportam de forma tacanha
Nesse mundo só há lugar para os bonitões
Nenhum espaço para os pobres e suas sequelas
As caras são branquinhas, todas rosas
E as elites são refinadas, cheias de bossas
Quando ando pelas ruas
Elas são todas limpinhas
O poder público mostra das suas
E cuida do bairro como uma de suas princesinhas
Tudo aqui parece um conto de fadas
Paraíso das pessoas abastadas
Tristeza não existe nesse mundo
A vitalidade supera a tristeza do moribundo
Volta e meia, vejo um rosto mais escuro
Ele está uniformizado, cheio de crianças patéticas
Quando olho ao fim da rua, próximos ao muro
Estão outros rostos negros, cuidando das manutenções elétricas
Além de negros, esses rostos são tristes
Escravos contemporâneos, tomando dedos ristes
De brancos róseos e solenes
Ofensas humilhantes e inconvenientes
Pois é, o lindo e perfeito paraíso
Pode refletir mazelas ancestrais
A paz, travestida num branco sorriso
Esconde velhos problemas banais
Por mais lindo que possa parecer um bairro
Não adianta, sempre haverá a desigualdade social
Para os ricos, a lama é a das quadras de saibro
Para os pobres, só lama de material fecal