Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 6, Episódio 2), Instinto de Sobrevivência. Dilema Resolvido Na Valorização Do Indivíduo.

 

Um impasse…

E chegamos à sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager”, com o curioso episódio “Instinto de Sobrevivência”, onde mais um dilema moral é abordado. É impressionante perceber como os episódios do fim da quinta temporada e início da sexta rezavam por essa cartilha. De qualquer forma, apesar da repetitividade do assunto, o campo de atuação do debate variava, como podemos ver nesse episódio.

Três borgs desligados da coletividade, mas interligados entre si…

A história começa com um flashback de uma cápsula borg caindo num planeta. Dentre os quatro borgs sobreviventes, está Sete de Nove. Eles se desligaram da coletividade, mas ainda mantiveram o link entre eles. O problema é que os zangões começam a ter lembranças de suas vidas pregressas e mostram desejos de sair da coletividade, e Sete de Nove resiste a isso sempre repreendendo-os, seja pela ordem direta, seja pela coerção física.

Sete de Nove diciplina sua matriz…

Anos depois, a Voyager está numa estação markoniana recebendo várias espécies alienígenas para uma espécie de intercâmbio cultural. Um alienígena apresenta a Sete de Nove antigos implantes borgs que lhe pertenciam, o que a deixa interessada. Logo descobriremos que esse alienígena é um daqueles borgs que faziam parte da matriz de Sete de Nove e os demais também estão presentes. Eles têm ainda a capacidade de ler os pensamentos uns dos outros, pois ainda estão ligados mentalmente como ficaram depois de se separar da coletividade. Eles desejam sair desse link e terem as suas vidas como indivíduos. Como Sete de Nove foi a única borg a sair da coletividade e se tornar indivíduo e estava ligada a esse pequeno grupo de borgs, eles acreditavam que ela tinha as respostas para também os retirarem do link. Depois de várias análises do Doutor com relação à situação dos borgs, só havia duas opções: ou eles permaneceriam ligados para o resto da vida, ou os implantes que ainda estavam em seus corpos seriam retirados e eles viveriam como indivíduos, mas por apenas um mês. A decisão ficara a cargo de Sete de Nove, pois os borgs estavam inconscientes depois de Sete de Nove ter sido ligada com eles para se descobrir o que havia acontecido no passado, pois nenhum dos borgs, nem Sete de Nove, lembravam mais. Ao descobrir que Sete de Nove tinha neutralizado a individualidade latente deles e os recolocado na coletividade, os borgs surtaram contra ela e saíram do ar, depois de controlados pelo Doutor. Sete de Nove, depois de um debate com o Doutor, que defendia um resto de vida com os três telepaticamente ligados, decidiu por dar apenas um mês de vida com a individualidade de todos os três intacta.

Agora, esses três ex-borgs querem sua individualidade…

Como dito acima, mais um episódio de dilema moral. Dar aos borgs o que eles queriam (a individualidade) mas somente por um mês de vida, ou um resto de vida onde os três ficariam permanentemente ligados e sofreriam o tormento de escutarem o pensamento uns dos outros? Num primeiro momento, parece óbvio que um mês de vida como indivíduos parece a solução mais lógica. Entretanto, a vida deles não seria mais tão longeva assim. Se da decisão de Sete de Nove foi mais “humanitária” prevenindo seus colegas borgs de um sofrimento por anos e anos, também parece aqui que o individualismo prevalece sobre o coletivismo. É notável perceber como o individualismo permanece como um valor sagrado e inabalável na cultura capitalista ocidental, em detrimento de um pensamento coletivo, geralmente atribuído à manipulações de Estado ou de alguma instituição, como acontecia na Idade Média, quando a Igreja anulava o indivíduo e colocava a todos de forma coletiva na condição de meros pecadores que deviam obedecer aos preceitos da Igreja. A própria série atribui a coletividade a uma espécie – alienígena – os borgs – que é extremamente agressiva. Entretanto, o pensamento coletivo nem sempre pode ser visto como algo negativo, pois ele pode também ser usado pelos indivíduos para lutar contra instituições opressoras. Agora, a questão do episódio sempre recai no individualismo e colocando o coletivo sempre como algo ruim. Sete de Nove, em função do ideal do individualismo, e por uma questão humanitária, desvincula a mente dos borgs mas, ao mesmo tempo, abrevia em muito, a vida deles. Assim, temos o paradoxo de, em nome do individualismo, se tomar uma atitude que destrói o próprio indivíduo. Ou seja, o paradoxo está todo voltado para a ideologia individualista, ao passo que o coletivismo é taxado de forma inquestionável como algo ruim desde o seu início. Será que no século XXIV esses dois polos ainda terão pesos tão diferentes em nossos sistemas de valores? Fica a questão.

Qual será a decisão de Sete de Nove dessa vez???

Dessa forma, “Instinto de Sobrevivência” é mais um episódio de “Jornada nas Estrelas Voyager” que traz o fã à reflexão, embora valorize em demasia um elemento da cultura capitalista ocidental, o individualismo. Vale pela experiência de botar os neurônios para funcionar.

 

 

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