Um filme brasileiro muito tenso e doloroso. “O Banquete”, de Daniela Thomas, é um filme sobre a condição humana e todo um maquiavelismo (no mau sentido da palavra) envolvido. É uma película que mostra até onde as pessoas podem chegar quando elas atacam outras. É um filme que mostra quanto o humano pode ter um comportamento degradante e revoltante.
A história do filme é relativamente simples. Um jantar, promovido por Nora (interpretada por Drica Morais) e seu marido (interpretado por Caco Ciocler) tem como objetivo comemorar os dez anos de casamento de dois amigos, Mauro (interpretado por Rodrigo Bolzan) e Bia (interpretada por Mariana Lima). O jantar terá outros convidados. Mas antes mesmo de todos os convidados chegarem, já percebemos que as coisas não vão muito bem. O casal anfitrião já briga, com o marido bêbado e a esposa dizendo que ele fez uma imensa besteira que destruiu suas vidas.
À medida que os convidados chegam, o clima somente piora, com todos em volta da mesa ricamente adornada, lançando indiretas e fazendo uma série de comentários cada vez mais ácidos e cínicos com o passar da noite, regada a muita bebida. Paulatinamente, o cinismo passa para observações mais agressivas e, quando chegamos ao auge desse lamentável espetáculo, as agressões verbais e até físicas é que dão o mote da coisa. Esse grupo de pessoas está entrelaçado emocional e profissionalmente. E todo e qualquer motivo, seja ele emocional ou profissional, é legítimo para atacar o outro.
O histórico de entrelaçamento dessas pessoas nunca fica totalmente desvelado para o espectador, que deve se contentar com fragmentos aqui e ali. Mas isso não prejudica a gradativa torrente de agressividade entre os membros do banquete. Outra coisa que chama a atenção é o seu pano de fundo: estamos em plena época da presidência de Fernando Collor de Mello e um artigo de Mauro contra o presidente o levará para a prisão, já que ainda vigora a lei de imprensa da época da ditadura militar.
Mas esse é somente um elemento que vai acrescentar mais tensão a algo extremamente já tenso, que é o relacionamento venenoso entre os “amigos” de longa data. O filme também parece adquirir tons de crítica às elites hegemônicas do país, que se acham no direito de conduzir o processo político, mas já estão tão apodrecidas que nem se entendem entre seus membros. Aqui as palavras de ordem são magoar e machucar seus desafetos o máximo que podem, seja com sarcasmo, seja com linchamento moral, seja com agressividade pura e simples.
E, para expressar tanta agressividade, é óbvio que todos os atores foram bem, embora fique aqui a impressão de que todos eram cínicos, como se o cinismo fosse um personagem independente que se incorporasse nos demais personagens em maior ou menor grau. Essa característica cínica atribuída a todos os personagens prejudica um pouco as coisas, pois parece que todos são planos nessa característica em específico, embora pudemos ter visto matizes nas características dos personagens.
Assim, “O Banquete” é um filme um tanto poderoso e muito desgastante para a cuca do espectador, que fica por uma hora e quarenta e quatro minutos sendo bombardeado por cinismo, sarcasmo, agressividade e situações constrangedoras. Mas ainda assim é um filme extremamente necessário, pois ele ensina de forma categórica tudo o que NÃO devemos fazer quando nos relacionamos com outras pessoas, mesmo que elas nos tenham ferido em nosso íntimo. Vale a pena dar uma conferida.