Batata Movies – Egon Schiele, A Morte E A Donzela. Vida Breve.

Cartaz do Filme

Uma bela produção Áustria/Luxemburgo de 2016 passou somente de forma recente. “Egon Schiele, A Morte e a Donzela” pode ser encarado como uma cinebiografia do famoso pintor, que teve uma vida muito breve, diga-se de passagem. O filme fez um recorte falando dos oito últimos anos de vida do artista, onde parte deles se passaram durante a Primeira Guerra Mundial. Um filme que mostra o espírito livre e transgressor de Schiele, considerado por muitos um pedófilo e um depravado. Para podermos analisar o filme, vamos precisar lançar mão de alguns spoilers.

Um artista de vida muito efêmera…

A película começa com um Schiele (interpretado por Noah Saavedra) já doente em 1918, vítima da gripe espanhola. O filme, então, faz um flashback e nos joga para 1910, onde o artista faz seus esboços de mulheres nuas em seu ateliê, usando como primeiro modelo sua irmã Gerti (interpretada por Maresi Riegner), que é menor de idade. O artista segue sua rotina de pintar mulheres nuas e vai colecionando modelos ao longo de sua curta vida, tendo vários relacionamentos um tanto efêmeros e metendo os pés pelas mãos quando lida com as mulheres. Ele ainda recebeu uma acusação de sequestro de menores e de mostrar pornografia para menores de idade, o que quase o levou à prisão por vários anos. Sem dinheiro a maior parte da vida, precisava vender seus quadros e esboços para sobreviver.

Em ação, com as mulheres…

O filme consegue dar um bom apanhado dos últimos anos do pintor e não pensa duas vezes em apontar incoerências de Schiele. Se ele se dizia um artista que devia ter liberdade para divulgar sua arte e ter um estilo de vida que era baseado num amor livre, por outro lado, ele teve uma postura deveras conservadora com sua irmã, pois como tutor da menina ele não permitiu que ela casasse sendo menor de idade e mesmo grávida. Ainda, ele não tinha uma postura considerada correta com as mulheres que o cercavam, destruindo corações e forjando casamentos em função de seus interesses pessoais. Ou seja, o filme reconhece o talento do pintor enquanto artista, mas também lembra que ele é uma figura humana que tem seus defeitos como todo mundo. Aliás, esses defeitos são responsáveis pelo título do quadro (“A Morte e a Donzela”) que está também no título do filme. Mas não darei o spoiler disso.

Relacionamentos turbulentos…

Pelo fato de Schiele pintar mulheres nuas, esse é um filme onde podemos ver muitas cenas de nudez, mas pouca ou quase nenhuma cena de sexo, ficando a impressão do interesse puramente artístico em cima da nudez, embora o artista se relacionasse com algumas de suas modelos.

… que trazem inspirações…

Noah Saavedra interpretou de forma bem satisfatória o artista, exibindo todas as suas contradições. Mas devo confessar que gostei mais de Maresi Reigner. A atriz  esteve muito bem como a irmã do pintor, mostrando traços bem infantis ao início da película, mas mudando a sua atuação para mostrar o amadurecimento de sua personagem com o passar do tempo. Tal mudança, por exemplo, não é vista em Schiele, cujo tempo parece não passar.

Livre para sua arte, conservador para sua irmã…

Assim, “Egon Schiele, a Morte e a Donzela” é uma boa cinebiografia sobre um artista consagrado, cujas obras de arte hoje valem milhões de dólares. Mesmo sendo um gênio na sua área, o filme teve a coragem de expor seus defeitos. Um filme sobre um artista que esteve à frente de seu tempo.

Batata Comics – Venom, De Volta Ao Lar. Um Simbionte Tenta Se Redimir.

Capa da Revista

Aproveitando a onda da estreia de Venom nos cinemas daqui a algum tempo, a Panini faz um ótimo lançamento da revista do (anti) herói, “Venom, De Volta Ao Lar”, reeditando os números 1 a 6 da história de Mike Costa e arte de Gerardo Sandoval, Juanan Ramirez e Iban Coello. Pode-se dizer que tanto o roteirista quanto os responsáveis pela arte estão de parabéns, pois temos em mãos uma história muito instigante e bem finalizada em suas imagens, onde vemos um Venom muito mais sinistro do que o habitual.

Lee Price, o coisa ruim em pessoa…

A história começa com um pequeno prólogo que traz informações sobre o personagem que já devem ser manjadas para alguns, mas nunca é demais repetir: Peter Parker, sem perceber, se funde a um simbionte alienígena, pensando que que experimentava um novo uniforme. Mas ele percebe que fica com um comportamento agressivo com o novo traje e o rejeita. O alienígena da espécie klyntar então se sente abandonado e traído num mundo estranho e desconhecido. Entretanto, a criatura, quando estava fundida com Peter Parker, teve acesso ao seu código genético e adquiriu todos os poderes do Homem Aranha, dando esses poderes (escalar paredes, gerar teias organicamente, etc.) a futuros hospedeiros. Além disso, a própria espécie klyntar tem seus poderes, tais como a invisibilidade e o transmorfismo. O simbionte teve vários hospedeiros, alguns virtuosos, outros nem tanto. Aqui, o hospedeiro é Lee Price, um sujeito, digamos, pouco virtuoso, que é contratado para trabalhar para uma organização criminosa liderada pela Gata Negra. O relacionamento entre os dois será um tanto turbulento, mas não menos turbulento que o relacionamento entre Lee e o simbionte. Este último, por incrível que possa parecer, não quer mais sair matando pessoas por aí a torto e direito, ao contrário de seu amigo hospedeiro, que é um assassino sádico. Assim, vemos a curiosa situação do simbionte e seu hospedeiro em constante conflito, onde o primeiro tenta evitar que o segundo se transforme em Venom. Porém, o envolvimento de Lee com a Gata Negra e o mundo do crime faz com que ele constantemente passe por situações muito escabrosas, onde sua vida está ameaçada e assim o simbionte e seu hospedeiro serão obrigados a fazer a fusão, muito a contragosto por parte do simbionte, diga-se de passagem. Realmente, é algo que chama muito a atenção o alienígena em si se recusar a matar. Concebido originalmente como a coisa maligna que despeja ódio e agressividade em seus hospedeiros, parece que a fusão com seres humanos fez mal ao simbionte e ele constatou que são sim os humanos muito mais odiosos e agressivos do que se imaginava, usando de forma totalmente amoral os poderes do alienígena. Os mais puristas podem até torcer o nariz para esse “simbionte bonzinho”, mas creio que levantar tal bandeira já é algo altamente válido, pois atenta para a discussão do verdadeiro sentido do que é ser humano. Somos realmente uma “obra de arte” ou somos de uma má índole capaz de provocar inveja em seres menos desenvolvidos que nós (se eles tivessem essa capacidade de sentir inveja)? Agora, uma coisa chegava a ser muito engraçada na revista: volta e meia, víamos uma miniatura da cabeça de Venom sussurrando no ouvido de Lee, funcionando como uma verdadeira espécie de consciência do hospedeiro protagonista.

Gata Negra, um tesão só…

Assim, “Venom, De Volta Ao Lar” é um bom lançamento da Panini para os fãs desse sinistro e obscuro herói. E é apenas o primeiro número. Confesso que as minhas expectativas para os próximos números são de que a gente possa conhecer melhor o Universo de hospedeiros da espécie alienígena klyntar, além de ver mais histórias com Eddie Brock, o hospedeiro original (após Peter Parker, obviamente). E que continuemos tendo bons roteiros e traços artísticos dignos desse personagem aterrorizante. Serve como uma ótima prévia para o filme, valendo a atenção do fã de quadrinhos mais exigente.

Um Venom muito mais assustador…

Batata Movies – Camocim. Uma Cabo Eleitoral Que Me Representa.

Cartaz do Filme

Um documentário brasileiro surpreendente. “Camocim”, de Quentim Delaroche, analisa o processo eleitoral da pequena cidade de Camocim de São Félix, no interior de Pernambuco. Temos aqui a eleição para prefeito e vereadores, que divide a cidade nos “azuis” e nos “vermelhos”, independente da ideologia dos partidos políticos. Na verdade, vemos uma disputa de dois grupos pelo poder, o que pode gerar brigas e até mortes. Tal cenário tem sido visto por alguns como uma espécie de “sinal dos tempos” do turbulento processo político brasileiro dos últimos anos. Entretanto, quem conhece um pouquinho a vida de cidades do interior sabe que a forma como uma eleição local é conduzida tem origens muito anteriores a isso e pode ser vista como uma espécie de prolongamento das relações clientelistas e opressoras da República Velha (1889-1930). E em Camocim não é diferente.

Mayara Gomes, uma cabo eleitoral idealista…

De qualquer forma, o documentário elenca seus protagonistas. Será acompanhada aqui a trajetória da campanha de um candidato a vereaador, César Luceno, e sua fiel escudeira, a cabo eleitoral Mayara Gomes. Aqui, a protagonista principal será Mayara, uma jovem de apenas 23 anos e que está na política por idealismo puro, indo totalmente na contramão de qualquer coisa que se pensa genericamente sobre política no Brasil. Mayara é uma personagem totalmente fascinante e, por que não dizer, apaixonante. Mostrando uma maturidade, serenidade e, sobretudo, muita destreza e consciência, ela leva seu oficio de cabo eleitoral com uma seriedade mordaz.

Uma campanha…

Sua experiência no processo político já é suficiente para que ela não se deslumbre e seja ludibriada por políticos de interesses escusos. Ou seja, ela já passou por essa decepção e diz que, se o político que ela apoia no momento se perder na ganância (em suas próprias palavras) ela partirá para outra alternativa como já fez no passado, pois ela quer fazer melhorias na sua cidade e para a sua população. Ao ver pessoa tão jovem e tão cheia de esperança num meio em que a gente, na maioria das vezes, vê como totalmente podre e sem qualquer credibilidade, a gente até volta a nutrir um pouco perspectivas de dias melhores.

Clima festeiro…

Mas não é somente a personagem de Mayara que chama a atenção. A conversa entre os jovens da cidade também nos mostra algo surpreendente, pois eles estão muito antenados com o contexto político local, sabendo como os grupos se comportam, quem matou quem na disputa pelo poder, quais são os interesses de fulano e beltrano em vestir o vermelho ou o azul, etc. Há também aqueles que trabalham na campanha de determinado candidato (muitas vezes por obrigação e sob a ameaça de perder o emprego), mas que irão votar em branco ou nulo nas eleições. Ou seja, eles usam o clientelismo como estratégia para obter pequenos bens pessoais (a manutenção de um emprego ou a obtenção de um emprego temporário), mas isso não quer dizer que sejam pessoas alienadas. E o voto branco ou nulo é, no entender deles, a forma de protesto que podem fazer contra toda aquela jogatina política em que a cidade se transforma.

… e guerreiro…

Curioso, também, é ver o clima de campanha, dentro de perspectivas totalmente festivas e carnavalizantes. Qualquer comício é motivo para trios elétricos, festas, queimas de fogos, etc., embora as tensões nunca deixem de estar presentes, onde vemos cabos eleitorais dos dois lados agredindo-os uns aos outros no ambiente festeiro, isso quando não tem um policial pronto com suas balas de borracha no meio da multidão.

Mayara Gomes e o diretor Quentim Delaroche

Assim, “Camocim” é um documentário definitivo para que a gente possa compreender mais como é a relação do brasileiro com a política. Se nas cidades de interior, a coisa toma contornos de rivalidade futebolística, o clientelismo e os interesses escusos também regem as tensões. E, no meio disso, um pequeno oásis de esperança manifesto na figura de Mayara Gomes, que é a única ali a levar o processo político a sério. Vale muito a pena dar uma conferida.

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager, Temporada 6, Episódio 4, Tinker, Tenor, Doctor, Spy. Um Holograma Em Devaneios.

 

La Donna é Mobile

O quarto episódio da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager” é mais um daqueles que tem o Doutor como protagonista principal. Também pudera, pois creio que o Doutor é, talvez, o personagem mais amado dessa série, e um dos mais amados de toda a franquia. A gente sente isso fazendo a análise dos episódios aqui, onde ele aparece recorrentemente como personagem principal dos episódios.

Devaneios…

Mas, qual é a história que envolve nosso Doutor dessa vez? Vemos aqui o holograma tendo uma série de devaneios, onde geralmente ele tem uma posição central, sendo celebrado por seus colegas pelos seus grandes atos, além de ser cobiçado pelas mulheres da nave, quero dizer, todas elas. Em suma, o Doutor se achava o gostosão em seus devaneios. Ele, inclusive, pediu a capitã para ser uma espécie de capitão holográfico de emergência caso Janeway ficasse incapacitada e a linha de comando não pudesse suprir sua ausência. Mas Janeway  rechaçou essa possibilidade, deixando o Doutor magoado. O grande problema é que um alienígena sondava os pensamentos do holograma e pensou que aquilo tudo fazia parte da realidade.

Um alienígena redondinho…

Essa espécie alienígena costumava abordar as naves e pilhá-las. O alienígena passou ao seu superior a aparente posição central do Doutor e eles organizaram um ataque à Voyager. Mas depois o alienígena percebeu que captava apenas os devaneios do holograma e, para não perder o emprego, entra em contato com o médico para que os dois resolvam aquela situação juntos. Será nessa hora que o Doutor terá que assumir a ponte da Voyager, obviamente sob a orientação de Janeway, que fala com ele através de uma espécie de ponto eletrônico.

Pintando a Sete…

Dá para perceber que esse episódio vai seguir uma linha mais de comédia em alguns momentos. Um holograma que “realiza” grandes atos, com a capitã, Sete de Nove e até B’Elanna dando em cima dele, só para a gente começar a falar das partes engraçadas. Mais hilário ainda é quando o Doutor conclui que seus devaneios são alguma falha em sua programação e, para consertar isso, tais devaneios devem ser levados à público, causando um constrangimento geral (já imaginou, caro leitor, se seus pensamentos mais íntimos sobre determinadas coisas ou pessoas fossem levados a público? Dá para sentir o constrangimento doendo por dentro). Por outro lado, ao se revelar abertamente para todos, algumas pessoas, como Janeway, passaram a entender o Doutor melhor, o que não foi, por exemplo, o caso de B’Elanna, por motivos óbvios. Mas o mais hilário aqui foi o momento em que o Doutor teve que assumir a ponte da Voyager na encenação para os alienígenas. Se em seus devaneios o médico era astuto, perspicaz, corajoso e cheio de virtudes, ao assumir a ponte na vida real, ele “tremeu na base” e tomou uma série de atitudes destemperadas, com sempre Janeway falando “menos, menos” no seu ponto eletrônico. De qualquer forma, ele resolveu a situação batendo o pé fortemente contra os alienígenas, numa atitude altamente arriscada que deu certo sendo, finalmente, heroico como em seus devaneios (e até celebrado por isso!).

Um Doutor Capitão…

Assim, se “Tinker, Tenor, Doctor, Spy” é um episódio que foge à ficção científica, ainda assim é um episódio altamente recomendável de se assistir, pois ele se adequa a outro elemento que é caro a “Jornada nas Estrelas”, que é a comédia, mesmo que nem sempre se perceba muito isso, principalmente nas séries pós TOS. A ideia de se brincar com devaneios fantasiosos foi muito bem vinda. Vale a pena dar uma conferida.

Batata Literária – Fada Safada E O Homem Laranja.

Já passou da hora da Batata Espacial apresentar um conto de minha personagem, a Fada Safada. Ela é uma espécie de construção inspirada em vários personagens: Sininho, do Peter Pan, Jeannie (a Gênio do Major Nelson, lembram?) e qualquer coisa que tenha um quê mais cômico. Ela apareceu numa poesia que escrevi e cheguei a publicar alguns contos dela no Kindle (amazon.com.br). Os contos sempre são em forma de diálogo com seu amo, onde eles têm uma relação, digamos, platônica. A Fada Safada nada tem de safada no estilo da baixaria, muito pelo contrário. A safadeza dela está em colocar seu amo em maus lençóis na sua compulsiva aventura de espalhar o amor pelo mundo. Daí a mocinha de asas de lavadeira, que lança bombas de amor (“ela faz parte do movimento pink block “As Sininhos Comportadas”) e que precisa comer pilhas alcalinas para recompor suas energias (de preferência as pilhas do coelhinho cor de rosa). A Fada Safada está em qualquer lugar onde haja conflito, desde uma briga de casais no apartamento ao lado até a questão árabe-israelense no Oriente Médio e atua com firmeza contra o ódio no coração das pessoas, sempre com um quê infantil. Fiquem agora, com mais uma aventura da Fada Safada.

– Amo!

– Que foi, fada?

– Precisamos fazer outra viagem…

– Ai, meu Deus, de novo??? Por que???

– Tem um homem bobo lá em cima espalhando muito ódio entre as pessoas.

– Como assim?

– Ele manda naquele lugar onde muita gente é rica, e não deixa mais ninguém de lugares mais pobres entrar.

– Hummm, como ele é?

– Ele é laranja…

– Mas fada, a passagem para lá é muito cara… e como vamos entrar, se ele não deixa ninguém entrar lá?

– Ihhh, amozinho, você já se esqueceu da função zim?

– Eu tinha medo que você dissesse isso…

– Por que?

– Aquela que levou a gente para Israel e me deixou com náuseas?

– Isso!!!

– Ai, você não vai usar aquilo de novo, né?

– Ahhh, é rapidinho, você nem vai sentir nada…

– Não, fada, não faz isso não!!!

– Confia em mim, amoznho!!!

– Não, não, não!!!

– ZIIIIIIMMMMMMMMMMM!!!!!

*     *     *

– Ai, ui, ai…

– Tá melhor, amozinho???

– Putz, você fez de novo…

– Sorry.

– E novamente, eu estou todo zonzo e enjoado

– Acho que calibrei mal a velocidade. Foi mal…

– Onde nós estamos?

– No deserto, perto daquele muro feio…

– Ai, cacete, na fronteira? Mas aqui é perigoso.

– Deixa comigo…

– Que cheiro é esse? Gleid Sachê de lavanda de novo?

– Você sabe que eu pego sempre um pouquinho lá no banheiro para fazer o escudo antiódio.

– Assim vou ter que comprar duas latas nas compras do mês.

– Ihhh, você reclama muito! Você sabe que eu só uso um pouquinho em cada missão minha.

– O problema é que você tem feito muitas missões…

– O que eu posso fazer se todo mundo nesse planeta tá pirado?

– Ok, ok. O que vamos fazer agora?

– Tá vendo aquele homem feio de chapéu lá?

– Sim, ele está conduzindo um monte de pessos… cacete! Ele é um coiote!!! Vamos embora daqui!!!

– Não, não, amozinho! Ele tá de conluio com aqueles feios lá

– P-p-polícia de fronteira???? Mas e o homem laranja???

– Esse é numa segunda etapa. Agora, surgiu essa missão mais importante. Aquele tal de coiote vai ganhar dinheiro dos dois lados. Das pessoas e dos feios da polícia de fronteira.

– E o que você vai fazer???

– Adivinha????

– A bomba de amor??? Vai todo mundo desmaiar!!!

– Ai, amozinho, você tá reclamando muito. Toma aqui o capacete magnético!!!

– Como você conseguiu guardar um capacete desse tamanho nesse decotinho???

– Ah, amozinho, sou cheia de surpresas. Você sabe!!!

– É disso que eu tenho medo.

– Vamos lá! Atacar!!!!

*          *           *

-Stop! In the name of love!!!!

– Que carajo és esso? Una chiquita…

– What a fuck???

PLOFT!

*            *            *

– Tá falando inglês agora, é?

– Of course, my dearest!!!

– Bom, e agora, o que a gente faz? Tem mais de cinquenta pessoas desmaiadas…

– Eu trouxe o perfume das onze horas para acordar o povo…

– Daquela flor coloridinha que não tem cheiro?

– Isso mesmo. Vou usar para acordá-los.

– Não entendi nada, mas faz aí o que você tem que fazer.

– Ok, baby…

– Cê tá muito besta…

*            *            *

– Ai, amozinho, que bom que eles já conseguiram fugir daqui e foram para a casa de parentes que já estão há mais tempo nesse país!!!

– Será que eles gostaram da função zim?

– Meu periscópio mágico mostrou que eles ficaram com alguns enjoos, mas vão ficar bem…

– Você tem certeza?

– Claro, amozinho. Eles comem carne seca com pimenta no café da manhã. Relaxa…

– E os policiais e os coiotes?

– Já estão ali acordados, chorando de arrependimento por maltratar as pessoas.

– Eles vão ficar bem?

– Agora sim. Eles estavam mal era antes…

– E agora? O que vamos fazer?

– Adivinha???

– Oh, não…

– ZIIIIMMMMMMMMMMMMM!!!!

*              *                *

– Ai, ui, ai…

– Tudo bem, amozinho?

– Essa droga desse capacete não me protegeu.

– Ah, esqueci de trocar

– E onde ele está?

– Tá na outra metade do meu decote.

– Caramba, não vou nem perguntar

– E nem deve, amozinho. Mulheres têm segredos só seus…

– Tá. Onde estamos agora? Um lugar cheio de grama

– Nosso alvo tá lá naquela casa grande e sem graça.

– Mas é a Casa Branca!!!

– Pois é, né? Não podia ser rosa?

– Isso é em outro país, fadinha…

– Bom, vamos lá. Temos uma missão a cumprir.

*                  *                    *

– Olha lá! O Homem Laranja!

– Vamos fazer logo isso, fadinha. O efeito do Gleid Sachê tá acabando…

*                      *                       *

-Let´s terminate all fucking immigrants and construct an America only for White people!!! Hey, what´s that? A little fucking bitch????

PLOFT! PLOFT! PLOFT!

*                    *                        *

– Ugh, agora eu estava sem capacete nenhum…

– Já acordou, amozinho?

– Sim… é aí?

– Todos esses bobos aqui na coletiva de imprensa estavam desmaiados e já estão acordando.

– Olha só! Eles estão comentando que é uma covardia atacar imigrantes. E que vão escrever em seus jornais textos a favor da imigração.

– Assim, a minha bomba vai se propagar mais rápido…

– E o Homem Laranja?

-Tá ali, ó, chorando ajoelhado em frente a empregada que serve o cafezinho, que é do país do lado. Ele disse que vai dar a ela um cargo no governo.

– E ela vai ter competência para isso?

– Sim, amozinho, ela é formada em Relações Internacionais.

– Ai, que preconceito meu…

– Pois é, amozinho, parece que a bomba não faz mais tanto efeito em você…

– Será que eu estou desenvolvendo resistência à bomba?

– Eu vou tirar essa sua resistência quando a gente chegar em casa…

– Sério? E o que você vai fazer???

– Surpresaaaaaaaa!

*                         *                       *

– Amozinho, estou meio fraca.

– Você quer uma pilha?

– Duas. Mas aqui não tem a do coelhinho cor de rosa, né?

– Não, você sabe que não.

– É que essas pilhas importadas têm gosto de enlatado. Ah, vai duas dessas então

– Vou pegar da câmara de um fotógrafo

– Vai lá. Ele não vai reclamar. Ainda tá sob o efeito da bomba. Olha só como ele chora de arrependimento.

– Mas isso não é roubo, fadinha?

– Ele é da FOX, que já espalhou muito ódio por aí. Acho que não vai fazer mal. Qualquer coisa, pago a multa na Organização das Fadas Unidas.

– Tem isso também?

– Ahhh, tem muita coisa que você nem imagina.

– É nessas horas que eu tenho medo de você.

– Ahhh, amozinho, vai pegar pilha lá para sua fadinha, vai…

*                     *                          *

–  Hummm!!! Chomp, chomp, chomp!!!

– Tá gostoso?

– Chomp, muito, chomp!

– Já dá para a gente voltar para casa agora?

– Sim, vamos lá. Bota o capacete anti zim!

– Colocado!

– ZIIIMMMMMMMMMMM!

*                      *                       *

– Amozinho?

– O que foi?

– Por que as pessoas estão escutando esses malucos todos no mundo?

– Ah, é porque há muito ódio por aí espalhado.

– Não sei seu vou aguentar combater todo esse ódio.

– Acho que você está precisando de umas férias.

– E você me levaria para viajar?

– Claro! Para onde você quer ir?

– Deixa eu ver aqui no mapa… hum, adorei esse aqui: Mianmar!!!

– Mas não é lá que tem uma ditadura que já vigora há décadas?

– Ah, amozinho, a gente espalha amor por lá rapidinho, depois pega uma praia…

– Fadinha!!!!

Batata Movies – Histórias Que Nosso Cinema (Não) Contava. Uma Sólida Colcha De Retalhos.

Cartaz do Filme

Um bom documentário brasileiro. “Histórias Que Nosso Cinema (Não) Contava”, de Fernanda Pessoa, é mais um daqueles filmes que aborda o período da chamada “ditadura civil-militar”, de 1964 a 1985. Só que, dessa vez, a coisa é feita de uma forma bem peculiar. A gente sabe que a produção cinematográfica do período foi marcada pelas chamadas “pornochanchadas”, umas comédias bem chinfrins de conteúdo altamente erótico, embora não tivessem nada de pornográficas. Foi nessa época que o cinema brasileiro ficou estigmatizado com aquela fama de que os filmes eram ruins e somente mostravam sacanagem e palavrões. A pornochanchada foi o gênero cinematográfico mais visto no Brasil durante a década de 70.

Manifestações…

Pois bem. Fernanda Pessoa fez algo bem simples, depois da difícil garimpagem desses filmes, alguns deles perdidos para sempre. Ela fez uma montagem lançando mão desses filmes eróticos para buscar fazer uma película que analisasse a ditadura militar. E qual foi o resultado? De forma surpreendente, essas películas espelham de forma muito perfeita o Zeitgeist (espírito da época) do período. Filmes que eram vistos de forma depreciativa pelos mais intelectualizados abordam assuntos em voga na época, tais como: o desenvolvimento do capitalismo e da modernização nos anos de chumbo, a mentalidade conservadora a mil, a luta armada, a tortura, as ambições materiais de uma emergente classe média, que ansiava por automóveis ou televisões coloridas, um movimento grevista num puteiro, o assassinato de Werner Herzog, a abertura política e a redemocratização.

Sonhos eróticos com peões de obra…

É notável perceber ainda que as pornochanchadas morrem juntamente com o regime ditatorial. Essa correspondência entre esse gênero cinematográfico e o governo autoritário sempre deu à pornochanchada um ar alienante, despertando a libido dos incautos e desviando-lhes a atenção dos casos de corrupção do governo e da privação da liberdade. Porém, esse documentário desmente de forma arrebatadora essa visão e mostra de uma forma bem contundente como os diretores das pornochanchadas usaram esse aparente manto alienante para expressarem de forma muito eloquente suas ideias e opiniões sobre a repressão de um jeito bem crítico.

Saudades de Tereza Rachel…

Esse é um filme que também desperta memórias muito escondidas dentro de nossas cabeças, pois a gente sempre viu algum filme desses, com atores que também se consagraram posteriormente ou caíram num ostracismo total. Nomes como os de Nuno Leal Maia, Paulo Cesar Pereio, Martim Francisco, Costinha, Sandra Bréa, Matilde Mastrangi, Milton Carneiro, José Lewgoy, André de Biasi, Denise Dumont, Stefan Nercessian, Tereza Rachel, Jece Valadão, Rubens de Falco e muitos, muitos outros desfilam por nossas retinas matando nossas saudades, apresentando-nos outras realidades e outros contextos, alguns deles assustadoramente atuais, como o preconceito contra as esquerdas e a forma tendenciosa como a imprensa analisava os fatos, tudo isso denunciado nas… pornochanchadas (!).

A diretora Fernanda Pessoa…

Assim, “Histórias Que Nosso Cinema (Não) Contava” é um documentário essencial, pois ele desmistifica todo o preconceito em cima das pornochanchadas e mostra de uma forma bem marcante como esse gênero cinematográfico genuinamente nacional resistiu contra a opressão do regime, pontuando que esses filmes devem ser estudados com maior profundidade, e abrindo possibilidades para um campo bem vasto de pesquisas em História do Cinema.

Inspiração revolucionária???

É só uma pena que um filme dessa magnitude esteja presente em pouquíssimas salas com horários nem sempre muito acessíveis. Aliás, para que pensar mesmo, não é? De qualquer forma, vale a pena correr atrás e dar uma garimpada por aí, sendo um daqueles filmes para se ver, ter e guardar.