Um interessante co-produção Singapura/Japão/França. “Lámen Shop”, de Eric Khoo, é um filme sobre culinária oriental e encontros. Uma doce e fofa película que fala, também, da família de forma muito terna. Mas que também pode desenterrar sérias feridas do passado. Falemos, agora, desse filme, sempre lembrando que usaremos spoilers aqui.
Vemos aqui a história de Masato (interpretado por Takumi Saito), um rapaz que trabalha com seu pai num restaurante lámen no Japão. Aqui no Brasil o termo lámen foi ridicularizado como miojo, aquele macarrãozinho barato com o maldito tempero que é uma sopa de química pura e que a gente come quando está sem grana. No Japão, ele era visto como um mero “macarrão chinês”, mas pouco a pouco ele foi se introjetando na culinária local ao ponto de se tornar um prato muito conhecido e restaurantes especializados em pratos com lámen proliferarem pelo país. Mas, voltando ao nosso protagonista, Masato tem uma relação distante e fria com o seu pai, um homem amargurado desde a perda da esposa. Um dia, o pai de Masato falece e, ao mexer em suas lembranças, ele vê muitas coisas de sua mãe, inclusive um caderno todo escrito em mandarim por ela, uma língua que Masato não conhece.
O rapaz tem vagas lembranças de sua estadia com a mãe em Singapura. E aí, ele decide procurar seu tio nesse país. Lá, ele consegue achar o tio e lhe pede para ensinar o prato típico da região, o Bak kut teh. Masato troca figurinhas com os chefs locais, ensinando sopas e lámens, enquanto aprende a culinária de Singapura. Mas, o que parece uma idílica farra gastronômica asiática também tem seus dissabores. A avó de Masato não quer conhecê-lo, pois ele é de origem japonesa e Singapura foi invadida pelo Japão em 1942, quando seu marido foi assassinado pelos nipônicos. Masato, então, terá um certo trabalho para se aproximar de sua avó.
Apesar do clima de tensão entre Masato e sua avó, boa parte do filme se passa em brancas nuvens, com relações muito ternas entre os personagens e as receitas orientais sempre cimentando tais relações. Os atores trabalharam de forma muito suave e deu gosto de ver o trabalho de todo o elenco. Já a lembrança do ataque japonês, que era a potência imperialista da região, foi muito oportuna e pertinente, ainda mais porque tal beligerância era o fator que partia a família e trazia dor aos seus membros. E qual foi a melhor forma de combater isso? Isso mesmo, caro leitor! Com a comida! Assim como o lámen era uma comida que, pouco a pouco conquistou o público médio japonês, o Bak kut teh era uma comida das classes menos favorecidas em Singapura e se tornou uma espécie de ícone nacional (tal como a nossa feijoada por aqui). Esses dois pratos se tornaram uma espécie de embaixadores das duas culturas para promover o entendimento entre os povos do Japão e de Singapura, estancando as feridas do passado. São as duas culturas outrora inimigas voltando a interagir através da gastronomia.
Assim, “Lámen Shop” é um filmaço sobre o entendimento e a tolerância entre duas culturas. Um filme de atuações muito suaves e cativantes. E um filme de dar água na boca (toda a comida que vemos lá parece ser muito gostosa!). Um programa imperdível.