Uma co-produção Japão/Estados Unidos. “Oh, Lucy!” é um filme sobre rumos que tomamos em nossas vidas. Um filme que pode nos mostrar quanto o humano é bom ou cruel. Um filme de temática ácida e não muito feliz. Mas um filme que nos faz refletir.
A história gira em torno de Setsuko (interpretada por Shinobu Terajima), uma senhora de meia idade que tem um empreguinho ordinário numa empresa. Ela tem uma sobrinha, Mika (interpretada por Shioli Kutsuna), que pede que ela assista a uma aula de inglês em seu lugar. A moça já combinou de pagar todo o curso e não pode quebrar o contrato. Setsuko vai numa aula grátis e conhece o professor americano John (interpretado por Josh Hartnett) que tem um método, digamos, peculiar para a cultura japonesa: ele dá nomes em inglês para seus alunos e pede que eles se cumprimentem e se abracem ternamente. Setsuko irá praticar isso com seu professor e outro aluno, que terá o nome americano de Tom (interpretado por Koji Yakusho). A senhora, que tem uma vida sem graça e solitária, vai ficar maravilhada com a pedagogia do professor John. Entretanto, quando ela volta para a segunda aula, descobre que John não mais trabalha lá e que retornou para os Estados Unidos. Desolada, ela sai do curso e, na rua, ainda consegue ver John indo embora com Mika. Setsuko procura a mãe de Mika, sua irmã Ayako (interpretada por Kaho Minami) e descobre que a mãe nem está aí para o paradeiro da filha. Mas Setsuko recebe um postal de Mika. Ayako visita Setsuko para lhe dar o dinheiro do curso de inglês e descobre onde a filha está pelo endereço do postal. Setsuko pede férias para ir atrás de John e Mika, sendo que Ayako também vai. Ao chegarem aos Estados Unidos, as vidas de Setsuko, Ayako, John e Mika nunca mais serão as mesmas.
A primeira coisa que chama a atenção no filme é a crueza das relações humanas entre os japoneses. Suicídios, cinismos, solidão, dureza, tudo isso parece fazer parte do cotidiano dos japoneses, onde tem-se a impressão de haver um exagero ao se montar tal estereótipo. E, como redenção a todas essas características negativas, a cultura do abraço e do afeto, ensinada por um americano, cuja cultura também sabemos que não prima muito pelo contato físico. Dessa forma, tal diferenciação cultural soou um tanto artificial, exceto pela professora substituta de John, que logo rechaçou a pedagogia do abraço. De qualquer forma, esse era o elemento necessário para se dar um pouco mais de graça à vida vazia e seca de Setsuko, e ajudá-la a sair do estado de letargia. O problema é que, ao tentar ter uma vida mais leve e colorida, Setsuko entra em atrito com os demais personagens pelos mais variados motivos. E aí é que a gente vê o elemento humano se digladiando em todos os seus defeitos e empáfias, o que faz com que todos se machuquem muito. Se esse filme tem poucos e leves momentos engraçados, progressivamente a história vai ficando tensa e pesada, onde o ego inflado de cada um leva a situações mais e mais tensas e angustiantes. Dessa forma, podemos dizer que “Oh, Lucy!” é um filme triste, embora um esboço de “happy end” se vislumbre no ar, algo pouco suficiente para o sofrimento visto ao longo da exibição.
Uma curiosidade aqui foi ver o nome de Will Ferrell na produção. Associado a filmes de humor, Ferrell consegue levar a cabo aqui um projeto bem mais marcado por um conteúdo fortemente dramático. O tom de drama regado em desesperança chama a atenção e ver o nome de Ferrell envolvido nisso não deixa de ser uma surpresa, muito boa, aliás.
Assim, “Oh, Lucy!” é um bom filme. Um drama forte, tingido com tristeza e desesperança, provocado pelo egoísmo das pessoas que se machucam umas às outras. Um filme que exagera um pouco em estereótipos que servem para contextualizar construções de personagens. E um filme que nos faz refletir como devemos tratar o próximo, sem direito a cinismos ou más intenções matreiras de machucar a outrem. Vale a pena dar uma conferida.