Uma interessante produção francesa. “Promessa ao Amanhecer” fala da trajetória do renomado escritor polonês Roman Kacew, mais tarde conhecido como Romain Gary, e seu turbulento e afetuoso relacionamento com sua mãe Nina Kacew. É uma história muito comovente e um típico caso de vida que imita a arte de tão inusitada.
A película começa com Gary (interpretado por Pierre Niney) tendo uma crise nervosa e sendo conduzido de uma cidadezinha do interior do México para a capital, Cidade do México, por sua esposa Lesley (interpretada por Catherine McCormick). No meio da viagem, a moça encontra um manuscrito que conta a história do escritor com a sua mãe, gancho esse que nos remeterá a Polônia e à infância difícil do escritor. A mãe de Gary, Nina (interpretada de forma magistral por Charlotte Gainsbourg, talvez o melhor papel de sua carreira) era extremamente zelosa com o filho, acreditando sempre que ele seria uma grande pessoa: ora um diplomata, ora um escritor, ora um chefe de estado.
Essa crença (ou certeza) do futuro promissor do filho fazia, também, que ela fosse muito exigente e até dura com o menino que, mesmo assim, a amava incondicionalmente e se dedicava muito a corresponder às aspirações da mãe. A vida dos dois foi uma verdadeira roleta: da fria Polônia, eles foram para Nice, onde Nina passou a administrar um hotel. Mais tarde, Gary foi para Paris estudar, sempre escrevendo e buscando publicar suas obras com algum sucesso, chegando até a posição de combatente na Segunda Guerra Mundial e herói de guerra (e sempre escrevendo).
Esse é um filme que tem um certo tom de comédia, mas apenas em momentos mais pontuais. A vida de nosso Roman Kacew foi um tanto atribulada e nosso protagonista tinha uma tendência para a depressão e para a tragédia. Pode-se dizer que não há muito espaço para o “happy end” aqui, sobretudo nos créditos finais quando, com a ajuda de algumas fotos reais, é dito o que aconteceu com o escritor depois dos eventos exibidos no filme. De qualquer forma, é uma incrível história de vida.
Com relação ao desempenho dos atores, Pierre Niney fez um bom trabalho, prendendo a atenção do espectador com sua atuação, ora muito dramática, ora bem engraçada, ora angustiante. Mas ninguém consegue nesta película chegar à altura de Charlotte Gainsbourg, que roubou a cena de forma arrebatadora, fazendo uma matrona muito coruja, que podia ser bem afável, bem terna, mas também extremamente rígida e até violenta, com uma dose muito bem medida de insanidade. A gente fica maravilhado com a personagem, pois a atriz é tão cativante que fica impossível a gente não ver com carinho essa verdadeira mãezona, por mais constrangedora que ela possa ser em alguns momentos para o filho na frente dos outros. Dá para entender a ligação imediata dos dois, que sempre seguraram pesadas barras juntos e com a mãe sempre valorizando o filho. Eles realmente formavam uma boa equipe que encaravam as mazelas da vida de peito aberto.
Assim, “Promessa ao Amanhecer” é um filme que vale a pena a conferida do espectador, principalmente por causa do trabalho de Gainsbourg, mas também pela incrível história de vida que podemos presenciar, com doses relativamente fortes de melancolia. Um programa imperdível.