Quando eu vi o trailer de “Nasce Uma Estrela”, achei, em meu preconceito, que não seria grande coisa. Um projeto encabeçado por Bradley Cooper, diga-se, de passagem, um ator de que gosto muito, onde ele atuou, foi um dos roteiristas, dirigiu e produziu. Aí, a Lady Gaga é uma das protagonistas (vem, então, a pergunta: mas ela não é cantora? Será que tem experiência como atriz?). O filme é sobre música. Parecia country. Será que o filme será uma versão americana de música sertaneja? Confesso que já tinha praticamente desistido de ver o filme. Mas, por questões de horários de exibição adequados e, principalmente, por ser um projeto em que Bradley Cooper parece que depositou tantas fichas, cedi à curiosidade e dei um pulinho no Estação Botafogo 1 (que teve um bom público na sessão) para ver a película.
No que consiste a história? Um cantor consagrado, meio de rock, meio de country de nome Jackson Maine (interpretado por Cooper), tem uma cansativa rotina de shows. Acometido por problemas de alcoolismo, drogas e de surdez, ele procura fugir um pouco de sua vida agitada e cai numa casa noturna de Drag Queens, onde conhece Ally (interpretada por Lady Gaga), uma moça que consegue fazer números musicais por lá.
Os dois se conhecem melhor, têm uma grande afinidade um para com o outro e Jack descobre que Ally é uma excelente compositora. Dessa forma, Jack vai convidando a geniosa Ally para seus shows, com o intuito de cantar ao vivo com ela as composições da moça, o que acaba acontecendo. Logo, eles começam um romance e a carreira de Ally dispara. Mas o passado de Jack e seus problemas com bebidas, drogas e surdez vão colocar uma série de obstáculos para a felicidade do casal.
E aí vem a pergunta, depois de meu preâmbulo um pouco pessimista: o filme é bom? Pode-se dizer que sim. Isso porque, se ele parecia tomar a cara de um musical country, quando assistimos nós percebemos que a coisa não é bem assim e a película tomou contornos de um drama muito bem construído (o roteiro é inspirado na história de William Wellman e Robert Carson), onde o relacionamento entre Ally e Jack dão o tom da coisa. E aí, os problemas de Jack ganham um enorme peso na História, naufragando a carreira do músico enquanto a carreira de Ally tem uma ascensão meteórica. Obviamente, isso provocará certos problemas de ego e turbulências no relacionamento do casal. Mas paro por aqui com os spoilers.
Como o leitor pode perceber, esse é um filme que dependerá demais das atuações dos protagonistas. Foi legal ver Lady Gaga atuando sem toda aquela maquiagem escalafobética. A cantora mostrou bastante firmeza e carisma, fugindo dos padrões de beleza habituais (sua personagem cita isso no filme). Os adeptos da ditadura da magreza diriam que ela estava meio “gordinha”. Mas que bom que foi assim! Ajudou demais a compor o personagem, enchendo de admiração quem a assistia. Já Bradley Cooper, bem, dá para perceber como ele deu muito carinho a todo o processo, a começar por uma voz rouca, um tanto caricata, mas ainda assim virtuosa, para seu personagem Jack.
Em suas crises, parecia que ele carregava o mundo inteiro nas costas e ele fazia o espectador sentir todo esse peso do mundo junto com ele. Era doloroso ver todo o sofrimento de seu personagem e de como isso afetava Ally, que segurou o rojão com grandeza. Os choros de arrependimento de Jack para com sua esposa também foram muito arrebatadores. Só esses momentos já valeram o ingresso.
Assim, “Nasce Uma Estrela” é um filme que vale a pena ser visto, pois não foi um musical com uma historinha de amor meio chinfrim como o trailer parece ter vendido. Muito pelo contrário, é um drama bem construído e pesado, que se amparou nos talentos de Bradley Cooper e Lady Gaga, cujo relacionamento teve uma excelente química. Assim, se você (como eu) viu o trailer com um certo preconceito, deixe-o de lado e pode ir ao cinema tranquilo.
Carlos, tenho uma visão bem diferente do que você, que me parece considera música country ou sertaneja, como algo necessariamente ruim. São gêneros musicais tão válidos como qualquer outro. No Brasil temos Renato Teixeira, Rolando Boldrin, Amir Sater, dentre outros grandes expoentes do que se considera sertanejo ou caipira. É do primeiro, a obra-prima “Romaria” que Elis gravou. Amir tem seu “Tocando em Frente” imortalizado por Maria Bethânia. E nada mais, na menos do que Bob Dylan já teve uma fase bem country music. Assim acredito que pode-se sim fazer um outro “Nasce Uma Estrela”, retrabalhando a história básica, no universo da música country americana. E veja como a arte bate diferente nas pessoas. Já pelo trailer fiquei com bastante vontade de assistir este “Nasce Uma Estrela”.
Tenho o filme ainda bem mais em alta conta do que você. Não conte para ninguém, mas já assisti 3 vezes na tela maior do Espaço Itaú Sala 6- Botafogo.
Escrevi sobre o filme no meu blog http://pelaluzdosmeusolhos2.blogspot.com/. Para quem estiver interessado, aqui vai o link: http://pelaluzdosmeusolhos2.blogspot.com/2018/10/uma-grande-historia-de-amor-perpassada.html
Abs,
,Nelson
Vc fez até boas citações sobre música sertaneja (esqueceu o Sérgio Reis). Mas tem Chitãozinho e Xororó, Zezé di Camargo e Luciano, Rick e Renner, aquelas gordinhas da sofrência, Michel Teló, Simone e Silmara… pô, aí não dá, vai me desculpar… nada contra quem gosta, mas eu também tenho o direito de não gostar… sem falar que, citando o Lulu Santos, “eles apoiaram aquela pessoa naquele momento” (O Collor no processo de impeachment) e o Zeze di Camargo (ou o LUciano, nunca sei), disse que não houve ditadura no Brasil. Eu sei que arte e política são coisas completamente diferentes, mas também não precisam forçar a barra desse jeito… credo… Abs!!! P.S.: Que bom que você gostou bastante de Nasce Uma Estrela. Eu só não repito porque tem um monte de coisa para ver. Se bem que vou repetir Bohemian Rhapsody (saí do cinema às lágrimas e fiz questão de puxar as palmas na sala). E, para você não achar que sou totalmente avesso ao country, eu gosto das músicas meio country da Bonnie Tyler, até porque sou um fã incondicional dela e gosto de tudo o que ela faz, até se ela plantasse bananeira com uma melancia na cabeça e a bunda pintada de vermelho…
Carlos, procure conhecer o CD “Caipira” de Mônica Salmaso, uma das TOP TEN das grandes cantoras brasileiras vivas hoje no Brasil. Ela passou anos pesquisando e realizou este trabalho, como o que se chama música caipira, da melhor qualidade. Vamos além de “Romaria” e “Tocando em Frente”.
https://www.youtube.com/watch?v=EO-tI1PqN94
Mônica Salmaso ♪ CAIPIRA (album completo)
Já em relação ao direito de não gostar, está sempre envolvido o gosto pessoal. Nem preciso lembrar isto.Está sempre implícito. Mas acredito que gosto também se discute, mas até certo ponto, para não se enxugar gelo.
Conheço gente inteligente, sensível, amante de cinema, mas que não consegue entrar/ mergulhar em qualquer musical. Fogem até de “Cantando na Chuva”. Para um deles, até a dança na chuva de Gene Kelly ( algo genial, para se reter para sempre ) não o mobiliza. O que fazer?
As músicas do gênero que chegam ao grande público, são muitas vezes ruins. As muito boas podem ficar eclipsadas.
Abs,
Nelson ,