Dando sequência às análises dos episódios da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager”, vamos falar hoje de “Dentes de Dragão”, o sétimo episódio. Temos aqui um bom exemplo de mesclagem de história de ficção científica com análise histórica, onde espécies alienígenas sempre estão no meio, obviamente.
A Voyager encontra-se num corredor subespacial, onde caiu por acidente. Uma espécie alienígena hostil, os Turei, alegando serem os proprietários do corredor, exigem que a Voyager saia de lá. Janeway pede a sua ajuda e os Turei “quebram um galho” de uma forma, digamos, um pouco ríspida. Como se deslocaram duzentos anos-luz em apenas alguns minutos, Janeway pergunta aos Turei se eles não poderiam autorizar a passagem pelo corredor novamente. Negando categoricamente, os Turei ainda exigiram que a Voyager baixasse os escudos para os alienígenas abordarem a nave e apagarem dos bancos de dados a presença da Voyager no corredor. Janeway nega e os Turei atacam a nave com violência, provocando a queda rápida de seus escudos. A Voyager, então, se esconde na superfície de um planeta com doses letais de radiação, que a oculta dos sensores Turei temporariamente. Janeway e sua tripulação descobrirão ruínas de cidades e sinais de vida numa área subterrânea protegida da radiação. Lá, encontrarão, adormecidos, sobreviventes da espécie Vaadwaur. Sete de Nove, por impulso, abre a câmara de estase onde está um dos alienígenas, descumprindo o protocolo para essa situação. Esse alienígena acorda de um sono de praticamente novecentos anos e se chama Gedrin. Ele explica que o corredor subespacial foi descoberto por seu povo e que os Vaadwaur sofreram ataques de outras espécies alienígenas para assumir o controle do corredor. Daí a radiação do planeta. Neelix, por sua vez, diz que a palavra Vaadwaur faz parte de sua língua natal, significando “tolo”. O talaxiano faz uma pesquisa mais detalhada da origem da palavra e descobre, junto com Sete de Nove e seus dados borgs, que os Vaadwaur eram uma espécie muito agressiva e usava o corredor para atacar outros planetas. Precisando escapar de seu planeta natal em virtude da radiação e cercados pelos Turei, os outros Vaaldwaur planejam um ataque contra a própria Voyager para usá-la em sua jornada por um novo planeta natal. Janeway, então, convence os Turei a fazer uma aliança contra os Vaadwaur, uma ameaça em comum muito maior, dando aos Turei o controle de um satélite Vaadwaur que os ajuda a acertar as naves inimigas. Sob fogo cruzado, a Voyager dá no pé e fica com o gosto amargo de que ainda vai encontrar os Vaadwaur um dia. Sete de Nove se mostra arrependida por todo o salseiro que provocou ao acordar o Vaadwaur e Janeway, com o olhar complacente de mãezona, fala para a borg que muito provavelmente teria feito o mesmo.
Como foi dito acima, tivemos uma boa história de ficção científica nesse episódio, onde elementos como câmaras de estase, planetas em inverno nuclear e corredores subespaciais (ah, o subespaço para explicar sempre o inexplicável!) foram utilizados. Depois de alguns episódios de aprofundamento da construção de personagem como temos visto nas últimas análises, uma ficção científica mais “de raiz” cai muito bem. Ainda mais quando temos um background histórico para refletir em cima. “Jornada nas Estrelas” sempre se deu muito bem com temas voltados para a História e a Astronomia. Aqui, o elemento histórico se fez presente na análise da cultura antiga talaxiana e na análise de dados dos borgs para desvelar o mistério sobre os Vaadewaur, cujos sobreviventes praticamente eram “fósseis vivos” de novecentos anos. Só é de se lamentar que os Vaadwaur tenham sido tratados de forma tão maniqueísta, passando de vítimas indefesas para uma espécie agressiva num piscar de olhos. Sabemos que em História nem sempre é muito frutífero analisar os fatos e as culturas em termos de “mocinhos e bandidos”. Pelo menos, a forma como os Turei foram encarados no episódio (ríspidos, até hostis, mas abertos a negociação) foi algo mais palatável e interessante. De qualquer forma, estamos falando aqui de histórias escritas para se mexer com o emocional das pessoas, com o objetivo de entretenimento. E aí, a fórmula mocinho X bandido acaba se tornando uma ferramenta necessária, mesmo que já muito batida.
E o que o título do episódio (“Dentes de Dragão”) têm a ver com tudo isso?Mais uma vez, o elemento histórico se faz presente. Os Vaadwaur tinham uma frota de naves de guerra, que faz Chakotay cantar com antecedência a pedra da agressividade daquela espécie. Ele se refere ao mito grego dos dentes de dragão, onde Cadmo, fundador da Cidade de Tebas, precisou matar um dragão a pedradas para pegar água. Atena, a deusa da sabedoria, orientou Cadmo a semear os dentes, que deram origem a guerreiros armados e de aspecto ameaçador. Nada como uma interessante lenda da Grécia Antiga para dar um elemento poético a uma história de “Jornada nas Estrelas”. São nessas horas que vemos que essa série não é qualquer coisa.
Dessa forma, “Dentes de Dragão” é um bom episódio de “Jornada nas Estrelas Voyager” para ser revisitado, pois traz uma ficção científica interessante e elementos mais voltados à análise histórica. Tema relacionado à personagem? Somente o arrependimento de uma Sete de Nove que sempre foi cheia de muita marra. Mas mamãe Janeway estava a postos para salvar esse pequeno dilema.