Dando sequência às nossas análises de filmes do Festival do Rio 2018, falemos hoje de “O Termômetro de Galileu”, uma produção portuguesa de Teresa Villaverde. A cineasta fez uma espécie de rosário de depoimentos pessoais, recuperando a memória e as relações entre os membros da família do cineasta italiano Tonino De Bernardi, que vive na região do Piemonte. Esse é um documentário extremamente família, onde vários membros do clã contam suas histórias de vida, indo desde os mais jovens até os mais idosos, com relatos muito comoventes. Um dos momentos mais marcantes do documentário foi quando uma das parentes de De Bernardi falou sobre a história de vida de uma parente já falecida, não em forma de depoimento espontâneo, mas lendo um texto escrito, onde houve a preocupação de se organizar previamente todas as informações daquela pessoa.
Pudemos testemunhar sua juventude, seus sonhos, seus amores, suas perdas e seu definhamento, o que algo que muito nos faz pensar, pois geralmente conhecemos ou estamos com uma pessoa amiga em uma fase de sua e poucas vezes temos um convívio integral com a pessoa, mesmo nas famílias mais tradicionais (você não consegue testemunhar a infância e a adolescência de seus pais, por exemplo, mesmo que fique com eles o resto de suas vidas). Ao se resgatar essa história e memória individuais, a afinidade cresce muito mais e, ao fim do relato, parece que a gente conhece todo o íntimo daquela pessoa como se fosse alguém muito próximo. É aí que está a força desse filme.
Outro detalhe que chama muito a atenção é a harmonia total entre os pares da família de De Bernardi. É claro que toda família tem seus problemas de relacionamento, mas quando eles se reúnem para falar deles mesmos, não há qualquer espaço para conflito, e sim uma afetividade mútua que beira o idílio. Essa também é uma família muito ligada à arte. Temos um trecho onde o próprio Tonino De Bernardi lê uma poesia que sempre o cativou muito.
Já o desfecho, se me permitirem o spoiler, chega a ser engraçado. Vemos a família sentada à mesa com a diretora Teresa Villaverde e De Bernardi reclamando que quer falar para ela algumas coisas que ele não quer que a câmara registre. A diretora, já tão mergulhada no íntimo do clã, pede para De Bernardi desligar a câmara. Ele diz que não sabe fazer isso. Uma das mulheres da família, então, vai tentar desliga-la e, depois de várias instruções da diretora (e de vários supercloses da mão da mulher na nossa cara), a câmara desliga e vêm os créditos finais. Essa forma divertida de desfecho é a cereja do bolo que coroa todo o clima intimista produzido no filme com a família de De Bernardi.
Assim, “O Termômetro de Galileu” é mais um filme que chamou a atenção no Festival do Rio 2018 pela recuperação de memória através dos relatos da família de um cineasta italiano, e pelo clima altamente intimista que a diretora Teresa Villaverde consegue passar para o espectador. O ritmo do documentário é extremamente lento, mas vale a pena dar uma conferida, pois o filme transpira amor, carinho, afeto e ternura.