Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Discovery (Temporada 2, Episódio 6) “O Som Do Trovão”. Saru Nervoso.

Saru tenta dar uma força para Culber…

O sexto episódio da segunda temporada de “Jornada nas Estrelas Discovery”, “O Som do Trovão”, confirma uma tendência na série esse ano. Episódios bons, ou razoavelmente bons, são alternados por episódios mais fracos. A bola da vez aqui é um bom episódio, obviamente com alguns problemas, e que tem novamente Saru como a figura central (por que será que, nos bons episódios de Discovery Saru sempre tem um destaque?).

Opa, de quem é o comando???

Bom, vamos ao plot. Um novo sinal brilhante aparece justamente em cima de Kaminar, o planeta dos kelpianos. A Discovery vai lá para investigar, mas os ba’uls não respondem às frequências de saudação. Pike decide então enviar Burnham para a superfície para interagir com uma aldeia kelpiana e seu pastor, uma espécie de porta-voz entre os kelpianos e os ba’uls que existe em toda a aldeia kelpiana. Mais uma vez teremos a violação da Ordem Geral Um (é usado o argumento de que eles precisam saber o que é o anjo vermelho, que a missão é muito importante, etc). Saru, um pouco ansioso, quer ir, mas Pike acha que seu primeiro oficial ainda não está lidando bem com as mudanças em seu organismo (espinhos apareceram no lugar dos gânglios de medo e Saru parece cada vez mais descolado de qualquer medo e com uma agressividade crescente). Saru peita Pike na ponte e Burnham (sempre ela) coloca panos quentes, dizendo que Saru será importante no contato com os locais, pois a moça é uma alienígena para eles. Na superfície do planeta, Saru encontra Siranna, sua irmã, que agora é pastora e está revoltada com o desaparecimento do irmão, em virtude do medo de retaliações dos ba’uls, que poderiam achar que ele fugiu da sua imolação para o Grande Equilíbrio. A aldeia é chacoalhada por um ataque dos ba’uls e Saru e Burnham retornam à Discovery. Os ba’uls contactam a nave. Eles querem Saru de volta para que se restaure o Grande Equilíbrio, deixando o kelpiano louco de raiva e, ao mesmo tempo, desesperado pois seu povo pode ser atacado a qualquer momento. Pike finalmente coloca ordem na casa e ordena que Saru saia da ponte. Este vai para a sala de transporte e se teletransporta para se entregar. Mas se materializa dentro de algo que parece ser uma construção ba’ul. Siranna também é teletransportada para lá. Enquanto isso, Burnham e Tilly descobrem, com os dados da esfera do episódio “Uma Moeda Para Caronte”, que depois que os kelpianos passavam pelo vahar’ai no passado, eles ficavam muito agressivos e matavam os ba’uls, logo eram esses últimos a verdadeira presa. Os ba’ul então exterminaram os kelpianos pós-vahar’ai e passaram a matar os demais quando chegavam na iminência do vahar’ai, fazendo o Grande Equilíbrio. Saru consegue, depois de se revoltar contra os ba’uls, entrar em contato com a Discovery e eles têm a magnífica ideia de acelerar o vahar’ai de todos os kelpianos do planeta, à despeito da Ordem Geral Um mais uma vez, para mostrar aos ba’ul que os kelpianos também têm um lado racional no pós-vahar’ai. Pike chega até a questionar se isso não será perigoso, mas Burnham diz que os ba’ul têm uma tecnologia mais avançada e o vahar’ai abreviado não seria um perigo para eles. Entretanto, ao perceberem o plano da Discovery, os vahar’ai acionaram seus totens nas aldeias kelpianas para destruir todos os seus habitantes. É nessa hora que o anjo vermelho entra em ação e desativa as armas dos ba’uls. Saru consegue ver o anjo vermelho com sua visão mais aguçada e constata que ele tem uma forma humanoide feminina, com um traje mecânico e com uma tecnologia mais avançada que a da Federação. Siranna retorna à sua comunidade e começa a trabalhar um novo equilíbrio, não sem antes fazer as pazes com o irmão.

Saru, nervoso, peita Pike que, finalmente, dá uma resposta à altura…

O que esse episódio tem de coisas positivas? Em primeiro lugar, ele tem como referência o melhor Short Trek, “The Brightest Star”, onde vemos como Saru saiu de seu planeta, além de conhecermos a existência dos ba’uls e do Grande Equilíbrio. Se naquele curta a gente via a coisa de forma muito maniqueísta, com os ba’uls sendo os predadores malvados e os kelpianos as presas vítimas, aqui a coisa foi problematizada e passamos a compreender a importância dos ba’uls manterem o equilíbrio, mesmo que não concordemos com a matança dos kelpianos. Só foi uma pena a gente não ver especificamente a criação de uma nova ordem, onde os kelpianos e os ba’uls deveriam se encontrar para estabelecer acordos e termos. De qualquer forma, se os roteiristas de Discovery tiverem suas cabecinhas iluminadas, esse episódio poderia dar uma boa sequência no futuro, ou seja, a Discovery poderia voltar lá depois de alguns meses e ver como está o andamento desse novo equilíbrio. Novos conflitos, por exemplo, poderiam surgir, e Saru, junto com Siranna, poderiam ter um papel determinante na resolução desses conflitos, ao invés de Burnham sempre resolver tudo. Assim, aquela relativização que víamos nas séries antigas de Jornada nas Estrelas aparece aqui envolvendo o personagem mais solene, que acaba saindo de sua zona de conforto por estar sentindo as transformações em seu organismo, perdendo o medo que define sua espécie e caindo numa agressividade que ele precisa aprender a controlar. Esse elemento novo deixou Saru muito mais interessante.

Saru encontra Siranna. Vamos tomar um chá?

Podemos falar, também, um pouco de Pike. Nesse episódio ele foi mais capitão e tomou mais as rédeas da situação. Dava dó de ver como sua autoridade foi um tanto desrespeitada nos últimos episódios (chegou uma hora em que a tripulação trabalhava na ponte em momentos de crise sem lhe dar a mínima satisfação e ainda aparecia um close da cara dele embasbacado; isso é muito tiro no pé, ao invés de um suposto alivio cômico, o que parece ter sido a intenção aqui). Dessa vez, ao contrário, ele falou de forma grossa com os ba’uls, mas também foi diplomático quando preciso, indo bem ao estilo de um capitão da frota. E, principalmente, deu um grito em Saru depois de todos os seus chiliques e uma clara afronta de autoridade em plena ponte. Definitivamente, Pike merece mais respeito e ele fez se impor dessa vez.

Culber e Stamets. O médico se sente estranho…

E Culber? Eu disse na análise do último episódio que gostei da volta do médico, à despeito da forma miraculosa como a rede micelial fez isso. E por que eu gostei? Por que isso pode trazer mais Stamets para a série, que é um personagem bem interessante, e sem a necessidade dos micélios a tiracolo. E parece que o episódio começou a tatear isso, pois Culber é uma cópia perfeita do original, mas ainda assim não é o Culber propriamente dito. Isso provoca um certo conflito no médico, que pode ainda trazer problemas para a relação entre ele e Stamets. Provavelmente virá algo por aí nesse sentido.

Agora, vamos aos problemas. Em primeiríssimo lugar, mais uma vez a Ordem Geral Um foi vilipendiada aqui, sempre com o argumento de que se deve descobrir o que é o anjo vermelho e o pulso de energia, o que levou Burnham e Saru a entrar em contato com a civilização pré-dobra dos kelpianos. Mas isso foi o de menos, pois houve uma violação pior, muito pior, que foi justamente acelerar o vahar’ai dos kelpianos para provar que eles podiam interagir pacificamente com ao ba’uls mesmo depois da transformação. A coisa não poderia, em hipótese nenhuma, ser feita desse jeito, pois houve uma alteração direta nos corpos dos seres daquela civilização sem qualquer autorização deles. É a mesma coisa que alguns médicos um tanto malthusianos fazem de esterilizar mulheres pobres depois que elas dão à luz, sem o conhecimento delas. Ninguém tem propriedade sobre o corpo de ninguém e isso extrapola a violação da Ordem Geral Um. Talvez a saída aqui fosse alguns kelpianos terem passado pelo vahar’ai no momento de crise (colocando-se que o Grande Equilíbrio momentaneamente não estivesse sendo cumprido) e aqueles kelpianos pós-vahar’ai, juntamente com Saru, convencessem os ba’ul de que a convivência poderia ser pacífica. De qualquer forma, dá para perceber que toda essa querela entre as duas civilizações não pode ser resolvida em somente um episódio de forma muito enxuta. Ela poderia ser perfeitamente mais bem trabalhada num segundo episódio no futuro. Caso contrário, fica a impressão de um desfecho falso.

Saru e Siranna fazem as pazes, depois de muitas turbulências…

Uma coisa que me assusta é o que anjo vermelho poderia ser. A sua forma feminina gerou especulações de que poderia ser Burnham vindo do futuro resolvendo algum problema, já que os sinais e o anjo teriam alguma coisa a ver com viagens temporais, como tem sido ventilado nos episódios. Sei não, esse negócio de colocar importância demais na protagonista não é algo que será bom para a série. Já falei aqui que gosto da Burnham quando ela está mais fragilizada e interage mais com a tripulação. Para mim, não há problema em ela chorar tanto desde que ela desça um pouco do pedestal em que a colocaram. Achava melhor que o anjo fosse algo completamente novo, quem sabe até um elemento para ser melhor desenvolvido na terceira temporada. Espero que os roteiristas não estraguem essa ideia do anjo que, confesso, acho boa em seu mistério.

Um ba’ul. Argh!!!

Dessa forma, mesmo com alguns problemas, o episódio “O Som do Trovão” foi relativamente bom a meu ver, pois pegou e desenvolveu a boa ideia mostrada em “The Brightest Star”, confirmando que Saru é realmente um dos personagens mais interessantes da série. Só espero agora que não tenhamos outra bomba no próximo episódio, até porque a terceira temporada de Discovery já está confirmada e a série precisa de mais regularidade. Tempo para isso ela vai ter. Mas a produção dela precisa ser sem percalços, não havendo demissões, remontagens ou refilmagens, pois isso passa a impressão de que a série é uma enorme colcha de retalhos. E fica feio, depondo contra ela mesma. Vamos ver o que vem por aí.

https://www.youtube.com/watch?v=LuhH9JNF8AA

Batata News – Impressões Sobre O Oscar 2019

Queen abriu a festa!!!

A festa do Oscar esse ano começou com duas novidades. Em primeiro lugar, nada de mestre de cerimônias. Alguns acharam isso bom, porque se evitaram algumas piadinhas de gosto duvidoso, infelizes até. Por outro lado, se temos um bom Mestre de Cerimônias (me lembro muito de Whoopi Goldberg e do “hors concours” Billy Cristal) a coisa até flui bem e foi uma pena não termos essa figura esse ano. A segunda coisa foi a redução do tempo da premiação: cerca de três horas e meia. Confesso que isso me chateou mais, mesmo tendo que acordar cedo no dia seguinte, até porque o Oscar acontece somente uma vez por ano e o gasto com tempo de TV não seria uma exorbitância. Creio que valeria o investimento até por todo o clima de expectativa (e audiência garantida) que o Oscar proporciona.

“Green Book” levou a estatueta de Melhor Filme

Mas, o que podemos dizer do que aconteceu na cerimônia em si? Foi uma noite em que parece que a Academia se redimiu do “Oscar Branco” dos últimos anos. Muitos filmes de temática negra entre os indicados, assim como premiações também direcionadas nesse sentido. A começar pela atriz coadjuvante, Regina King, de “Se a Rua Beale Falasse”, desbancando Emma Stone e Rachel Weisz em “A Favorita”. Sei não, mas preferia que esse prêmio tivesse sido dado a Stone, até porque ela teve mais tempo de tela do que King e uma personagem que exigia mais de sua atuação, no qual a moça correspondeu. O trabalho de King também foi bom mas sua personagem foi menos presente no filme como um todo. Já para ator coadjuvante, Mahershala Ali teve um Oscar muito merecido em “Green Book”, sendo praticamente um dos protagonistas do filme. Essa era uma categoria muito disputada, principalmente quando a gente se lembra de Sam Rockwell fazendo Bush em “Vice” e Richard Grant em “Poderia Me Perdoar?”. Para ator, a surpresa de Rami Malek em “Bohemian Rhapsody”, desbancando Christian Bale (meu favorito) em “Vice” e Willem Dafoe em “No Portal da Eternidade”. Se for para alavancar a carreira do jovem ator (que mostrou seu talento também no remake de  “Papillon”), vale a estatueta. Mas que valia um prêmio aqui para um dos medalhões, valia. Para atriz, outra surpresa; Olivia Colman, de “A Favorita”, superou Glenn Close. Confesso que aqui achei o prêmio injusto. Preferia até Melissa McCarthy se Close não ganhasse. A premiação de Alfonso Cuarón para melhor diretor em “Roma” foi merecida mais por sua cinematografia (o Oscar de Fotografia para “Roma” foi, sim, merecido) do que pela direção em si, já que o filme poderia ter explorado um pouco mais a vida de preconceito das empregadas domésticas, o que parecia ser uma de suas propostas. Achei aqui que o prêmio de diretor caberia melhor para Spike Lee, pela sua forma de contar a inusitada história de “Infiltrado na Klan” com humor e, simultaneamente, tom de denúncia. Pelo menos, Lee levou a estatueta de Melhor Roteiro Adaptado e ainda fez um discurso anti-Trump, o que foi um dos pontos altos da cerimônia. Agora, sacanagem retumbante foi a força da indústria dar o Melhor Filme Estrangeiro a “Roma” e não a “Cafarnaum”, um dos melhores filmes do ano. A premiação de Melhor Animação para “Homem Aranha no Aranhaverso” foi muito merecida, mas se o critério mais artístico fosse adotado, “Ilha dos Cachorros” também poderia ter levado a estatueta, mesmo com uma história mais esquisita e tensa do que o Blockbuster divertido que foi “Aranhaverso”. Uma surpresa muito agradável foi para “Pantera Negra”. O melhor filme da Marvel de todos os tempos (na opinião desse humilde escriba) abiscoitou três estatuetas: figurino, design de produção (direção de arte) e trilha sonora. Foi a primeira vez que um blockbuster de super-herói recebe Oscars. E, particularmente, estou muito feliz que isso tenha ocorrido com “Pantera Negra”. Já os efeitos especiais ficaram para “O Primeiro Homem”, um filme que usa os efeitos sem ser de forma pirotécnica, com tiros, porradas e bombas, mas sim para deixar o espectador o mais íntimo possível das sensações da viagem num foguete e de como é a superfície lunar.

Os vencedores de ator e ator coadjuvante…

Os números musicais também deram o ar da sua graça e esquentaram a noite mais do que o normal. Foi simplesmente o Queen com Adam Lambert que abriu a festa, que nem preciso dizer mais nada. Aliás, “Bohemian Rhapsody” foi o grande vencedor da noite, pois abiscoitou quatro de cinco estatuetas que concorria. Além de Melhor Ator para Malek, ganhou os Oscars de Montagem (os mais puristas vão reclamar da cronologia fora de ordem, mas creio que isso foi mais uma proposta de roteiro), Mixagem de Som e Edição de Som. A decepção ficou por conta de “Vice”, que recebeu somente o prêmio de Maquiagem e Cabelo, merecidíssimo. Mas a parte mais emocionante da noite disparado foi o dueto de Lady Gaga com Bradley Cooper que ganhou o Oscar de Melhor Canção por “Nasce Uma Estrela”. Foi muito legal de ver os dois cantando juntos e toda a emoção de Gaga (que já comeu o pão que o diabo amassou na sua vida, com histórico de estupro e bullying) no seu discurso de agradecimento pelo prêmio de Melhor Canção.

Regina King, a melhor atriz coadjuvante…

Por fim, o melhor filme, para “Green Book, O Guia”. Eu particularmente achei muito merecido e era meu candidato. O filme despertou uma certa polêmica, pois a família do pianista (esse filme é baseado em fatos reais) não gostou do roteiro escrito pelo pai do motorista, que teria carregado nas tintas na amizade dos dois. Mas ainda assim, acho que valeu pela história, nem pelo fato da componente do racismo, mas sim pelo fato de que são duas figuras humanas que aprendem um com o outro, estabelecendo um vínculo. E a questão de se carregar nas tintas com a amizade, bem, o cinema, desde Melliès, nunca teve compromisso com a realidade. Talvez com a denúncia, mas nunca devemos nos esquecer que a sétima arte é a arte do ilusório.

Mahershala Ali, um prêmio merecido…

Muito bem, essas foram as impressões do Oscar desse ano. Alguns criticam a premiação do politicamente correto em detrimento da arte. Pode até ser, mas creio que isso não deslegitima o talento de quem ganhou. Claro que houve surpresas e até injustiças (leia-se Glenn Close e “Cafarnaum”) mas isso não pode significar um olhar mais antipático para os vencedores, que tiveram seus méritos. Devemos nos lembrar que houve uma mudança de perfil nos eleitores da Academia. Cerca de dois mil novos membros foram eleitos num Universo de oito mil eleitores em todo o mundo. Isso obviamente provoca mudanças nos pontos de vista, o que não deixa de dar um certo dinamismo revigorante para uma instituição que deve ter começado excessivamente WASP. De qualquer forma, o grande prêmio não é a estatueta careca e dourada, que vai ficar nas prateleiras dos vencedores pegando poeira, e sim os filmes e as histórias contadas, não importam se ganharam a estatueta ou não, que mexem com a imaginação e emoções de cinéfilos ao longo de todo muito. Prefiro os DVDs dessas preciosidades na minha estante. E Oscar? Posso comprar um de plástico no Saara na época do Carnaval, sem querer desmerecer o glamour da cerimônia, obviamente. Esperemos, agora, pelo próximo ano. Antes de terminar, só mais uma coisa: na seção “In Memoriam”, nosso Nelson Pereira dos Santos foi relembrado, com muita justiça, numa prova de que nosso cinema é sim reconhecido lá fora, muito ao contrário do que ocorre aqui quase sempre.

Olivia Colman, uma surpresa…

Fiquem agora com a lista de premiados:

MELHOR FILME

Premiado: Green Book – o guia

Roma

Bohemian Rhapsody

Pantera Negra

Nasce uma estrela

Vice              

A Favorita

Infiltrado na Klan

Cuarón, o melhor diretor, abraçando Del Toro…

MELHOR DIREÇÃO

Premiado: Alfonso Cuarón – Roma

Spike Lee – Infiltrado na Klan

Pawel Pawlikowski – Guerra Fria

Yorgos Lanthimos – A Favorita

Adam McKay – Vice

Malek: Bohemian Rhapsody ganhou quatro estatuetas….

MELHOR ATRIZ

Premiada: Olivia Colman – A Favorita

Yalitza Aparicio – Roma

Glenn Close – A Esposa

Lady Gaga – Nasce uma Estrela

Melissa McCarthy – Poderia Me Perdoar?

MELHOR ATOR

Premiado: Rami Malek – Bohemian Rhapsody

Christian Bale – Vice

Bradley Cooper – Nasce uma Estrela

Willem Dafoe – No Portal da Eternidade

Viggo Mortensen – Green Book

Spike Lee, o cara!!!!

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE

Premiada: Regina King, Se a rua Beale falasse

Amy Adams, Vice

Marinha de Tavira, Roma

Emma Stone, A Favorita

Rachel Weisz, A Favorita

MELHOR ATOR COADJUVANTE

Premiado: Mahershala Ali – Green Book

Adam Driver – Infiltrado na Klan

Sam Elliott – Nasce uma Estrela

Richard E. Grant – Poderia Me Perdoar?

Sam Rockwell – Vice

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO

Premiado: Infiltrado na Klan

The Ballad of Buster Scruggs

Poderia me perdoar?

Se a rua Beale falasse

Nasce uma estrela

O ponto alto da noite: Lady Gaga e Bradley Cooper

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL

Premiado: Green Book – O guia

A favorita

No coração da escuridão

Roma

Vice

MELHOR FILME DE LÍNGUA ESTRANGEIRA

Premiado: Roma

Cafarnaum

Guerra fria

Never Look Away

Assunto de família

Muito choro com o Oscar….

MELHOR ANIMAÇÃO

Premiado: Homem-aranha no Aranhaverso

Os Incríveis 2

Ilha dos cachorros

Mirai

WiFi Ralph: Quebrando a Internet

MELHOR FOTOGRAFA

Premiado: Roma

Guerra fria

A favorita

Never Look Away

Nasce uma estrela

MELHOR DIREÇÃO DE ARTE

Premiado: Pantera Negra

A favorita

O primeiro homem

O retorno de Mary Poppins

Roma

MELHOR FIGURINO

Premiado: Pantera Negra

The ballad of Buster Scruggs

A Favorita

O retorno de Mary Poppins

Duas rainhas

MELHOR MONTAGEM

Premiado: Bohemian Rhapsody

Infiltrado na Klan

Green Book – o guia

A Favorita

Vice

MELHORES EFEITOS ESPECIAIS

Premiado: O primeiro homem

Vingadores: Guerra infinita

Christopher Robin: Um Reencontro Inesquecível

Ready Player One

Solo: Uma história Star Wars

MELHOR MAQUIAGEM E PENTEADO

Premiado: Vice

Duas rainhas

Border

MELHOR EDIÇÃO DE SOM

Premiado: Bohemian Rhapsody

Pantera Negra

O primeiro homem

Um lugar silencioso

Roma

MELHOR MIXAGEM DE SOM

Premiado: Bohemian Rhapsody

Pantera Negra

O primeiro homem

Roma

Nasce uma estrela

MELHOR TRILHA SONORA

Premiado: Pantera Negra

Infiltrado na Klan

Se a rua Beale falasse

Ilha dos cachorros

O retorno de Mary Poppins

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL

Premiada: Shallow (Nasce uma Estrela)

All the Stars (Pantera Negra)

I’ll Fight (RBG)

The Place Where Lost Things Go (O Retorno de Mary Poppins)

When A Cowboy Trades His Spurs For Wings (The Ballad of Buster Scruggs)

MELHOR DOCUMENTÁRIO

Premiado: Free Solo

Hale County

Minding the Gap

Of Fathers and Sons

RBG

MELHOR CURTA-METRAGEM DOCUMENTÁRIO

Premiado: Absorvendo o tabu

Black Sheep

End Game

Lifeboat

Uma noite do Jardim

MELHOR CURTA-METRAGEM DE FICÇÃO

Premiado: Skin

Detainment

Fauve

Marguerite

Mother

MELHOR CURTA-METRAGEM ANIMADA

Premiada: Bao

Animal Behaviour

Late Afternoon

One Small Step

Weekends

Batata Movies – Um Segredo Em Paris. Um Estranho Casal.

Cartaz do Filme

Um filme que bota você perplexo. “Um Segredo em Paris” é curtinho (tem apenas cerca de 70 minutos), é existencial toda a vida e não se explica muito. Ou seja, parece uma película insuficiente em si mesma. Infelizmente, a gente precisa lançar mão dos spoilers para entender um pouco mais esse filme.

Macie, uma mulher existencial


O plot é muito simples. Uma moça de fora de Paris, Mavie (interpretada por Lolita Chammah) divide um apartamento com uma amiga que, digamos, é muito apaixonada pelo namorado. No Café que frequenta, ela vê um anúncio que propõe um emprego cujo pagamento é a moradia num apartamento. Para fugir do constrangimento na casa da amiga, Mavie procura o emprego, que é numa livraria. O dono da livraria, Georges (interpretado por Jean Sorel), é um velho rabugento e de passado obscuro. A livraria é uma bagunça só e ele nunca vende um livro sequer, colocando ainda mais mistério em sua vida pregressa, que nunca fica clara. Mavie fica fascinada pelo ancião e se apaixona por ele que, volta e meia, desaparece. O relacionamento entre os dois nunca fica muito claro, até porque Mavie gosta de escrever e a moça imagina diálogos de amor entre os dois, confundindo totalmente o espectador sobre o que é imaginação ou realidade.

Ela encontrará o misterioso Georges, dono de uma livraria…


Se a gente pudesse dar algum apelido à diretora Élise Girard (que também assina o roteiro, em conjunto com Anne-Louise Trividic) esse poderia ser o de “Chacrinha”, em virtude de sua épica frase “Eu vim aqui para confundir e não para explicar, meu filho”. A história faz um verdadeiro jogo de gato e rato com o espectador, usando Mavie como mote principal. A personagem é aquela existencial clássica, que povoou enormemente a Nouvelle Vague. Dores de cabeça e depressões fazem parte da ordem do dia de Mavie. E aí, para se aliviar de toda essa pressão, a moça lê e escreve. Quando Georges entra em sua vida, sendo um elemento inteiramente novo, a moça ganha um combustível inovador para a sua escrita e imaginação. E aí, não sabemos mais o que é realidade ou fantasia no filme. Georges e Mavie iniciam um relacionamento um tanto platônico. Mas isso seria apenas fruto da imaginação de Mavie? O filme deixa indicado que sim. Mas outros momentos do filme, como a vinda de criminosos à livraria que, inclusive, são mortos, fazem parte da realidade ou da ficção de Mavie? Essa coisa que fica em aberto acaba sendo uma espécie de atração principal do roteiro, que pode ser apreciável, se encaramos a película de um ponto de vista mais lúdico, mas que pode ser um tanto perturbador, se encararmos o filme dentro da perspectiva de uma narrativa mais tradicional. O filme é, acima de tudo, um diálogo entre o objetivo e o subjetivo, com uma provável voz maior para o último.

…e a livraria é uma zona só…


Pelo menos, ao desfecho, a coisa tende mais para o objetivo, onde sentimos um pouco o gosto triste da amargura de Georges, que se retira de cena da história de uma forma um tanto melancólica, enquanto que a vida de Mavie passa a ter um pouco mais de graça ao encontrar um novo amor. É nesse momento que a moça abandona a escrita, o que dá um pouco mais de objetividade ao filme.

As imagens do filme são carregadas de uma certa melancolia…


Dessa forma, “Um Segredo em Paris” é um filme que, por não fazer muita questão de se explicar, e fazer muita questão de confundir, acaba dando um certo trabalho ao espectador, que precisa se amalgamar com o objetivo e o subjetivo, tendo Mavie como uma espécie de norte, uma espécie de luz (?) no fim do túnel. Vale a pena pela curiosidade e pela experiência, embora a gente nunca possa se esquecer de que os filmes que abordam temas mais existenciais têm, em sua maioria, um ritmo excessivamente lento, o que é exatamente o caso aqui.

Batata Movies – Assunto De Família. Onde Está A Honra?

Cartaz do Filme

Mais um filme esperado. “Assunto de Família”, de Hirokazu Koreda, foi o grande vencedor do Festival de Cannes no ano passado e traz uma história muito tocante. Uma história que nos faz pensar onde estão os verdadeiros valores que nos tornam humanos.

Uma família muito unida…

O plot é muito simples. Temos um grupo de pessoas consideradas “à margem da lei” que decidiram viver juntas e constituir uma espécie de família, família essa que consegue funcionar com muito mais harmonia e ternura do que as famílias constituídas pelas pessoas ditas “de bem”, sem folha corrida na polícia ou com um histórico de crimes. Por piores que sejam as condições de vida dessa insólita família, eles vivem de forma muito unida. E as dificuldades não impedem que eles vivam de forma bem feliz. Mas, infelizmente essa família, que funciona de forma tão perfeita e harmoniosa, não durará para sempre e será desmantelada pelo sistema de justiça, em virtude de seu passado de malfeitos.

Afeto e harmonia…

A primeira pergunta que vem à nossa cabeça quando assistimos a essa película é a seguinte: o que é ser uma pessoa de bem? O que é ser um bom ser humano? O grande paradoxo aqui é justamente o fato de que há famílias com conforto material que são cheias de problemas pessoais e de relacionamento e possuem pessoas sem antecedentes criminais, ao passo de que um grupo de pessoas que são consideradas delinquentes pela justiça simplesmente se agregaram nas piores condições possíveis, mas viviam com extrema harmonia, compreensão e preocupação pelo bem estar um do outro, criando um paradigma perfeito de célula familiar. O diretor Hirokazu Koreda foi perfeito ao buscar esse paradoxo, ainda mais num país que prima tanto pela disciplina e pela honra como o Japão.

Diferentes gerações…

Uma coisa que chama muito a atenção é perceber como a película tem a coragem de mostrar como o Japão atual, um país que, dentro de nosso senso comum, parece ser muito rico e desenvolvido, também tem seus bolsões de miséria e pobreza, provando que não há paraísos utópicos por aí. Essa componente de denúncia social talvez tenha chamado a atenção daqueles que premiam os filmes em Cannes para esse filme, fora outras virtudes, como a forma singela e delicada com que os personagens da casa se tratavam, sendo um verdadeiro exemplo de como as famílias, principalmente as que estão em conflito, devem se relacionar.

O diretor Hirokazu Koreda recebendo a Palma de Ouro

Assim, “Assunto de Família” é um filme que merece toda a atenção do espectador, pois foi digno da Palma de Ouro que recebeu, já que ele consegue ser simples, delicado, terno e, principalmente, enfrenta alguns estereótipos que povoam nossas mentes quando falamos de pessoas à margem da sociedade. Definitivamente, quem vê cara não vê coração, a grande lição dessa película. Não deixem de assistir.

Batata Movies – Wi Fi Ralph. Videogames E Internet.

Cartaz do Filme

A Disney trouxe sua animação de verão. “Wi Fi Ralph” é a continuação de “Detona Ralph” e tem como protagonistas personagens de jogos de videogame, Ralph e Vanellope. Lembrando sempre que essa análise terá spoilers.

Os dois amigos, que vivem num antigo fliperama, vão ter que se aventurar no mundo da internet depois que o jogo de Vanellope tem o seu volante quebrado, o que ameaça os personagens do jogo, pois o dono do fliperama pretende desligar a máquina. Uma das meninas que jogam na máquina viu que tem um volante à venda no E-Bay. E aí, os dois protagonistas vão à grande rede, representada como uma enorme cidade, toda patrocinada por sites e redes sociais, como o Google, o Facebook, o Twitter, o E-Bay, etc, etc, etc. Pode-se dizer que esse é um dos filmes mais patrocinados da História.

Dois amigos conhecem a internet…

Pois bem. Ralph e Vanellope encontram o tal volante e participam de um leilão onde a peça é arrematada pela bagatela de 27001 dólares. O detalhe é que os dois personagens de fliperama não sabiam que eles precisariam de dinheiro de verdade para poder pegar o volante. E aí, eles vão tentar fazer o que todo mundo tenta: ganhar (muito) dinheiro na internet. Mas o filme não se limita à busca de Ralph e Vanellope por grana. A amizade dos dois ficará ameaçada quando Vanellope descobre um jogo de videogame muito casca grossa (tipo um Carmagedon da vida), onde ela quer passar a viver definitivamente e participar das corridas mais iradas possíveis. É claro que Ralph não aceitará essa situação e a amizade entre eles correrá um grande risco.

Pedindo informações num mundo novo…

Para quem gosta de internet e de mundo virtual, essa animação é um prato cheio, pois as situações que aparecem na película provocam uma identificação imediata com os internautas que buscam um espaço ao Sol e fama na grande rede. Mas a película tem um grande atrativo: a Disney fazendo piada e gozação com seu próprio conteúdo. Falou-se muito da cena do encontro de Vanellope com as princesas da Disney. A menininha que gostava de corridas radicais de automóvel não tem nada a ver com as princesinhas, sobretudo as mais antigas, que foram forjadas numa época em que a mulher era vista de uma forma muito mais submissa que a de hoje. E assim, o diálogo e o anacronismo entre elas foi usado de forma muito inteligente e criativa, gerando boas risadas. Foi essa sequência que me seduziu e me levou ao cinema, muito mais do que a representação que a animação fez da internet. A película também foi criativa ao mostrar uma situação do que aconteceria na grande rede se um vírus muito potente fosse solto nela. E aí, Ralph, o protagonista do filme, terá um papel muito importante na questão do vírus. Só que vou parar com os spoilers por aqui.

Disney zoa suas princesas…

Dessa forma, “Wi Fi Ralph” é mais uma divertida animação de verão da Disney. Não vou dizer que foi uma das melhores de todos os tempos, já houve melhores no passado. Mas ainda assim vale a pena dar uma conferida por ser muito divertida, falar da questão do papel da mulher no mundo contemporâneo e buscar definir o que é uma boa amizade e respeito com a pessoa que você tem como melhor amiga. Não deixe de assistir.

Batata Movies (Especial Oscar 2019) – Poderia Me Perdoar? Falsários Indo Para O Ralo.

Cartaz do Filme

Outro filme concorrente ao Oscar. “Poderia Me Perdoar” disputa três estatuetas (Melhor Atriz para Melissa McCarthy, Melhor Ator Coadjuvante para Richard Grant e Melhor Roteiro Adaptado) e conta, com um humor bem ácido, a difícil vida da escritora Lee Israel, que conseguiu emplacar uma obra sua nas listas de mais vendidos para nunca mais. Figura completamente simpática a gatos e totalmente avessa a humanos, Israel tinha um comportamento extremamente difícil, ficando numa tremenda penúria financeira por causa disso. Até que ela teve uma ideia: começou a falsificar cartas de escritores famosos e vendê-las a donos de sebo, que em Nova York são muito mais sofisticados que os daqui. O problema é que Israel vai ser descoberta e sua vida, que já era difícil, vai ficar ainda mais complicada.

Lee Israel, uma mulher difícil…

O trabalho de Melissa McCarthy nesse filme foi muito bom, fazendo jus à indicação para Melhor Atriz. Ela conseguiu fazer uma mulher muito mais velha (à despeito de sua boa caracterização com maquiagem) e rabugenta, chegando às beiras do insuportável. Ela é a protagonista com mais cara de antagonista que surgiu no cinema nos últimos tempos. O problema para ela ganhar o prêmio (e vou repetir isso quantas vezes for necessário) é a atuação magnífica de Glenn Close em “A Esposa”, considerada imbatível por este humilde escriba. Vai ser muito difícil para McCarthy bater essa atuação de Close na noite da premiação, se os critérios de talento contarem, já que sempre devemos lembrar que são geralmente os interesses da indústria que norteiam essa premiação.

Pesquisas para boas falsificações…

A atuação de Richard Grant também foi excelente ao interpretar Jack Hock, o amigo de Israel, que sequer tem onde cair morto. Ele era um cara também cheio de defeitos como Israel, mas era o tipo do cafajeste simpático, ao contrário da escritora. Seu trabalho foi digno da indicação para melhor ator, mas aqui o páreo está duríssimo também, senão vejamos: Sam Rockwell fazendo Bush em “Vice” e Mahershala Ali em “Green Book”. Aqui, qualquer um que vença será uma premiação justa. Confesso que nem sei para quem torcer.

Lee em ação, sempre com a gatinha por perto…

E a história do filme? Tentou-se fazer uma comédia aqui em alguns momentos, só que o filme é carregado de cargas negativas quase o tempo todo. O relacionamento ríspido de Israel com os demais personagens (inclusive com seu amigo próximo Hock) é o carro-chefe da película, sendo o típico caso da pessoa que vive dando tiros no próprio pé e fechando portas para si, já que faz uma questão extrema de que o mundo funcione de acordo com seus desejos e parâmetros e não o contrário. É claro que isso vai provocar uma série de situações muito desagradáveis para nossa protagonista, que tem uma vida complicada e sofrida. Pelo menos, ela aliviava um pouco suas mágoas fazendo trotes que podiam ser ofensivos ou brincadeiras vingativas de péssimo gosto. Ou seja, o filme tem quase o tempo todo uma carga negativa muito grande, sendo um violento choque de realidade.

Muitas peripécias com o amigo Hock…

Dessa forma, “Poderia me Perdoar?” consegue não ser uma comédia dramática, mas uma ácida comédia melancólica, onde a protagonista não é o melhor exemplo de virtude, muito pelo contrário até. A boa maquiagem aplicada em Melissa McCarthy de nada adiantaria se não fosse a ótima atuação da atriz, que lhe exigiu muito mais do dramático do que da comédia, e sabemos que a atriz é mais especializada nesse último gênero. Assim, esse trabalho foi um desafio e tanto para ela, que correspondeu muito bem e mereceu a indicação. A atuação de Richard Grant também foi fenomenal, também sendo digna da indicação que recebeu. Mesmo que a película tenha um clima bem pesado, ela é altamente recomendável em virtude do trabalho dos atores. Vale a pena dar uma conferida.

Batata Movies (Especial Oscar 2019) – No Portal Da Eternidade. Um Van Gogh Tranquilão.

Cartaz do Filme

Mais um filme concorrente ao Oscar. “No Portal da Eternidade” disputa uma estatueta de Melhor Ator para Willem Dafoe e fala da vida de Vincent Van Gogh nas cidades de Arles e Auvers-Sur-Oise. Vamos precisar de alguns spoilers aqui para analisar o filme. Ao enfocar esse período da vida do pintor, podemos testemunhar momentos-chave de sua vida, como a relação entre Vincent (interpretado por Dafoe) com o seu irmão Theo (interpretado por Rupert Friend), ou com Paul Gauguin (interpretado por Oscar Isaac), pessoas com as quais Vincent mantinha um forte vínculo afetivo e de dependência. o filme também aborda a loucura de Vincent Van Gogh, onde ele diz que não se lembra dos ataques de insanidade de que as duas cidadezinhas o acusam, além de mencionar a perseguição pela qual o artista passava, pois as pessoas não entendiam sua arte e achavam seus quadros horríveis, considerados um atentado à arte. O famoso corte da orelha também é citado, assim como as circunstâncias da morte do artista, onde é insinuado que ele foi assassinado por seus perseguidores.

Dafoe fazendo Van Gogh. O máximo!!!

O filme também é um show de imagens. Se ele concorresse para o Oscar de Melhor Fotografia, não seria nenhuma surpresa. Como há uma forte presença das telas de Van Gogh na película, as imagens da natureza, das quais Van Gogh pintou vários de seus quadros e fazia as suas leituras e impressões, constituem um personagem à parte. Há, inclusive, uma linda imagem em preto e branco de uma paisagem que Van Gogh pinta nas mesmas cores em sua tela, espelhando a impressão que o artista tinha da natureza, sendo um dos momentos mais lindos de todo o filme.

Relacionamento terno com Gauguin…

A grande atração da película, entretanto, é o rosário de grandes atores que esse filme apresenta. Podemos falar do staff francês com Mathieu Almaric, Emmanuelle Seigner, Niels Arestup, somente atores de primeira linha. Mesmo com pequenas participações, eles chamam muito a atenção nos seus momentos de tela, tornando-se verdadeiros coadjuvantes de luxo.

O famoso corte da orelha…

Mads Mikkelsen também dá o ar de sua graça como o padre que entrevista Van Gogh no hospício, entrevista essa em que ele decidirá se o artista terá alta ou não. O diálogo entre os dois é delicioso, com o padre querendo comprovar que a arte do pintor não seria normal e Van Gogh rebatendo de forma altamente racional todos os argumentos do padre até que este se encontre sem saída e não tenha outra alternativa a não ser liberar o artista. Já Oscar Isaac fez um Gauguin bem vibrante e ainda com forças para lutar contra os que, em seu ponto de vista, obstruíam o caminho da originalidade. Seus diálogos com Van Gogh também foram muito bons, onde o afeto era mesclado com uma firmeza.

Filme dialoga com a materialidade visual dos quadros de Van Gogh

Agora, o ator que desempenha o papel principal, Willem Dafoe, estava simplesmente fulgurante, isso é inquestionável, e a indicação ao Oscar de Melhor Ator foi mais do que justa. A única coisa que incomoda um pouco (e isso foi mais um problema de roteiro do que de atuação) é que seu Van Gogh passou uma impressão de demasiada tranquilidade em alguns momentos. Quando se trata de Vincent Van Gogh, a imagem que o senso comum leva à nossa cabeça é a de uma pessoa profundamente perturbada, com explosões de paroxismo à cada segundo. Tudo bem, há explosões de paroxismo de Dafoe no filme, mas também há demonstrações de uma estranha serenidade, e isso em momentos que deveriam ser extremamente dramáticos, tais como o seu corte da orelha. Confesso que soou um pouco esquisito. Mas, repito, Dafoe foi fantástico nesse filme.

Uma intrusa tranquilidade…

Dessa forma, “No Portal da Eternidade” é um grande filme que concorre ao Oscar de Melhor Ator. Um filme que fala sobre um grande artista, que tem um elenco estelar, e que tem uma fotografia deslumbrante, com lindas imagens da natureza. E, sim, tem Dafoe, numa das melhores e mais memoráveis atuações de sua carreira. Um filme imperdível.

Batata Movies (Especial Oscar 2019) – Vice. A Arte De Mexer Os Pauzinhos.

Cartaz do Filme

Outro filme que concorre ao Oscar. “Vice” disputa oito estatuetas (Melhor Filme, Melhor Diretor para Adam McKay, Melhor Roteiro Original para Adam Mckay, Melhor Montagem, Melhor Maquiagem e Cabelo, Melhor Ator para Christian Bale, Melhor Ator Coadjuvante para Sam Rockwell e Melhor Atriz Coadjuvante para Amy Adams). É mais um filme do diretor de “A Grande Aposta”, uma película que explicou, de forma bem didática, a crise no mercado imobiliário americano, que tomou proporções mundiais. Agora, Mckay fala da trajetória de Dick Cheney, político de carreira que chegou ao cargo de vice-presidente na gestão de George W. Bush. Mas ele era um vice-presidente diferente. Ao invés de ser uma figura meramente decorativa, Cheney conseguiu convencer Bush de concentrar em sua mão vários poderes como funções burocráticas, controle de energia, exército, etc., ou seja, ele praticamente mandava nos Estados Unidos, além de influenciar Bush diretamente em todas as decisões. Foi Cheney, por exemplo, que começou com a história de que o Iraque devia ser invadido em virtude do seu suposto arsenal de armas químicas. Esse ataque provocou a morte de milhares de pessoas (americanas e iraquianas) e a gênese do Estado Islâmico. O filme deixava claro que Cheney sempre tomava as suas decisões tendo como norte a busca por boas oportunidades ou acumulação de poder. E aí, ele podia tomar atitudes bem sórdidas.

Dick Cheney. Em busca de oportunidades…

É uma película de forte tom ácido e crítico, mostrando, desde o início, a natureza pesada da personalidade de Cheney. Para isso, tivemos um excelente trabalho de maquiagem que caracterizou muito bem Christian Bale (que interpretou Cheney), Amy Adams (que interpretou a esposa de Cheney) e Steve Carell (que interpretou Donald Rumsfeld). Mas toda a maquiagem não seria suficiente para garantir integralmente uma boa caracterização.

Belo trabalho de caracterização, inclusive em Amy Adams…

Os trabalhos de Bale, Adams e Carell foram simplesmente magníficos, fazendo jus à indicação ao Oscar para os dois primeiros. Notável, também, foi o trabalho de Sam Rockwell fazendo o papel de George W. Bush. Parece que víamos o próprio na telona em toda a sua idiotice. Assim, “Vice” é mais um daqueles filmes em que o trabalho dos atores é a atração principal. Mas “Vice” também é um filme de humor. Um humor que, na maioria das vezes é bem ácido e negro, mas que também terá momentos de um humor escrachado que beira o besteirol, como no (alerta de spoiler) happy end falso bem no meio da exibição da película, passando pelo jeito um tanto “informal” como os intertítulos do filme se relacionam com o espectador, chegando ao final (tacanho) do narrador da história e seu verdadeiro papel no filme, aqui puxando mais para o humor negro.

Um Donald Rumsfeld perfeito…

Um momento muito forte da película é uma quebra de quarta parede promovida por Cheney, onde ele afronta o espectador que o julga por todos os seus malfeitos. A postura muito firme de Bale desafia quem está na sala e chega a ser assustadora. E é interessante, também, vermos artistas consagrados fazendo pontas no filme, como um Alfred Molina que é um maitre de restaurante que Cheney está com os seus pares e anuncia no menu todas as falcatruas e jogadas que nosso (?) protagonista faz, ou uma Naomi Watts que faz a âncora da Fox News, canal de TV americano reconhecidamente de direita.

Só não mais perfeito que George W. Bush…

Assim, “Vice” é mais um bom filme de Adam McKay, que tem um forte conteúdo crítico político, da mesma forma que o ocorrido em “A Grande Aposta”. Ou seja, denúncia pura, e uma denúncia feita com a ajuda de atores que já trabalharam com Mckay como Christian Bale, Amy Adams e Steve Carell, em excelentes atuações. Filme para abiscoitar um Oscar de Ator ou Maquiagem, pelo menos. Programa imperdível.