Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Discovery (Temporada 2, Episódio 5) “Santos Da Imperfeição”. Micélios, Micélios, Micélios.

Georgiou de volta!!!

O quinto episódio da segunda temporada de “Jornada nas Estrelas Discovery”, “Santos da Imperfeição”, foi mais fraquinho do que o anterior. Mas trouxe algumas pontas geradas lá no terceiro episódio. E também trabalhou novamente com a rede micelial que, uma hora, precisa ser fechada e limada da série, dado o seu absurdo até como ficção científica. Mas foi um episódio que também teve alguns pontos bons, como a volta do Dr. Culber, apesar da ópera do absurdo orquestrada em torno disso.

Tilly e a sua amiguinha caçando um monstro…

Bom, vamos ao plot. Ele começa com mais um daqueles intermináveis monólogos da Burnham (pensei que eles já tivessem desistido disso, mas não), até que a Discovery consegue interceptar a nave de Spock que resiste a uma tentativa de comunicação. Depois de conseguir desabilitar a nave do Vulcano, o teletransporte é acionado e é a Imperatriz que aparece. Ela diz que faz parte da Seção 31 e que tinha a missão de interceptar Spock, mas que ele já havia desaparecido da nave quando ela chegou. Leland, o capitão da nave da Seção 31, pede a Pike que libere a Imperatriz e deixará Tyler na Discovery como observador, já que Spock é próximo do capitão e é irmão de Burnham. Enquanto isso, Stamets descobre, usando Lavoisier, que Tilly foi teletransportada pelo fungão para a rede micelial. A moça está realmente lá e encontra a sua amiguinha esquisita May, que diz que a rede micelial está morrendo pela ação de um monstro. A criatura teria chegado depois das intervenções de Stamets na rede micelial. Stamets propõe um mergulho parcial na rede micelial para procurar Tilly, mas os micélios atacarão o casco que vai aguentar por uma hora. Com o mergulho da Discovery na rede, Tilly e sua amiguinha entram na nave. O monstro também entra na Discovery. Elas vão encontrar Stamets e Burnham, contando a história do tal monstro. Gritos ecoam pela nave e acham a criatura que é… Hugh Culber! Ele está coberto por uma casca de árvore que é letal para os micélios. O problema é que os micélios tentavam interagir com o corpo de Hugh e o queimavam. Assim, Hugh cobriu seu corpo para não ser atacado. Hugh sobreviveu pois, quando Stamets achou o corpo do médico, eles estavam imersos na rede micelial e a energia do corpo de Hugh passou para o corpo de Stamets (termodinâmica, foi o que disseram). Mas ao tentar atravessar da rede micelial para nosso espaço, Hugh não conseguia, pois era feito de matéria da rede micelial. Assim, a solução, proposta obviamente por Tilly e Burnham, era pegar uma amostra do DNA de Hugh e colocá-la no fungão para sintetizar o corpo de Hugh no nosso espaço, embora isso fosse fechar o portal para a rede micelial. Enquanto tudo isso acontece, a Discovery está em perigo e recebe a ajuda da nave da Seção 31, através do uso do raio trator, depois de uma “ligadinha” de Tyler, Já livre do perigo, os tripulantes da Discovery vão ao fungão e conseguem retirar Hugh de lá, para a alegria de Stamets (que fofo!). A almirante cara de empada da primeira temporada retorna e dá ordens explícitas a Pike e a Leland para procurarem Spock juntos. O episódio termina com mais um monólogo interminável de Burnham.

Stamets e Culber de volta juntos…

Vamos lá. O que podemos dizer dessa história? Ela até é uma ficção científica relativamente interessante, não fosse os tecnobabbles que encucaram um pouco a coisa. Por exemplo, Hugh não morre pois passa sua energia por termodinâmica para Stamets e quando este está na rede micelial essa energia é transferida para lá e se manifesta no formato de Hugh novamente. Meio louco. Se bem que Spock também ressuscitou no Planeta Gênese. Mas aqui parece um pouco forçado. Ainda mais quando Hugh não consegue atravessar para o espaço comum e uma amostra de seu DNA é extraída para entrar em contato com o fungão e materializar um Hugh novinho em folha. Taí o exemplo de uma ficção científica demasiadamente forçada de forma desnecessária. Teria sido melhor o médico atravessar do espaço micelial para o normal. Entretanto, Burnham disse que isso poderia matar as pessoas todas distorcidas se ocorresse. Como eles atravessaram então? Por que na gaiola do Stamets esse efeito de distorção não ocorre? Percebe-se que o uso indiscriminado de tecnobabbles acaba provocando uns furos meio esquisitos. Tudo poderia ser um pouco mais simplificado aqui a meu ver. Fica difícil até para o espectador acompanhar a lógica de tanta tecnobaboseira. Apesar de tudo isso, gostei da volta de Hugh Culber, ainda mais por causa do Stamets, que é um ótimo personagem que deveria ser mais aproveitado. Quem sabe isso não acontece, pois temos finalmente um par romântico estável novamente nessa série e que muito provavelmente não vai rolar DR, já que eles adoram falar de ópera?

Esse também foi um episódio com uma Tilly e uma Burnham menos boladonas. O resultado disso? Tilly já voltou a ter uma fala constrangedora (a do rifle do grau 3) e os monólogos difíceis de engolir da Burnham deram o ar de sua graça. Ainda acho que essas duas personagens, que têm mais tempo de tela que os demais personagens da nave, devem interagir mais com eles, dando um espírito de camaradagem e companheirismo à toda a tripulação. Isso é fundamental em “Jornada nas Estrelas” e víamos tal situação nas outras séries. Sim, sei que na série clássica havia uma atenção maior na tríade Kirk-Spock-McCoy, mas os demais personagens da série não eram tão esquecidos quanto alguns que vemos em “Discovery” (novamente todos aqueles personagens da ponte, que deviam ser mais acionados nos episódios).

A coisa da Seção 31 se aliar à Discovery (compulsoriamente, diga-se, por ordem direta da almirante cara de empada) pode ser algo interessante a meu ver, se for bem escrito. Está parecendo que a nossa Imperatriz quer pegar o Spock primeiro para poder abrir sua caixa de ferramentas de maldades contra o Vulcano. E aí, a busca por Spock vai mais se tornar uma competição entre a Discovery e a Seção 31, introduzindo aí um elemento dramático novo nessa parte da série. Se isso for usado de forma inteligente (o que nem sempre acontece em “Discovery”), pode dar bons frutos. Mas, ainda falando da Imperatriz: como ela disputou com Burnham o prêmio de “caras e bocas da semana”! As mordidas que Georgiou deu naquela maçã se travestindo de princesa do pecado, para depois ainda imitar uma cobrinha na cara de Burnham foram o suprassumo da vergonha alheia, mesmo com a Michelle Yeoh sendo uma excelente atriz. Da mesma forma que Burnham ficou com a boca aberta, sem sair uma palavra, pois foi impedida por Pike de retrucar uma provocação de Leland, o capitão da nave da Seção 31.

A almirante cara de empada voltou!!!

Por fim, mais uma palavra rápida sobre os micélios. Assim como os hologramas serão substituídos por telas para se adequar ao cânon da série clássica, uma hora essa rede micelial terá que ser chutada para escanteio também. Parece que os roteiristas já estão preparando a cama para isso. Eu realmente espero que aconteça logo, pois esses micélios estão ficando cada vez mais complicados e implausíveis, ainda mais depois desse episódio. Um tecido vivo que está no subespaço e permeia todo o multiverso é algo determinístico demais para o Princípio da Incerteza de Heisenberg, cuja teoria justamente trabalha o multiverso dentro de um contexto mais probabilístico. Agora, a rede micelial ainda pode trazer a vida de volta, associado com termodinâmica? Isso não é mais ficção científica, é uma papagaiada exponencial de quem quer fazer algo espetacular demais e erra na mão. Está na hora de abandonar essa ideia. Uns buraquinhos de minhoca artificiais criados por uma civilização alienígena não seriam de todo ruim perto desse monte de cogumelos. Aliás, cogumelos aqui estão no chá dos roteiristas que criaram a rede micelial.

Chega de micélios pelamordedeus!!!!!

Dessa forma “Santos da Imperfeição” é um episódio de “Jornada nas Estrelas Discovery” que têm virtudes mais pela volta de Hugh e pela Seção 31 no encalço da Discovery em sua busca por Spock. E seu problema está na famigerada rede micelial, cada vez mais implausível e que deve ser abandonada o mais rápido possível. Esperemos que os roteiristas estejam de comum acordo e já estejam preparando a tecla eject dos micélios, que foi um pouco o que pareceu aqui nesse episódio. Vamos ver o que vem por aí.

Batata Movies – A Vida Em Si. Uma Torrente De Emoções.

Cartaz do Filme

Um filme no mínimo curioso. “A Vida em Si” trabalha simultaneamente várias histórias que, aparentemente parecem não ter nada em comum a princípio, mas que vão se encadeando aos poucos, tornando coesa uma narrativa inicialmente fragmentada. E a graça toda da coisa estão nos pontos nodais onde essa narrativa vai se construindo.

O plot conta quatro histórias de duas gerações de duas famílias. Começamos com o casal Will e Abby (interpretados, respectivamente, por Oscar Isaac e Olivia Wilde), nos Estados Unidos. Uma tragédia manchará a vida desse casal, que deixará uma filha, Dylan (interpretada por Olivia Cooke), uma menina que, por ser marcada pelo trauma da tragédia, é altamente pessimista e depressiva. Mas há ainda mais uma família que, muito longe dali, mais especificamente na Espanha, também irá se envolver com o núcleo familiar americano. Numa fazenda de oliveiras, o patrão, Mr. Saccione (interpretado por Antonio Banderas) fica maravilhado com um de seus empregados, Javier (interpretado por Sérgio Peris-Mancheta), pois ele colhe as azeitonas com a mão para não destruí-las. Mas Javier é arisco e não quer estreitar laços com o patrão. O empregado tem uma esposa e um filho que irão ter uma afinidade bem próxima com o patrão, para o desespero de Javier. Essa família fará uma viagem para os Estados Unidos, onde suas vidas serão modificadas para sempre.

Um casal marcado pela tragédia

Bom, tentei fazer uma descrição bem sucinta do plot para não recair em muitos spoilers. O que chama muito a atenção nessas histórias é que elas justificam bem o título do filme, ou seja, a vida em si sempre tem seus altos e baixos. Mesmo que às vezes a tragédia marque a vida das pessoas, sempre há uma forma de se dar a volta por cima, onde as próprias pessoas que sofrem com as mazelas do passado podem se dar as mãos e recomeçar. Carregado nesse espírito de afeto e de ternura, o filme vai costurando aos poucos as pequenas histórias e isso cativa o espectador gradativamente.

Uma moça marcada pelo passado

Com relação aos atores, três destaques. Tivemos uma Annette Bening, que fez a terapeuta de Will que, mesmo que tenha tido uma participação muito pequena no filme, chamou a atenção pelo tom carinhoso com que tratava seu paciente. Já Isaac chamou muito a atenção como o marido pré e pós tragédia, sendo bem mais convincente em sua fase mais depressiva. Mas quem teve a melhor atuação no filme foi Antonio Banderas. Ele conseguiu dar ao seu personagem um lado humano muito forte, justamente um personagem que apresenta de forma detalhada seu passado (talvez o personagem mais bem construído do filme), o que ajuda a dar muita empatia ao mesmo, personagem esse que, aparentemente seria um fazendeiro cruel e mal intencionado em seu início.

Antonio Banderas em excelente atuação

Dessa forma, “A Vida em Si” é um filme que merece a atenção do espectador, pois ele tem um roteiro cativante e bem elaborado, onde há uma forte empatia dos personagens com o público. A interação de medalhões do porte de Isaac e Banderas com atores menos conhecidos foi muito eficaz, sinal de que todo o elenco conseguiu trabalhar muito bem e em equipe. Vale a pena dar uma conferida.

Batata Movies – Em Chamas. Mudando A Realidade Para Se Conseguir Uma Boa História.

Cartaz do Filme

Confesso a vocês que tenho uma certa dificuldade de relação com os filmes coreanos. Sempre os achei muito morosos e de difícil digestão. Ao assistir “Em Chamas”, tive um pouco essa impressão. Mas como sempre é bom a gente lutar contra nossos preconceitos e buscar uma segunda chance contra aquilo com o que implicamos no mundo, a gente tem que ir além nas nossas análises mais reducionistas. E aqui essa análise mais profunda trouxe uma perplexidade.

Um rapaz que precisa cuidar de uma fazenda…

Antes de mais nada, vamos ao plot, com spoilers. Temos aqui a história de Lee Jong Su (interpretado por Ah-In Yoo), um rapaz que tem um pai que acaba sendo preso por agressão, deixando uma pequena fazenda próxima à fronteira da Coreia do Norte à deriva. Assim, o moço precisa alternar seu tempo entre a cidade e o campo. Mas Su irá conhecer a jovem Shin Hae-Mi (interpretada por Jong-seo Jun), pela qual se apaixona. A moça se diz uma antiga amiga de infância de Su e relembra passagens que o rapaz não consegue se lembrar de jeito nenhum. Mi vai viajar para o exterior e pede que Su passe uns dias em seu apartamento, cuidando de seu gato que nunca aparece, mas que come a comida, bebe a água e deixa cocô na caixa de areia. Quando Mi retorna, ela traz a tiracolo Ben (interpretado por Steven Yeuh), um rapaz de outro estrato social, muito bem sucedido se comparado a Su e Mi, mas que consegue ser bem afável, com um ar um tanto blasé. Su fica com certo ciúme de Mi com relação a Ben, mas não quer transparecer. Ele percebe que há pulseiras e brincos no quarto da casa de Ben quando vai para lá. Mas Mi desaparecerá misteriosamente, deixando Su muito preocupado, enquanto que Ben continua com seu ar indiferente a tudo que acontece à sua volta. Su, por sua vez, encontra evidências de que Mi foi assassinada por Ben. E aí, Su irá tomar uma atitude radical. Uma atitude que seria óbvia para alguns, mas também que causa perplexidade para outros.

Um ambiente mais sofisticado…

Por que a perplexidade? Porque Su acredita que Ben assassinou Mi por algo muito circunstancial, o que poderia levar a uma conclusão precipitada das coisas. Mas, acima de tudo, Su dá um desfecho tão inusitado a todo o contexto muito em função do fato de que ele queria engatilhar a carreira de escritor e, ao resolver o problema do desaparecimento de sua amiga, ele também acabou achando a inspiração de sua história, escrevendo-a antes de tomar as atitudes que achava que devia tomar.

Uma amizade meio fragilizada ao pôr-do-sol…

O grande problema desse filme, assim como em vários filmes coreanos, que é o que mais me incomoda, é o ritmo extremamente moroso ao longo de toda a película, para termos nos minutos finais um acontecimento muito frenético com o desfecho logo em seguida. Ou seja, poderíamos ter um desenrolar mais complexo e duradouro da trama a partir do momento em que Su conclui que Ben assassinou Mi (se é que assassinou), tirando um pouco da morosidade do filme. Poderíamos ter uma visão de Mi do assassinato em si, a forma como Su tramou a sua reação com relação a Ben, a reação em si, etc. Ou seja, tirar um pouco a morosidade narrativa do filme e dar alguns minutos a mais de um ritmo um pouco mais dinâmico.

Filme tem duração excessiva e carece de dinâmica…

Assim, “Em Chamas” ainda não consegue tirar de todo a minha impressão de morosidade nos filmes coreanos, mas pelo menos trouxe um pouco mais de perplexidade no que se refere ao desfecho. Vale a pena dar uma conferida, mas prepare-se para um ritmo mais lento.

Batata Movies (Especial Oscar 2019) – Guerra Fria. Discutindo A Relação Em Torno Da Cortina De Ferro.

Cartaz do Filme

Um filme um tanto perturbador que concorre ao Oscar. “Guerra Fria” tenta a premiação em três estatuetas (Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Direção para Pawel Pawlikowski e Melhor Fotografia) e ganhou o prêmio de Melhor Diretor em Cannes. É mais uma daquelas películas que requenta a Guerra Fria e coloca o stalinismo como o responsável por todas as mazelas da humanidade, como se não houvesse mais outras fontes de mazelas no mundo. Mas é um filme que tem seu campo de atuação na área musical, valendo por essa curiosidade. Sem falar que é uma (louca) história de amor. Vamos lançar mão de spoilers aqui.

Um casal apaixonado, mas problemático…

A trama se passa ao longo de parte considerável da segunda metade do século XX e se ambienta em vários lugares da Europa, a começar por uma Polônia do pós-Segunda Guerra Mundial, onde Wiktor (interpretado por Tomasz Kot) faz uma seleção de cantoras e dançarinas para um grupo de folclore. Quando ele vê Zula (interpretada por Joanna Kulig), logo fica interessado na moça e a seleciona. O grupo folclórico faz as suas apresentações e tem uma carreira de sucesso. Mas as pressões stalinistas em cima do trabalho de Wiktor fazem com que ele fuja para o Ocidente, onde se estabelece na França, juntamente com Zula. Entretanto, ela não se adapta às relações sociais e à realidade do país capitalista e se manda, deixando Wiktor sentido. A partir daí, teremos uma sucessão de DRs intermináveis em ambos os lados da cortina de ferro. Com o passar das décadas, fica mais claro que o relacionamento entre os dois é impossível, provocando grande sofrimento. Até que o casal decide tomar uma medida drástica para pôr fim àquele tormento todo.

Uma vida na França que não deu muito certo…

Confesso que meu santo não bateu com o do filme. A vida do casal já era complicada demais em função das condições políticas e sociais em que viviam. E aí, a gente torce para que tudo dê certo. E até chega a dar certo, mas logo depois, eles mesmos, de uma forma ou de outra, melavam a relação novamente e iam para situações piores às que estavam.

Encontros e desencontros…

Chega uma hora em que você desiste dos dois e quer mais é que eles quebrem a cara de uma vez, pois não estão sabendo aproveitar as oportunidades. É como você achar um pedaço de filé mignon no meio de uma bandeja de carnes de segunda num self service sem balança barato e não comê-lo, pois está sem sal. E, para piorar, Zula ainda cantava uma musiquinha irritante, que tinha um “oi oi oi” muito do sem vergonha. Putz, confesso que, quando me lembro que esse filme está entre os finalistas para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e o dinamarquês “Culpa” não está lá, me dá um certo desgosto. Para a desgraça ser total, só vai faltar ele vencer “Cafanaum”. Pelo menos, o preto e branco do filme faz jus à indicação para Melhor Fotografia. Vá lá, que se dê essa colher de chá, só para não me chamarem de “hater”. Mas que não tive muita paciência com essa película, ah eu não tive não. E há muitas formas de se fazer um desfecho triste.

“Oi, oi, oi”…

Dessa forma, essa “Guerra Fria” estava bem gelada. Só recomendo pelas indicações ao Oscar que recebeu. Mas que a coisa é muito lenta e sem graça, ah isso é. Mesmo que todos os bonequinhos do mundo aplaudam de pé.

Batata Movies (Especial Oscar 2019) – Se A Rua Beale Falasse. Dando Poesia A Uma Realidade Cruel.

Cartaz do Filme

Mais um bom filme que concorre ao Oscar. “Se a Rua Beale Falasse” concorre a três estatuetas (Melhor Música Para Filme, Melhor Atriz Coadjuvante para Regina King e Melhor Roteiro Adaptado) e ganhou o Globo de Ouro para Atriz Coadjuvante. É uma película que busca mostrar, da forma mais leve e poética possível, uma dura realidade: a condição de vida dos negros americanos nos Estados Unidos de dias de racismo contundente. E, por incrível que pareça, mesmo abordando tema tão espinhoso, o filme é um poço de muita ternura. Para que possamos entender isso, spoilers serão necessários.

Um casal altamente idílico…

O plot gira em torno do jovem casal formado por Tish (interpretada por Kiki Lane) e Fonny (interpretado por Stephan James). Amigos de infância, o romance entre os dois aconteceu de uma forma muito idílica. Pode-se dizer que até a primeira vez do casal rolou num clima de idílio. A gente via a história sendo contada pelo ponto de vista de Tish, o que ajudou em muito nessa visão bem romântica e doce do casal, já que a personagem era um verdadeiro poço de candura. Mas, infelizmente, a realidade bate à porta e Fonny acaba sendo acusado injustamente de estupro e termina na cadeia. Seu julgamento é adiado seguidas vezes e, enquanto isso, o rapaz permanece preso, para desespero de sua namorada, que espera um filho e ainda precisa se preocupar em arranjar um meio de tirar o companheiro da cadeia.

Tish não vai desistir de lutar por seu amado na prisão…

O tempo vai passando e as dificuldades para se provar a inocência de Fonny só comprovam o que todos nós já sabemos: a sociedade americana da época (o filme se passa em meados das décadas de 60 e 70) é extremamente racista e injusta com sua população negra e aí um jovem casal que paulatinamente construía a sua vida, tijolinho a tijolinho, de forma bem afetuosa e terna, tem a sua história drasticamente alterada pelas mazelas do mundo real. Resta a eles se adaptarem a isso. E como se adaptaram! Mesmo com todo o sofrimento envolvido, Tish nunca esmoreceu e se apaixonou por outro homem, além de cuidar de seu filho com muito carinho, visitando o namorado frequentemente na prisão, mesmo com o passar dos muitos anos em que ele ficou preso.

Regina King teve boa atuação…

Embora seja altamente idílico, o filme não optou por um happy end propriamente dito. Ou seja, quis se mostrar que a situação do racismo nos Estados Unidos não pode dar margem a um bom desfecho. Realmente, foi bem melhor assim, pois não ficaria legal um final feliz aqui. Passaria uma impressão de algo inverossímil.

Tish, grávida, recebe o apoio da mãe e da irmã…

Uma outra coisa que chama muito a atenção da película é a forma como alguns personagens se comportavam. Dava dó de ver os pais de Tish e Fonny, amigos de longa data e personagens que conseguem despertar muita empatia do público, ter de lançar mão de atos ilícitos para conseguir o dinheiro necessário para tentar libertar o rapaz. Atos ilícitos que eles já haviam lançado mão em outras ocasiões, muito mais por uma questão de sobrevivência numa sociedade que não lhes dá oportunidade do que por mau caratismo. Já a mãe de Fonny e suas irmãs acabaram sendo planas demais em sua construção, pois a religiosidade excessiva fazia com que elas enxergassem a situação de Fonny com os olhos de um branco WASP. E a coisa, com razão, acabou não indo muito para a frente com elas no filme. Agora, a atuação de Regina King como mãe de Fonny convenceu bastante e mereceu a indicação de atriz coadjuvante. Já ser digna da premiação, confesso que deve estar mais para Emma Stone em “A Favorita”.

… e do paizão…

No mais, palmas para a edição. É o tipo de história contada com idas e vindas no tempo, onde vemos a história do casal antes e depois da prisão de Fonny. Os momentos anteriores à prisão foram muito importantes para dar o clima terno e idílico à história, e precisavam ser alternados no peso certo com a acidez e sofrimento dos dias da prisão. Para que isso aconteça, um bom trabalho de edição é fundamental, levando esses dois núcleos alternadamente no transcorrer da história e com igual peso, pois caso contrário existe o risco do filme ou ficar sombrio demais ou meloso demais.

Kiki Lane, entre o diretor Barry Jenkins e Diego Luna (de “Rogue One”), que também trabalhou no filme

Assim, “Se a Rua Beale Falasse” é um bom filme que também merece a atenção do espectador, sobretudo aquele que quer estar antenado com todos os indicados ao Oscar. Um prêmio para roteiro adaptado cairia muito bem aqui, já que ele não está indicado para montagem. Mas seu grande trunfo é encarar a realidade da forma mais suave e idílica possível, aos olhos de uma moça apaixonada, sem isso ser piegas. Vale a pena dar uma conferida.

Batata Movies – Vidro. Tá Todo Mundo Louco, Oba!

Cartaz do Filme

M. Night Shyamalan dá um desfecho em sua trilogia iniciada com “Corpo Fechado” e que deu sequência em “Fragmentado” através do filme “Vidro”, promovendo um encontro entre seus três personagens: David Dunn (interpretado por Bruce Willis), os vinte e quatro personagens interpretados por James McAvoy e Elijah Price (interpretado por Samuel L. Jackson). A ideia do plot foi colocar essas três figuras muito doidas, que se acham super-heróis, num manicômio para uma espécie de terapia de grupo, empreendida pela doutora Ellie Straple (interpretada por Sarah Paulson), uma mulher  que, não sei por que cargas d’água, odeia super-heróis e quadrinhos (confesso que não vi “Corpo Fechado”, mas tenho uma ideia de seu enredo). Vamos lançar mão de alguns spoilers aqui.

David Dunn

É um filme que realmente se ampara nesses três atores protagonistas e na história de doideira de todos eles. Dunn parece ser o mais equilibrado (ou o menos pirado) de todos. Com relação aos personagens de McAvoy, dessa vez tivemos a oportunidade de ver o ator interpretando bem mais deles (em “Fragmentado” eram apenas nove, creio eu), o que foi uma diversão à parte, mas que também fazia a gente se perder um pouco.

Elijah Price, o mais perigoso…

Aliás, tocando nesse ponto, o roteiro é um tanto desconfortavelmente complicado. Pelo menos uma coisa ficou bem clara. O vilão ali entre os três era realmente Elijah, que inclusive manipulou a Besta e estava com nítidas intenções agressivas. Mas ainda assim todos os três pacientes eram vítimas de Ellie Straple, que queria acabar com a neurose dos três, eliminando todo mundo.

É uma besta mesmo…

Com relação ao desfecho, a coisa ficou com uma cara de happy end com gosto de cabo de guarda-chuva, ou seja, foi um final parcialmente feliz, ou até um final infeliz com uma espécie de prêmio de consolação. Confesso que eu torcia para uma melhor sorte para o personagem de Willis.

Louca terapia de grupo…

Assim, “Vidro” é um filme de roteiro um tanto complexo e que tem como grande trunfo a interação entre os personagens de Willis, McAvoy e Jackson. Na real, a gente vai mais ao cinema para ver esses personagens atuando mesmo. No mais, um filme um tanto mediano e até um tanto enfadonho pela complexidade da história.

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Discovery (Temporada 2, Episódio 4) “Uma Moeda Para Caronte”. Uma Forte Referência.

Salvando Burnham…

O quarto episódio de “Jornada nas Estrelas Discovery”, “Uma Moeda Para Caronte” foi um episódio muito bom, talvez o melhor de todos dessa série até agora. Tudo bem, eu sei que outras análises virão e elas vão apontar problemas que o episódio tem (como acontece em tudo na vida, onde existem virtudes e defeitos). Mas eu confesso que estou preferindo aqui buscar mais pontos positivos de “Discovery” e especular como eles poderão ser trabalhados melhor no futuro. Só há uma coisa que está incomodando um pouco. É o segundo episódio seguido que se desvia do arco principal, que está nos sinais ao longo da galáxia e do anjo vermelho. Só espero que eles não façam com esse arco o mesmo que fizeram com a guerra com os klingons na primeira temporada, que se propunha ser o arco principal e que praticamente não existiu.

Saru, uma participação importantíssima nesse episódio…

Mas vamos ao plot desse episódio. A Discovery conseguiu a localização da nave de Spock e a está perseguindo. Mas ela é impedida de continuar por uma grande esfera que se mostra um organismo vivo e infecta a nave com um vírus que produz sobrecargas elétricas e sérias avarias nos sistemas. Para piorar a situação, Saru adoece e ele diz que seu mal é terminal, o que afeta demais Burnham. Stamets e Reno (isso mesmo, ela está de volta!) conseguem retirar a sobrecarga da nave e Saru e Burnham desenvolvem uma espécie de anticorpo digital que ataca lentamente o vírus. O fungão do episódio anterior se prende a Tilly e Stamets inicia uma comunicação com ele (depois de meter uma furadeira na cabeça da moça para injetar um implante de comunicação). O fungão, então diz que é de uma espécie que vive na rede micelial e que os saltos da Discovery estão provocando sérios problemas no seu mundo. Stamets se desculpa e diz que vai consertar tudo, mas o fungão não solta Tilly e, pelo contrário, a envolve completamente. Stamets consegue tirar Tilly do fungão com um maçarico. Mas o fungão libera uma substância que deixa todo mundo doidão. Quando Stamets inocula um remédio nele e em Reno que neutraliza as alucinações, ele percebe que Tilly foi novamente capturada pelo fungão. Quando Stamets o abre novamente, só vê uma cavidade e a mocinha desaparece. Burnham, ao ver a tentativa de comunicação com o fungão, tem o insight de que de repente a esfera está tentando se comunicar com a nave através do vírus. Ela passa essa informação para Saru e este crê que a esfera, que tem 100 mil anos, está morrendo e quer passar suas experiências de vida para a nave. Ela estaria morrendo pois, como Saru também está morrendo e sua espécie kelpiana é altamente empática, seu corpo estaria se apropriando da fase terminal da esfera. Depois de muito custo, Saru e Burnham convencem Pike a baixar os escudos para que o vírus entre totalmente na nave e transmita as informações da história de vida da esfera, que está prestes a explodir. Quando os dados são totalmente transmitidos, a esfera explode, mas antes ela empurra a Discovery para salvá-la e a seus dados de experiência de vida. A última coisa que a esfera registrou foi justamente a posição de Spock e a Discovery pôde continuar a seguir a nave do vulcano. Burnham vai com Saru aos aposentos do kelpiano e ele pede que a moça corte seus gânglios inflamados para que ele possa morrer antes da dor e da loucura ficarem insuportáveis. Burnham chora muito e Saru a conforta, dizendo que ela é uma espécie de irmã, pois não conseguiu se despedir de sua irmã verdadeira. E Saru ainda pede que Burnham faça as pazes com Spock. Mas, quando Burnham vai cortar os gânglios, eles caem e Saru se cura, perdendo o medo, se tornando mais forte e, principalmente, inconformado com o papel de presa que seu povo kelpiano faz há eras. Depois da conversa com Saru, Burnham, que queria evitar Spock, por respeito a posição resignada dele com relação ao contato com ela, muda de ideia e quer procurá-lo.

Reno. Bem vinda de volta!!!

Quais são as virtudes do episódio? Em primeiro lugar, mais uma referência, desta vez bem forte, ao Universo de Jornada nas Estrelas. Falo isso com relação à esfera que é uma forma de vida e que quer se comunicar. Impossível não se lembrar de V’Ger ou da Orta, mesmo que a comunicação das duas com os integrantes da Federação tenha sido feita sob outras circunstâncias. Mas a intenção da esfera viva querer preservar a sua memória e deixar seus registros se perpetuarem, é também um tema muito caro às séries antigas de “Jornada nas Estrelas”, algo que acabou fisgando o meu coração de historiador. Assim, vemos que “Discovery” vai, paulatinamente e cada vez mais, se aproximando do que víamos antigamente em “Jornada nas Estrelas”. A outra grande virtude é uma espécie de sequência do que vimos no episódio anterior, no que se refere às personagens Burnham e Tilly. Eu disse na resenha anterior que essas duas personagens funcionam bem melhor num estado fragilizado e sob pressão. E o presente episódio se aprofundou nisso. Totalmente subjugada pelo fungão, Tilly estava visivelmente aterrorizada, mas sob controle de si, deixando de ser totalmente um alívio cômico nesse episódio. Talvez tenha sido a melhor atuação de Mary Wiseman em toda a série até agora. Outro elemento que funcionou muito bem nesse núcleo da Tilly foi a relação entre Stamets e Reno, uma bela aquisição de personagem para a série e cuja ausência desde o primeiro episódio já muito me incomodava. Se, inicialmente, os dois não se bicaram muito, a força das circunstâncias da invasão da esfera à nave fez com que os dois trabalhassem em equipe bem rapidamente. E houve uma química muito boa entre eles, sem considerar o quê alucinógeno e psicodélico desse núcleo, com direito a Prince e “Space Oddity”, do David Bowie.

Agora, uma grande virtude, dentro da missão principal de Discovery de “resgatar Burnham” esteve na relação desta com Saru. Tudo bem que depois da presença de Doug Jones no Brasil e de toda a tietagem explícita que os fãs fizeram com ele, assim como sua resposta muito calorosa, fazem a gente ver Saru com outros olhos. Mas, mesmo assim, esse foi um episódio muito importante para Burnham e Saru teve um papel determinante nisso. Se com Amanda no episódio anterior, Burnham já ficou fragilizada emocionalmente, aqui a coisa foi muito mais forte, pois seu amigo bem próximo estava morrendo e ela ainda foi elencada por ele a “desligar os aparelhos”. O choro que ela dá à frente de Saru na suposta hora derradeira do kelpiano convenceu bastante e serviu para fortalecer o elo entre os dois. Na minha modestíssima opinião, esse é o caminho certo para tornar a personagem querida do público. Ao invés de ser uma mulher perfeita que dita procedimentos aos seus colegas e se veste de uma certa arrogância, ela deve se envolver mais com os seus e dividir os louros como fez com Saru no episódio. Vejam bem que, desta vez ela não salvou o dia sozinha e contou com uma baita de uma ajuda do Saru, que estava ali no sacrifício. E, depois, ainda tivemos uma terna conversa entre os dois. Isso sim é usar a Burnham de forma inteligente. Eu, como fã confesso de Yamato (a antiga Patrulha Estelar da Manchete, lembram-se?) gostava muito daquele desenho animado (anime é coisa para os mais novinhos) muito em função do espirito de equipe da tripulação e de como eles se viam como uma enorme família ao invés de militares. Esse espírito também está nas séries antigas de “Jornada nas Estrelas” e precisa estar aqui em “Discovery”. O vínculo entre Saru e Burnham foi tão bem elaborado aqui que ele fez referências ao Short Trek “The Brightest Star” e Saru ainda convenceu a moça a fazer as pazes com seu irmão Spock, usando a relação com sua irmã kelpiana como argumento. Essas coisas realmente estavam fazendo falta na série.

Stamets busca salvar uma Tilly que, finalmente, saiu do ridículo…

Bom, até agora só falei de virtudes no episódio. E os defeitos? Bom, infelizmente tenho um nome para isso: Pike. O nosso capitão ficou mais uma vez caladão enquanto a tripulação trabalhava para solucionar a crise da esfera e se opôs fortemente a baixar os escudos, quando deveria ter sido mais ativo no debate com Burnham e Saru e ter decidido logo a questão. Um Kirk ou Picard e até o Pike do Hunter teriam sido bem mais rápidos aqui. E me desagradou um pouco novamente o quê religioso de Pike quando ele diz que o conhecimento de 100 mil anos sobre a galáxia que a esfera tinha se equivalia aos “Manuscritos do Mar Morto da Galáxia”. Sem querer fazer pouco caso dos Manuscritos do Mar Morto (que era de um grupo judeu que queria lutar contra a presença romana e se refugiou para esperar um líder guerreiro chamado Messias – aí poderiam estar as primeiras bases do Cristianismo), mas o conhecimento de cem mil anos de uma galáxia inteira parece ser algo bem maior e não cabe na comparação que a mente excessivamente religiosa desse Pike faz. Gostaria de ver uma mentalidade clássica de capitão aqui, se é que vocês entenderam meu trocadilho infame.

Bom, esse foi “Uma Moeda Para Caronte”. O episódio foi tão bom que até o título lembra aqueles títulos altamente literários da série clássica. Vamos ver se a coisa va continuar melhorando no próximo episódio. E veja o trailer clicando no link abaixo

https://www.youtube.com/watch?v=V3HiQnXdFuI