Batata Movies – Homem Aranha No Aranhaverso. Uma Ótima Aposta.

Cartaz do Filme

E tivemos a tão esperada animação da Sony “Homem Aranha No Aranhaverso”. Sendo um dos mais amados personagens da Marvel, a Sony deu ao aracnídeo uma história à altura de seu carisma e criou vários personagens relacionados ao super-herói de Peter Parker.

Um novo Homem Aranha

Mas, que história é essa de vários super-heróis derivados do Homem Aranha? Para isso, foi usada a ideia de vários universos alternativos que acabaram se conectando através de uma máquina que era controlada pelo Gênio do Crime. A máquina estava no Universo do adolescente Miles Morales, e acabou jogando vários “Homens Aranhas” para o Universo de Morales. Era Homem Aranha de tudo quanto é jeito: um Peter Parker barrigudo e separado de Mary Jane, um Homem Aranha da década de 30, meio noir, uma “Menina Aranha” com jeitinho de mangá, um “Porco Aranha” com cara de Gaguinho e uma “Menina Aranha” que era a Gwen Stacy. E todos eles se unem para dar cabo da máquina que pode destruir todos os Universos.

Hein???

Aqui, Morales, o jovem aprendiz de Homem Aranha, é o protagonista máximo de uma história que consegue ser muito dinâmica, engraçada e bem ligada às histórias pregressas do aracnídeo. Ou seja, temos um roteiro muito bem escrito que cativa o espectador, sendo um bom uso da Sony de um personagem tão importante do qual detém os direitos (já estava na hora). O fato de termos uma animação também é uma virtude, pois pôde-se abusar da imaginação e de efeitos especiais de uma forma que não se poderia fazer no live action. Mais um ponto para a Sony e um bom pontapé inicial para o uso dessa mídia (fica a curiosidade do que se poderia ser feito em animação para os X-Men, por exemplo).

Caramba…

Dessa forma, “Homem Aranha no Aranhaverso” é uma grande animação da Sony e finalmente uma produção à altura do material do qual ela possui os direitos. Foi uma linda homenagem a um dos super-heróis mais amados da Marvel e se inaugurou um leque de possibilidades de se fazer boas continuações com os novos personagens apresentados. Esperemos que venham outras animações por aí que possam recuperar franquias como “O Quarteto Fantástico”, por exemplo.

Batata Movies (Especial Oscar 2019) – A Favorita. Briga De Gato E Rato Na Corte.

Cartaz do Filme

Mais um filme concorrente ao Oscar. “A Favorita” concorre a dez estatuetas (Melhor Filme, Melhor Roteiro Original, Melhor Design de Produção, Melhor Figurino, Melhor Direção para Yorgos Lanthimos, Melhor Atriz para Olivia Colman, Melhor Atriz Coadjuvante para Rachel Weisz e Emma Stone, Melhor Fotografia e Melhor Montagem) e venceu o Globo de Ouro para Melhor Atriz de Musical ou Comédia para Olivia Colman. Ou seja, um forte concorrente este ano. Para analisarmos a película, “spoilers” são necessários.

Uma rainha totalmente zureta…

Qual é o plot? Na Inglaterra do século XVIII, a rainha Anne (interpretada por Colman) é uma mulher insegura e despreparada para reinar. Ela tem uma tremenda batata quente nas mãos, pois precisa empreender uma guerra contra a França e busca aumentar os impostos, o que desperta a ira de Harley (interpretado pelo “Fera” Nicholas Hoult). Para ajudar a segurar todos esses problemas, a rainha conta com a ajuda de Lady Sarah (interpretada por Weisz), que praticamente governa o país, além de ser a amante da rainha. Só que esse equilíbrio será fortemente abalado com a chegada de Abigail (interpretada por Stone), uma dama que perdeu toda a sua honra e prestígio para salvar a pele do pai. Tentando retomar seu status social, Abigail vai lançar mão de todos os expedientes, sórdidos ou não, para atingir seus objetivos, embora encontre forte oposição de Lady Sarah. Nesse jogo de gato e rato, essas duas mulheres disputarão com unhas e dentes a atenção e afeição da rainha para almejar mais e mais prestígio na corte.

Uma amante com trejeitos de chefe de estado…

Esse é um filme que tem um certo humor ácido dentro de uma lógica de Antigo Regime. É uma verdadeira aula do que é cortejar e puxar o saco para obter favores da rainha. Mas é também um filme que tem a sua dose de perversidade nas disputas viscerais entre Lady Sarah e Abigail, essa última muito mais sórdida e traiçoeira que sua oponente. Uma sordidez que podia ser engraçada em alguns momentos, mas extremamente nociva em todos. Ainda, o filme espelha muito claramente a máxima de que “Um dia é da caça e o outro do caçador”, onde os papéis de gato e rato se invertem. De qualquer forma, uma vencedora sai na contenda, mas no final das contas, ainda é tratada como uma lacaia pela rainha, numa mostra de que toda a sua estratégia foi por água abaixo. Coisas de Antigo Regime, onde quem dá a palavra final ainda é o monarca, por mais incapacitado que ele esteja.

Uma ambiciosa ex-nobre…

E o elenco? Olivia Colman esteve muito bem como a rainha, engraçada na sua histeria, mas também muito sôfrega com suas doenças e altamente insegura. Ela convenceu em todos esses momentos. Se ela é digna de um Oscar de Melhor Atriz? Pode até ser, mas ainda aposto minhas fichas em Glenn Close.

Fera??? Quem te viu, que te vê (no centro)

Já Rachel Weisz e Emma Stone estão mais cotadas para a estatueta de atriz coadjuvante a meu ver, com uma vantagem de Stone sobre Weisz. A lourinha de cara inocente convenceu muito na sordidez de sua personagem e teve uma atuação simplesmente impecável. A gente ria dela e a odiava ao mesmo tempo, além de temê-la bastante.

Tudo para cair nas graças da rainha…

Dessa forma, “A Favorita” é um bom filme, onde a trama de gato e rato é a atração principal. As atrizes concorrentes a estatueta foram muito bem e o filme também prima por um ótimo figurino, ao qual também está indicado. Confesso que preferi outros filmes ao invés deste, mas é uma película boa e pode abiscoitar alguns Oscars na noite da premiação. Vale a pena a conferida.

Batata Movies (Especial Oscar 2019) – Cafarnaum. Uma Senhora Porrada No Estômago.

Cartaz do Filme

Uma produção libanesa que entra como uma lâmina em nossos corpos. “Cafarnaum” é, até agora e sem a menor sombra de dúvida, o melhor filme desse ano e que concorre ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. É uma película de forte denúncia social que não deixa o espectador indiferente. A miséria e crueldade presentes na película estão lá com a nítida intenção de nos agredir e de nos tirar da indiferença das desigualdades do mundo. Pontaço para a diretora Nadine Labaki, que também co-assina o roteiro. Vamos lançar mão dos spoilers aqui.

Zain, de dar pena e espanto…

O plot gira em torno da trajetória de Zain (interpretado por Zain Al Rafeea), um menino de cerca de doze anos (ele não teve sua certidão de nascimento registrada), que vive numa enorme favela em Beirute com os pais e uma grande quantidade de irmãos. A família vive numa pobreza absoluta e todos precisam trabalhar, até os filhos menorzinhos. Maltratado constantemente pelos pais, Zain tem uma índole violenta e vê sua irmã vendida para o filho do senhorio do apartamento que alugam na primeira menstruação da menina.

A irmã de Zain, com o irmãozinho no colo, será vendida na primeira menstruação…

Revoltado, o menino foge de casa e encontra uma imigrante ilegal que o acolhe. Essa imigrante acaba tem um filho pequeno, Yonas, que Zain passa a cuidar, pois ela precisa trabalhar. Mas a moça acaba presa por ter um visto vencido, deixando Zain e Yonas sozinhos no mundo. Zain então precisa se virar para cuidar de Yonas, precisando sobreviver nas ruas de Beirute. Como se não bastasse todas essas dificuldades, Zain ainda será preso por tentativa de assassinato (os menores vão para a prisão) e, então, ele vai entrar com um processo contra os pais para que eles não tenham mais filhos, já que vivem em miséria absoluta, além do fato de Zain achar que eles não tem qualquer responsabilidade para criar filhos.

Zain e Yonas. Largados no mundo…

Ao buscar agredir o espectador com a crueza da miséria e dos problemas sociais, Labaki uma fórmula que alguns dirão que é um tanto manjada, que é a de usar crianças para comover a plateia. Pode até ser, mas Labaki consegue obter esse resultado sem qualquer clichê ou pieguice. Se ficamos com pena de Zain em alguns momentos, também nos assustamos com toda a revolta do menino. A pena total fica por conta de Yonas, que é uma criança tão pequena que ainda mama no peito e não fala, estando totalmente vulnerável às agruras de um mundo tão cruel.

Os pais de Zain. Também vítimas…

Outro detalhe em que Labaki acertou em cheio é o fato de que ela faz uma história em que não há mocinhos ou bandidos. Mesmo que as atitudes dos pais de Zain sejam odiosas, nós também percebemos que seus atos ocorrem em função dos severos problemas sociais que passam (o que, em absoluto, serve de justificativa para a forma como tratavam os filhos). Houve, apenas, dois “vilões”: os senhorios da família e um camelô que vendia vistos falsos e que queria vender Yonas para uma família. Mas o filme mais relativizou um maniqueísmo do que fez uso dele.

Uma imigrante ilegal…

Um aparente problema é o seu desfecho, onde optou-se por um happy end, o que destoaria de uma película que abraça francamente o choque de realidade. Mas pode-se dizer que essa opção é até compreensível, pois o espectador é tão agredido com desesperança ao longo de toda a película que esse final feliz seria o mínimo que se poderia dar ao espectador, como uma espécie de “prêmio” para o testemunho de tantas mazelas. Mesmo assim, tal happy end se deu nos momentos finais do filme, como se diz no popular “no apagar das luzes” ou “aos 48 minutos do segundo tempo”.

Nadine Labaki em ação. Diretora fenomenal!!!

Dessa forma, “Cafarnaum” (uma palavra que pode ser traduzida como “caos”) é um programa obrigatório e um grande nome para ganhar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro esse ano. A diretora Nadine Labaki consegue agredir o espectador com toda a miséria e problemas sociais usando as crianças para isso sem pieguice. É o típico filme que cumpre sua função social de denúncia. Imperdível.

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Discovery (Temporada 2, Episódio 3). Ponto De Luz. Personagens Surtadas Funcionam Melhor.

Uma klingon mais cabeluda e matrona…

O terceiro episódio de “Jornada nas Estrelas Discovery”, “Ponto de Luz”, trouxe novos elementos. E elementos bons, na minha modesta opinião. Quais seriam eles? Em primeiro lugar, é um episódio que praticamente desenvolve quatro histórias paralelas, o que deixou um monte de pontas soltas que podem ser bem desenvolvidas no futuro. Ainda, nessas histórias vimos explicações que buscaram corrigir problemas gerados por roteiros mal escritos na primeira temporada. E, principalmente, desenvolveu-se mais personagens problemáticos (leia-se Burnham e Tilly) indo em suas fraquezas e fragilidades, o que foi bem interessante.

Ainda o amor com Tyler…

Vamos lá. Que quatro histórias foram essas? A primeira gira em torno de Burnham e Amanda, que apareceu de surpresa para falar de Spock com a filha adotiva. Mesmo que a mamãe Amanda pareça mais jovem que a filha adotiva, devo dizer que gosto muito de como a personagem está sendo levada pela atriz Mia Kirshner. Amanda chega à Discovery para dizer a Burnham que não teve acesso aos dados médicos de Spock e fez a coisa mais lógica a fazer, que foi roubá-los, o que levou Burnham a fazer uma tremenda cara de “Ai, caramba!” que ficou muito engraçada. As duas vão a Pike e pedem permissão a ele para decodificar os dados. O capitão reluta num primeiro momento, mas depois de receber uma recusa da informação sobre a saúde de Spock do centro psiquiátrico, ele decide decodificar os dados. Spock matou três médicos e fugiu, foi a única informação que Pike recebe do centro psiquiátrico. Ao decodificar os dados, foi encontrada a imagem do anjo. Amanda disse que Spock tinha visões sobre isso que o perturbavam imensamente e que ele teve uma infância muito desprovida de emoções e afeto por pressão da sociedade vulcana, o que não aconteceu com Burnham. Já Burnham disse que também viu o anjo e que precisou se afastar de Spock, já que ela era ameaçada por extremistas da lógica. O problema foi a forma como Burnham se afastou de Spock, que o magoou imensamente, mas que não foi revelada no episódio. Burnham diz que vai procurar Spock de qualquer maneira, mas Amanda lhe mete um freio e diz que ela mesma procurará o filho.

A segunda história mostra L’Rell e Tyler sendo questionados pelas casas klingons em seu poder. Como Tyler tem uma tremenda cara de humano, há forte oposição das casas, além do fato de que o machismo klingon vê L’Rell como um fantoche nas mãos de Tyler, que avisa a Burnham o que está acontecendo, pois a Federação deve saber que, se L’Rell cair, a guerra voltará. Para piorar a situação, revela-se um filho entre L’Rell e Tyler, que será sequestrado. Depois de uma batalha mortal pelo resgate do filho, um estranho personagem se revela ao salvar L’Rell, Tyler e o bebê: é a Imperatriz, que propõe a L´Rell uma medida definitiva para salvar Tyler, o bebê e manter o cargo de chanceler nas mãos da Klingon.

A terceira história gira em torno de Tilly, que pira na batatinha com sua amiguinha imaginária, que na verdade se revela uma espécie de fungo multidimensional, sendo extraído de seu corpo por Stamets. Esse fungo é aquele esporo que pousou no ombro da alferes ainda na primeira temporada. O mais curioso é que o fungo em questão acha que Stamets é o capitão da nave por ele conduzir o motor de esporos. O fungo é extraído de Tilly e se revela uma enorme maçaroca disforme (argh!) sendo aprisionado num campo de força.

Amanda e Burnham. Para a construção da protagonista…

E a quarta história, que aparece bem ao finalzinho do episódio? L’Rell diz que foi traída por Tyler e que ele assassinou seu filho, além do klingon com cara de humano ser um espião da Federação. Ela mostra a cabeça do bebê assassinado por Tyler e a cabeça do próprio Tyler. Ainda, ela disse que um membro de uma casa que na verdade sequestrou o bebê, tentou matar Tyler, mas acabou assassinado por ele. Esse foi um argumento usado em favor de uma prova de harmonia entre as casas. Com isso, ela conseguiu unir todas as casas em torno dela, que se nomeou uma espécie de matrona klingon ao invés de chanceler. Depois desse momento, uma nave da Federação aparece com a Imperatriz, Tyler e o bebê em seu interior. Essa nave é da Seção 31, para quem a Imperatriz trabalha agora. Tyler envia o bebê para um monastério klingon, onde a entrada de todos é proibida e a criança poderá viver em segurança. O episódio termina com a Imperatriz arregimentando Tyler para as fileiras da Seção 31.

Ufa! Episódio movimentado, não? O que mais gostei aqui é que inúmeras possibilidades foram abertas para se escrever ótimas histórias. Agora, se isso vai acontecer ou não, já é outro caso. Com relação a quarta história, estava na cara que a Imperatriz ia cair na Seção 31 mesmo (queria só ver como foi a entrevista de emprego) e esse elemento (uma vilã dentro do ambiente da Federação com Tyler a tiracolo, o que desestabilizaria Burnham emocionalmente ainda mais), pode ser uma excelente carta na manga para os próximos episódios. Sem falar que Michelle Yeoh, que é uma baita de uma atriz, sempre que aparece abala bem as estruturas.

Com relação aos klingons, já mais cabeludinhos, mais com cara de klingons (apesar de L´Rell e Tyler ainda falarem “Khalexxx”), creio que foi uma história muito importante para reparar uma derrapada homérica de roteiro no final da primeira temporada, pois não colou nem um pouco aquela historinha de L’Rell conquistar a chancelaria klingon com uma bomba que explodiria tudo. Para assumir o posto de matrona klingon, a presença da Imperatriz foi fundamental. Ela é quem deu a solução salomônica para L’Rell conquistar o poder e não ser mais questionada. Ainda, esse bebê klingon escondido lá no monastério pode ser uma carta na manga para episódios em temporadas futuras (se elas existirem). Eu só espero que o núcleo klingon permaneça na série e interaja com o arco principal do anjo vermelho e dos sinais da galáxia. Já a L’Rell matrona, eu confesso, ao contrário de muitos trekkers mais cascudos que eu, que gostei, pois estabeleceu um quê de matriarcado na sociedade klingon. Tudo bem, eu sei que ele não existe ao longo de toda a franquia (leve exceção feita às irmãs Duras), mas na minha cabeça de historiador a visão dos klingons em Jornada nas Estrelas sempre perpassou dois momentos. Durante a Guerra Fria, eles eram os antagonistas perfeitos da Federação, sendo uma alegoria do Império Soviético. Isso foi até “Jornada nas Estrelas VI, a Terra Desconhecida”, quando vimos o desfecho da “Guerra Fria” entre a Federação e os klingons. A partir daí, passa a haver um segundo momento para os klingons, onde eles se aproximam muito mais da cultura árabe e sua vocação guerreira, com cânticos e poesias celebrando batalhas gloriosas à luz das fogueiras noturnas. Mais tarde, com a introdução de Khaless, a visão klingon flerta até com o islamismo. Eu, pelo menos, nunca vi ninguém criar coragem para mencionar isso no Universo trekker, muito pelo fato, creio eu, de que a cultura árabe e muçulmana é vista como inimiga declarada dos Estados Unidos por algumas pessoas. Mas os elementos estão todos lá. E o que a matrona L’Rell tem a ver com tudo isso? É que suspeita-se que a cultura árabe em seus primórdios tenha sido matriarcal para posteriormente ser patriarcal. Se a L’Rell matrona foi concebida por esse motivo ou pelo empoderamento feminino atual, eu não sei. Provavelmente foi mais pelo último. De qualquer forma, fica o registro da curiosidade.

Uma Tilly zureta que funciona…

Agora, a forma como Burnham e Tilly foram tratadas no episódio foi uma boa surpresa. No caso de Burnham, a presença de Amanda e a conversa das duas de detalhes pregressos de sua família ajudaram a construir um pouco mais a personagem que a série nos coloca como protagonista principal. A exposição de Burnham de suas fraquezas e emoções (ela não pode ser tão perfeita, pois fica muito artificial) é, na minha opinião, um bom caminho para a personagem, pois isso transmite empatia para o público e diminui o déficit da mesma (desculpem a piada sem graça, mas não resiti). Ver que ela falhou ao tomar decisões erradas com relação a Spock por estar pressionada emocionalmente e que ela se ressente disso pode ser um grande trunfo para a personagem conquistar o público. E o episódio foi nessa direção, sem falar que adorei a atitude de Amanda quando ela disse que ia procurar Spock ao invés de Burnham. Ou seja, nem tudo pode ficar nas costas da protagonista como desejam ansiosamente os roteiristas dessa série. Ela precisa dividir responsabilidades com os demais personagens até para interagir positivamente com eles e não ficar só ditando regras e procedimentos como os roteiristas fizeram até agora. Tudo isso engrandecerá a personagem que ainda tem salvação a meu ver.

E Tilly? A adorei nesse episódio! Ela ficou zuretinha e serviu como um bom alívio cômico. O grito (mais outro) que ela deu no Pike na ponte ficou muito engraçado. E suas falas foram bem menos constrangedoras. Sei não, mas parece que Burnham e Tilly à beira de um ataque de nervos funcionam bem melhor. Brincadeiras à parte, creio que Tilly também tem salvação. É só ela se tornar um pouco mais segura, parar de falar aquele monte de bobagens que escrevem para ela e dar continuidade ao quê científico da moça, que deve depender cada vez menos de Burnham. E, sim, deixar sua parte cômica, desde que usada com inteligência. Ainda sobre a historinha de Tilly, a gente não pode esquecer do fungão lá, uma outra ponta solta que pode ser bem trabalhada.

No mais, o episódio tem alguns problemas, como o fato de Tilly ter ganho uma corrida depois de ficar um tempão conversando com sua amiga ou Amanda ter chegado à Discovery sem se identificar, mas um episódio ter problemas é algo normal. Confesso que preferi elencar os pontos que me pareceram positivos.

Imperatriz, agora na Seção 31

Assim, até me arrisco a dizer que “Jornada nas Estrelas Discovery” está conseguindo desenvolver melhoras, mesmo que aos trancos e barrancos. Creio que vimos um episódio importante, que abriu um monte de possiblidades. Esperemos o que vem por aí. Para ver o trailer de “Ponto de Luz”, clique no link abaixo.

https://www.youtube.com/watch?v=AQtIivEAlNk

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Discovery (Temporada 2, Episódio 2). Novo Éden. Chutando A Ordem Geral Um.

A Discovery chega a um planeta no quadrante Beta

O segundo episódio da segunda temporada de “Jornada nas Estrelas Discovery”, “Novo Éden”, foi menos espetacular que o episódio de abertura, “Irmão”. Teve uma duração menor (cerca de 44 minutos contra uma hora de “Irmão”), assim como também houve um gasto menor com efeitos especiais. Dessa forma, houve um espaço maior para o desenvolvimento da história em si e do roteiro, o que nos ajuda a entender melhor essa segunda temporada. Spoilers serão necessários para se discutir o episódio.

Stamets ainda sofre com a perda de Hugh

Qual é o plot? A Discovery detecta o segundo dos estranhos sinais que estão na galáxia. Ele se situa no quadrante Beta, a cerca de 50 mil anos-luz. Para se chegar lá, o motor de esporos foi utilizado, o que encuca Stamets, pois ele vê seu antigo companheiro Hugh e conversa com o mesmo, ainda que depois de morto, na rede micelial. Chegando ao local do sinal, a Discovery encontra um planeta de classe M com uma pacata população humana e um sinal de socorro que é transmitido há duzentos anos. Pike, Burnham e Owosekum descem à superfície e encontram uma igreja que é uma compilação de várias religiões terrestres. Ao estabelecer contato com a civilização do planeta, eles descobrem que os antepassados dos nativos vieram da Terra de 2053, que estava em plena Terceira Guerra Mundial, e eles foram levados para Terralísio (o presente planeta do quadrante Beta) por um misterioso anjo. Como se trata de uma civilização pré-dobra e a Ordem Geral Um se aplica, Pike acha melhor deixar a civilização, com ela mesmo buscando seu desenvolvimento sem qualquer interferência externa. Mas Burnham, com uma visão mais científica, acha que a civilização tem o direito de saber sobre a existência da Terra e de toda a sua tecnologia. Essa pinimba ética será resolvida entre o grupo avançado da Discovery e Jacob, um habitante local que é descendente de cientistas e mantém o sinal de socorro ligado há duzentos anos. Em troca de uma bateria, que vai dar a energia elétrica de volta àquela civilização, Jacob dará o capacete de um soldado com uma câmara que pertencia aos antepassados e que estava com defeito. Pike aceita essa violação da Ordem Geral Um depois de ser convencido por Burnham que disse que viu o tal do anjo no asteroide do primeiro sinal lá no episódio “Irmão” e eles precisam investigar a natureza daqueles sinais, além de desvendar o mistério do ser alado. Ao consertar a câmara do capacete, Pike vê um grupo de pessoas em desespero dentro da mesma igreja de Terralísio durante a Guerra na Terra em 2053 e, de repente, a igreja decola com a aparição da figura do anjo.

Uma igreja bem ecumênica…

O que dizer desse episódio? Em primeiro lugar, ele segue o arco principal dos sinais que surgem pela galáxia e da figura do anjo. Creio que seria interessante que essa espinha dorsal fosse seguida ao longo da temporada para que uma história mais coesa seja bem construída, com um ou outro episódio mais destacado dessa linha aqui ou ali. Em segundo lugar, é um episódio que lança questões reflexivas, como comparações entre fé e ciência e a obediência ou violação da Ordem Geral Um, temas mais caros ao Universo de Jornada nas Estrelas. Houve um problema, entretanto. Pike pareceu excessivamente religioso (um capitão da Frota Estelar teria que ser um pouco mais comedido e centrado nessa questão) e Burnham continuou com sua empáfia habitual ao defender excessivamente a visão científica e a violação da Ordem Geral Um. Tudo bem que vários personagens já violaram a Ordem Geral Um ao longo de toda a franquia, mas o problema aqui é que Burnham descarta de forma muito sumária uma Ordem tão importante para a Frota. Mais uma mostra de que essa personagem ainda precisa de ajustes e é um problema muito sério nessa série, despertando muita antipatia. Há, também, um desenvolvimento na personagem de Tilly como uma cientista mais qualificada. Sensibilizada com a situação de Stamets, que sofre ao ver Hugh na rede micelial, ela quer porque quer analisar a amostra do asteroide que está no hangar da Discovery, que é altamente energético e é tomado por uma densa matéria escura, o que lhe dá uma enorme força gravitacional. Tilly, inclusive, vai salvar a população de Terralísio, que é circundado por anéis de material radioativo, onde parte desse material se precipitaria sobre a superfície do planeta e mataria a todos. Tilly falará para Saru usar o asteroide no hangar da Discovery para atrair o material radioativo. O mais curioso é que apareceu uma amiguinha da Tilly, que é uma espécie de versão morena dela e muito mais estranha. Essa amiguinha seria uma amizade de infância, mas pelos registros da Frota, a mocinha já havia morrido, o que aumenta o mistério.

Um Pike excessivamente religioso…

Ao ver esses episódios da segunda temporada de “Discovery”, sente-se que houve uma pequena melhora, pois os temas das histórias se aproximam mais do que víamos nas demais séries de Jornada nas Estrelas: um mistério a se desvendar, discussão de temas mais reflexivos, questões de ordem ética. Mas ainda há problemas sérios, como o mau desenvolvimento da personagem principal, Michael Burnham, que é excessivamente perfeita e fica um pouco antipática por isso. Virtudes e defeitos de um personagem devem ser construídos ao longo do tempo. Outra coisa, houve a oportunidade de se construir mais uma das personagens da ponte, Owosekum, pois ela esteve no grupo avançado, e essa oportunidade não foi aproveitada. Temos uma grande variedade de personagens na ponte da Discovery que, em plena segunda temporada, ainda são ilustres desconhecidos. E a Tilly? É um alívio cômico? Tudo bem que seja. Entretanto, ela poderia amadurecer um pouco mais, ainda mais porque agora estão querendo dar a ela um status de cientista. Alguns diálogos de Tilly são excessivamente constrangedores e isso Mary Wiseman não merece (assim como Sonequa Martin-Green não merece uma construção também imperfeita de sua personagem).

Bom, vamos ver o que nos aguarda no próximo episódio. Até lá!