Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Discovery (Temporada 2, Episódio 3). Ponto De Luz. Personagens Surtadas Funcionam Melhor.

Uma klingon mais cabeluda e matrona…

O terceiro episódio de “Jornada nas Estrelas Discovery”, “Ponto de Luz”, trouxe novos elementos. E elementos bons, na minha modesta opinião. Quais seriam eles? Em primeiro lugar, é um episódio que praticamente desenvolve quatro histórias paralelas, o que deixou um monte de pontas soltas que podem ser bem desenvolvidas no futuro. Ainda, nessas histórias vimos explicações que buscaram corrigir problemas gerados por roteiros mal escritos na primeira temporada. E, principalmente, desenvolveu-se mais personagens problemáticos (leia-se Burnham e Tilly) indo em suas fraquezas e fragilidades, o que foi bem interessante.

Ainda o amor com Tyler…

Vamos lá. Que quatro histórias foram essas? A primeira gira em torno de Burnham e Amanda, que apareceu de surpresa para falar de Spock com a filha adotiva. Mesmo que a mamãe Amanda pareça mais jovem que a filha adotiva, devo dizer que gosto muito de como a personagem está sendo levada pela atriz Mia Kirshner. Amanda chega à Discovery para dizer a Burnham que não teve acesso aos dados médicos de Spock e fez a coisa mais lógica a fazer, que foi roubá-los, o que levou Burnham a fazer uma tremenda cara de “Ai, caramba!” que ficou muito engraçada. As duas vão a Pike e pedem permissão a ele para decodificar os dados. O capitão reluta num primeiro momento, mas depois de receber uma recusa da informação sobre a saúde de Spock do centro psiquiátrico, ele decide decodificar os dados. Spock matou três médicos e fugiu, foi a única informação que Pike recebe do centro psiquiátrico. Ao decodificar os dados, foi encontrada a imagem do anjo. Amanda disse que Spock tinha visões sobre isso que o perturbavam imensamente e que ele teve uma infância muito desprovida de emoções e afeto por pressão da sociedade vulcana, o que não aconteceu com Burnham. Já Burnham disse que também viu o anjo e que precisou se afastar de Spock, já que ela era ameaçada por extremistas da lógica. O problema foi a forma como Burnham se afastou de Spock, que o magoou imensamente, mas que não foi revelada no episódio. Burnham diz que vai procurar Spock de qualquer maneira, mas Amanda lhe mete um freio e diz que ela mesma procurará o filho.

A segunda história mostra L’Rell e Tyler sendo questionados pelas casas klingons em seu poder. Como Tyler tem uma tremenda cara de humano, há forte oposição das casas, além do fato de que o machismo klingon vê L’Rell como um fantoche nas mãos de Tyler, que avisa a Burnham o que está acontecendo, pois a Federação deve saber que, se L’Rell cair, a guerra voltará. Para piorar a situação, revela-se um filho entre L’Rell e Tyler, que será sequestrado. Depois de uma batalha mortal pelo resgate do filho, um estranho personagem se revela ao salvar L’Rell, Tyler e o bebê: é a Imperatriz, que propõe a L´Rell uma medida definitiva para salvar Tyler, o bebê e manter o cargo de chanceler nas mãos da Klingon.

A terceira história gira em torno de Tilly, que pira na batatinha com sua amiguinha imaginária, que na verdade se revela uma espécie de fungo multidimensional, sendo extraído de seu corpo por Stamets. Esse fungo é aquele esporo que pousou no ombro da alferes ainda na primeira temporada. O mais curioso é que o fungo em questão acha que Stamets é o capitão da nave por ele conduzir o motor de esporos. O fungo é extraído de Tilly e se revela uma enorme maçaroca disforme (argh!) sendo aprisionado num campo de força.

Amanda e Burnham. Para a construção da protagonista…

E a quarta história, que aparece bem ao finalzinho do episódio? L’Rell diz que foi traída por Tyler e que ele assassinou seu filho, além do klingon com cara de humano ser um espião da Federação. Ela mostra a cabeça do bebê assassinado por Tyler e a cabeça do próprio Tyler. Ainda, ela disse que um membro de uma casa que na verdade sequestrou o bebê, tentou matar Tyler, mas acabou assassinado por ele. Esse foi um argumento usado em favor de uma prova de harmonia entre as casas. Com isso, ela conseguiu unir todas as casas em torno dela, que se nomeou uma espécie de matrona klingon ao invés de chanceler. Depois desse momento, uma nave da Federação aparece com a Imperatriz, Tyler e o bebê em seu interior. Essa nave é da Seção 31, para quem a Imperatriz trabalha agora. Tyler envia o bebê para um monastério klingon, onde a entrada de todos é proibida e a criança poderá viver em segurança. O episódio termina com a Imperatriz arregimentando Tyler para as fileiras da Seção 31.

Ufa! Episódio movimentado, não? O que mais gostei aqui é que inúmeras possibilidades foram abertas para se escrever ótimas histórias. Agora, se isso vai acontecer ou não, já é outro caso. Com relação a quarta história, estava na cara que a Imperatriz ia cair na Seção 31 mesmo (queria só ver como foi a entrevista de emprego) e esse elemento (uma vilã dentro do ambiente da Federação com Tyler a tiracolo, o que desestabilizaria Burnham emocionalmente ainda mais), pode ser uma excelente carta na manga para os próximos episódios. Sem falar que Michelle Yeoh, que é uma baita de uma atriz, sempre que aparece abala bem as estruturas.

Com relação aos klingons, já mais cabeludinhos, mais com cara de klingons (apesar de L´Rell e Tyler ainda falarem “Khalexxx”), creio que foi uma história muito importante para reparar uma derrapada homérica de roteiro no final da primeira temporada, pois não colou nem um pouco aquela historinha de L’Rell conquistar a chancelaria klingon com uma bomba que explodiria tudo. Para assumir o posto de matrona klingon, a presença da Imperatriz foi fundamental. Ela é quem deu a solução salomônica para L’Rell conquistar o poder e não ser mais questionada. Ainda, esse bebê klingon escondido lá no monastério pode ser uma carta na manga para episódios em temporadas futuras (se elas existirem). Eu só espero que o núcleo klingon permaneça na série e interaja com o arco principal do anjo vermelho e dos sinais da galáxia. Já a L’Rell matrona, eu confesso, ao contrário de muitos trekkers mais cascudos que eu, que gostei, pois estabeleceu um quê de matriarcado na sociedade klingon. Tudo bem, eu sei que ele não existe ao longo de toda a franquia (leve exceção feita às irmãs Duras), mas na minha cabeça de historiador a visão dos klingons em Jornada nas Estrelas sempre perpassou dois momentos. Durante a Guerra Fria, eles eram os antagonistas perfeitos da Federação, sendo uma alegoria do Império Soviético. Isso foi até “Jornada nas Estrelas VI, a Terra Desconhecida”, quando vimos o desfecho da “Guerra Fria” entre a Federação e os klingons. A partir daí, passa a haver um segundo momento para os klingons, onde eles se aproximam muito mais da cultura árabe e sua vocação guerreira, com cânticos e poesias celebrando batalhas gloriosas à luz das fogueiras noturnas. Mais tarde, com a introdução de Khaless, a visão klingon flerta até com o islamismo. Eu, pelo menos, nunca vi ninguém criar coragem para mencionar isso no Universo trekker, muito pelo fato, creio eu, de que a cultura árabe e muçulmana é vista como inimiga declarada dos Estados Unidos por algumas pessoas. Mas os elementos estão todos lá. E o que a matrona L’Rell tem a ver com tudo isso? É que suspeita-se que a cultura árabe em seus primórdios tenha sido matriarcal para posteriormente ser patriarcal. Se a L’Rell matrona foi concebida por esse motivo ou pelo empoderamento feminino atual, eu não sei. Provavelmente foi mais pelo último. De qualquer forma, fica o registro da curiosidade.

Uma Tilly zureta que funciona…

Agora, a forma como Burnham e Tilly foram tratadas no episódio foi uma boa surpresa. No caso de Burnham, a presença de Amanda e a conversa das duas de detalhes pregressos de sua família ajudaram a construir um pouco mais a personagem que a série nos coloca como protagonista principal. A exposição de Burnham de suas fraquezas e emoções (ela não pode ser tão perfeita, pois fica muito artificial) é, na minha opinião, um bom caminho para a personagem, pois isso transmite empatia para o público e diminui o déficit da mesma (desculpem a piada sem graça, mas não resiti). Ver que ela falhou ao tomar decisões erradas com relação a Spock por estar pressionada emocionalmente e que ela se ressente disso pode ser um grande trunfo para a personagem conquistar o público. E o episódio foi nessa direção, sem falar que adorei a atitude de Amanda quando ela disse que ia procurar Spock ao invés de Burnham. Ou seja, nem tudo pode ficar nas costas da protagonista como desejam ansiosamente os roteiristas dessa série. Ela precisa dividir responsabilidades com os demais personagens até para interagir positivamente com eles e não ficar só ditando regras e procedimentos como os roteiristas fizeram até agora. Tudo isso engrandecerá a personagem que ainda tem salvação a meu ver.

E Tilly? A adorei nesse episódio! Ela ficou zuretinha e serviu como um bom alívio cômico. O grito (mais outro) que ela deu no Pike na ponte ficou muito engraçado. E suas falas foram bem menos constrangedoras. Sei não, mas parece que Burnham e Tilly à beira de um ataque de nervos funcionam bem melhor. Brincadeiras à parte, creio que Tilly também tem salvação. É só ela se tornar um pouco mais segura, parar de falar aquele monte de bobagens que escrevem para ela e dar continuidade ao quê científico da moça, que deve depender cada vez menos de Burnham. E, sim, deixar sua parte cômica, desde que usada com inteligência. Ainda sobre a historinha de Tilly, a gente não pode esquecer do fungão lá, uma outra ponta solta que pode ser bem trabalhada.

No mais, o episódio tem alguns problemas, como o fato de Tilly ter ganho uma corrida depois de ficar um tempão conversando com sua amiga ou Amanda ter chegado à Discovery sem se identificar, mas um episódio ter problemas é algo normal. Confesso que preferi elencar os pontos que me pareceram positivos.

Imperatriz, agora na Seção 31

Assim, até me arrisco a dizer que “Jornada nas Estrelas Discovery” está conseguindo desenvolver melhoras, mesmo que aos trancos e barrancos. Creio que vimos um episódio importante, que abriu um monte de possiblidades. Esperemos o que vem por aí. Para ver o trailer de “Ponto de Luz”, clique no link abaixo.

https://www.youtube.com/watch?v=AQtIivEAlNk

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