Outro filme que concorre ao Oscar. “Vice” disputa oito estatuetas (Melhor Filme, Melhor Diretor para Adam McKay, Melhor Roteiro Original para Adam Mckay, Melhor Montagem, Melhor Maquiagem e Cabelo, Melhor Ator para Christian Bale, Melhor Ator Coadjuvante para Sam Rockwell e Melhor Atriz Coadjuvante para Amy Adams). É mais um filme do diretor de “A Grande Aposta”, uma película que explicou, de forma bem didática, a crise no mercado imobiliário americano, que tomou proporções mundiais. Agora, Mckay fala da trajetória de Dick Cheney, político de carreira que chegou ao cargo de vice-presidente na gestão de George W. Bush. Mas ele era um vice-presidente diferente. Ao invés de ser uma figura meramente decorativa, Cheney conseguiu convencer Bush de concentrar em sua mão vários poderes como funções burocráticas, controle de energia, exército, etc., ou seja, ele praticamente mandava nos Estados Unidos, além de influenciar Bush diretamente em todas as decisões. Foi Cheney, por exemplo, que começou com a história de que o Iraque devia ser invadido em virtude do seu suposto arsenal de armas químicas. Esse ataque provocou a morte de milhares de pessoas (americanas e iraquianas) e a gênese do Estado Islâmico. O filme deixava claro que Cheney sempre tomava as suas decisões tendo como norte a busca por boas oportunidades ou acumulação de poder. E aí, ele podia tomar atitudes bem sórdidas.
É uma película de forte tom ácido e crítico, mostrando, desde o início, a natureza pesada da personalidade de Cheney. Para isso, tivemos um excelente trabalho de maquiagem que caracterizou muito bem Christian Bale (que interpretou Cheney), Amy Adams (que interpretou a esposa de Cheney) e Steve Carell (que interpretou Donald Rumsfeld). Mas toda a maquiagem não seria suficiente para garantir integralmente uma boa caracterização.
Os trabalhos de Bale, Adams e Carell foram simplesmente magníficos, fazendo jus à indicação ao Oscar para os dois primeiros. Notável, também, foi o trabalho de Sam Rockwell fazendo o papel de George W. Bush. Parece que víamos o próprio na telona em toda a sua idiotice. Assim, “Vice” é mais um daqueles filmes em que o trabalho dos atores é a atração principal. Mas “Vice” também é um filme de humor. Um humor que, na maioria das vezes é bem ácido e negro, mas que também terá momentos de um humor escrachado que beira o besteirol, como no (alerta de spoiler) happy end falso bem no meio da exibição da película, passando pelo jeito um tanto “informal” como os intertítulos do filme se relacionam com o espectador, chegando ao final (tacanho) do narrador da história e seu verdadeiro papel no filme, aqui puxando mais para o humor negro.
Um momento muito forte da película é uma quebra de quarta parede promovida por Cheney, onde ele afronta o espectador que o julga por todos os seus malfeitos. A postura muito firme de Bale desafia quem está na sala e chega a ser assustadora. E é interessante, também, vermos artistas consagrados fazendo pontas no filme, como um Alfred Molina que é um maitre de restaurante que Cheney está com os seus pares e anuncia no menu todas as falcatruas e jogadas que nosso (?) protagonista faz, ou uma Naomi Watts que faz a âncora da Fox News, canal de TV americano reconhecidamente de direita.
Assim, “Vice” é mais um bom filme de Adam McKay, que tem um forte conteúdo crítico político, da mesma forma que o ocorrido em “A Grande Aposta”. Ou seja, denúncia pura, e uma denúncia feita com a ajuda de atores que já trabalharam com Mckay como Christian Bale, Amy Adams e Steve Carell, em excelentes atuações. Filme para abiscoitar um Oscar de Ator ou Maquiagem, pelo menos. Programa imperdível.