Batata Movies – Museu. Inconsequências De Dimensões Pré-Colombianas.

Cartaz do Filme

Um filme mexicano. “Museu” é estrelado pelo galã Gael Garcia Bernal, e se vende como uma história 100% verídica, embora ele lance algumas dúvidas sobre isso no transcorrer da exibição. A película vai contar a história do furto, realizado em 1985 no Museu Nacional de Antropologia do México, que abriga valiosíssimas peças pré-colombianas. São subtraídas 140 peças de valor inestimável por dois amigos que, embora tenham sido muito profissionais na hora de retirar os artefatos do museu, se revelaram extremamente incompetentes depois do furto em si, não sabendo muito o que fazer com as peças

Juan, um carinha meio perdido…

Juan Nuñez (interpretado por Bernal) tem uma família muito esquisita. As pessoas meio que se agridem em plena noite de Natal, ele tem conflitos com os familiares, ao bom estilo de um pós-adolescente que não sabe muito bem o que quer da vida. Ele tem um amigo, Benjamin Wilson (interpretado por Leonardo Ortizgris), que o acompanha em noitadas e doideiras, além de ter um pai muito doente em casa. Vai ser essa dupla, aparentemente sem muita noção, que vai realizar o furto dos artefatos pré-colombianos.

Um assalto bem sucedido

Essa ação será até relativamente fácil (por incrível que pareça). O problema vai ser vender isso para colecionadores de forma ilegal, por se tratar de um patrimônio inestimável da cultura mexicana e pelo fato de toda a polícia do mundo estar atrás dos dois. Aí, nossos dois protagonistas passarão pelas mais estranhas situações, onde os artefatos valiosíssimos entrarão na mesma vibe. E assistimos, incrédulos, às situações inusitadas que aparecem na película, sendo que, se foram realmente verídicas como o filme aponta, o México esteve muito perto de perder seu patrimônio histórico da forma mais tosca possível, o que dá uma certa dor no coração. O mais curioso é o toque contraditório de Juan, pois ele furta peças de valor inestimável mas não quer vê-las nas mãos dos “gringos”, sendo esse paradoxo um atrativo a mais no filme.

Uma negociação fracassada…

De qualquer forma, a película mostra um ritmo um pouco lento, um roteiro um tanto enrolado (Guilherme Tell com cubo mágico é sacanagem) e o trailer muito bem feito, pois o filme parecia ser algo muito maior do que o visto. A película vale pela cena do furto em si, bem elaborada, e pelas cenas dos sítios arqueológicos mexicanos, para lá de grandiosos. O desfecho até foi interessante, pois põe em dúvida a veracidade da histórica contada, assinalada taxativamente como verídica em seu início, e nos dá a tentação de conhecê-la um pouco mais. Ah, sim, não podemos nos esquecer da participação meteórica, mas muito marcante, do bom ator Alfredo Castro, como o pai de Juan. A última vez que escutei a expressão “hijo de puta”, assim no original em espanhol e tantas vezes foi num jogo da Taça Libertadores da América que assisti na televisão.

O que fazer com peças tão valiosas e procuradas???

Dessa forma, se “Museu” parece um pouco menos do que o trailer vendia, ainda assim foi um filme relativamente interessante, pela quantidade de situações muito inusitadas que a película apresenta. Além disso, o jogo de gato e rato entre ficção e realidade foi um atrativo a mais, assim como o tema trabalhado (as relíquias pré-colombianas), que nos colocaram em sintonia com a impressionante antropologia mexicana, uma espécie de personagem e atração à parte do filme. Vale a pena dar uma conferida.

Batata Movies – Nós. Quem É Quem?

Cartaz do Filme

O diretor afro-americano Jordan Peele muito chamou a atenção há algum tempo com seu filme “Corra”, onde ele mesclou o gênero de terror com questões de cunho mais social como o racismo, provando que, ao contrário que nosso senso comum pode dizer, tais gêneros são inteiramente compatíveis, principalmente quando você tem um roteiro bem escrito. Agora, Peele está de volta com o surpreendente “Nós”, lançando mais uma vez mão do gênero de terror. Mais uma vez, os spoilers serão necessários aqui.

Uma mulher atormentada…

O plot é o seguinte. A menina Adelaide Wilson (interpretada por Lupita Nyong’o em sua fase adulta) passeia com os pais por um parque de diversões no longínquo ano de 1986. Num momento de distração do pai, ela se afasta e entra na sala de espelhos do parque, quando encontra uma figura que é igualzinha a ela e não é meramente a sua imagem refletida. Passando para os dias atuais, Adelaide está casada e volta a mesma região para passar férias com a família. Ela se sente muito desconfortável ao retornar para lá e rememorar seu trauma de infância. Na casa onde ficam, que, obviamente, é afastada de tudo, a família de Adelaide recebe uma estranha visita: uma família homicida vestida de vermelho, que é igualzinha a eles. Uma perseguição vai começar, num jogo de gato e rato pela vida e pela morte.

Crise de identidade…

Confesso que não sou muito fã de filmes de terror, acho-os muito bobos, embora alguns vistam essa camisa e descambem para o besteirol, quando a coisa acaba ficando até interessante. O detalhe nas películas de Jordan Peele é que há algo a mais em seus filmes de terror. A crítica social está lá, velada. Quando você tem a si mesmo como seu próprio algoz, por exemplo, há uma ideia de que você, enquanto membro da sociedade, tem uma parcela de culpa sobre as mazelas que ela provoca. É claro que isso tem sido usado mais para um modelo americano, com todas as monstruosidades que os Estados Unidos praticam sendo consequência de sua própria sociedade. Entretanto, creio que tal modelo pode ser expandido para o lado podre de outras sociedades também. É um filme sob nosso lado ruim e nebuloso. Os próprios pares malignos vêm das profundezas, de uma rede de túneis que existem atravessando todos os Estados Unidos, uma interessante informação que a película nos fornece logo em seu início. Foi brilhante também a ideia de associar as criaturas das profundezas ao “De Mãos Dadas Pela América Contra a Fome”, de 1986. Ali podemos interpretar como uma espécie de alusão à hipocrisia da sociedade americana, pois é muito melhor você como indivíduo fazer algo concreto contra a fome do que algo meramente simbólico que não terá efeito prático a curto prazo. Quando discutimos tais questões de uma certa profundidade num filme de terror, vemos como o trabalho de Peele é diferenciado e de como ele reinventa esse gênero, mais ligado ao entretenimento e ao mau gosto de se dar susto nos outros em algo mais reflexivo, com tudo inteligentemente colocado nas entrelinhas. Como se tudo isso não fosse notável, Peele ainda consegue colocar um fenomenal plot twist ao fim da exibição, o que aumenta ainda mais a encucação do espectador. Definitivamente, “Nós” é uma apologia à crise de identidade.

Nyong’o em dose dupla de talento…

E os atores? A mais famosa e maravilhosa é Nyong’o, curiosamente nascida no México, mas africanaça de raiz, o que lhe dá um sabor todo especial à sua grande beleza e talento. Sem dúvida nenhuma, fez o melhor trabalho entre todos do elenco. Ela tinha que ser a mãe que tinha medo de um passado distante e, ao mesmo tempo, a criatura sombria de voz rouca que era a porta-voz dos seres das profundezas. Agora, cá para nós, se pensarmos que todo o elenco principal teve que fazer dois papéis, podemos dizer que houve um grande esforço por parte de todos e um grande desafio de interpretação. Curiosamente, a tarefa mais fácil ficou para os atores que faziam os pais, pois a versão sombria deles era demasiadamente troglodita. Confesso que não entendi porque os chefes de família do mal eram tão brucutus. Por outro lado, foi impressionante a atuação dos dois filhos do casal protagonista, principalmente na sua versão sombria. A menina, Shahadi Wright Joseph, usava muito de sua expressão facial para dar medo. Já o menino, Evan Alex, surpreendeu na linguagem corporal para meter medo, já que seu rosto era coberto por uma máscara. O moleque ficou macabro para chuchu.

De mãos dadas pela América…

Assim, “Nós” é o tipo de filme que o cinéfilo que não dá muita trela para filme de terror (como eu) pode assistir tranquilo, pois o que importa aqui não é o terror explícito do filme, mas toda uma temática social altamente reflexiva que está implícita nas entrelinhas. Jordan Peele gradativamente se consagra mais e mais como um dos grandes diretores de sua geração. Programa imperdível.

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Discovery (Temporada 2, Episódio 12) “Pelo Vale Das Sombras”. Encarando Uma Dura Realidade.

L’Rell de volta…

E chegamos ao décimo-segundo episódio de “Jornada nas Estrelas Discovery”, “Pelo Vale das Sombras”. O que pode ser dito do antepenúltimo episódio? Foi melhor que o anterior, mas teve o problema de desenvolver pouco a história. Na prática, só foi obtido um cristal do tempo para se enviar os dados da esfera para o futuro. Entretanto, apareceu mais um fator complicador, que é o procedimento de autodestruição da nave. Será que ele irá para a frente? Confesso que esse desfecho me deu vontade de assistir ao próximo episódio. Mas ainda os nobres roteiristas jogam muita informação nova e as coisas já deveriam ser mais bem trabalhadas para se encaminhar para um desfecho bem amarrado.

Vamos ao plot. Surge o quarto sinal sobre o planeta klingon Boreth, onde Tyler deixou seu filho. Burnham diz que perseguir o sinal é perda de tempo e eles devem ir atrás de Leland.  Mas Saru lembra que os dados da esfera estão na Discovery e ir atrás de Leland é colocar os dados nas mãos dele. Pike diz que irá atrás do sinal, pois precisa focar na missão. Tyler fala da presença do monastério a Khalexxx (pois é, os klingons dessa série não dizem Khaless de jeito nenhum) e diz que irá pedir autorização a L’Rell para a Discovery chegar ao planeta. Michael fala a Tyler que ele está escondendo algo e ele conta toda a história do filho em Boreth, para que Burnham (que carrega toda a responsabilidade do Universo em suas costas) possa levar esse fardo junto com ele. Durante a conversa, Tyler vê que uma nave da Seção 31 não se apresentou no seu local designado. Burnham quer investigar. L’Rell chega à Discovery e diz que o monastério é o local mais sagrado do Império Klingon e de difícil acesso. L´Rell também diz que o monastério existe lá, pois ele protege um cristal muito precioso, o cristal do tempo (e sabemos que a Discovery precisa do cristal para transferir os dados da esfera para o futuro). L´Rell diz que manipular o tempo é uma arma muito poderosa e que os klingons não a usam mais por causa disso (hein? Klingon que é klingon raiz seria o primeiro a usar uma arma poderosa numa guerra; pode-se até discutir qual é a honra em usar uma arma mais poderosa que o inimigo, mas se Kruge quis usar o torpedo Gênese como arma…). Tyler se oferece para ir e L´Rell discorda, pois colocaria a vida do filho deles em risco. Tyler insiste em descer para ver o filho (parece que ele foi infectado pelo vírus de petulância e desrespeito à hierarquia de Burnham). Os dois começam uma DR em klingon. Pike não aguenta isso e acaba se oferecendo para ir. L’Rell diz que é perigoso ir lá e nem ela, que é chanceler, consegue controlar os monges. Ela alerta que ninguém tirou um cristal do tempo de lá sem um enorme sacrifício.

DR com Tyler…

Michael leva o caso do atraso da nave da Seção 31 a Saru e lhe pede para investigar com uma nave auxiliar. Saru dá a permissão numa boa, pois acha que eles devem atacar primeiro (consequência da queda dos gânglios). Mas ele pede a ela que não deixe que sua “compreensível” raiva afete suas decisões (como sempre, todo mundo dando razão a Michael).

Pike chega ao monastério e encontra o guardião dos cristais (T’Navik) que, obviamente, diz que tirar um cristal de lá é perda de tempo. Ele diz ainda que todos que tentam tirar algum cristal de lá precisam fazer um teste, chegam cheio de convicções mas saem arrasados. Pike insiste em fazer o tal teste. Sei não, esperava um pouco mais de resistência de T’Navik aí. Talvez uma cena de lutinha caísse bem nesse contexto. Em tempo, T’Navik é o filho de Tyler (efeito dos cristais do tempo).

Enquanto isso, Spock insiste em ir com Michael, não sem a oportunidade de irritá-la um pouco, o que sempre é hilário. Mas os dois vão juntos. A nave auxiliar de Michael e Spock chega à nave da Seção 31 e encontra a tripulação expelida para o espaço e congelada. Um dos corpos está vivo e é transportado para a nave auxiliar. É o tenente Gant, ex-oficial tático da Shenzhou. Ele disse que estava limpando uma sub-rotina suspeita (poderia ser algo do Controle) quando foram expelidos da nave. Gant teve tempo de entrar num traje espacial antes de ser expelido. Dá para perceber como é uma História da Carochinha desde cedo. Michael insiste em inspecionar a nave da Seção 31 e Gant precisa ir, pois ele conhece os protocolos.

T’Navik

No refeitório, todos riem menos Stamets, por motivos óbvios. Reno (de volta depois de um milhão de episódios, uma boa personagem jogada e desperdiçada pela nave) senta com ele e nota que Stamets ainda não superou a perda de Culber. Reno vai à enfermaria dizendo que está com a cutícula para cortar, pois precisa de um “pretexto” para dizer a Culber como ele está sendo babaca com o Stamets. Culber nota que ela tem uma aliança e é casada. Reno fala que tinha uma companheira, mas que ela morreu na guerra klingon. Reno diz que Culber tem uma segunda chance mas não pode durar para sempre e que não é para estragar isso.

Pike e T’Navik chegam a uma sala cheia de cristais. T’Navik pede para que Pike toque em um cristal. Ele o faz e vivencia o acidente que ainda irá sofrer (boa referência da série clássica). Pike se vê na cadeira, com o rosto derretendo e pira na batatinha. T’Navik diz que se ele desistir do cristal, ele foge desse futuro. Mas se pegar o cristal, estará com o futuro selado. Pike diz que é um capitão da frota, acreditando em servir, se sacrificar, na compaixão e no amor (que fofo!) e pede o cristal a T’Navik, que o dá e admira a sua honra.

Michael, Spock e Gant entram na nave da Seção 31, que se liga sozinha e entra em dobra

Um capitão encarando seu destino…

O Controle tem a posse da nave da Seção 31. Michael e Spock decidem “prender” o Controle em uma armadilha e assumir a nave de volta. Enquanto Spock monta a armadilha, Michael fica sozinha com Gant, que é o Controle (eu disse que era História da Carochinha Gant vestir um traje espacial enquanto era expelido para o espaço). Michael percebe isso quando Gant elogia a Seção 31 e o Controle. Gant diz que a atraiu para a nave para que ela seja “assimilada” pelo Controle e possa trazer os dados da esfera para ele. Começa um tiroteio de phasers a la Star Wars, ou seja, de feixe não contínuo, lembrando sempre que os feixes dos phasers de Jornada nas Estrelas são contínuos, mas fazer o que? Gant domina Michael (umas porradinhas para não perder o hábito) e tenta injetar nano sondas nela. Spock tanta salvá-la com o toque neural em Gant, mas ele não tem terminações nervosas e torce o braço de Spock, atirando-o longe. Michael fuzila Gant com dois phasers aos berros (bem ao estilo do Rambo) e as nano sondas (ou nano bots, segundo Spock) saem dele para ir em direção a Michael. Spock magnetiza o chão onde estão as nano sondas e elas pifam. Spock, ao saber que o Controle tentou transformar Michael, a vê como a variável que o Controle não consegue dominar. Michael conclui (não sei por que) que os sinais podem terminar o que a mãe dela começou.

Pike conta a L’Rell que viu o filho deles e que ele pediu para devolver a eles o símbolo de Portador da Chama que Tyler deixou em Boreth junto ao filho. O símbolo ajudou T’Navik a achar o seu caminho e agora não precisa mais dele. Pike disse que o filho deles tinha que estar lá para guiá-lo, como se tudo estivesse predestinado.

Michael, de volta a Discovery, diz que o Controle pode entrar em qualquer um e que a nave que ele capturou foi para além da fronteira da Federação. Muitas naves da Seção 31 aparecem no tático. Burnham argumenta que não há outra opção a não ser destruir a nave. Pike dá a ordem para a evacuação e autodestruição da Discovery.

Como podemos ver, mais um episódio em que surgem informações novas (T’Navik, autodestruição da Discovery) e, para desenvolvimento efetivo do plot principal, somente a obtenção do cristal do tempo. Mas esse episódio teve algo muito bem, que foi dar ao Pike a chance dele ver o seu futuro trágico e, ainda assim, optar por enfrentá-lo, pois ser um capitão da Frota Estelar implica em sacrifícios. Tá bom que a parte do amor ficou piegas demais. Entretanto, ainda assim a cena assumiu um tom solene que valeu a pena. E foi num momento em que a aparição de Michael era zero. Ou seja, a coisa melhorou quando se deu espaço para um personagem, ainda mais da série clássica, onde o fan service foi muito bem executado.

Esse também foi um episódio onde os klingons foram bem trabalhados. Apesar de ainda falarem Khalexxx, e de serem pouco agressivos (casos de L’Rell achar uma arma temporal perigosa demais ou T’Navik deixar Pike fazer o teste dos cristais muito facilmente), neste episódio não ficou muito exagerada a forma klingon de Discovery, com conversas intermináveis sobre religião, por exemplo. O Universo klingon foi usado para dar suporte à história de uma forma bem enxuta, sem exageros.

A guerra contra o Controle continua…

Por fim, a autodestruição da Discovery. Isso abre margem para várias especulações. Linhas do tempo alternativas, relações com o short trek Calypso, etc. Ainda não dá para falar muita coisa (embora já tivesse que dar, pois faltam só dois episódios para o fim da temporada), mas fica aqui uma certeza: como esse povo que escreve Jornada nas Estrelas (seja de Discovery, seja das séries mais antigas), gosta de apertar o botão de autodestruição da nave! E, cá para nós, seria muito esquisito uma série Discovery sem Discovery. Será que vem uma NCC-1031-A por aí???

Pois bem. Mais dois episódios. E pouco vislumbre de desfecho à vista. Só quero ver se vão deixar tudo para o último episódio e, caso isso aconteça, como todas essas pontas serão amarradas. Vamos ver o que vem por aí.

https://www.youtube.com/watch?v=jdxCFkky-MI

Batata Movies – Um Ato De Esperança. Derretendo O Iceberg.

Cartaz do Filme

Uma interessante co-produção Inglaterra/Estados Unidos. “Um Ato de Esperança” chama a atenção de cara pelo elenco: Emma Thompson e Stanley Tucci. Típico filme que você vai para ver os atores que gosta atuando. Mas a película não é somente isso. Temos aqui também uma boa história, daquelas que nos faz refletir sobre a condição humana e relacionamentos. Um filme que mostra que você às vezes aprende as lições da pior maneira possível. Vamos lançar mão dos spoilers aqui.

Uma juíza muito dedicada…

Vamos ao plot. Fiona Maye (interpretada por Thompson) é uma juíza muito dedicada que decide casos extremamente delicados de forma muito fria e lógica. Casos de vida ou morte, quero dizer. Daqueles casos que qualquer que seja a decisão, sempre um trauma vai se instalar nas partes atingidas. Por ser muito comprometida com seu trabalho, ela se esquece do casamento e seu cônjuge, Jack Maye (interpretado por Tucci), abandona o relacionamento para ficar com a amante. Isso num momento onde Fiona pega um caso em que um rapaz que é Testemunha de Jeová e que tem leucemia recusa uma transfusão de sangue por motivos religiosos com sua vida estando em sério risco por isso. Nesse julgamento, Fiona não tem uma convicção do veredicto que vai dar, mesmo depois de escutar os argumentos dos advogados do hospital e da família e vai conversar com o rapaz, Adam (interpretado por Fionn Whitehead). Adam fica fascinado com a presença de Fiona no hospital e, depois de uma conversa, a juíza decide pela transfusão e pela vida do menino. Algum tempo se passa e Adam começa a tentar entrar em contato com Fiona, sendo que a juíza vê isso com muitas reservas e uma certa insensibilidade. A coisa chega ao nível da obsessão e Fiona corta com veemência qualquer tentativa de aproximação com Adam. Enquanto isso, Jack volta para casa, mas é tratado por Fiona de forma muito distante e até agressiva. Mas esse comportamento ríspido da juíza está com os dias contados, pois a leucemia de Adam retornará e, dessa vez, ele opta por não fazer a transfusão de sangue (já é maior de idade) e acaba morrendo. Tal situação deixa Fiona arrasada e, ao lado dela, está Jack.

Problemas no casamento…

É um plot muito simples, que não se complica e que dá uma lição muito boa para nós: como devemos tratar as pessoas que nos cercam. Ficou aqui a impressão de uma juíza que ficava muito mergulhada em seu trabalho, tomava decisões de forma muito lógica e agia com agressividade quando era contrariada. Ou seja, uma pessoa um tanto difícil de conviver. Pouquíssimo espaço para uma visão mais afetuosa, emotiva e tolerante das coisas.

Um encontro no hospital…

E aí, vem a lição. A vida promissora de um jovem que ela salvou se torna totalmente sem sentido para ele quando não há interesse, por parte dela, de compartilhar com as descobertas do rapaz, que era muito sensível. Ou seja, se sua lógica fria num momento salva a vida de Adam, num outro momento sua falta de empatia e emoção destroem-na. E, nessa hora, a dor da culpa é insuportável. Mas ainda há Jack que, mesmo saindo do casamento, ainda a ama e retorna para ser seu apoio. Vemos isso na linda cena em que o marido pega a mão da esposa, ainda na cama de manhã, logo depois da morte de Adam.

Ela já não tolerava mais as perseguições do rapaz…

Nem é preciso dizer que Thompson rouba a cena. Sua frieza incomodava a gente, mas seu ataque de choro e remorso mais ao final também foi muito convincente. Fionn Whitehead, o Adam, foi muito bem, ainda tendo que contracenar junto a um medalhão como Thompson. Despertamos uma empatia por ele no primeiro momento em que o vemos, pois ele fica deslumbrado de cara pelo interesse da juíza em seu caso. E depois ele coloca muito bem aquela paixão obsessiva adolescente pela qual todos nós passamos na vida. Ou seja, nos identificamos muito com seu personagem, pois ele representa uma época comum a todos nós de nosso passado. Já Tucci, uma espécie de eterno coadjuvante, fez uma interpretação muito sóbria de quem está realmente pisando em ovos, sendo o marido nem tão fiel, mas que quer estar ao lado da esposa para todas as situações.

Um desfecho inesperado

Dessa forma, “Um Ato de Esperança” traz uma história escrita de forma simples, que traz uma grande lição e reflexão para o espectador, sem falar de que temos um elenco bem interessante e atuações convincentes e envolventes. Vale a pena dar uma conferida.

Batata Literária – Poesia de Bolso

Vou escutar o Roquete

Escondido na pochete

Larga o cabo da raquete

E olha no ar o Ultrassete

Esconde a horda dos burgúndios

Guerreiros atabalhoados e estapafúrdios

Deixa os trogloditas no bolso esquerdo

Mas não deixa cair o bárbaro no arremedo

E no bolso direito, você coloca as bailarinas

Serelepes, cristalinas

Rodopiando em pedaços de jeans

Tresloucando emaranhados de linhas

Um Universo cabe nesses bolsos de fundo infinito…