Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 6, Episódio 17) “Spirit Folk” (Espírito Do Povo). Inquisição Holodeck.

Uma comunidade prosaica…

Dando sequência às nossas análises de episódios da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager”, falemos hoje de “Spirit Folk”, o 17º episódio. Esse é o típico “episódio holodeck” e algumas pessoas torcem o nariz para esse tipo de episódio, pois ele não se foca no retorno da Voyager à Terra e nos problemas que podem surgir no espaço à medida que a nave avança para casa. Entretanto, pode-se dizer que o episódio é um tanto divertido, pois um bug daqueles meteu bastante gente em apuros.

Mulheres que viram vacas????

O plot consiste num programa de holodeck desenvolvido por Tom Paris (sempre ele!) que, de tão carregado, exigiu demais das máquinas e começou a dar problemas, já que o programa roda continuamente. O programa é sobre uma cidadezinha do interior da Irlanda chamada Fair Haven (ela já apareceu no 11º episódio da sexta temporada) e os personagens do programa começam a notar que os tripulantes da Voyager fazem coisas, digamos, mágicas, como transformar mulheres em vacas, acabar com um tempo nublado e substituí-lo por um dia ensolarado, ou tirar uma criança que estava presa num buraco sem um ferimento sequer. Isso acontece em virtude do bug que o programa está sofrendo por ficar rodando continuamente.

Um Doutor Padre…

Assim, os moradores de Fair Haven acham que estão lidando com espíritos que amaldiçoam a cidade. O único morador que não cai muito nessas ideias com fundo de crendice popular é Michael, o dono do bar e o “namorado” de Janeway. Ele chega a ser “capturado” por Kim e Paris para ser “consertado” e não perceber mais que os tripulantes são de uma nave espacial. Mas ele finge que foi consertado e retorna para Fair Haven falando de tudo o que viu. Quando Kim e Paris estão novamente no programa para fazer mais alguns ajustes, são capturados pelos moradores da cidade, que tentam fazer todo o tipo de magias para expulsar os “maus espíritos”. O Doutor (que fazia as vezes de padre) é enviado para lá para detê-los e tem o seu emissor móvel (usado para deixá-lo livre da influência de um programa com bugs) retirado. Com isso, ele é “hipnotizado” e começa a abrir o jogo. Michael pega o emissor móvel e Janeway pensa que é o Doutor, ordenando o transporte. Como resultado, Michael aparece na ponte da Voyager. Será aí que a capitão abre o jogo sobre tudo o que está acontecendo. Assim, os personagens e a tripulação acertam uma espécie de convivência pacífica, onde os personagens serão mantidos no banco de dados do computador da nave e, eventualmente receberão visitas da tripulação.

Um Doutor enfeitiçado…

Pois é, creio que sou obrigado a concordar que é um episódio um tanto mediano. De chamar a atenção alguns poucos pontos: foi hilário ver alguns personagens virtuais se revoltando contra a tripulação e os tais bugs desabilitando os protocolos de segurança do holodeck, deixando-os totalmente perigosos (o tiro de espingarda que um painel do holodeck toma é muito engraçado). Outro detalhe é ver como os personagens falam de crendices populares na virada do século XIX para o XX (Paris dirigia um protótipo dos primeiros automóveis) de uma forma totalmente medieval, pensando até em queimar literalmente Paris, Kim e o Doutor. Exagero? Pode ser que não.

Um holograma à solta…

Em certos lugares por aí ainda vemos hoje um comportamento muito medieval e não são personagens de holodeck, mas pessoas da vida real, em carne e osso, vivendo em plena 2019, onde a tecnologia e a informação seriam suficientes para pessoas não dizerem mais sandices como a Terra ser Plana ou a inexistência da força de gravidade. Pelo menos havia Michael, um personagem que é a voz do racionalismo e da ciência, nadando contra a maré irracional da cidade, mergulhada em mitos ancestrais. É curioso que tal clima irracional tenha sido todo provocado por um bug no programa do holodeck, com se isso sacramentasse a incoerência de uma tradição e glorificasse o racionalismo da modernidade. Voltamos aos parâmetros erráticos de um passado ancestral por um problema num programa de computador moderno. Se o programa não tivesse alguma falha, tudo correria às mil maravilhas, dentro da lógica.

Deu ruim, Janeway…

Assim, “Spirit Folk” (“O Espírito do Povo”) não chega a ser um dos melhores episódios de “Jornada nas Estrelas Voyager”, mas traz de novo a discussão entre tradição e modernidade de forma um pouco maniqueísta, criticando a primeira e exaltando a segunda. A única coisa a se relativizar é o fato de que o clima prosaico antigo é valorizado a ponto de os personagens não serem simplesmente apagados do computador (tal como B’Elanna e Sete de Nove, numa análise mais fria, queriam). Revisite, mas não espere muito.

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