Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Picard Episódio 1 – Recordações. O Retorno Do Herói.

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Cartaz da Série

E finalmente temos a esperada série “Picard”. A expectativa nos últimos meses reunia um misto de certo otimismo, desde o último trailer, recheado de fan services, mas também com uma certa apreensão, dados todos os problemas que vimos nas duas temporadas de Discovery. Por isso mesmo, não sabíamos bem o que se esperar de “Picard”. Para podermos analisar o episódio, vamos lançar mão de spoilers.

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Um almirante reformado de volta…

E o que podemos dizer desse primeiro episódio, “Recordações”? Ainda é muito cedo para se traçar um rumo, mas já dá para a gente fazer algumas observações. Num primeiro momento, parece que temos um bom roteiro. O episódio começa com Jean Luc Picard tendo um sonho onde joga cartas com Data, mas esse sonho culmina com uma explosão de Marte e a destruição da Enterprise D. Quando o almirante reformado acorda, ele se encontra na vinícola da família, o Chateau Picard. A história passa, então, para Boston, no apartamento da jovem Dahj, onde ela conversa com seu namorado. Mas eles sofrerão um ataque de três homens com os rostos cobertos. O namorado de Dahj será assassinado e eles imobilizarão a moça, perguntado pelos “outros”. Dahj estranhamente reage, no que os homens encapuzados dizem que ela “está ativando” e eles são mortos pela moça, em cenas de ação com lutas mirabolantes. Dahj tem uma visão com Picard.

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Recebendo um pedido de ajuda…

Voltando ao Chateau Picard, o almirante irá dar uma entrevista para a TV e é preparado por seus assistentes Laris (interpretada por Orla Brady) e Zhaban (interpretado por Jamie McShane). Aparentemente, os dois são romulanos, como descobriremos mais tarde. Na entrevista, descobrimos que Romulus e Remus não existem mais em virtude da explosão de sua estrela em supernova (uma referência a Kelvin Time Line). Na entrevista, Picard é questionado se valeria a pena, na época da explosão, o reassentamento de 900 milhões de vidas romulanas, já que eles são os mais antigos inimigos da Federação. Picard, com sua visão humanista, bate na tecla de que salvar as vidas romulanas era o certo a se fazer. A repórter também se lembra de uma rebelião de formas de vida sintéticas (andróides) que destruíram Marte e a frota de resgate. Picard retruca dizendo que não entendeu por que as formas de vida sintética se rebelaram. A repórter quebra um acordo prévio e pergunta por que Picard abandonou a Frota, no que este retruca dizendo que a Frota não era mais a mesma, pois abandonou, de forma criminosa, uma missão de resgate aos romulanos. Irritado com a frieza da repórter em questões de guerra, Picard abandona a entrevista. Enquanto Picard fala, indignado, do abandono, promovido pela Federação, da missão de resgate aos romulanos, Laris e Zhaban dão as mãos, o que é uma evidência de que os dois são romulanos. Dahj vê a entrevista de Picard num monitor de vídeo na rua e decide procurá-lo. A moça o encontra e conta a ele do ataque que sofreu e de como matou todos os três invasores involuntariamente, além da visão que ela teve de Picard. Dahj diz que tem uma lembrança antiga de Picard, mas não sabe como expressá-la. Num dos outros sonhos de Picard com Data, ele vê um quadro que o andróide está pintando. Picard acorda do sonho e vê o mesmo quadro em sua sala. Ainda, vai aos Arquivos da Frota Estelar em São Francisco ver um dos quadros pintados por Data no seu espólio particular. O quadro, o mesmo do sonho, tinha uma imagem feminina com a figura de Dahj. A pintura se chama “Filha”. Dahj, que havia fugido do Chateau Picard, se encontra com o almirante em São Francisco depois de sua mãe a convencer a voltar para Picard (como  mãe sabia disso, pergunta Dahj, ficando uma ponta solta). O almirante conta a moça sobre Data, a pintura e o nome Filha. Picard acredita que Dahj possa ser filha de Data, mas esta se mostra cética quanto a isso. Picard e Dahj são perseguidos pelos homens encapuzados e a moça é morta. Um dos capuzes caem e Picard percebe que o homem é romulano. Picard decide investigar quem estava atrás de Dahj para matá-la. Picard vai ao Instituto Daystrom em Okinawa para perguntar se é possível fazer um andróide de carne e osso. A cientista Agnes Jurati diz categoricamente que não e Picard retruca dizendo que conheceu uma andróide de carne e osso. A doutora Jurati diz que o Instituto está proibido de fazer “sintéticos” desde a rebelião em Marte. Jurati mostra a Picard o B-4 desmontado e disse que o Data tentou passar sua rede neural para B-4 e não conseguiu, por B-4 ser inferior. Aliás, ninguém mais conseguiu reproduzir a rede neural do Data. Somente Bruce Maddox chegou bem perto, mas o programa foi abortado em virtude do ataque em Marte. Maddox desapareceu, altamente frustrado. Picard mostra o colar de Dahj para Jurati e esta diz que esse colar é o símbolo de uma clonagem neuronal fractal, ou seja, a idéia de que toda a rede neural de Data poderia ser recriada a partir de um único neurônio positrônico. Dahj poderia muito bem ser a manifestação disso. Mas a cientista ainda disse que esses andróides seriam recriados em pares. Logo, há outra versão gêmea de Dahj por aí. A essência de Data poderia estar  preservada nessa outra Dahj. O episódio termina num local reivindicado pelos romulanos, onde Narek conversa com a Doutora Asha, a gêmea de Dahj, e que tem o mesmo colar. Os dois estão dentro de um cubo borg semi-destruído, com várias naves romulanas da época da série clássica voando para lá e para cá.

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… mas Picard não consegue salvar a moça…

Como podemos perceber, parece que temos uma boa história aqui. O problema é como ela será desenvolvida nos próximos episódios. Ate porque Discovery, na minha modesta opinião, tinha boas idéias, só que não foram muito bem desenvolvidas. Quais são as virtudes do primeiro episódio de Picard? Em primeiro lugar, a visão distópica da Federação, apesar de estranha, é retomada. Já vimos essa distopia em outros momentos de Jornada nas Estrelas. Ainda no sexto longa da tripulação clássica, “A Terra Desconhecida”, ela já se apresentava, sendo mais bem trabalhada em Deep Space Nine, sobretudo com a Seção 31, trabalhada de forma pouco satisfatória na Kelvin Time Line, e trabalhada de forma exagerada e descuidada em Discovery. Aqui, vemos uma Federação relutante em ajudar os romulanos, um plot semelhante à Terra Desconhecida. A grande revolta dos sintéticos viola um pouco a visão asimoviana das Três Leis da Robótica (que exalta os robôs) e ressuscita o já batido mito de Frankenstein. Mas vemos aqui uma ligação entre os romulanos e os “sintéticos’, sobretudo porque são romulanos que caçavam Dahj. Trazer a “filha” de Data de volta é algo bem interessante, pois temos uma chance aí de nosso querido andróide não retornar apenas nos sonhos de Picard. Ou seja, a figura de Data pode ser resgatada a partir de suas supostas filhas.

Foi muito legal, na minha opinião, ver Picard ter dois assistentes romulanos, cujos atores estavam muito bem em seus papéis, num indício de que toda a questão da evacuação romulana mal sucedida realmente influenciou Picard, a ponto dele trazer romulanos para o seu círculo de convívio íntimo. Houve uma excelente química ali entre os três e espero que isso seja mais trabalhado na série, até para que esses bons personagens romulanos sejam mais bem construídos, algo que não aconteceu, por exemplo, com aquele rosário de personagens da ponte de Discovery.

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Uma entrevista constrangedora…

Outro elemento que chama a atenção é o cubo borg semi-destruído ocupado pelos romulanos com aves de rapina da série clássica em profusão. Se todas essas idéias estiverem bem amarradas e conectadas, creio que teremos uma boa primeira temporada.

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Lembranças de um velho amigo…

Mas esse primeiro episódio também tem seus probleminhas. O primeiro é algo inevitável, já que faz um pouco parte de nosso Zeitgeist: as malditas lutas de caratê que são as cenas de ação indispensáveis nas séries de hoje. Toda aquela coisa baseada em debates e discussões com pouca ação que víamos na Jornada nas Estrelas da década de 90 já não cabem muito aqui. Volta e meia o pau tem que cantar, da forma mais coreografada e acrobática possível, até para atrair um público mais jovem para a franquia. Fazer o que? Paciência. Mas o segundo problema me preocupou mais um pouco, que já apareceu em Discovery e é o de fazer uma ficção científica muito elaborada e ornamentada. Os mais antigos diziam que a boa ficção científica antecipa o futuro, como vimos em Júlio Verne, Isaac Asimov e na própria Jornada nas Estrelas. O problema é quando os voos de imaginação são altos demais e muito escapam da coerência e da realidade. Eu me refiro a isso na sequência da doutora Jurati. Num primeiro momento, ela diz que é impossível fazer um andróide de carne e osso e matriz positrônica igual à do Data, com consciência. Aí, o Picard aparece com um colar que é o símbolo de uma sofisticada clonagem neuronal fractal, onde um andróide do mesmo modelo do Data pode ser gerado a partir de um único neurônio positrônico. Cá para nós, achei essa explicação Mandrake demais. Talvez fosse melhor citar que o Dr. Soong tivesse guardado um back-up da rede neural do Data em algum lugar, pois é algo mais plausível se fazer mil cópias de uma invenção altamente sofisticada para não se perdê-la. E que as memórias do Data conseguissem ficar armazenadas em B-4. Ou seja, não se complicar muito as coisas nessa suposta (esperemos nós) recuperação do Data.

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Buscando respostas sobre andróides…

Dessa forma, apesar dos problemas citados, parece que “Jornada nas Estrelas Picard” tem uma boa história sendo gestada pelo que pudemos ver no primeiro episódio. O detalhe será justamente como essa história será desenvolvida. A meu ver a receita é ser criativo sem ser mirabolante. Uma ficção científica enxuta, com uma boa história a ser contada e uma distopia bem construída. Vamos ver o que vem por aí nos próximos episódios.

Um comentário em “Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Picard Episódio 1 – Recordações. O Retorno Do Herói.”

  1. Acho que o mérito maior desse primeiro episódio, além das intenções de roteiro muito bem analisada pelo seu texto, foi de mostrar um pouco do cotidiano da terra. Algumas coisas ainda não ficaram bem claras: a vinícola é operada por máquinas autônomas (o que é plausível) e por trabalhadores braçais. Quem seriam esses trabalhadores braçais numa sociedade de alta tecnologia e igualitária? Será que habitantes de outros planetas executariam serviços de “indesejáveis” na terra do mesmo modo como os imigrantes executam em países desenvolvidos? Neste mesma sociedade haveria espaço para serviçais como os de Picard? Nesta sociedade, o trânsito seria meio caótico com os carros voadores sobre as cidades ou haveria um transporte público altamente eficiente? Detalhes, mas que fazem muita diferença no modo como a utopia é explorada.

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