Um filmaço. “Batalha das Correntes” fala da disputa comercial entre Thomas Edison (interpretado por Benedict Cumberbatch) e George Westinghouse (interpretado por Michael Shannon) pelo controle do uso da energia elétrica, algo que provocaria uma verdadeira revolução tecnológica na virada do século XIX para o século XX. Para que possamos compreender melhor o filme, vamos precisar de spoilers.
O que podemos dizer inicialmente é que, em termos de celebridade, Edison era muito mais famoso do que Westinghouse, pois foi atribuída ao primeiro a invenção da lâmpada elétrica. Entretanto, Westinghouse teve o mérito de lançar mão da corrente alternada para levar a eletricidade aos pontos mais distantes das usinas elétricas, embora ela pudesse ser letal em caso de acidentes. Edison, por sua vez, preferia usar a corrente contínua, bem menos perigosa, mas de alcance muito limitado. Revoltado por ver Westinghouse desenvolver sua invenção, Edison o atacava de todas as formas, acusando o empresário de usar uma forma de energia letal. Westinghouse, por sua vez, adotava uma postura bem menos agressiva e até almejava uma parceria com Edison. A grande verdade é que o empreendimento de transformar a invenção da energia elétrica num uso de escala industrial e irrestrita a todos, ricos ou pobres, era algo extremamente custoso que quase levou os dois à falência. E o filme descortina essa competição, com lances inusitados como, por exemplo, usar a eletricidade como uma forma mais humanitária de execução, onde foi criada a cadeira elétrica, em contraponto aos enforcamentos onde o pescoço do condenado ainda tinha que ser quebrado caso ele não morresse de imediato no cadafalso. Nesta questão, Edison foi contra as próprias convicções (não usar suas invenções para provocar a morte de pessoas) em virtude da sua competição feroz com Westinghouse. Mas o filme deixa a entender que o objetivo de se usar a eletricidade de forma ampla foi conseguido, principalmente da ocasião da Feira Mundial de Chicago, toda iluminada com energia elétrica. O desfecho também aponta para um happy end, onde um possível entendimento de Edison e Westinghouse se vislumbrou no ar. No meio desses dois gigantes empresários, também tivemos a presença de Nicola Tesla (interpretado por Nicolas Hoult), que foi o primeiro a pensar o uso das Cataratas do Niágara como força motriz para um motor elétrico, sendo o precursor das conhecidas usinas hidrelétricas de hoje. O desfecho do filme também mostra, com imagens reais, o que aconteceu com os protagonistas. Westinghouse ficou com os méritos do uso de energia elétrica em larga escala com a ajuda de Tesla, mas este terminou a vida quebrado, ao passo que Edison ficou com a fama de ser o inventor do cinematógrafo.
O grande detalhe desse filme é o elenco. É um rosário de atores que fizeram personagens da Marvel. Além de Cumberbatch e Hoult, tivemos também a presença de Tom Holland no filme, interpretando o braço direito de Edison. Mas a grande surpresa aqui foi ver Michael Shannon finalmente não interpretando um vilão. Aliás, se compararmos Edison e Westinghouse no quesito caráter, o segundo era muito mais virtuoso que o primeiro, e é legal ver Shannon escapando do estereótipo do mau.
Dessa forma, “A Batalha das Correntes” é um grande filme que merece a atenção dos cinéfilos, pois ele fala da história real de um passo muito importante da revolução tecnológica da virada do século XIX para o século XX com a ajuda de um bom elenco. Um filme sem mocinhos ou bandidos, mas que ainda assim tem personagens com suas virtudes e defeitos. Vale muito a pena dar uma conferida.