Dando sequência às nossas análises de episódios de “Jornada nas Estrelas”, retornemos a TNG e ao segundo episódio da primeira temporada, intitulado “A Hora Nua”, que é uma espécie de releitura do episódio homônimo de TOS (S01 Ep04).
A Enterprise vai investigar o comportamento estranho da tripulação de uma nave de pesquisa. As pessoas parecem embriagadas quando se comunicam e um estouro é ouvido. Um grupo avançado da Enterprise vai para a nave e atesta que a escotilha de emergência foi acionada, expelindo para o espaço boa parte da tripulação, enquanto que uma minoria morreu congelada ao modificar os controles ambientais. Como resultado de tudo isso, toda a tripulação – 80 pessoas – morreu. O grupo avançado volta à nave com descontaminação máxima no teletransporte e exames médicos completos. Mesmo assim, La Forge mostra um comportamento agressivo, além de transpirar muito. Riker pede a Data que investigue, nos registros, se já houve algum registro de alguém tomando banho com roupas, pois isso foi visto na tripulação que morreu e Riker tem uma vaga noção de que já leu sobre algo antes. La Forge, por sua vez, aproveita uma distração de Crusher e sai da enfermaria sem o localizador para não ser encontrado. Tasha encontra La Forge fora de si, querendo enxergar como os humanos, e acariciando a face de Tasha. Crusher examina La Forge novamente e nada de errado aparece, apesar da febre e estado de confusão de La Forge.
Data encontrou o caso da Enterprise de Kirk, onde as pessoas se comportavam como se estivessem embriagadas, em virtude de uma forte variação gravitacional num planeta que detonou esse comportamento. A mesma forte variação gravitacional agora aparece numa estrela que está se colapsando nas imediações e que era investigada pela nave que teve sua tripulação morta. Na época, um composto para neutralizar o problema foi descoberto e Picard ordenou que a fórmula fosse enviada para Crusher.
Os sintomas se espalham pela nave: Tasha, Wesley e mais outros tripulantes. O colapso iminente da estrela é uma ameaça para a nave e a situação da “infecção” precisa ser resolvida logo. Wesley, enganando a tripulação com suas engenhocas e se apossando da engenharia, se apossa da nave, transtornado. Picard chama Tasha ao perceber que a situação está piorando e a mesma fala de um jeito estranho com ele pelo comunicador. Picard pede que Data vá se encontrar com Tasha para levá-la à enfermaria, mas a chefe de segurança consegue “seduzir” o robô. Wesley desligou o acesso aos motores da nave. Troi também mostra sintomas e Riker a leva para a enfermaria, tocando depois no corpo de Crusher que, por sua vez, descobre que o composto da Enterprise de Kirk não funciona. O grande problema é que a doutora descobriu que o contágio se dá pelo toque e Riker precisa voltar à engenharia. A contaminação só aumenta. E a estrela começa a colapsar. Na engenharia, Riker busca acabar com o campo de força criado por Wesley. Crusher, por sua vez, procura um antídoto. Todos estão contaminados e os efeitos da embriaguez chegarão em pouco tempo. Data está contaminado, Crusher contamina Picard. Worf comunica Riker da contaminação do capitão. A estrela colapsa de vez e lança um pedaço em direção à Enterprise. A chefe de engenharia consegue anular o campo de força criado por Wesley e entra na engenharia. Mas todos os chips isolineares que ligam os motores estão desconectados, demorando cerca de três horas para reconectá-los. E a massa estelar atingirá a Enterprise em 14 minutos. Somente um bêbado Data pode ser tão rápido e Riker o leva correndo para a engenharia. Mas Data diz que não conseguirá reconectar todos os chips isolineares à tempo. Aí, entra o “gênio” de Wesley, que consegue reverter o raio trator gerado por sua engenhoca conectada à nave para deter um pouco o avanço da massa estelar, arremessando a outra nave contra a mesma, retardando o avanço e dando o tempo necessário para Data fazer toda a reconexão dos chips e a nave entrar em dobra, salvando o dia. A tripulação volta ao normal e Tasha se dirige a Data dizendo que “nunca aconteceu”. Picard diz a seus tripulantes que a tripulação pode ser boa se não ceder às tentações. Fim do episódio.
O que podemos falar desse episodio? Em primeiro lugar, a ideia de se remeter a um episódio de TOS para dar uma certa legitimidade à nova tripulação até foi algo interessante. Entretanto, me pareceu inoportuno fazer essa ligação num momento muito inicial da série, já que o episódio se remetia a certas situações cômicas que parecem que caíram mal para essa nova tripulação. Se em TOS isso também aconteceu no início da série (foi o quarto episódio da primeira temporada), naquela ocasião a coisa não pareceu tão destrutiva, pelo contrário até, já que o episódio ajudou a impulsionar Spock no nascente fandom.
Já no caso de TNG, existia todo um fandom de TOS pregresso e uma expectativa maior em cima da nova tripulação, o que pareceu mais prejudicial para os personagens. Todo aquele espaço para apresentação dos personagens no episódio piloto deu chance para torná-los muito expostos em “A Hora Nua”. Se tivemos um Picard rabugento na estreia, não pegou bem vê-lo abobalhado nesse episódio, assim como a Dra. Crusher, que parecia estar muito vulnerável na sua carência afetiva. A situação entre Data e Tasha também ficou um tanto constrangedora, embora tenha entrado para o rol de experiências humanas do andróide. Só fica aqui a dúvida de como o Data se contaminou, já que aquela conversa que fisiologicamente ele se assemelha a um humano não convence muito. Worf e Riker escaparam da vergonha alheia, mas Riker ainda se contaminou. Worf pareceu o único completamente asséptico na nave e também não houve uma explicação satisfatória para isso. Agora, talvez o estrago maior tenha ficado para Wesley, que usou o seu gênio de menino prodígio para se isolar na engenharia e depois salvo a nave da destruição iminente.
Eu me pergunto se esse episódio não serviu para dar uma má impressão para o personagem e queimar seu filme, já que ele agiu de forma travessa, mesmo com a alteração provocada pela infecção. Talvez esse episódio teria mostrado um resultado melhor quando se ele fosse exibido mais ao fim da temporada, quando a gente já tivesse alguma intimidade com os personagens. A exibição do episódio tão ao início da série conseguiu ser algo um tanto constrangedor e que caiu um pouco mal no contexto. Dessa forma, “A Hora Nua” é até uma boa ideia, mas colocada num momento inoportuno. Um episódio com cara de alívio cômico que funcionaria melhor ao fim da temporada. Introduzi-lo tão ao início da série pareceu uma coisa forçada e problemática.