Mais um filme que concorre ao Oscar 2021. “Destacamento Blood” (“Da 5 Bloods”), de Spike Lee, concorre à estatueta de Melhor Trilha Sonora Original. Esse era um filme em que eram esperadas mais indicações, mas a coisa ficou somente nessa única indicação mesmo. Esse é um outro filme que conta com a presença de Chadwick Boseman, que concorre ao Oscar de Melhor Ator em “A Voz Suprema do Blues”. Para podermos falar desse filme, vamos precisar dos spoilers de sempre.
O filme fala de quatro ex-combatentes do Vietnã que voltam ao país para procurar os restos mortais de seu superior, Stormin’ Norman (interpretado por Boseman). Mas essa viagem tinha outro motivo implícito, que será explicado num flashback da guerra. Os quatro ex-combatentes faziam parte do chamado “Destacamento Blood” e estavam numa missão num helicóptero que foi derrubado e caiu próximo de um avião americano também derrubado. Eles encontraram no avião uma espécie de baú cheio de barras de ouro, que seria enviado para uma comunidade vietnamita como pagamento para se apoiar os americanos. Os soldados enterraram esse baú e acordaram que um dia iriam juntos pegar esse ouro enterrado. Mas, para tirar o ouro do Vietnã, precisariam da ajuda de um atravessador francês, Desroche (interpretado por Jean Reno). Eles fazem um acordo com ele, mas obviamente serão traídos, o que vai provocar uma reedição da guerra, mas agora na disputa pelo ouro.
O filme mistura dois gêneros. Por um lado temos uma película de ação e de guerra, com direito a todos os traumas passados, manifestos sobretudo num dos ex-combatentes, Paul (interpretado magistralmente por Delroy Lindo), que pirou na batatinha legal nas condições inóspitas da selva e na presença dos capangas de Desroche. Por outro lado, temos um filme bem Spike Lee mesmo, com muitas informações sobre situação dos soldados negros durante a guerra do Vietnã, com direito a muitas imagens de arquivo, citações e falas de figuras importantes como Mohammad Ali ou Martin Luther King Jr., tendo uma cara mais documental. Esse aspecto mais militante do filme o torna mais didático e talvez os membros da Academia não tenham se sentido muito à vontade com tal característica dúbia, que provocava algumas descontinuidades no roteiro. Ou seja, temos aqui a mistura de informações bem verídicas com uma ópera do absurdo mais espetaculosa do que qualquer coisa, dando a impressão que a gente via dois filmes ao mesmo tempo, onde sentíamos uma conexão entre eles em alguns momentos, mas uma desconexão total em outros. Ainda assim, a película é cativante, seja pelo seu teor de informações, seja por uma história que é bem contada.
O grande ícone da história é, sem a menor sombra de dúvida, o personagem interpretado por Boseman, Stormin’ Norman que, além de ser o líder do destacamento, também abriu os olhos de seus comandados para a questão racial nos Estados Unidos e a posição do soldado negro na guerra. Ou seja, Norman era um misto de superior, professor, pai e mentor intelectual dos membros do destacamento. A morte dele foi um trauma para todos, mas especialmente para Paul, que era o amigo mais próximo e tinha pesadelos diariamente com seu amigo morto. Não é à toa que o homem surtou na floresta, mergulhando numa paranóia pura e se tornando uma figura muito perigosa para todos.
Dessa forma, é até uma pena que “Destacamento Blood” não tenha obtido mais indicações para o Oscar. Apesar de misturar um gênero um pouco mais documental com um filme de ação, a película prende a atenção do espectador do início ao fim, mesmo que o filme não seja tão cativante quanto um “Infiltrado na Klan”. Está lá no Netflix.