Batata Movies (Especial Oscar 2019) – A Favorita. Briga De Gato E Rato Na Corte.

Cartaz do Filme

Mais um filme concorrente ao Oscar. “A Favorita” concorre a dez estatuetas (Melhor Filme, Melhor Roteiro Original, Melhor Design de Produção, Melhor Figurino, Melhor Direção para Yorgos Lanthimos, Melhor Atriz para Olivia Colman, Melhor Atriz Coadjuvante para Rachel Weisz e Emma Stone, Melhor Fotografia e Melhor Montagem) e venceu o Globo de Ouro para Melhor Atriz de Musical ou Comédia para Olivia Colman. Ou seja, um forte concorrente este ano. Para analisarmos a película, “spoilers” são necessários.

Uma rainha totalmente zureta…

Qual é o plot? Na Inglaterra do século XVIII, a rainha Anne (interpretada por Colman) é uma mulher insegura e despreparada para reinar. Ela tem uma tremenda batata quente nas mãos, pois precisa empreender uma guerra contra a França e busca aumentar os impostos, o que desperta a ira de Harley (interpretado pelo “Fera” Nicholas Hoult). Para ajudar a segurar todos esses problemas, a rainha conta com a ajuda de Lady Sarah (interpretada por Weisz), que praticamente governa o país, além de ser a amante da rainha. Só que esse equilíbrio será fortemente abalado com a chegada de Abigail (interpretada por Stone), uma dama que perdeu toda a sua honra e prestígio para salvar a pele do pai. Tentando retomar seu status social, Abigail vai lançar mão de todos os expedientes, sórdidos ou não, para atingir seus objetivos, embora encontre forte oposição de Lady Sarah. Nesse jogo de gato e rato, essas duas mulheres disputarão com unhas e dentes a atenção e afeição da rainha para almejar mais e mais prestígio na corte.

Uma amante com trejeitos de chefe de estado…

Esse é um filme que tem um certo humor ácido dentro de uma lógica de Antigo Regime. É uma verdadeira aula do que é cortejar e puxar o saco para obter favores da rainha. Mas é também um filme que tem a sua dose de perversidade nas disputas viscerais entre Lady Sarah e Abigail, essa última muito mais sórdida e traiçoeira que sua oponente. Uma sordidez que podia ser engraçada em alguns momentos, mas extremamente nociva em todos. Ainda, o filme espelha muito claramente a máxima de que “Um dia é da caça e o outro do caçador”, onde os papéis de gato e rato se invertem. De qualquer forma, uma vencedora sai na contenda, mas no final das contas, ainda é tratada como uma lacaia pela rainha, numa mostra de que toda a sua estratégia foi por água abaixo. Coisas de Antigo Regime, onde quem dá a palavra final ainda é o monarca, por mais incapacitado que ele esteja.

Uma ambiciosa ex-nobre…

E o elenco? Olivia Colman esteve muito bem como a rainha, engraçada na sua histeria, mas também muito sôfrega com suas doenças e altamente insegura. Ela convenceu em todos esses momentos. Se ela é digna de um Oscar de Melhor Atriz? Pode até ser, mas ainda aposto minhas fichas em Glenn Close.

Fera??? Quem te viu, que te vê (no centro)

Já Rachel Weisz e Emma Stone estão mais cotadas para a estatueta de atriz coadjuvante a meu ver, com uma vantagem de Stone sobre Weisz. A lourinha de cara inocente convenceu muito na sordidez de sua personagem e teve uma atuação simplesmente impecável. A gente ria dela e a odiava ao mesmo tempo, além de temê-la bastante.

Tudo para cair nas graças da rainha…

Dessa forma, “A Favorita” é um bom filme, onde a trama de gato e rato é a atração principal. As atrizes concorrentes a estatueta foram muito bem e o filme também prima por um ótimo figurino, ao qual também está indicado. Confesso que preferi outros filmes ao invés deste, mas é uma película boa e pode abiscoitar alguns Oscars na noite da premiação. Vale a pena a conferida.

Batata Movies – Creed II. Avassalador.

Cartaz do Filme

E temos “Creed II”. A tão esperada continuação da saga do filho de Apolo, o Doutrinador, treinado por Rocky Balboa, busca dar sequência, cerca de trinta anos depois, aos eventos de “Rocky IV”, quando Ivan Drago matou Apolo e Rocky o venceu na então União Soviética. Agora, Ivan Drago busca a revanche com Creed tendo como instrumento seu filho, Viktor Drago (interpretado por Florian Munteanu).

Dois amigos num antigo desafio

Os dois filmes “Creed” podem ser entendidos como uma sequência séria e respeitosa de “Rocky”. Mesmo que “Rocky” tenha sido um grande sucesso de bilheteria, é impossível não perceber que havia um tom de galhofa e exagero mais em alguns filmes e menos em outros. O próprio “Rocky IV” às vezes tinha um tom de vergonha alheia. Nos dois “Creed” não vemos nada disso e os filmes funcionam muito bem, o que acaba sendo um deleite para os olhos.

Família Drago

Como é o plot? Preparem-se que vai haver spoilers. O filme começa com Ivan Drago e seu filho Viktor indo para uma luta onde saem vencedores. Enquanto isso, Creed consegue conquistar o título de campeão mundial dos pesados. Mas, com a ajuda de um empresário americano, a família Drago desafia Creed. Mesmo sob os insistentes pedidos de Rocky para não aceitar o que considera uma provocação, Creed aceita o desafio sem a ajuda de Balboa. É claro que ele vai entrar na porrada, mas não perde o título, pois Drago é desclassificado porque atingiu Creed enquanto ele estava no chão. Depois de ruminar muita raiva na sua recuperação, Creed esquece um pouco do boxe, pois sua filha nasce. Mas Viktor Drago seguidamente o desafia e Creed pode perder o título caso protele demais a defesa do mesmo. Aí, vai ter uma segunda luta, agora na Rússia e com Rocky treinando o pugilista.

Que medo!!!

Por que “Creed II” foi tão bom? Em primeiro lugar, e até mais do que a questão das cenas de lutas de boxe, esse é um filme de núcleos familiares muito bem explorados. Temos a questão de Rocky, que não conhece o neto pois não fala com o filho, temos a família de Creed, que vive sob a sombra das ameaças de feridas do passado abertas, onde Creed se vê na obrigação de lutar por ter tido seu pai assassinado no ringue, mas que depois descobre que ele precisa lutar não por seu pai, mas por si mesmo, e temos a questão da família Drago (a melhor a meu ver) onde o pai exigia demais do filho por ter sido abandonado por tudo e por todos depois da derrota com Rocky, só que (alerta de spoiler) ele reconhece na última hora que, ao tentar recuperar a honra da família, ele dava atenção demais a pessoas que só queriam se aproveitar da fama de pai e filho ao invés de se preocupar com o próprio filho (dentre essas pessoas está a própria personagem interpretada por Brigitte Nielsen, que era a esposa de Ivan em “Rocky IV” e que o abandonou depois da derrota). Ou seja, há uma grande preocupação com a construção dos personagens nesse filme, ao contrário do que víamos, por exemplo, no núcleo soviético de “Rocky IV” em Ivan Drago, por exemplo, que mais parecia um robô do que qualquer outra coisa. Mais do que o Boxe em si, “Creed II” é uma boa história de personagens muito bem pensados.

Referências a “Rocky IV”

Obviamente, o Boxe é a outra vedete. E aí, “Creed II” também acerta, sobretudo nas referências a “Rocky IV”. Tivemos a derrota nos Estados Unidos e a revanche na Rússia, a música antológica dos filmes antigos na luta final, passando pelo treinamento de Creed num ambiente e condições totalmente rústicas (no meio de um deserto bem quente), lembrando muito o treinamento de Rocky no interior da Rússia em “Rocky IV”, também em condições adversas, só que no meio da neve. As cenas das lutas de Boxe, apesar de um pouco exageradas, eram mais realistas do que víamos no “Rocky” original e havia algumas referências, como os socos na cara que Creed e Apolo, o Doutrinador, recebiam com a câmara em slow motion. Mas as esquivas de Creed eram bem mais palatáveis do que as que víamos em “Rocky III”, por exemplo. E a esposa de Creed cantando na entrada do marido na luta na Rússia era uma alusão direta a James Brown em “Rocky IV”. Tudo isso tornava o filme saboroso, pois nos ligava de forma positiva ao “Rocky IV” do passado.

Assim, “Creed II” é um grande prêmio para os fãs de “Rocky”, pois faz muitas referências a “Rocky IV” e respeita demais os filmes antigos, mais até do que eles mesmos. Ainda, e principalmente, é um filme sobre personagens muito bem construídos e núcleos familiares que resolvem suas diferenças ao longo do tempo, não sendo uma película totalmente maniqueísta na questão de “mocinhos e bandidos”. A gente também torce para que a família Drago supere suas frustrações, mesmo tomados por tanto ódio. Quando o filme atinge esse tipo de sentimento, temos uma história nobre que atinge nossos corações e mentes de uma forma avassaladora. Filme obrigatório para ver, ter e guardar.

Batata Movies – Green Book, O Guia. Busca Por Identidade E Dignidade.

Cartaz do Filme

Um filme que disputa o Oscar. “Green Book, O Guia” concorre a cinco estatuetas (Melhor Filme, Melhor Ator para Viggo Mortensen, Melhor Ator Coadjuvante para Mahersala Ali, Melhor Roteiro Original e Melhor Montagem). Temos aqui uma ótima história baseada em eventos reais que aborda mais uma vez a questão do racismo nos Estados Unidos. Vamos precisar lançar mão dos spoilers aqui.

Um pianista garboso…

O plot gira em torno de Tony Lip (interpretado por Mortensen), um leão de chácara ítalo-americano, que resolve seus problemas no trabalho na base da porrada no Night Club Copacabana, local em que trabalha em Nova York. O problema é que um chefão mafioso local ficou chateado pois seu chapéu sumiu no Night Club e ele o “fechou para obras” alguns meses. Assim, Lip precisou encontrar um emprego temporário e ele o obteve com o Dr. Don Shirley (interpretado por Ali), um pianista muito rico e muito refinado que o contrata para ser seu motorista e segurança numa turnê pelo sul dos Estados Unidos, lembrando que Shirley é negro e estamos nos Estados Unidos muito racista da década de 60. Assim, a película mostra como foi essa viagem, a aproximação entre Lip e Shirley e quais foram as situações de racismo que os dois foram encontrando ao longo da viagem.

Esse pianista vai viajar com um ítalo-americano racista

Esse é um filme sobre identidade e dignidade. Temos aqui um branco ítalo-americano vaca brava que é racista e descobre com Shirley o que é viver sob o estigma do preconceito. Lip também vai descobrir outras coisas com Shirley: o autocontrole, ter mais tato, educação, buscar objetivos construtivos em sua vida, ser politicamente correto e escrever cartas bonitas. Já Shirley aprende com Lip hábitos mais “mundanos” como comer frango frito ou uma forma mais descolada e sincera de ver a vida. No tocante à identidade, o personagem Shirley é o mais interessante, pois ele é negro e não vive como os “seus”, que são de um estrato social mais pobre. Mas mesmo assim é rechaçado pelos brancos. Então ele não é negro nem branco. E Lip é branco mas também é visto com preconceito pelos WASPs por ser de descendência de imigrante italiano. Essa interação entre os dois personagens teve uma química muito boa e justifica inteiramente as indicações a melhor ator e ator coadjuvante, assim como a de melhor filme e roteiro original.

Os dois aprendem um com o outro

A questão do racismo no sul dos Estados Unidos na década de 60 foi um personagem à parte. O próprio título do filme, “Green Book” se refere a uma espécie de guia turístico para negros em viagem ao sul do país onde são indicados os hotéis e atrações turísticas exclusivas para negros. Chegava a ser surreal as elites sulistas recebendo Shirley com toda a pompa de uma celebridade e lhe reservando os piores lugares como camarim e banheiro na parte de fora (a popular “casinha”), isso sem falar do fato dele ser proibido de jantar nos próprios lugares em que ele tocava.

A viagem tem momentos difíceis…

E aí, todo esse racismo ajudou a cimentar a afinidade entre os personagens protagonistas do filme, servindo de ponte entre eles. Lip deixava de ser racista ao se identificar cada vez mais com Shirley e Shirley se encontrava em sua identidade ao se aproximar de Lip. E o filme cumpria sua função social de denúncia ao chamar a atenção mais uma vez para uma mazela que insiste em perdurar até os dias de hoje.

… mas também momentos divertidos…

Dessa forma, “Green Book, O Guia” faz jus a todas as indicações ao Oscar que recebeu, traz uma história real muito instigante, personagens e atores fenomenais e mais uma vez denuncia os problemas do racismo. Mais uma película para ver, ter e guardar.

Batata Movies – A Esposa. Colette 2, A Missão.

Cartaz do Filme

Um filme muito esperado. “A Esposa” traz Glenn Close em grande forma, tanto que ela conseguiu ganhar o Globo de Ouro de Melhor Atriz Dramática com esse filme e provavelmente receberá uma indicação ao Oscar vindo muito forte para a premiação. Mais uma película que tem abordado a questão da mulher e da busca por seu espaço numa sociedade ainda muito machista tanto aqui quanto lá fora. Vamos precisar de alguns spoilers aqui.

Um casal aparentemente em harmonia

O plot fala do casal Joe Castleman (interpretado por Jonathan Pryce) e Joan Castleman (interpretada por Glenn Close). O marido é um grande escritor que recebe o Prêmio Nobel, com a esposa assumindo o passivo papel de fiel escudeira do cônjuge. Mas há algo de estranho no ar. Eles têm um filho, David (interpretado por Max Irons), que também investe na carreira de escritor, sendo visto com um certo desdém pelo seu pai que só se preocupa em ostentar seus sucessos. Obviamente isso produzirá um clima muito pesado na família, que irá explodir justamente na ocasião da premiação. Para piorar a situação, a família é perseguida por Nathaniel Bone (interpretado por Christian Slater), um escritor que quer produzir uma biografia não autorizada sobre Joe e que desconfia de algo nebuloso no passado do casal. Essa coisa nebulosa (alerta de spoiler!!!) é simplesmente o fato de que Joan é a verdadeira autora dos livros atribuídos ao marido e não aguenta mais ficar naquela situação humilhante.

Mas a esposa não aguenta mais uma situação

Esse plot é muito semelhante à “Colette”, já resenhado aqui. Entretanto, há duas diferenças básicas. Enquanto que “Colette” é baseado numa história real, “A Esposa” é baseada no romance de Meg Wolitzer. Talvez por isso mesmo, “A Esposa”, por ser uma ficção, é bem mais forte e ácido, onde vemos sérios conflitos entre esposa e marido e entre marido e filho. Já “Colette”, por sua vez, é bem mais leve, até pelo espírito transgressor da escritora, que viveu num momento tão conservador que era a virada do século XIX para o XX, onde ela teve uma certa liberdade, dada pelo marido, que se preocupava mais com seu empreendimento literário do que colocar grilhões na esposa. Já em “A Esposa”, o casamento era muito mais tradicional, onde Joan se sentia completamente aprisionada e humilhada, com o detalhe de que via seu filho também sofrendo com toda a farsa.

Logo o conflito aparece…

Agora, o que falar do elenco? Glenn Close, obviamente, estava maravilhosa. Seu olhar distante e penetrante quando ela via o marido ser laureado dói até agora. Mas seu grande momento foi o olhar de raiva, ódio mesmo, quando ela era agraciada pelo marido no discurso de agradecimento. Dava medo, mas doía demais também, atingindo o espectador em cheio. O Globo de Ouro foi um prêmio mais que merecido e não seria nenhum exagero ela ser premiada também com o Oscar, embora a gente ainda precise ver quais serão as outras candidatas. A atuação de Jonathan Pryce também foi primorosa. Ele fez um perfeito babaca que dava muita raiva na gente, embora fosse carinhoso com a esposa em alguns momentos, despertando sentimentos contraditórios típicos numa relação mais longeva. Max Irons teve um personagem um tanto fraco, pois só demonstrava mágoa com o passado e com o pai e mais nada. Plano demais, podendo ser um pouco mais complexo para que o ator tivesse mais oportunidades. Já Slater consegue convencer como um oportunista cafajeste e poderia ter sido mais bem aproveitado.

Um escritor atiçando uma situação…

Assim, podemos falar que “A Esposa”, fora um problema ou outro (um desfecho talvez exagerado) é um grande filme que prima por trazer mais uma vez a reflexão da situação da mulher na atualidade, chancelado pela grande presença de Glenn Close. Uma história forte, ácida e conflituosa que dá um forte grito contra o machismo. Mais um filme essencial que merece ser prestigiado, assim como “Colette”.

Batata Movies – Aquaman. Melhor Filme De Personagem Secundário?

Cartaz do Filme. Ele também fala com os peixinhos…

E finalmente estreou “Aquaman”. Os rumores que estavam por aí diziam que o filme é muito bom, sendo uma grande película para um personagem secundário. E aí  a gente se pergunta: Aquaman é mesmo um personagem secundário? Pela forma que ele foi apresentado na “Liga da Justiça”, meio que um pau d’água (me desculpem o trocadilho infame), parecia secundário mesmo. Mas o presente filme resgata o herói que deve agora ser visto com outros olhos nas próximas películas do casamento Warner-DC. Nada como um bom filme solo para recuperar a autoestima.

Um Aquaman um tanto troglodita…

Como é o plot (vou lançar mão de alguns spoilers aqui, atenção por favor)? Tudo começa num farol, onde o faroleiro Tom Curry (interpretado pelo “Jango Fett” Temuera Morrison) encontra nas rochas a Rainha de Atlântida, Atlanna (interpretada por Nicole Kidman). Depois de Atlanna destruir a casa e comer o peixe do aquário, Tom se apaixona perdidamente (também pudera, é a Nicole Kidman) e eles têm um filho, Arthur. Mas ela precisa retornar a Atlântida, já que o povo dessa civilização a procurava insistentemente, pois ela era acusada de traição (não vou explicar aqui, veja o filme) e a rainha vai embora, deixando Tom e Arthur desolados.

Aquaman terá a companhia da bela Mera, que não vai muito com a cara dele…

Os anos se passam e Arthur se torna aquela figura cabeluda, barbuda, musculosa e um tanto troglodita que, na nossa cabeça parece mais o Rei Netuno que o Aquaman (embora Netuno não seja troglodita assim) que, volta e meia, faz uns lances em prol dos fracos e oprimidos, como salvar um submarino russo (não  tão fraco assim) de uns piratas com quê terrorista. Depois de uma noitada no bar,uma bela ruiva vestida de verde chamada Mera (interpretada por Amber Heard), alerta Arthur para a ambição de seu meio irmão Rei Orm (interpretado por Patrick Wilson, muito mais parecido com o Aquaman que nós conhecemos dos quadrinhos e dos desenhos dos Superamigos). Revoltado com os povos da superfície, que enchem o mar de lixo e poluentes, Orm vai empreender uma guerra, fazendo alianças forçadas com os outros reinos do mar. O único que pode impedir isso é Arthur,que também tem sangue real, mas que é um homem da superfície. E aí são as porradas, bombas e tiros de sempre. 

Dolph Lundgren aparece no elenco…

A primeira pergunta é aquela questão desesperadora: o filme da DC é bom? Chegou aos pés da Marvel? Vou me inclinar a dizer aqui que esse foi o melhor filme da DC feito até agora. Melhor que o da Mulher Maravilha? Eu creio que sim, pois o da Mulher Maravilha, apesar do bom roteiro, teve alguns problemas, como usar um personagem histórico real (o General Ludendorff) de forma estereotipada como vilão (embora isso não seja tão grave) e pelo fato de a história, em sua primeira metade, ter sido um tanto arrastada (esse sim um problema maior).

Willem Dafoe, uma bela aquisição ao elenco…

O que segurava o filme era realmente Gal Gadot e toda a celebração em volta do empoderamento feminino que a película gerou. “Aquaman”, por sua vez, teve uma história mais instigante e efeitos especiais mais bem realizados (as más línguas diriam que se colocou o colorido da Marvel e tirou-se o obscuro da DC, mas creio que isso é implicância pura e simples). Foi muito legal se levantar a questão da poluição do mar no filme. Eu já revelei aqui a minha atração pelos blockbusters feitos exclusivamente para entretenimento onde aparecem algumas questões contemporâneas mais ligadas ao nosso mundo real que merecem reflexão. Já tínhamos visto isso em “O Último Jedi”,com as denúncias dos senhores da guerra. Agora, a poluição do mar e a matança das baleias denunciadas em “Aquaman” colocam aquela pulga atrás da orelha do espectador que fica falando em nossos ouvidos que o Rei Orm, o grande vilão,tem lá a sua razão em promover a guerra que tanto quer. Outra virtude do filme foi a variedade de locações (mesmo que algumas em CGI), o que enriqueceram a história. As sequências no Saara e na Sicília foram muito boas e ajudaram, junto com a ação, a dar um viés mais humorístico para a história (nova influência da Marvel? Sem maldade, por favor).

Lembram-se dele nos Superamigos???

E os atores? Essa foi uma grande virtude da película. Se tivemos a boa presença da já citada Nicole Kidman, que não foi apenas uma coadjuvante de luxo e teve um papel importante na história, temos também Willem Dafoe na pele de Vulko, que treinou Arthur nos ofícios das profundezas, mas que também é conselheiro de Orm, o que coloca seu personagem numa tremenda saia justa. Amber Heard não foi somente uma cara bonitinha e fez uma personagem que, embora não fosse muito com a cara do protagonista, sabia que precisava ajudá-lo em nome de um bem maior. Além disso, as piadas entre os dois convenciam, o que mostra que rolou uma boa química entre os personagens. Já o Aquaman propriamente dito a princípio incomoda, pois o Aquaman que está na nossa cabeça é um sujeito muito mais zen, louro de olhos azuis, de calça verde, cueca preta (por cima da calça, é claro!) e camisa laranja que fala com os peixinhos. E aí aparece no filme aquela figura com tatuagens de povos da Oceania e que gosta de encher a cara nas biroscas, olhos de sith, sendo meio troglodita, meio burro… muito uga buga para a minha cabeça.Um Aquaman totalmente novo e reconstruído. Acho que até pela candura do mar, o Aquaman mais tradicional seria mais adequado, tendo mais a cara de seu irmão Orm, que parece fisicamente muito mais parecido com o Aquaman que estamos acostumados. Mas, já que é para inovar, a gente tem que dar o braço a torcer para Jason Momoa, que faz um excelente trabalho. Creio que ele deve ter ficado um tanto preocupado em ter a responsabilidade de apresentar um Aquaman totalmente repaginado. Mas ele não deixou a peteca cair e deu muito carisma ao personagem, que poderia facilmente cair no estereótipo.

Mais outra mãezona. Pelo menos, ela não se chama Marta dessa vez…

Uma última coisa. O desfecho não foi tão óbvio e deu uma boa margem para continuação do filme solo. É muito bom ver tal opção de desfecho do que ver o lugar comum dos filmes de mocinho e de bandido, onde o antagonismo é excessivamente aflorado, só para dar uma dica do que estou falando sem lançar mão de spoilers.

Rei Orm ´é mais parecido com o Aquaman que conhecemos…

Dessa forma, podemos sim dizer que “Aquaman” foi um grande filme, motivado por um bom roteiro, por uma boa interpretação dos atores e por uma boa produção, tirando o herói de qualquer posição periférica em “Ligas da Justiça” futuras. A Warner e a DC parece que finalmente estão acertando a mão e oferecem produtos com cada vez mais qualidade. Vamos aguardar as próximas películas.

Batata Movies – Infiltrado Na Klan. Uma Louca História Real.

Cartaz do Filme

Spike Lee está de volta num filme que chama muito a atenção. “Infiltrado na Klan” é o típico caso de vida imitando a arte, pois é baseado numa história real no mínimo inusitada. Coisas impressionantes que aconteceram e que tinham uma chance enorme de dar errado e que, no fim das contas deram certo.

Um policial em busca de afirmação

O plot é o seguinte. Ron Stallworth (interpretado por John David Washington) é um afro americano que quer entrar para a polícia do Colorado, sendo o primeiro policial negro da instituição, em plena década de 70, quando as lutas pelos direitos civis estão acirradíssimas. Depois de passar pelo crivo pesado do chefe de polícia e de um policial negro mais experiente, ele acaba conquistando a vaga, sendo enviado para o arquivo, onde é tripudiado pelos policiais brancos com bastante racismo. Cansado daquela situação, ele pede um posto para ir às ruas.

Uma equipe vai embarcar numa investigação insólita…

É designado, então, para a inteligência, tendo como primeira missão espionar um encontro de ativistas negros. Lá, ele descobre duas coisas: a presidente do grêmio estudantil negro, Patrice (interpretada por Laura Harrier), pela qual se apaixona, e se inteira mais da luta pelos direitos civis ao assistir uma palestra de uma liderança. De volta à polícia, ele lê um jornal e vê uma propaganda da Ku Klux Klan, assim como um telefone para contato. É aí que ele terá a genial ideia de ligar para a Klan e se passar por um branco racista. Feito o contato, ele consegue marcar um encontro pessoal com a “organização”. Só que, por motivos óbvios, ele não pode ir. Assim, um de seus colegas da polícia, Flip Zimmerman (interpretado pelo “Kylo Ren” Adam Driver), de origem judia, fará o papel do Stallworth “branco”, enquanto que o verdadeiro Stallworth continua a manter o contato por telefone com os membros da organização. Nem é preciso dizer que, à medida que os policiais mais e mais penetram nas entranhas do grupo, essa relação ficará mais e mais perigosa.

Entrando para uma causa…

O filme tem a mensagem óbvia de denunciar o racismo nos Estados Unidos. Mesmo a gente já estando careca de saber disso antes mesmo de entrar na sala de projeção, a gente ainda se surpreende com algumas coisas, como o casal racista que troca juras de amor na cama, regado a muitos termos e ideias altamente racistas.

Descobrindo uma paixão…

O filme, entretanto, tem seus momentos engraçados, principalmente quando vemos Stallworth (alerta de spoiler) conversando por telefone com um dos membros da Klan rodeado por policiais que riem demais da conversa, ao melhor estilo de um trote telefônico.

Contando um antigo caso de racismo e homicídio…

Mas Lee consegue também ser esteticamente muito eficiente, com destaque em dois momentos: no discurso do líder negro que um Stallworth infiltrado presencia, muitas faces negras com um fundo escuro escutavam atentamente o palestrante, onde ficava claro em seus semblantes que uma espécie de consciência de classe se desenvolvia ali; e no momento onde um antigo líder negro falava de um enforcamento para uma plateia comovida enquanto que, simultaneamente, os membros da klan faziam todos os seus rituais com uma espécie de fundo religioso macabro. Lee conseguiu alternar esses dois momentos de forma magistral, não dando destaque maior nem para um nem para outro.

Rituais religiosos macabros…

Agora, o que mais choca em todo o filme é o seu desfecho. Lee nos acorda, pois ele traz para o presente algo que em nossas cabeças estaria adormecido lá no passado, nos tempos de Stallworth. Com um choque de realidade de imagens absolutamente contemporâneas (2017), Lee mostra que o ódio da Klan está mais vivo que nunca, e se sentindo encorajado com os desmandos do atual presidente Donald Trump. Dessa forma, o filme, que teve seus atrativos de inusitado e de humor, termina com um militante grito de denúncia, que nos faz sair da sala de projeção muito preocupados com a onda reacionária que assola o mundo hoje.

Spike Lee dirigindo Adam Driver

Assim, “Infiltrado na Klan” é um programa imperdível para quem gosta do bom cinema, magistralmente dirigido por Lee, e para quem se orgulha da arte cinematográfica como aquela que cumpre sua função social de denúncia. É mais um daqueles filmes para ver, ter e guardar.

Batata Movies – O Doutrinador. Um Herói Brasileiro

Cartaz do Filme

Um bom filme brasileiro. “O Doutrinador” alia duas virtudes: a de se fazer uma história dentro de nossa realidade, mas com uma pegada típica de filme de super-herói da Marvel ou da DC um tanto hard core, já que há muito sangue em toda a película. Essa história, baseada no HQ de Luciano Cunha e dirigida por Gustavo Bonafé, parece também ser um grito coletivo de uma sociedade que já está exausta com a própria corrupção que produz. E aí, temos a catarse de expurgar, de forma muito violenta, todos os demônios que acometem essa mesma sociedade, para lá de combalida. O Doutrinador é uma espécie de produto de uma cultura de ódio que há muito tempo está em gestação.

Miguel, um policial que perde a filha…

Vemos aqui a história do policial Miguel (interpretado pot Kiko Pissolato), que pertence a um grupo de elite da polícia que faz busca e apreensão de políticos corruptos, mas também cumpre ações de despejo contra sem tetos. Enquanto que Miguel vê com bons olhos as ações contra políticos corruptos, ao mesmo tempo ele se inconforma com as ações policiais contra os menos favorecidos. Qual é o papel da polícia, afinal? Mas a vida de Miguel irá desmoronar quando sua filha é atingida por uma bala perdida à caminho do estádio para assistir a um jogo da Seleção Brasileira. Ela acaba morrendo por falta de atendimento no hospital, fruto da… corrupção. É nessa hora que o homem se revolta e participa de uma manifestação contra o governador do Estado, envolvido em vários ilícitos e saindo livre, leve e solto por determinação da justiça (você já viu essa história antes?). Surgirá então o Doutrinador, que esconde seu rosto atrás de uma máscara de oxigênio, depois que ele fica sob uma nuvem de gás lacrimogênio. E aí, com seu treinamento policial, ele mete a porrada em todo mundo com golpes coreográficos de artes marciais, sem falar que ele é muito certeiro com as armas de fogo, ao status de um bom sniper. Com todos esses ingredientes, nosso protagonista caça seus algozes de uma forma regada à extrema violência e com cara de Darth Vader de olhos vermelhos. Brincadeiras à parte, o visual ficou sinistraço e convence muito. É claro que Miguel não conseguirá fazer tudo sozinho nessa empreitada de combater o mal e a corrupção. Ele terá a ajuda de Nina (interpretada por Tainá Medina), uma hacker que abrirá ao nosso herói todas as portas para caçar os políticos do mal, que são verdadeiras alusões a todas as bandalheiras que estão por aí em vários setores.

… se transforma num caçador implacável de corruptos!!!

É um filme que ajuda a gente a aliviar nossa raiva e sentimento de impotência de como o país está indo ladeira abaixo para um estado de convulsão total. A gente sente um certo prazer sádico ao ver todos aqueles políticos corruptos tendo a cabeça estourada (sim, a violência chega a esse nível). Mas fica o espaço para um questionamento: o grande herói do filme é um… policial. Cá para nós, as forças policiais também não têm sido bem vistas em virtude de toda a guerra urbana que passamos e os chamados “autos de resistência”.

Colarinho branco na alça de mira…

Por isso mesmo, a construção do personagem teve que ser muito cuidadosa e detalhada. Miguel é um policial que caça corruptos, mas ao mesmo tempo se comove com os problemas sociais e ele mesmo foi vítima desses problemas ao ter a filha morta por uma bala perdida e por falta de atendimento no hospital. Essa foi uma boa saída para dar “superpoderes” ao nosso herói, pois ele usa o treinamento de sua força policial especial para atacar os políticos do mal, algo que seria impossível se ele fosse uma pessoa normal do povo.

Contando com a ajuda de uma hacker…

O desfecho do filme também foi bem apoteótico (embora eu não vá me alargar aqui sobre isso), hollywoodiano até. E parece que não há a intenção do projeto ficar somente nesse filme. Fique de olho numa cena pós-crédito que irá aparecer.

Capa da HQ

Assim, “O Doutrinador” é uma curiosa experiência de nosso cinema, onde temos a temática dos filmes de super-herói, ao bom estilo da Marvel ou da DC, com uma violência mais turbinada e muito bem encaixada com nossa realidade nacional, que tem parecido muito mais distópica do que qualquer produção de franquia de HQs. Que esse projeto possa ainda render mais bons frutos, pois ele parece ter muito fôlego e disposição para isso. Um programa imperdível para quem gosta de ação, suspense e muita violência, numa temática 100% nacional.

Batata Movies – Bohemian Rhapsody. De Arrepiar.

Cartaz do Filme

E temos o tão esperado “Bohemian Rhapsody”, o filme sobre Freddie Mercury e o grupo Queen. Caramba, o que dá para falar aqui? Em primeiro lugar, quero pedir ao leitor para colocar toda essa resenha sob suspeita, pois eu sou um declarado e ardoroso fã do Queen. Se os Beatles e os Rolling Stones para muitos são considerados os dois maiores grupos de rock de todos os tempos, creio que, para quem vivenciou mais a década de 80, o Queen tem esse gabarito e, para minha pessoa (com todo respeito a outras opiniões, obviamente), o Queen é o maior grupo de rock de todos os tempos. Logo, será muito difícil fazer uma análise distanciada e não tendenciosa dessa película, mas vamos fazer um esforço. Desde já, peço perdão se não conseguir.

Rami Malek, um ótimo Freddie Mercury

Inicialmente, vamos falar do filme muito por alto. Esse é mais um filme de Mercury do que do Queen. Talvez fosse melhor se tivéssemos uma película que desse igual peso para os quatro integrantes da banda. Mas quando você vê os nomes de Brian May e Roger Taylor como produtores musicais executivos do filme, a gente sente que eles quiseram dar uma justa homenagem ao vocalista e, principalmente, amigo, morto pela AIDS em 1991. De qualquer forma, um destaque maior para John Deacon, por exemplo, não faria mal a ninguém.

Uma ótima caracterização do Queen

Uma outra coisa que incomodou um pouco foi o fato de não se seguir a cronologia correta da carreira da banda. Assim, vemos coisas que aconteceram em 1985 sendo citadas antes de 1980, por exemplo. E a gente precisa se adaptar um pouco a isso no transcorrer da exibição. Logo, ficava a dúvida de qual evento acontecia antes ou depois de outro. Assim, a gente precisa enxergar mais o filme como uma sucessão de temas abordados e inter-relacionados onde duas situações distantes no tempo podem ter sido colocadas lado a lado para reforçar o que era abordado.

Início de carreira…

Mais outro problema (e aí podem colocar na conta da histeria de fã mesmo) foi o fato de que a música de Roger Taylor, “I’m in Love With my Car” ter sido mencionada em tom de piada e de troça. Mesmo que ela tenha sido colocada em pé de comparação com “Bohemian Rhapsody” (o que realmente é impossível de se fazer), não ficou de bom tom zoar a música, que também é muito bonita. Creio que, se foi colocada a piada em cima da música, pelo menos ela poderia ter sido executada num dos shows mostrados no filme para que as pessoas pudessem ter contato com ela e tirarem suas próprias conclusões. Outra música que eu esperava muito que aparecesse no filme era “Death on Two Legs”, que critica severamente os Midas da indústria fonográfica da época. A gente vê essa situação de conflito no filme, todo o terreno preparado para a execução de “Death on Two Legs” e… nada. Foi um desperdício de oportunidade.

Um Mike Myers irreconhecível…

Disseram por aí que o homossexualismo de Mercury ficou um pouco acobertado no filme. Não foi essa a minha impressão. O assunto foi abordado de forma respeitosa, sem entrar nos altos escândalos e orgias que se diziam que o vocalista do Queen praticava. Sei não, me pareceu que essa necessidade de se escancarar a vida de Mercury, bem ao estilo “biografia não autorizada” fica meio na conta daqueles que querem dissecar a vida de celebridades para ter materiais para publicar em tabloides de fofoca. Aliás, essa crítica a um comportamento mais perverso da mídia fica muito evidente no filme.

Love of my life…

Até agora, eu falei mais dos problemas do filme, ficou até parecendo que a película foi uma porcaria. Mas vamos agora entrar nas virtudes. Em primeiro lugar, Rami Malek. Quando vi o trailer, confesso que esperava coisa melhor para Mercury. Ele parecia um cara artificialmente caracterizado na maquiagem para dar mais impacto. Só que aí ele aparece no remake de “Papillon”, deixando muita boa impressão em sua atuação. E esse é o grande trunfo de Malek. O cara tem muito talento e força de atuação. Ele consegue superar sua não semelhança e caracterização artificial da maquiagem para incorporar Mercury em sua atuação de uma forma muito impressionante. A gente compra o Mercury de Malek sem medo. Parece até que o cara ressuscitou. E não falo da performance nos shows, onde isso é mais evidente, e sim no momento em que ele não canta e interage com as demais pessoas. Outra coisa que faz o filme ser muito bom é a interação dos membros do grupo, para o bem e para o mal. Não se teve medo de mostrar os desentendimentos e brigas, onde até as vias de fato chegaram a acontecer, além de se desvelar a natureza “esquentadinha” de Taylor (o que magoa um pouco minha pessoa, pois sou muito fã de Taylor, interpretado por Ben Hardy). Dentre os integrantes do Queen, o que mais se parecia fisicamente era Brian May (interpretado por Gwilym Lee). Já John Deacon (interpretado por Joseph Mazzello) foi bem retratado em sua serenidade. Uma coisa que chamou muito a atenção foi um Mike Myers irreconhecível fazendo o papel de Ray Foster, um dos Midas da indústria fonográfica com o qual o Queen se desentendeu. No mais, o filme é muito divertido em referências. É claro que as músicas do grupo eram vistas com muito carinho e celebradas. Mas era muito mais saboroso quando músicas menos conhecidas (ou, talvez, menos executadas) do grupo apareciam, nem que fosse uma referência, casos, por exemplo, de “Doing All Right”, “Lazing on the Sunday Afternoon” (cantarolada por Mercury) ou “Seven Seas of Rhye” Pena que não apareceu muita coisa do LP Queen II, e isso até podia ter acontecido, pois o experimentalismo da banda foi bem explorado em uma certa altura da película. Referências divertidas também aparecem, como as meninas que pedalavam bicicletas numa das festas de Freddie (as “Fat Bottomed Girls” em sua “Bicycle Race” do LP “Jazz”), ou então o caminhão com um enorme “Mack” em seu capô (Mack foi produtor de álbuns do Queen). Outra coisa que torna o filme grandioso é a opção por não se fazer uma choradeira com a AIDS de Mercury. Sim, ela aparece no filme, mas não se foca no sofrimento do cantor como se poderia esperar nesse caso. Esse é um filme de momentos tristes, mas não trágicos. E um filme onde brigas podem ser resolvidas com reconciliações, seja na banda, seja na própria família de Freddie, muito bem espelhada em sua origem outsider, o que dá mais credibilidade a todo o conjunto.

Embates com a imprensa…

No que mais o filme foi bom? Porra, foi um filme do Queen, cacete! A gente cantava as músicas, estava com nossos ídolos em sua trajetória de vida, vimos seus altos e baixos. A empatia e afinidade com os personagens reais do filme parecia ter cinquenta milhões de anos!!! O que vocês mais querem que eu diga???

No Live Aid…

Bom, querido leitor, espero ter dado a você uma análise a mais isenta possível (creio que foi algo impossível, principalmente depois do parágrafo acima). Só posso dizer que fui às lágrimas em muitas partes do filme, sobretudo ao seu final, e junto com os fãs do estádio. Fiz questão de puxar as palmas ao fim da sessão que assistia, no que fui prontamente atendido pelo público. O filme é do caralho (olha só o tamanho da resenha que deu!), não deixem de ver. E não deixem de ver, depois do trailer abaixo, as duas músicas que tinham que estar no filme, “I´m In Love With My Car” e “Death On Two Legs”.