Batata Movies 2 (Especial Oscar 2021). Emma. A Shipadora Do Século XIX.

Crítica: Emma (2020, de Autumn de Wilde) | Minha Visão do Cinema
Cartaz do Filme…

Dentre as nossas análises de filmes que concorrem ao Oscar desse ano de 2021, falemos hoje de “Emma”, que concorre a duas estatuetas: Melhor Maquiagem e Cabelo e Melhor Figurino. Para podermos falar desse filme, vamos precisar dos spoilers de sempre.

Emma. 2020 Emma Woodhouse | Emma woodhouse, Filmes, Moda
Emma tem fama de casamenteira…

O filme fala da história de Emma (interpretada por Anya Taylor-Joy), uma mocinha da Inglaterra do século XIX que tem como diversão principal arranjar casamentos entre as pessoas do seu círculo numa cidadezinha de interior. Cheia de si, arrogante e vaidosa, ela controla a vida das pessoas com a fama de casamenteira que conseguiu. Entretanto, ela é vista com reservas por Knightley (interpretado por Johnny Flynn), que critica a vaidade e arrogância de Emma. Knightley, assim como Emma, também é um observador arguto dos membros daquela sociedade e quase sempre não concorda com as estratégias que Emma tem para as pessoas no que se refere ao arranjo de casamentos.

Emma (2020) - Romances Históricos
Knightley não aprova as atitudes de Emma…

O filme, baseado numa história de Jane Austen, tem um gostinho de comédia, mas soa mais como uma espécie de crítica à sociedade tradicional do século XIX, onde as vidas das pessoas são regidas por rígidas convenções sociais e a preservação das aparências, ao invés das pessoas serem livres para fazerem suas escolhas afetivas. Emma se vê como uma grande sabichona e conhecedora das pessoas, mas chegará um momento na história em que ela vai errar feio em suas previsões. O preconceito e arrogância da garota também a colocarão numa tremenda saia justa quando ela comete uma indelicadeza com uma senhora, o que a deixou muito mal na fita com todos. A partir daí, suas amizades mais próximas começam a deixá-la. Outros erros de avaliação de Emma se revelam e ela finalmente percebe que tem que assumir uma postura mais humilde e que ela deve desfazer os malfeitos provocados por seu comportamento arrogante. Como a moça se arrependeu de seus atos e tentou consertá-los, a história lhe reservou o happy end que o leitor de repente até já adivinhou: ela se casa com Mr. Knightley, com quem se estranhava constantemente. Ou seja, algo bem óbvio em termos de roteiro.

Emma. - Humor, ironia e uma mesa cheia de biscoitos - SMUC
Controlando a vida das pessoas…

Já que temos uma história meia boca aqui, onde os diálogos altamente rebuscados deixam a coisa um tanto morosa e o final feliz redime todos os pecados da protagonista, vamos às indicações. A premiação de figurino encontra concorrentes fortes como “Mank” e “Mulan”. Talvez haja uma chance maior para maquiagem e cabelo, embora o trabalho em “Era Uma Vez Um Sonho” também tenha ficado muito bom.

CRÍTICA | 'Emma': adaptação irritante com Anya Taylor-Joy robótica
Um final óbvio…

Dessa forma, “Emma” é um filme engraçadinho, mas que não desperta muito entusiasmo pela história que tem até o mérito de fazer uma crítica de costumes, mas que é muito trivial e tem um desfecho altamente conveniente (uma ruína para Emma poderia cair bem melhor aqui). As indicações são merecidas, mas enfrentarão uma grande concorrência.  

Batata Movies 2 (Especial Oscar 2021). Greyhound, Na Mira Do Inimigo. Perigoso Jogo De Esconde-Esconde.

Greyhound: Na Mira do Inimigo (2020) - Ficha do Filme | Cinema e Afins
Cartaz do Filme

Dentre nossas análises dos filmes que concorrem ao Oscar, vamos falar hoje de “Greyhound, Na Mira Do Inimigo”, que concorre à estatueta de Melhor Som. Para podermos falar desse filme, vamos precisar dos spoilers de sempre.

Greyhound: Na Mira do Inimigo - Uma missão falha - SMUC
Krause precisa proteger um comboio…

Vemos aqui a história do Capitão Krause (interpretado por Tom Hanks), que tem uma difícil missão: defender um comboio de embarcações da Marinha Mercante que cruzam o Oceano Atlântico em direção à Europa durante a Segunda Guerra Mundial. O grande problema são os temidos submarinos alemães, que afundam esses barcos da Marinha Mercante, buscando evitar que os Estados Unidos consigam prover seus aliados na Europa com toda uma gama de produtos. O comboio tem apoio de aviões até uma determinada parte da travessia, quando as embarcações entram num setor chamado “buraco negro”, onde a única defesa que o comboio tem são alguns barcos que fazem a escolta. Essa lacuna dura cerca de cinco dias, quando as embarcações estão mais próximas à Europa e o apoio aéreo retorna. A embarcação que lidera a defesa do comboio é o Greyhound, capitaneado por Krause, que está em sua primeira missão de travessia do comboio. Com um péssimo tempo e o mar revolto, as estratégias de defesa tem que ser meticulosamente calculadas pelo capitão para encontrar um inimigo praticamente invisível e atacá-lo sem desperdiçar munição, pois há vários submarinos alemães atacando simultaneamente.

Greyhound: Na Mira do Inimigo – Papo de Cinema
Uma vigília incessante…

É um filme muito tenso, onde vemos Krause liderando seus homens ao mesmo tempo que ele precisa estar em contato com as outras embarcações de defesa. Apesar da infinidade de termos técnicos de navegação, com o tempo o espectador consegue entender o que está acontecendo, pois ele vai aprendendo o significado desses termos à medida que as situações ocorrem. Vemos toda a dificuldade de comunicação para que tudo o que ocorre chegue ao capitão, onde toda a equipe deve estar muito bem treinada e qualquer hesitação pode decidir questões de vida ou morte (até um espirro pode prejudicar as comunicações e atrasar uma ordem decisiva do capitão). Volta e meia, os submarinos sobem à superfície para pegar oxigênio e estão visíveis, mas as condições do tempo e do mar prejudicam as visualizações. Nesse contexto, os radares precisam funcionar dentro da maior eficiência possível e um defeito neles pode ser algo fatal. Os submarinos alemães também podem lançar iscas para enganar os radares quanto à sua posição. A autoconfiança dos alemães em destruir as embarcações era tão grande que eles entravam em contato com o Greyhound para fazer guerra psicológica, xingando ofensas e ameaçando de morte a todos. Mas a concentração da equipe não podia esmorecer um segundo. O filme mostra tudo isso com grande desenvoltura e a gente deve tirar o chapéu para Tom Hanks, não somente por sua soberba atuação de sempre, mas também pelo fato de que ele assina o roteiro, que é baseado no livro de C. S. Forester, “The Good Shepherd”.

Crítica | Greyhound: Na Mira do Inimigo (2020)
Apesar dos radares, o contato visual é determinante…

Com relação a única indicação que o filme recebeu, a de Melhor Som, creio que esse filme não ganhará, pois me parece que “O Som do Silêncio” é o grande favorito, o que é uma pena, pois esse filme é muito instigante e cativante. Talvez ele merecesse mais indicações técnicas, como os Efeitos Visuais.

Na Apple TV+ | Greyhound: Na Mira do Inimigo - Clube da Poltrona
Um homem muito religioso…

Assim, “Greyhound, Na Mira Do Inimigo” é um filme que concorre ao Oscar que não é tão badalado, mas apresenta uma história de guerra muito interessante onde Tom Hanks interpreta o protagonista principal e ainda assina o roteiro. Mesmo que não ganhe o Oscar, o valor desse filme foi reconhecido pela indicação de Melhor Som que recebeu, embora ele tivesse bala na agulha para mais indicações.  

Batata Movies 2 (Especial Oscar 2021). Nomadland. Crise Econômica Ou Estilo De Vida?

Crítica: Nomadland | Oscar 2021
Cartaz do Filme…

Dentre as nossas análises de filmes que concorrem ao Oscar desse ano de 2021, falemos hoje de “Nomadland”, que concorre a seis estatuetas: Melhor Filme, Melhor Atriz para Frances McDormand, Melhor Direção para Chloé Zhao, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Montagem e Melhor Fotografia, além de ter ganhado os Globos de Ouro de Melhor Filme de Drama e Melhor Direção. Para podermos falar desse filme, vamos precisar dos spoilers de sempre.

Nomadland”: filme que é sério concorrente ao Oscar pode ser assistido de  graça em plataforma digital
Fern, uma mulher que vive nas estradas, aqui e ali…

Vemos aqui a trajetória de Fern (interpretada por Frances McDormand), uma mulher que perdeu emprego, marido e casa depois da crise de 2008, tendo apenas a estrada e trabalhos temporários que surgem ao longo da via para viver, morando em sua pequena van e tendo uma vida totalmente nômade. Fern irá ter uma infinidade de empregos diferentes e conhecerá muitas pessoas ao longo da estrada, passando pelas mais diversas experiências. Uma vida que pode ser muito dura, mas onde também se encontra muita solidariedade entre os nômades, vítimas da recessão mas que, ao mesmo tempo, não conseguem mais se readaptar à vida sedentária.

'Nomadland' é grande favorito ao Oscar de melhor filme, dizem 'termômetros'  do Oscar | Oscar 2021 | G1
Ela encontra muita solidariedade pelo caminho…

O filme conta com a ajuda de nômades verdadeiros e, num certo clima de Road Movie, busca mostrar como essas pessoas que parecem invisíveis à sociedade americana conseguem sobreviver nesse panorama de crise econômica. Totalmente descartados pela sociedade, eles recorrem às mais diferentes estratégias, à medida que vão relatando suas experiências de vida. Há aqueles, como Fern, que pegaram a estrada depois de fortes perdas. Há outros que simplesmente optaram por essa vida, pois viram os entes queridos trabalharem a vida inteira e não puderam desfrutar de todas as suas economias pois morreram logo depois que se aposentaram. Alguns simplesmente foram afetados pela crise e não tiveram mais para onde ir. Ou seja, o filme, ao expressar de forma multifacetada a vida dos nômades, responsabiliza sim a crise econômica, mas também mostra que a vida na estrada pode ser uma opção, tudo variando muito de caso a caso. O acampamento nômade no deserto que vemos na película é o indicativo de que temos toda uma sociedade e cultura nômade sendo forjada nos Estados Unidos, algo peculiar e curioso aos nossos olhos sedentários. E, mesmo com certos desconfortos como não ter um banheiro à disposição ou enfrentar o forte frio, os nômades se adaptam à sua realidade e conseguem levar a sua vida, mesmo sendo vistos pelos sedentários com um certo preconceito, encarados como sem-teto ou pessoas em estado de forte miserabilidade.

Nomadland" conquista BAFTA
McDormand e Zhao…

Falemos, agora, das indicações. Frances McDormand está muito bem em seu papel, mas a concorrência com atrizes mais jovens (o que significa maior chance de novos contratos lucrativos) e o fato dela ter abiscoitado um Oscar nos últimos anos acaba tirando um pouco suas chances. Chloé Zhao pode ter chances de ganhar como diretora ou roteiro adaptado. A fotografia parece ter mais chances que a montagem, pois o filme mostra paisagens muito deslumbrantes do interior dos Estados Unidos, indo da neve inclemente aos desertos e paisagens rochosas, passando por parques florestais, o que dá ao Road Movie um certo gostinho de Western, muito embalado pela música country, que tem um certo destaque no filme. Tais paisagens ganham muito em beleza, mas também conseguem passar um forte sentimento de desolação, dialogando bastante com o filme e o espectador.

Favorito ao Oscar 2021, Nomadland encanta pelas contradições
O filme tem grandes paisagens…

Dessa forma, “Nomadland” é mais um filme graúdo que concorre nas categorias principais do Oscar. Com uma grande atriz e uma grande diretora, provavelmente essa película deve sair com premiações, o que não seria nenhuma surpresa.

Batata Movies 2 (Especial Oscar 2021). Bela Vingança. E Uma Covardia Muito Feia.

Bela Vingança - Filme 2020 - AdoroCinema
Cartaz do Filme

Dentre as análises de filmes que concorrem ao Oscar nesse ano de 2021, falemos hoje de “Bela Vingança”, que concorre a cinco estatuetas: Melhor Filme, Melhor Atriz para Carey Mulligan, Melhor Diretor para Emerald Fennell, Melhor Roteiro Original e Melhor Montagem. Para podermos falar desse filme, vamos precisar dos spoilers de sempre.

Bela Vingança': A realidade perturbadora retratada no filme indicado a 5  oscars | Oscar 2021 | G1
Cassandra atraía abusadores…

Vemos aqui a história de Cassandra (interpretada por Carey Mulligan), uma moça que se finge de bêbada em Night Clubs para que os homens a levem para a sua casa e aproveitem a sua suposta condição de vulnerabilidade para abusar sexualmente dela. Mas Cassandra se revela sóbria na hora em que o homem vai cometer o abuso, colocando-o numa tremenda saia justa. Ela faz isso, pois quando estava na Universidade, sua amiga muito próxima Nina sofreu abusos sexuais de estudantes de medicina e a moça se retirou da Universidade, pois ao acusar os colegas de abuso, a visão machista que existe desde sempre acabou culpando-a pelo ocorrido. Para ficar solidária com a amiga, Cassandra também se retirou da Universidade e as duas não terminaram o curso por causa disso. Mais tarde, Nina comete suicídio. Cassandra, então, começa sua saga de colocar os abusadores em seu lugar, mas ela também tem um objetivo maior: ir atrás das pessoas que desgraçaram a vida de Nina e se vingar. No meio disso tudo, aparece na vida de Cassandra Ryan (interpretado por Bo Burnham), que está muito interessado nela e parece ser um cara muito legal. Mas nem sempre as coisas são o que parecem ser.

Bela Vingança': A realidade perturbadora retratada no filme indicado a 5  oscars | Oscar 2021 | G1
… e os encostava contra a parede…

O filme tem uma mensagem muito clara que é a denunciar o abuso de mulheres em situação de vulnerabilidade pelos homens. Cassandra é uma espécie de “justiceira” que não recai no expediente da violência para castigar os machistas. Num primeiro momento, fica parecendo que vemos uma vingança à meia bomba. Mas, numa segunda análise, essa é a melhor resposta a se dar, onde temos um grande susto que é dado, mas nenhuma maldade ou violência é cometida, algo que é mais atribuído ao universo masculino. A ideia de Cassandra é fazer os algozes passarem pelo mesmo constrangimento que ela e Nina passaram, mas sem a violência que sofreram, não sendo um “olho por olho”.

Bela Vingança incomoda e você sabe o porquê – Persona | Crítica Cultural
Ryan parecia o homem perfeito…

O filme se torna mais interessante em função de seus plot twists, sobretudo no desfecho da película, onde o algoz maior, o estuprador de Nina, recebe a punição mais severa. Apesar dos plot twists, o filme tem uma constante: a de que nenhum homem realmente presta, com todos tendo alguma espécie de defeito ou dando os mesmos argumentos para justificar os malfeitos do passado.

Bela Vingança | Promising Young Woman | Crítica | Apostila de Cinema
Com a mãe de Nina, relembrando as dores do passado…

E as indicações? A indicação para Melhor Atriz está uma briga muito grande e Mulligan aparece com força. Continuo dizendo que minha favorita é Viola Davis, mas ela realmente já ganhou um Oscar e, se valer a regra de se premiar atrizes mais jovens para render mais contratos lucrativos, Mulligan ganha força aqui. Na direção, temos a presença de duas mulheres: Chloé Zhao, por “Nomadland” e Emerald Fennell por “Bela Vingança”. Seria muito interessante que uma das duas ganhasse, embora “Mank” venha forte com dez indicações, podendo também ser possível que seu diretor David Fincher tenha boas chances. A premiação para Roteiro Original, escrito pela mesma Emarald Fennell, também cairia muito bem.

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Chegando ao auge de sua vingança…

Dessa forma, “Bela Vingança” é mais um medalhão que vem forte na disputa pelas principais categorias. Um filme que denuncia o comportamento machista e abusador dos homens que se aproveitam de mulheres em situação de vulnerabilidade. Chances boas para a premiação de atriz, direção e Roteiro Original.

Batata Movies 2 (Especial Oscar 2021). Meu Pai. Labirinto Cognitivo.

Meu Pai - Filme 2020 - AdoroCinema
Cartaz do Filme…

Dando sequência às nossas análises de filmes que concorrem ao Oscar desse ano de 2021, vamos falar hoje de “Meu Pai”, que concorre a seis estatuetas: Melhor Filme, Melhor Ator para Anthony Hopkins, Melhor Atriz Coadjuvante para Olivia Colman, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Montagem e Melhor Design de Produção. Ou seja, temos aqui mais um filme graúdo, com várias indicações muito importantes. Para podermos falar sobre esse filme, vamos precisar dos spoilers de sempre.

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Um Anthony Hopkins primoroso…

O plot é muito simples. Vemos aqui a história de Anthony (interpretado por Anthony Hopkins) e sua filha, Anne (interpretada por Olivia Colman). Anthony tem o Mal de Alzheimer e Anne precisa cuidar do pai. Mas Anthony não tem muita noção da realidade e acha que não precisa de uma pessoa para cuidar dele. Com o tempo, Anthony vai se tornando cada vez mais confuso, à medida que a doença avança, até que ele termina num asilo, completamente perdido e praticamente voltando aos seus dias de infância, totalmente vulnerável nos braços de uma enfermeira.

Crítica | Meu Pai (The Father, 2020) - Plano Crítico
Olivia Colman consegue fazer uma grande dobradinha com Hopkins…

É um filme muito desesperador, à despeito de uma história muito simples. O que torna a película muito impactante é o fato de que testemunhamos todos os acontecimentos do ponto de vista de Anthony, onde progressivamente vamos perdendo a noção total da realidade, além das lacunas de memória aumentarem cada vez mais. Toda hora estamos juntos com Anthony numa situação nova, completa ou parcialmente desconexa da situação anterior, onde não nos lembramos quem são as pessoas ou, pior até, a identidade das pessoas vai mudando. Ficamos completamente perdidos e simplesmente não sabemos o que está acontecendo. É como se o espectador adoecesse do Alzheimer e testemunhasse o desenvolvimento da doença, sem ter a menor noção de que está com algum mal. Nos sentimos totalmente vulneráveis, confusos e inseguros. Uma hora estamos num apartamento. Momentos depois, estamos em outro. Uma hora, uma cuidadora tem determinadas características físicas; noutra hora, a mesma cuidadora já é outra pessoa. Num momento, estamos acordando e tomando o café; no instante seguinte, é a hora da janta e estamos comendo frango pela enésima vez. Ou seja, estamos numa espécie de turbilhão, um labirinto cognitivo onde não conseguimos estabelecer uma continuidade de nossas experiências cotidianas. Tudo isso dá uma sensação extremamente desagradável e, principalmente, um certo estado de pânico só de pensar que existe uma possibilidade de encarar uma doença tão horrível como essa no futuro.

Meu pai' comove com drama familiar em fuga dos clichês com Hopkins  impecável; G1 já viu | Pop & Arte | G1
Uma doença que pode trazer muitos conflitos…

E as indicações? Mais um medalhão para Melhor Filme que se torna uma incógnita se vai ganhar ou não. Hopkins parece ser um forte candidato, embora já tenha ganhado um Oscar de Melhor Ator no passado (há a forte concorrência de Chadwick Boseman e Riz Ahmed). O mesmo ocorre com Olivia Colman, que ganhou uma estatueta há menos tempo (aqui parece que Amanda Seyfried é a favorita). As indicações de Montagem e Design de Produção parecem ter mais chances, já que elas dão base de uma forma bem eficiente para a narrativa altamente fragmentada de um protagonista que sofre de um mal que embaralha toda uma narrativa linear. Roteiro adaptado parece ter boas chances também.

Meu pai' comove com drama familiar em fuga dos clichês com Hopkins  impecável; G1 já viu | Pop & Arte | G1
… e grande vulnerabilidade…

Dessa forma, “Meu Pai” é mais um candidato de peso que concorre ao Oscar. Atuações primorosas de Anthony Hopkins e Olivia Colman, mas como os dois já ganharam suas estatuetas, talvez a premiação vá para as gerações mais novas. Um  filme que tira completamente o espectador de sua zona de conforto, o colocando na realidade para lá de sombria do Mal de Alzheimer.

Batata Movies 2 (Especial Oscar 2021). Druk, Mais Uma Rodada. Didática Etílica.

Druk - Mais uma Rodada - Filme 2020 - AdoroCinema
Cartaz do Filme

Dando sequência às nossas análises de filmes que concorrem ao Oscar nesse ano de 2021, falemos de “Druk, Mais Uma Rodada”, que concorre a duas estatuetas: Melhor Filme Internacional (ou o antigo Melhor Filme Estrangeiro) e Melhor Direção para Thomas Vinterberg. Para que possamos analisar esse filme,vamos precisar dos spoilers de sempre.

Druk - Mais uma Rodada - Com Mads Mikkelsen - Vitamina Nerd
Martin, um professor desanimado…

Vemos aqui a história de Martin (interpretado por Mads Mikkelsen), um professor de História que está desanimado da vida. Ele mantém um relacionamento frio e distante com sua esposa, além de não estar mais motivado para dar aula. Numa festa de aniversário com três amigos seus que são professores na mesma escola em que Martin leciona, um deles sugere uma estranha tese: a de que um ser humano precisa de uma determinada dosagem diária de álcool para viver bem. Eles decidem, conjuntamente, levar a cabo essa experiência, o que vai ser uma novidade para Martin, que nem bebia muito. No início, tudo parece ir às mil maravilhas: as aulas dos professores tornam-se mais interessantes, eles ficam muito mais sociáveis no ambiente de trabalho, Martin consegue melhorar a sua relação com a esposa. Entretanto, a vontade constante de experimentar novas bebidas e a ideia de manter o nível de álcool no sangue constante durante todo o dia até as oito da noite acaba levando os quatro amigos para o perigoso caminho do alcoolismo. Para piorar a situação, eles começam a esconder bebidas dentro da escola para manter o nível etílico dentro dos padrões que almejam. E aí vemos a vida dos quatro professores descendo ladeira abaixo, com cada situação individual passando por um problema específico. Um dos amigos terá um desfecho trágico e agora eles vão precisar parar com a experiência que se revela uma verdadeira faca de dois gumes.

Druk', movido a bebedeira entre amigos, é favorito a Oscar de filme  internacional - 15/03/2021 - Ilustrada - Folha
Planejando uma experiência…

Com um plot desse calibre, o leitor pode pensar que o desfecho do filme é muito triste. Mas, apesar do fim trágico de um dos professores, surpreendentemente temos um happy end aqui, pois a parte positiva da experiência – a maior sociabilidade dos professores no ambiente escolar, sobretudo com seus alunos – rendeu bons frutos, já que eles prestavam exame para a faculdade ao fim do ano e a didática etílica rendeu ótimos resultados. Confesso que fiquei surpreso com isso, pois todos os filmes que vejo com Mads Mikkelsen atuando (e não foram poucos, o acompanho desde o Manifesto Dogma 95, lançado justamente por Vinterberg e Lars Von Trier) seu personagem se ferra fragorosamente no final, algo meio parecido com o que acontecia com Ricardo Darín em alguns filmes. Ver um personagem de Mikkelsen tendo um happy end deu até uma certa sensação de alívio.

Druk - Mais Uma Rodada: filme indicado ao Oscar estreia 25 de março
Tornando-se mais sociável…

A película tem um certo tom de comédia em alguns momentos (há várias imagens de arquivo de políticos bêbados ou bebendo, onde Boris Yeltsin, pau d’água internacional de marca maior, foi o grande ícone), o que ajuda a fazer o filme fluir bem, assim como os momentos de leveza dos professores se relacionando bem com os alunos por causa da bebida. Mas a decadência dos quatro, batendo nas perigosas portas do alcoolismo, propiciaram momentos muito pesados, como a DR dolorosa entre Martin e sua esposa. A transformação desses quatro personagens do céu ao inferno tem o talento dos atores e o dedo da direção, que teve indicação bem merecida. Só lamento não poder dizer se “Druk” é pule de dez para ganhar o prêmio de Melhor Filme Internacional, uma categoria que sempre vem com concorrentes muito fortes, pois o cinema mundial aqui passa por um severo processo de afunilamento até que se escolham os cinco filmes principais.

Druk: Mais Uma Rodada (2020) - Resenha - Meta Galaxia
Sérios problemas no casamento…

Dessa forma, “Druk, Mais Uma Rodada” é mais um bom filme que concorre ao Oscar. Sempre é bom ver Mads Mikkelsen trabalhando no cinema de sua cultura local, onde ele tem o status maior de estrela. E o consumo de bebidas alcoólicas foi tratado aqui de uma forma um tanto singular, onde se apontam os prós e contras do consumo etílico.

Batata Movies 2 (Especial Oscar 2021). Judas E O Messias Negro. Traição Num Ambiente De Guerra Civil.

Judas e o Messias Negro - Ingresso.com
Cartaz do Filme

Dentre as nossas análises de filmes que concorrem ao Oscar 2021, falemos hoje de “Judas e o Messias Negro”, que concorre a seis estatuetas: Melhor Filme, Melhor Ator Coadjuvante para Daniel Kaluuya, Melhor Canção, Melhor Roteiro Original, Melhor Ator Coadjuvante (de novo!) para Lakeith Stanfield e Melhor Fotografia, além de ter ganhado o Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante para Daniel Kaluuya. Ou seja, temos mais um concorrente de peso aqui. Para podermos analisar esse filme, vamos usar os spoilers de sempre.

Judas e o Messias Negro ganha segundo trailer e tem estreia prevista para  fevereiro - Notícia Preta
Fred Hampton, o Messias Negro…

O filme fala da trajetória de Fred Hampton (interpretado por Daniel Kaluuya), o presidente do Partido dos Panteras Negras de Illinois. Dono de um discurso muito eloquente e cativante, Hampton tinha como principal ambição reunir vários grupos na luta revolucionária para instituir o socialismo nos Estados Unidos. Ele consegue o apoio de outras facções de afroamericanos, grupos de origem latina e até brancos sulistas. Sua capacidade de aglutinação de todas essas facções provocou a preocupação no FBI, que começa a investigar mais de perto as ações de Hampton. Para isso, será infiltrado no grupo de Hampton como informante do FBI Bill O’Neal (interpretado por Lakeith Stanfield), um puxador de carros que enganava as pessoas dando uma carteirada de policial e que foi pego pela polícia, recebendo a oferta de ser informante ao invés de ir para a cadeia. A vida de O’Neal não será fácil, pois ele fica muito temeroso com toda a forma de ser dos Panteras Negras e a ideia de ser pego como informante por eles o aterrorizava. Mas, com o tempo, O’Neal percebeu como Hampton tinha um lado também mais afável, além de começar a acreditar em sua causa. Entretanto, as pressões do FBI em cima dele eram simplesmente impossíveis de se aguentar, já que a ameaça de prisão sempre era algo bem real. A coisa irá culminar com uma tocaia organizada pelo FBI para matar Hampton, onde O’Neal teve que participar.

Judas e o Messias Negro: novo trailer do forte candidato ao Oscar - TecMundo
Bill O’Neal, o Judas…

O filme, baseado numa história real, mostra como o conflito entre os Panteras Negras e o governo teve ares de uma pequena guerra dentro dos Estados Unidos, com direito a tiroteios entre a polícia e os ativistas do movimento em alguns momentos do filme. São apresentados, do lado dos Panteras Negras, vários personagens que vão simplesmente morrendo ao longo do filme. É emblemático um tiroteio entre a polícia e os Panteras Negras em sua sede, sob os olhos atônitos da população. Quando os Panteras Negras são rendidos, os policiais, sem qualquer cerimônia, levam gasolina para dentro do prédio, incendiando-o de forma criminosa, sem qualquer preocupação com uma punição. Ou seja, era um verdadeiro clima de guerra que vimos ao longo da exibição, guerra essa completamente desigual em favor das forças do governo.

Judas e o Messias Negro': o que você precisa saber sobre o filme - Cultura  - Estadão
Uma ligação perigosa…

E quanto às indicações? O leitor pode estranhar duas indicações para melhor ator coadjuvante num mesmo filme. Mas isso volta e meia acontece, até porque provavelmente não haveria uma “vaga” de Melhor Ator para um dos dois atores indicados a Melhor Ator Coadjuvante. E aí, se coloca essas indicações a Melhor Ator Coadjuvante, até porque o Oscar é uma premiação de indústria e a indicação ao Oscar também é um rótulo que dá prestígio ao indicado, valorizando-o e fazendo a roda do dinheiro rodar mais. Como Kaluuya já ganhou o Globo de Ouro, existe uma possibilidade maior de premiação para Stanfield que, diga-se de passagem, merece muito o prêmio, pois não é fácil dar vida a um personagem tão dúbio quanto um informante, que vive constantemente no medo de ser descoberto, além de ter se arrependido de tudo o que fez (o verdadeiro O’Neal acabou se suicidando). Hampton, por sua posição idealista, parece um personagem mais fácil de se fazer do que O’Neal. A premiação para Melhor Filme sempre é uma incógnita, assim como o Roteiro Original. Já a fotografia, confesso que estou torcendo para o preto e branco de “Mank”.

Artigo| 'Judas e o Messias Negro' resgata uma história que o racismo tentou  apagar - Ponte Jornalismo
Relutância ao trair…

Dessa forma, “Judas E O Messias Negro” é outro concorrente de peso ao Oscar desse ano. As atuações de Daniel Kaluuya e Lakeith Stanfield são dignas de premiação, com uma chance maior para Stanfield, que fez um personagem mais complexo. Vemos aqui mais um filme baseado numa história real, que mostra uma luta crua dos afroamericanos pelos seus direitos e a violenta repressão que sofreram.

Batata Movies 2 (Especial Oscar 2021). The United States Vs. Billie Holiday. Uma Música Contra O Linchamento.

059/2021 THE UNITED STATES VS BILLIE HOLIDAY – JÁ VIU?
Cartaz do Filme…

Dando sequência às nossas análises de filmes que concorrem ao Oscar nesse ano de 2021, falemos hoje de “The United States Vs. Billie Holiday”, que concorre a estatueta de Melhor Atriz para Andra Day e que ganhou o Globo de Ouro de Melhor Atriz de Filme de Drama para Andra Day. Para podermos analisar esse filme, vamos precisar dos spoilers de sempre.

The United States vs. Billie Holiday (2021) | Crítica de Cinema
Uma cantora contra um sistema…

O filme começa com uma foto real de um grupo de brancos queimando o corpo de um afroamericano e falando de uma lei contra os linchamentos que era votada na década de 30 e que não era aprovada. Billie Holiday (interpretada por Andra Day), em grande evidência na época, cantará uma música intitulada “Strange Fruit”, que fala de forma bem crítica dos linchamentos de afroamericanos, se tornando alvo do Departamento Federal de Narcóticos, na figura de Harry Anslinger (interpretado por Garrett Hedlund). Na verdade, eles queriam calar a música de protesto da cantora, mas decidiram atingir seu ponto fraco que era o vicio em drogas, levando-a a prisão. Depois de um tempo encarcerada, Holiday volta à ativa mas sua licença de cantora é caçada, não podendo trabalhar de forma oficial. Por isso, ela precisa se associar com um empresário do ramo de shows que tem contatos com o governo para poder continuar a se apresentar e a levar a sua carreira, em troca de sexo com ele. Por outro lado, Holiday mantém uma relação com o policial Jimmy Fletcher (interpretado por Trevante Rhodes), um informante do Departamento Federal de Narcóticos que justamente armou para levar Holiday à prisão. Apesar disso, ele acaba se envolvendo com a cantora e sua carreira é destruída por causa disso. Holiday seria perseguida pelos oficiais da narcóticos por toda a sua breve vida de quarenta e quatro anos, sempre sendo pressionada a entregar quem fornecia drogas para ela, o que significaria a vitória dos brancos que a perseguiam sobre ela. E a moça resistiu bravamente até a sua morte, onde foi alegado que encontraram drogas em seu organismo, com ela sendo “presa” depois de morta.

The United States vs Billie Holiday” (2021) de Lee Daniels
Sentenciada à prisão…

O filme tem dois eixos principais. O primeiro foca bastante na curta biografia de Holiday, sua carreira conturbada, seu vício com as drogas e as difíceis relações que ela teve que estabelecer para levar sua carreira de sucesso adiante. Fica aqui um ponto muito forte para Andra Day, que abraçou a personagem de uma forma profunda, dando toda uma ideia da personalidade forte da cantora, que não podia esmorecer num meio totalmente adverso a ela, o que dá uma indicação para lá de merecida a Day. O segundo eixo é o tema da questão racial nos Estados Unidos, onde vemos toda a perseguição à cantora quando ela cantava “Strange Fruit” e as tentativas de órgãos do governo de silenciar a sua carreira. Há também outros elementos que assinalam em cores vivas o racismo nos Estados Unidos. Além da forte foto do linchamento ao início do filme, há uma sequência um tanto onírica, um tanto real, onde Holiday se depara com uma mulher enforcada e sua família aos prantos em volta do corpo pendurado numa árvore, num momento muito pesado que tem a intenção de chocar o espectador e alertar para o problema do racismo. Mas a grande surpresa vem ao final do filme, quando é dito que a lei do linchamento foi finalmente aprovada pela câmara em… 2020, mas que o senado americano ainda não fez a votação de sua aprovação. Ou seja, vendo o exemplo de vida de Billie Holiday no passado e a demora da aprovação de uma lei que parece ser tão óbvia em ser aprovada, é que entendemos a importância de movimentos como o Black Lives Matter.

Andra Day Blows us Away in 'The United States vs Billie Holiday' – Black  Girl Nerds
Relacionamento turbulento com Jimmy Fletcher…

Dessa forma, “The United States Vs. Billie Holiday” é um filme que merece a indicação para Melhor Atriz no Oscar e mereceu o prêmio no Globo de Ouro, coroando a boa atuação de Andra Day. Difícil dizer se ela ganhará o Oscar, até porque já ganhou o Globo de Ouro e pelo fato de ter concorrentes de peso como Viola Davis e Frances McDormand.